Recordações escrita por Nekoclair


Capítulo 1
1. Páginas ainda em branco


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Eu gostaria de dedicar esta fanfic à senhorita Mayumi Sato, que hoje (dia 26/01) faz aniversário. Eu sou realmente muito grata por tudo que ela tem feito por mim, afinal eu tenho aprendido muito graças a ajuda dela, e por isso decidi que tinha que tentar recompensá-la de alguma forma. ^^
Bem... Sobre a fic... Ela começara com eles pequenos, por isso não esperem por muita coisa, no máximo um shonen-ai básico. O yaoi eu deixarei para a fase deles adulta, que será contada mais adiante e será também a parte principal da fanfic.
Boa leitura!



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O dia amanhecera esplêndido na cidade de Viena. O sol das dez sobrepunha-se tão facilmente às tímidas e discretas nuvens, que poucas se aventuravam por aquele céu azul claro, talvez por temerem acabarem completamente dizimadas pelos fortíssimos raios do Sol. Era uma manhã tranquila, como outra qualquer, nas ruas daquele subúrbio.

E mesmo que fosse aquele apenas mais um dia comum do ano para a maioria das pessoas, em certo casarão, numa estreita e sorrateira ruela de nome desimportante, um jovem pousava ao chão seus únicos pertences, contidos estes numa velha mochila de couro bege desgastado, e se punha a encarar o interior de sua nova, mas temporária, residência.

O nome do jovem, cujos cabelos eram negros e os olhos possuíam um distinto brilho violáceo, era Roderich Edelstein, que há nem uma semana descobrira a dor de se tornar órfão, perdendo os pais, sua única família, em um acidente de carro, sendo ele o único sobrevivente. E esse jovem é ninguém além de eu mesmo.

Depois de quatro dias internado em um modesto hospital, eu, ainda com algumas ataduras pelo corpo e o antebraço enfaixado, enfim me mudava para o orfanato que seria responsável por mim por quanto tempo fosse necessário, até que minha adoção ou minha maioridade se sucedesse - no caso, o que viesse primeiro.

Adentrei pelo corredor não tão bem iluminado do velho casarão e segui a madame que me fora buscar pela manhã, no hospital. Ela ia alguns passos adiante, sem aparentar qualquer grande sentimento pro mim, que há tão pouco tempo havia perdido meus pais. Eu a seguia, calado, correndo com meus passos curtos e um tanto atrapalhado pelo peso da grande mala; e a correria de algumas crianças pela estreita passagem também em nada ajudava em meu difícil deslocamento, sendo inclusive obrigado a desviar de algumas durante o percurso que deveria ser, na verdade, rápido e tranquilo.

Eu havia acabado de pisar os pés no lugar, mas já havia facilmente arrumado mais de uma dúzia de problemas e coisas que desgostava, e em meros dez minutos de estadia. Quando finalmente alcancei a velha senhora que me acompanhava, esta já pisava nos últimos degraus de uma ruidosa escada, que levava ao segundo andar, onde uma extensão incontável de pequenas portas podia ser vista.

Continuei a segui-la e quando alcançamos o final do corredor, na qual uma janela na forma de um losango estava disposta - e cujo vidro possuía perceptíveis trincas -, a madame parou e se virou a mim, dando-me, enfim, um pouco de atenção.

– Bem, Roderich, creio que você não seja um garoto difícil de se lidar, mas já previamente o aviso que as regras deste casa são claras e não devem, de forma alguma, serem desobedecidas. As refeições serão servidas às oito, uma e dezoito horas; atrasos não serão perdoados sob quaisquer desculpas. Todas as luzes devem estar desligadas às vinte e duas e só poderão ser ligadas, minimamente, às sete e meia da manhã. Acho que não preciso mencionar o fato de que esta casa também não aceita brigas ou qualquer forma de conflito entre seus moradores.

Eu ouvia à senhora, com a cabeça e os olhos baixos, mas atento a cada palavra proferida. Eu sempre fora responsável e não desejava, de forma alguma, me meter em quaisquer problemas. Com sorte, eu seria logo adotado e poderia me mudar para um lugar mais apropriado. Eu era, afinal, o filho ideal: estudioso, educado, bondoso e habilidoso; eram qualidades como essas que faziam com que os meus próprios pais se orgulhassem de mim, quando estes ainda eram vivos.

Não que eu já houvesse me esquecido de minha família, aquela com qual eu compartilhara o mesmo sangue, afinal eu ainda era apenas um garoto de oito anos - e um que sempre admirou e amou muito os pais, nunca tento tido sequer qualquer tipo de problemas com estes. Porém, certamente, eles não desejariam que o filho fosse infeliz, corroendo-se continuamente por causa de sua própria sobrevivência.

Eu tinha certeza de que se meus pais fossem capazes de transferir-me uma frase, essa seria “Siga em frente.”, “Continue vivendo.” ou “Viva também por nós.”. E caso só os fosse permitido uma única palavra, não haveria sequer dúvida que o que eu ouviria seria um firme e sonoro “Sobreviva.”. Por que eu haveria de sofrer pela morte de seus pais, se não era isso que eles desejavam? O que eu havia de fazer agora se resumia em honrá-los, me tornando, no futuro, um adulto de respeito.

– Roderich. Roderich Edelstein! – esbravejou a senhora, um tanto rancorosa.

Levantei os olhos, curioso por saber quando eu perdera minha concentração. Por Deus, estava certo de que eu estava totalmente concentrado!

– Sim? – respondi, sem deixar mostrar-me intimidado.

A senhora me encarou, mirando meus olhos violetas com certo desgosto. Era aparente que ela desejava dizer-me algo, mas ela apenas bufou e prosseguiu com seu discurso, tentando manter-se paciente com o garoto diante de si.

– E, como eu estava dizendo, preste sempre atenção ao que os funcionários desta casa o falam. – ela deu uma breve pausa, as expressões intimidantes – Entendido?

– Sim. – eu concordei, simplesmente, não muito preocupado ou sequer interessado.

– Muito bem. Este será o seu quarto enquanto estiver morando aqui. – a mulher abriu a porta, revelando um cômodo não muito espaçoso ou arejado, com quatro velhas e pequenas camas de solteiro. – Você tem dois companheiros de quarto, os irmãos Beilschmidt, mas não faço ideia de onde eles se meteram agora, apesar de eu ter dito que era para eles virem se apresentar... Bem, cuidado com o mais velho deles, o Gilbert. Não fique muito perto dele, pois ele é um problema e não o quero corrompido tão rapidamente.

– Sim, senhora. – respondi, simplesmente, com os olhos violáceos encarando-a opacamente.

Ela desviou o olhar e franziu as sobrancelhas, provavelmente pensando no quão petulante eu já me mostrava ser. Não que sua opinião me importasse de alguma forma.

– Bem... Seja bem vindo, então, ao Orfanato Rainha Maria Teresa. – ela pronunciou, num tom desgostoso e incomodado.

– Obrigado. – permiti-me sorrir levemente, apenas para manter a aparência educada.

Abaixei a cabeça em uma leve reverência e a senhora se retirou, finalmente.

Já sozinho, suspirei, encarando as costas largas da mulher até que sumissem, e somente após alguns instantes é que enfim fechei a porta e caminhei até as camas, pondo-me a olhá-las, sem pensamentos evidentes. Decidi-me por primeiramente arrumar minhas coisas no armário e, depois, procurar pelos irmãos; afinal, querendo ou não, eu conviveria com eles por um tempo considerável.

Arrastei a pesada mala até o largo e único armário do quarto. Foi quando abri a porta do móvel que duas figuras, de pele tão clara quanto a minha, surgiram, pulando para fora e surpreendendo-me com o ato, me fazendo tombar para trás por conta do susto e, além disso, bater o corpo com tudo no piso duro, escapando-me assim um baixo urro de dor.

– Você está bem?... – era a menor das figuras que se pronunciava – Nós não queríamos que você se machucasse, não sabíamos que estava ferido. Desculpa. – disse, num único fôlego, encarando-me com seus dois grandes e brilhantes orbes azuis.

Encarei-o, momentaneamente, sem entender muito bem o que acontecia. Por que diabos havia uma criança dentro do armário?!

– Viu, bruder! Eu disse que não era uma boa ideia! – o menor, cujos cabelos possuíam um brilho áureo, pronunciou, claramente incomodado, desta fez direcionando-se não a mim, mas ao maior ao seu lado, que até então eu não havia sequer notado.

Enquanto o menor era, sem qualquer dúvida, mais novo que eu por uns dois anos, o outro já aparentava minha idade, apesar dos cabelos de uma tonalidade incomum: brancos como a neve. Mas o que realmente me chamara a atenção naquele ser fora, sobretudo, seus olhos avermelhados e perversos. Algo me dizia que aquele era o mencionado Gilbert, que me mandaram manter distância...

Ele também analisava o novo morador, com perturbadora atenção. Ele riu, seco, e isso não me agradou nem um pouco. Eu sentia o menosprezo do albino ecoar em sua risada extravagante, mais que tudo.

­– Ora, Lud! Como eu haveria de saber que nos mandariam alguém tão frágil! Olhe para ele, ele parece um daqueles filhos de nobres, que a gente vê nas novelas de fim de tarde na televisão!­ – ele deu uma breve pausa – Ei, você!

Ele direcionava-se, desta vez, a mim. Aproveitei a ocasião para lançá-lo um olhar desagradado e insatisfeito, mas ele não parecera se importar nem um pouco. O sorriso em seus lábio simplesmente alargou-se ainda mais.

– Tem certeza de que está no quarto certo? Você não me parece incrível o suficiente para conviver conosco, para ser sincero.

Suspirei, perante tamanha infantilidade. Ele realmente se mostrava um problema...

– Não sei quem você pensa que é, mas certamente este é o meu quarto, e peço para que você não mais se esconda no armário. – eu disse, firme em cada sílaba.

O albino pôs-se a rir. O loiro simplesmente nos observava, como se aquela fosse apenas mais alguma cena de um espetáculo público, sentado na borda de uma das camas, balançando os pés, que não eram capazes de alcançar o chão, calçados com grossas meias pretas.

– Não seja tão possessivo, jovem mestre! Este quarto não é seu, meu ou do Lud, é de todos nós! É o nosso quarto! – ele deu mais uma breve risada.

Nada pronunciei, eu sentia-me corroer por dentro, por ira. Aquele ser não poderia ser meu companheiro de quarto! Isso seria por demais incômodo, e como seria!

– Você deve ser o Gilbert, certo? – perguntei, mantendo-me o mais firme possível. Não poderia me mostrar fraco, caso contrário eu seria atormentado por aquele ser pelo resto de minha estadia no orfanato. Eu simplesmente não desejava esse tipo de perturbação.

– Então meu nome já alcançou os ouvidos da realeza? Isso certamente é um feito incrível da minha parte. – proclamou ele, orgulhoso e de nariz empinado. – E o seu, jovem mestre?

– É Roderich. Roderich Edelstein. – repliquei, áspero.

– Oh! Muito prazer, Rod. Espero que me permita viver sob este teto sem ter de pagar tributos, pois senão terei um grande problema, afinal, não tenho nenhum dinheiro. – ele disse, com um sorriso de escárnio.

– E por que eu cobraria impostos de você? – mantive-me firme em cada palavra.

– Não é isso que os nobres fazem? É o que sei sobre os aristocratas. – ele jogou as mãos despreocupadamente, uma para cada lado. – Eles estão sempre tirando proveito dos mais pobres, não é?

– Pois fique sabendo que eu não sou nenhum aristocrata. – senti minhas sobrancelhas contraírem-se, irritadas.

– Tem certeza, jovem mestre? Não é o que aparenta.

– Sim, tenho certeza. Então pare de me chamar assim.

O albino riu e pude perceber certo descaso em seu sorriso e olhar.

– Eu chamarei você como eu achar melhor, afinal eu sou o rei deste castelo.

O menor dos loiros pulou ao chão e se pôs ao lado do irmão, sorrindo quando este pousou as mãos em seus cabelos, afagando-os carinhosamente; apesar de que a mim parecesse à atitude de um homem para com seu cachorro, ou talvez a cena de algum filme sobre mafiosos.

Eles caminharam em direção à porta, despreocupados com a minha existência, e só pararam e se voltaram a mim quando já haviam alcançado a batente da porta. O menor tinha um brilho admirado nos olhos, que miravam intensamente a figura de cabelos brancos, enquanto Gilbert tinha um olhar travesso e superior fixado em mim.

– Então até mais, jovem mestre.

Senti-me trincar os dentes, mas antes que eu pudesse respondê-lo de alguma forma, ele já havia partido, com o irmão em seu encalço.

Com certeza nada seria fácil naquela minha nova vida.


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Notas finais do capítulo

Obrigada aos que tiveram a paciência de ler até o fim.
Eu sei que não aconteceu muita coisa, mas prometo que melhorará com o passar da estória; além de que este capítulo foi mais um prólogo do que qualquer outra coisa. Desculpem-me também pelo tamanho... Vou tentar aumentar os capítulos, até porque não desejo prolongar muito esta fanfic. ^^'
Bem, é isso. Espero obter algum apoio nesta fanfic, pois não é fácil escrever uma long sem alguns leitores que te incentivem. Ou seja, reviews. Pls~ ♥ Estou aberta a qualquer crítica e sugestão!
Bem, encerro por aqui.
BJJS e até uma próxima!
PS. Escrever no pretérito certamente não é o mesmo que escrever no presente... O.O'



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