Sufoquei um grito.

Olhei ao redor apreensiva, mas não encontrei a voz misteriosa.

Comecei a cogitar que aquilo deveria ser fruto de minha fútil imaginação, quando de repente, eu a ouvi outra vez.

- Não adianta me procurar ao seu redor, menina. Seja um pouquinho mais inteligente e olhe para cima.

Apreensiva, fiz o que a voz mandava.

Bem lá no alto, uma figura encapuzada encontrava-se parado ao lado da cúpula, mas era difícil ver suas feições.

- Quem é você?

A figura balançou a cabeça em reprovação.

- Acha que é mesmo prudente fazermos apresentações neste momento?

Suspirei. Era melhor fazer o que a figura mandava. Afinal, ou era isso ou era nada.

- Tudo bem, Sr. Misterioso. – Chiei. – Mas, até onde eu saiba, não posso sair daqui sozinha.

Ele andou ao redor da cúpula impacientemente.

- E até onde eu saiba querida, deve ser este o motivo de eu estar aqui.

Revirei os olhos. Achei melhor ficar quieta.

- Como...?

- Perguntas depois, garota. Não tenho mais tempo para isso. Ou você me escuta e sai daí por bem ou fica aí e espera ser devorada pelos Cães Infernais. Que tal?

- Existem esses troços? – Bufei, imaginando o que mais de esquisito esses demônios poderiam inventar.

Ele ficou quieto. Dei de ombros e tomei aquilo como um sim.

- Então, como é que você vai me ajudar?

- Finalmente! Pelo menos você às vezes usa a sua cabeça. Não temos tempo algum garota, por isso, não digo que essa saída será segura.

- É melhor do que nada.

- Assim é que se fala! Agora, porque não se afasta um pouco? Lá para o lado norte da cela? Isso. Perfeito. Agora...

Ele afastou seu manto, revelando uma corda presa em seu cinto. A corda era bem grande, mas dava para ver que eram muitas cordas amarradas umas nas outras. Nada seguro.

- Vou jogar esta corda. Lembra-se das suas aulas de Educação Física? Pois é. Está na hora de coloca-las em prática.

Revirei os olhos com a piadinha sem graça e fiz um sinal para ele jogar a corda.

Quando ela desceu, aproximei-me com cautela. Dando de ombros, segurei minhas mãos firmemente na corda e a puxei.

Quando encontrei resistência, olhei para cima. A figura encapuzada fez um sinal e eu obedeci. Flexionando bem minhas pernas, prendi as duas em um “X”.

Comecei a escalar a corda, sentindo-a ceder com meu peso.

- Vamos, garota. – A voz disse rispidamente. – Não tenho o dia todo.

Mordi minha língua para não dizer a ele onde ele poderia enfiar esse dia. Comecei a subir mais depressa, mas ainda assim, a corda estava cedendo.

- Acho que ela não vai aguentar – Gemi. – Estou a sentindo romper.

Ele bufou e segurou a corda sem nenhum esforço. Aparentemente, eu era a única que estava me esforçando.

- Acha que eu também não estou sentindo? – Ele disse entredentes. – Fique calma, logo você estará fora daí. Não suba mais. Eu vou te puxar.

Parei no meio da subida, quando atingi quase a metade do caminho.

Arrisquei e dei uma olhada em baixo, vendo o quão era alto. A distância que eu havia percorrido era absurdamente grande e eu estava apenas na metade do caminho.

Tonta, eu desviei o olhar.

Foco, Kyrie. Não vai ajudar em nada você vomitar agora.

A figura encapuzada continuou seu processo, e ele a corda começou a se movimentar.

Lentamente, fui conduzida em direção a cúpula. Minhas pernas tremiam e eu as cruzei fortemente.

- Vamos lá – Ele rangia os dentes. – Só mais um pouco. Francamente, o que você andou comendo?

- Vá se ferrar.

- Obrigado.

Depois de mais alguns segundos, me vi quase na base da cúpula. Estendi minha mão direita e agarrei o parapeito, largando a corda e deixando minhas pernas balançarem no abismo.

Senti meus braços escorregarem e o pânico tomou conta de mim. Mordi a língua para não gritar e implorei por ajuda.

- P-Por favor! – Gritei. – Minha clavícula está machucada. Não vou aguentar.

- Shhh. – Ele me repreendeu. – Quer nos denunciar? Acabei de matar os guardas agora mesmo. Não temos mais tempo, vão trocar o turno. Agora vamos, me de a sua mão.

Estendi a mão com o ombro bom, e ele a agarrou. Em dois segundos, eu estava fora da cúpula.

Tentei controlar as lágrimas de alívio. Olhando na direção da figura, deu para perceber que ela era forte e corpulenta, mais ou menos com quase dois metros de altura.

- Obrigada. – Esbocei um sorriso.

Ele pegou a minha mão.

- Agradecimentos depois. Agora vamos. Eles estão vindo trocar o turno. Vão perceber que você escapou.

Começamos a correr. Eu não possuía direção alguma, mas parece que ele sabia bem o caminho.

A nossa frente havia um lance de escadas, e começamos a subir. Estava tudo escuro, por isso eu não sabia discernir onde exatamente eu estava.

Ele soltou a minha mão abruptamente e virou-se na minha direção.

- Espero que saiba lutar.

- Ér, bem...

Ele esperou.

- Eu me viro. Para onde vamos?

- Temos que escapar daqui. Mas a essa altura, já perceberam que você escapou. E que provavelmente não está sozinha.

Assenti. Era de se esperar. Agora só uma perguntinha básica: Como eu iria lutar contra essas pestes? Eu só sabia apanhar deles.

Ele olhou em minha direção e eu senti uma sensação estranha. De alguma forma, eu conhecia essa voz.

- Pegue isto. Pode te ajudar.

Ele me entregou uma pistola. Ser irmã do Chefe Supremo da Ordem tem as suas vantagens. Credo me ensinou um pouco sobre pistolas. Aquela, se não me falhava a memória, era uma Glock G25

Não muito longa, mas precisa. E totalmente letal.

Ela era não era muito pesada, mas ainda assim, era forte. Segurei-a com uma de minhas duas mãos e assenti, agradecendo.

- Não desperdice as munições, entendeu? Você não vai ter tempo de recarregar.

Assenti mais uma vez. Ele apertou a minha mão em sinal de cumplicidade.

- Boa sorte.