– L-Len, olha...

Rei apontou para uma garota que aparentava ser da mesma idade que eles, talvez um pouco mais velha. Tinha olhos azuis mais escuros que os de Len e cabelos... Loiro claro? Loiro acinzentado? Talvez rosa bem claro?

Olhava o horizonte distraída, como se estivesse esperando alguém. Não parecia o tipo de pessoa que estava ali com a ideia de fazer algum ruim, mas pela sua expressão não parecia ter grande urgência em falar. Rei não a conhecia. Ou ao menos, não que lembrasse.

– Quer descer e ir falar com ela? - Len falou com cautela.

– Tenho que falar... Mas, você a conhece?

– Nah, só de vista.

– Qual o nome dela?

– Não lembro. Acho que é Mia. Ou Lia. Sei lá... O sobrenome eu não faço ideia mesmo.

– Tudo bem, vou lá.

Os dois desceram sem muita rapidez. Andaram até mais próximo do lugar, quando Len deixou que Rei fosse até ela sozinho. A garota estava tão distraída que nem sequer notara.

– Olá...? - Rei arriscou.

– A-Ah, R-Rei! - Ela corou de forma exagerada, desviando o olhar dele o tempo quase todo. Isso fez com que de repente parasse os olhos em Len, o que a fez ficar ainda mais nervosa. Parecia estar tremendo.

O de cabelos negros notou que ela o havia chamado pelo primeiro nome e a encarou.

– Quem é você? E se acalme.

– Me desculpe!

– Eu só quero saber o seu nome.

– É-É...

A desconhecida alternava os olhares entre Len e ele.

– É...?

– Falo com você depois!

Ela saiu correndo, deixando os dois garotos olhando para o nada. Rei respirou fundo e virou-se para Len, que parecia saber menos sobre o aconteceu do que ele.

...

– Como acha que ela pode ter conseguido meu número? - Rei falava enquanto caminhava de volta para casa.

– De repente é alguma amiga da Rui que não conhecemos. Podia estar mexendo no celular dela ou algo assim.

– Nossa, então tem alguma garota que você não conheça.

– Essa foi realmente uma fala bem tsundere.

– Ei, o que eu falei é verdade, não significa que estou com ciúmes! - Corou.

– Hm, eu nem tinha falado de ciúmes. Mas já que quis admitir de qualquer forma...

Len riu e o observou.

– Acho que tenho que ir no caminho de casa. Ver se eu dou um jeito de estudar para as provas finais...

– Sayo...

– Sayo, amor - Bagunçou um pouco os cabelos de Rei e se afastou, sorrindo, para depois acenar de leve e se virar.

Rei nem mesmo conseguiu responder alguma coisa. Estava estático, pelo termo que Len acabara de usar... "Amor"? O fazia sentir ridiculamente bem ouvir isso.

...

POV Rui

– Eu esperava receber uma amiga aqui hoje, até, mas ela ainda não chegou dos compromissos...

– Uma amiga sua, Yukari-san? - Disse enquanto mordia um dos biscoitos que ela havia cuidadosamente disposto em uma bandeja.

– É, ela é da sua escola até, s-só que um ano mais velha que você e seu irmão - Ela comeu um biscoito também. Sua voz tinha falhado ou foi impressão minha? Hmm... Nah. Deve ter sido impressão.

– Hmm, qual é o nome dela?

– É...

– Rui?!

Ouvi alguém bater na porta, junto com a voz de meu irmão me chamando.

– Pode entrar, Rei-san - Yukari falou calmamente.

Assim que entrou, nos cumprimentou e sentou ao meu lado no sofá, como de costume. Mas estava diferente... Aparentemente, nenhuma alteração física, fora o fato de que suas bochechas estavam um pouco vermelhas. Mas era normal, acho que foi por conta do esforço físico de andar para casa. Ah! Notei o que é. Ele está muito quieto. Digo, ainda mais quieto. Nem mesmo me perguntou se estou melhor... Será que aconteceu algo na escola? Ele chegou mais tarde mesmo.

– Rei... - Sussurrei.

– Hm?

– Aconteceu algo na escola?

Ele abriu um pouco mais os olhos em sinal de surpresa.

– Por que a pergunta?

– Então realmente aconteceu? - Insisti.

– N-Não. Nada de especial.

– Sei. E chegou tarde também...

De repente uma ideia brotou em minha mente. Claro! Ele só deve ter se encontrado com a garota com quem fica trocando mensagens. Será que era a Rin mesmo? De qualquer forma, não acho que ele me falaria se fosse. Oh, como não pensei nisso antes?

– Rei, você estava com sua nova pretendente, não é? - Falei sorrindo. Tanto ele quando Yukari me olharam perplexos.

– Mas o que?!

– Sabia! - Sorri mais uma vez - Não precisa me falar se não quiser.

– Não, escute, eu realmente não-

– Só queria saber quem é - Interrompi, pegando mais um biscoito.

Ele suspirou e desviou o rosto. Olhei para Yukari, que estava do meu outro lado. Ela parecia estar pensativa também. Mas não acho que deva ser algo relacionado à minha conversa quanto ao Rei e sua namoradinha. Talvez só esteja chocada de o Rei gostar de alguém. As pessoas costumam pensar que ele não é do tipo que tem um relacionamento... Bem, as aparências enganam. Que imprevisível... Ainda que seja meu irmão, às vezes nem eu o entendo. Ao menos acho que já estou no caminho certo.

– Então - Rei se levantou - Agora que você já está melhor, por que não vamos pra casa?

Yukari sacodiu a cabeça, como se para espantar seus pensamentos.

– Acho que a ocupei muito, Yukari-san - Sorri para ela - Vamos sim, Rei.

Levantei preguiçosamente e me despedi. Assim que passamos pela porta e começamos à caminhar durante a mínima distância até nossa casa, olhei a Rei discretamente. Ele sorria de leve. Rei? Sorria? Quem quer que seja essa garota... Está mechendo muito com ele. Oh, estou curiosa. Preciso logo descobrir!

POV Yukari

FLASHBACK

– Yuka-chaaaaan, por favoooor!

IA insistiu, fazendo manha agarrada ao meu braço. Eu não vou ceder.

– Não, definitivamente não!

– Onegaii!- Implorou mais uma vez.

Eu não vou ceder.

– Nope.

– Yukaaaaaarii...

Isso é covardia. Maldição de ataque moe... Não consigo não ceder.

– Certo. Mas saiba que o que está fazendo é errado. Não espere que ele reaja bem.

– Tudo bem! Eu vou conseguir - Ela sorriu docemente, parecia realmente animada.

Aria (ou IA, como todos a chamam) é minha melhor amiga. Sou alguns anos mais velha que ela, ainda que pareçamos ter a mesma idade. Mas a verdade é que, mentalmente, ela continuava sendo uma criancinha. Não que isso me incomode. Na verdade, vejo graça em sua inocência extrema, no modo como faz birra quando não consegue o que quer... E aqui está ela, mais uma vez, fazendo birra.

Recentemente, como é natural com meninas do colegial, desenvolvera um amor platônico por uma cidadão que mal conhece direito. É um garoto estranho, pálido e um ano abaixo dela. Me pergunto o que ela vira nele. Mas como entender o coração de uma adolescente com hormônios à flor da pele? E além disso, o que posso dizer? Eu era assim também há uns dois anos.

Por alguma sorte dela, tal garoto era meu vizinho. Ela descobrira isso quando vinha me visitar, e o viu entrar na casa ao lado da minha. Ah, como ela ficou doida naquele dia! Então resolveu que iria me perguntar tudo sobre ele. E eu, apenas para agradá-la, tentava na medida do possível saciar sua curiosidade. Não que eu realmente queira que fiquem juntos, muito pelo contrário. Sei que Rei é uma boa pessoa, ainda que um tanto frio e que nem sempre faça questão de tratar os outros bem. Eu me preocupo por IA. Ela mal o conhece. Acho que seria precipitado demais dizer que morre de amores por ele então. Certamente, se viessem à se falar, suas expectativas coloridas logo se desfariam. Me preocupo por sua ingenuidade, já dita, infantil, de achar que qualquer coisa que queira irá acontecer.

Agora ela me pedira seu número, porque inventara um plano maluco (algo relacionado à uma mensagem) para falar com ele. Como uma boa amiga, eu deveria negar, dizer que era uma ideia ruim, ou qualquer coisa. Qualquer coisa estaria ótimo, menos dar o maldito número. E o que eu faço? Justamente o que eu menos deveria fazer. Só por conta dessa maldita birra moe. Yukari, sua idiota, vai se sentir culpada quando a coitada da IA estiver chorando que nem desesperada por conta disso.

Um pensamento subitamente se alastra. Talvez fosse bom. Assim ela acabaria com isso logo, com essa ideia ridícula de amar o Kagene lá. Ainda que se magoe um pouco no começo, talvez fosse melhor. Mas... - oh, outro pensamento súbito - E se tivesse alguma chance, nem que mínima, de darem certo? Estaria bem assim?

Por que será que eu nunca a imaginei com nenhum rapaz? Provavelmente por conta dessa personalidade meio boba. Não, me dá nojo imaginá-la abraçando algum deles! Eu sei que ela está na idade certa pra isso, mas por algum motivo é difícil imaginar. Não, não que eu tenha ciúmes... Isso seria, definitivemente, ridículo. Como sua melhor amiga, eu devo deixá-la solta para que fazer o que quer, sempre prezando por sua segurança. Eu a protejo demais? Ridículo, ridículo, Yukari, pare de ser tão ridícula.

– Obrigada, Yuka-chan - Ela sacode meu celular em sua mão e o entrega de volta à mim, fazendo com que eu, finalmente, me distraia de meus pensamentos.

– Quer me explicar direito o que vai fazer com o número agora, por favor?

– Acho que vou mandar uma mensagem como anônimo pedindo pra nos encontrarmos...

– Sabe que ele pode simplesmente não ir, né? - Falei enquanto brincava com as orelinhas de coelho do meu capuz. Infantil, eu sei. Mas são tão legais!

– Ele vai! Não custa tentar... N-Né? - Corou.

– Sei, e então? Vai se declarar?

– E-Eu não sei se tenho coragem, sabe... Mas vou tentar.

Ela sentou na minha cama e abraçou o Mr. Moon, meu coelinho de pelúcia favorito. Foi ela que me deu de presente, aliás.

– E se for mais alguém com ele? Lembra daquele amigo dele, o loiro? Len. Ele é bem popular. Como todos esse populares aí, não acho que ele presta. Sabe-se lá se não vai sair espalhando pra escola toda. Especialmente se você levar um fora.

Quando notei o que tinha falado e me virei para ela, IA já estava com os olhos vermelhos como se estivesse à ponto de chorar. Não consegui deixar de achar um pouco de graça, mas não ri. Logo sentei ao seu lado e lhe abraçei.

– Y-Yuka-chan, você é cruel...

– Um pouco - Sorri - Mas não liga pra mim. Vai ficar tudo bem, ok? Se não der certo, é porque... De repente não era pra dar.

Oh shit, como eu sou péssima com conselhos. Acho que ela achou graça do meu conselho ruim e sorriu. Que fofa, não? Rei é um cara de sorte. Mas vai virar um cara sem dentes se der um fora muito cruel nela.