– Então - Falou a loira - Pode fazer o favor de confiar em mim ao menos uma vez na vida?

Len suspirou, tremendo um pouco e voltando o rosto para baixo.

– A-Ainda que eu tivesse algo a esconder, por que eu confiaria?!

Rin o encarou, sorrindo. Desta vez, não um sorriso zombeteiro, mas um tanto... Doce? De qualquer forma, não era o tipo esperado de Rin.

– Não vou atrapalhar vocês, nem vou falar pra ninguém. Muito menos pra Rui, se é o que pensa.

– H-Hmm...

O garoto de olhos azuis pensava nas consequências que teria confirmando ou não as suspeitas da irmã. Não podia imaginar que ela fizesse algo realmente ruim contra eles, uma vez que sempre torcera para que tivessem algo. Bem, na verdade, tudo que Rin queria era um "yaoi", especialmente se pudesse acompanhá-lo de perto, como com seu irmão. Len imaginava que isso poderia se tornar um tanto incômodo... Mas no final, nenhum problema. Aos poucos, enquanto o silêncio dominava a sala, Len tomava a decisão de que falar quanto à isso com a irmã talvez não fosse tão ruim assim. Teria alguém com quem compartilhar algumas coisas, ao invés de "guardar tudo para si".

De fato, Rin sempre tivera um raciocínio bem rápido, ainda que não tivesse as melhores notas da turma, por ser desleixada. E quando colocava algo em mente, era extremamente difícil que desistisse da ideia. Isso significa: ainda que o irmão negasse, ela apenas investigaria até ter uma prova.

Então não havia saída.

– Bem - Len se endireitou na cadeira, fechando os olhos por alguns segundos e os reabrindo.

– Bem? - Falou a garota em tom esperançoso.

– T-Tudo bem, vou responder a verdade...

– AAAW YEEEAH! Que fofo! Fofo fofo! Kawaiiiiii! Eu sempre soube! - Rin comemorou, quase pulando da cadeira. Não o fez apenas por estar com pressa para saber mais sobre Len e Rei - Ah! Estão juntos desde quando?

– N-Na verdade ainda não estamos...

– Anda, é pra falar a verdade.

– Mas realmente não estamos.

Rin o encarou com olhos desconfiados, esperando que Len continuasse.

– Não é que não nos gostemos - Len corou - Eu só ainda não... O pedi em namoro oficialmente.

Os olhos azuis da garota pareceram ficar endemoninhados de raiva e ela deu um tapa forte nas costas do irmão, que produziu uma espécie de grunhido ou gemido de dor.

– Idiota! Isso está deixando seu uke confuso!

– Ai! E o que?!

– O que você ouviu - Ela fez bico - Sem uma certeza, como um relacionamento, ele vai ficar inseguro.

Len apenas escutou. De certa forma, fazia sentido.

– Aposto que ele já deve ter se perguntando várias vezes qual a relação de vocês, mas obviamente, ele não iria te perguntar!- Rin fez um gesto com as mãos - Então vocês são o que? "Ficantes"?

– E-Eu também não sei!

– Olha - A loira o fitou - Se você gosta dele... Você gosta, não é?

– Eu o amo... - Disse Len, fazendo com que Rin desse um largo sorriso de satisfação.

– Ótimo. Então seja mais romântico com ele, faça-o ter segurança... E puta merda, pede logo ele em namoro oficialmente! - Rin riu, bagunçando o cabelo do irmão, fazendo-o rir também.

– Ah... Acha que ele reagiria bem? Tipo, ele nunca gostou de ninguém antes.

– Claro! E então é você que vai ensinar à ele como é bom gostar de alguém. Que orgulho, meu irmão é seme! - Ela o abraçou, ainda sorrindo.

– Obrigado, Rin - Ele sorriu de volta.

– Não que eu não ficasse feliz caso você fosse uke. Mas eu iria ter que te vestir de maid!

– Não, você definitivamente não iria!

– Hmmm... Tem mais uma coisa...

Dessa vez fez um sorriso malicioso, ignorando o que o outro havia acabado de dizer. Este por sua vez, a observou em silêncio. Sabia que provavelmente seria uma pergunta indelicada, mas não iria a interromper, de qualquer forma.

"Claro, típico da minha irmãzinha", pensou Len.

– Como e onde foi o primeiro beijo de vocês? - Continuou ela, com curiosidade, fazendo com que Len corasse novamente.

– Nós... Ainda não...

– Mas que?! Aff! - Rin se revoltou e se levantou - Se fosse como nos meus mangás a história já estaria no lemon!

– R-Rin! - Falou alto e escondeu o rosto, que estava mais vermelho ainda.

– Tudo bem... Vou deixar tudo ao seu tempo... - Suspirou - Seus fofos. Boa sorte. Prometo que não falo pra ninguém, mas se precisar de qualquer dica, sabe com quem falar. Sabe, sou master nesses assuntos... Agora com licença, vou pro quarto.

A garota sorriu mais uma vez, subindo as escadas em pulinhos felizes, logo depois que Len assentiu com a cabeça. E assim que chegou lá, o loiro poderia jurar ouvir gritos como: "YAOOOOOOI! QUE FOFO QUE FOFO FOFO! KAWAIIIIIIII! WAAAAAA!". Quanto à isso, ele apenas riu.

No fundo, tinha sorte de ter uma irmã como ela. Ainda que fosse a psicótica (de acordo com Len) que era, ainda que brigassem constantemente por qualquer motivo idiota, ainda que fosse uma fujoshi vidrada. Mas sem todos esses "defeitos", não seria ela. Sabia que Rin seria compreensiva. Mais exatamente, sabia que ficaria feliz por ele, que o apoiaria, e que não falaria à ninguém se não quisesse que falasse. Os Kagamine provavelmente brigariam por qualquer pacote de biscoito, mas estariam juntos caso fosse algo sério.

"Sua lacraia idiota..." Pensou, depois sorriu.

Len se levantou e parou fitando o nada, apenas para alguns segundos depois começar a procurar seu celular. Claro, não conseguia ficar sem enviar mensagens à Rei.

...

Rei fechou o livro de história. Já havia estudado o suficiente, o relógio marcava altas horas da noite. Olhou uma vez para as unhas perfeitamente pintadas e logo depois para o celular branco descansando no canto da mesa. Resolveu checar, caso houvesse chegado alguma mensagem no tempo em que estivera no modo silencioso.

Assim que foi à caixa de mensagens, sorriu docemente ao constatar o que já tinha certa certeza. Mensagens costumeiras, como desejar bom dia, boa tarde, perguntar algumas coisas, algumas pequenas declarações... Totalizavam cinco mensagens novas. Mas uma em especial lhe chamou a atenção, por conta de não vir da mesma pessoa de sempre.

"De: [desconhecido]

Posso falar com você na Segunda, depois da aula? Sei que não sabe quem está enviando isso, mas depois de amanhã você descobre. Arigatou."

O garoto de cabelos negros arregalou um pouco os olhos. Não entendia como alguém fora Len havia conseguido seu número. Não lembrava de tê-lo dado a ninguém..