Para a minha surpresa Victória não comentou nada, não fez nenhuma piadinha, pelo contrário, ela simplesmente sentou ao meu lado e apoiou minha cabeça em seu colo. Quando eu poderia imaginar que Victória fosse capaz de entender meu choro e me oferecer apoio?

– Por que você está fazendo isso?

– Isso o que?

– Você me odeia, me vê chorando e ao invés de me deixar ainda mais pra baixo, você me oferece apoio?

– Eu vi nos seus olhos por que você está chorando e me identifiquei, eu também já chorei por ele, muito...

– Como você sabe que eu estou chorando por ele?

– Eu vi você conversando com ele e depois vindo pro banheiro nesse estado...

Essa atitude de Victória me deixou mais que surpresa, lembrei de quando nós brigamos e eu ralei o nariz dela no chão do pátio, no lugar dela eu me odiaria para sempre, mas uma trégua havia se estabelecido entre nós duas, mais que uma trégua, eu poderia dizer que depois disso nós poderíamos até nos tornarmos amigas.

Ela não era uma vilã do mal, ela só não ia com a minha cara por que de certa forma eu tinha roubado o namorado dela, mas agora estávamos na mesma situação, ela me entendia e eu percebi que ela era uma pessoa melhor que eu.

Eu só conseguia me colocar no lugar dela, o que a fez ignorar tudo o que já havia acontecido entre nós duas e me perdoar de uma forma tão sincera ao ponto de me encontrar no estado perfeito para pisar em mim, dizer que tinha sofrido a mesma coisa e não tinha chorado, se mostrar superior a mim, do jeito que eu estava não teria cabeça nem energia para responde-la. Ela soube se mostrar superior no momento em que fez o contrário do que eu faria.

Nós duas ficamos no banheiro, em silêncio, paradas naquela mesma posição durante toda a aula de geografia, só nos separamos quando o sinal tocou, ela era da sala A e eu B.

Fui para a minha sala, Lupi estava me esperando na porta.

– O que você quer? – eu realmente estava com um péssimo humor.

– O que aconteceu?

– O que?

– Você e Victor...

– Como você sabe?

– O colégio inteiro sabe, você nunca falta e hoje furou uma aula, todos queriam saber o por que, e uma pessoa viu o que aconteceu e disse pra outra, que disse pra outra, enfim.

– E se você já sabe, por que está perguntando?

– Eu quero ouvir você me dizer que eu estava certo, para que eu possa dizer “eu te avisei”.

– Então é isso, você quer me deixar pior do que eu já estou?

– Não, eu quero te mostrar que vale muito mais apena me dar uma chance, do que continuar chorando por aquele babaca, eu só quero te mostrar que...

– Que?

Ele se aproximou de mim, a sala toda vibrou na expectativa, mas antes que nossos lábios encostassem, ele percebeu uma lágrima escorrendo pelo meu rosto, me abraçou e sussurrou no meu ouvido.

– Eu só quero te mostrar que eu... Gosto de você...

Eu senti pelo tempo que Lupi levou para dizer, que ele não diria que apenas gostava de mim, ele iria dizer que me amava, mas por algum motivo não conseguiu. Nós sentávamos do lado um do outro, eu poderia passar a aula me distraindo conversando com ele, ou prestando atenção na aula, mas minha mente fugia para Victor, por que ele terminou comigo? O que eu tinha feito de tão grave, em um dia ele me amava ao ponto de me apresentar aos seus pais e no outro ele terminou comigo com a desculpa esfarrapada de que não queria mais perder seu tempo com uma loba, a cada vez que eu pensava nisso eu odiava mais ainda Victor, mas o agradeci por me deixar ver em Victória uma amiga, por falar em Victória, Lupi ainda não me explicou o que estava fazendo com ela no cinema...

– Lupi?

– Oi?

– Você ainda não me explicou a cena que eu presenciei no cinema entre você e Victória... – sua risada soou irônica.

– Pra que você quer saber?

– Por que... eu... estou com ciúmes!

– Não precisa ficar com ciúmes, Victória é só uma amiga...

– E por que essa aproximação repentina?

– Por que minha mãe descobriu que a mãe de Victória é sua irmã.

– Para tudo, você é primo de Victória?

– Parece que sim...

– Mas você é um lobo, como sua mãe pode ser irmã da mãe de Victória se ela é uma vampira?

– É aí que está, minha mãe não é uma loba, ela é uma vampira...

– Então você é...

– Um híbrido.

– Mas por que você está na sala B?

– Por que eles não iriam criar uma sala C só para mim.

– E porque você não foi para a A?

– Por que eu pedi pra ir para a B.

– Tá, mas você ainda não explicou por que você já esteve com ela no cinema duas vezes.

– Nossas mães estão tentando nos juntar...

– Nossa... Eu viajei né?

– Muito – Nós rimos de mim e eu me senti aliviada.

A aula acabou e fomos para o intervalo, eu não queria me encontrar com Victor, eu o odiava cada vez mais, então fiquei debaixo da escada, era um dos poucos lugares onde eu conseguia ficar sozinha...

– Luna?

– Iago?

– O que você está fazendo aí?

– O que você acha?

– Você não quer se encontrar com Victor?

– Você com certeza já sabe o que aconteceu, vocês são melhores amigos...

– É, ele me contou o que fez, mas não quis me explicar o por que... Eu posso ficar aqui? Com você?

– Pode.

Iago sentou no chão atrás de mim e apoiou minha cabeça em seu ombro, todo mundo de repente resolveu me oferecer apoio, até o melhor amigo dele...

– Iago, por que você está me apoiando, você e Victor são melhores amigos...

– Eu e Victor não somos só melhores amigos, somos como irmãos, crescemos juntos, eu o amo, mas tem outra pessoa que eu amo mais que a Victor... Eu te amo.