Peça Por Favor escrita por Juliana Natelli


Capítulo 3
A Ajuda de Bebe


Notas iniciais do capítulo

Bom, antes de tudo, muito obrigada a VoyeurismoSádico pela linda recomendação que me deixou nas alturas! Também a InvaderJulianaBroflovski, Knight Beast X e Creeper Schweetz pelos reviews *-*
Espero que esse capítulo não decepcione, pois a história está tomando um rumo que eu não estava esperando! Acho que vou manter a classificação +16, mas não sei no que isso pode dar.
Boa leitura!



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Na manhã seguinte, encontrei Stan em sua casa para jogarmos videogame como já tínhamos combinado e ele começou a me contar as últimas. Bom, não que eu já não estivesse esperando por isso.

– Cara, você não vai acreditar! – ele dizia sentando-se num canto do sofá e parecendo inquieto.

– O que aconteceu? – perguntei inocentemente me acomodando na outra ponta.

– Duas viaturas da polícia vieram até aqui ontem à noite. Os policiais pensavam que a minha casa estava sendo invadida, então arrombaram a porta e tudo!

Olhei discretamente para a porta da entrada da casa e reparei que ela estava mal parafusada, provavelmente o próprio Stan devia ter tentado consertar o estrago.

– Caramba, isso é sério?

– É, eles entraram em todos os cômodos, pediram que eu ficasse calmo e me perguntaram se algum maníaco com uma serra elétrica tinha vindo me ameaçar. Deve ter sido outro trote idiota, talvez o Cartman...

Então, percebi que Stan havia dito coisas como “que eu ficasse calmo” e “me perguntaram”, e fiquei confuso. Ele não deveria estar falando no plural?

– Espera, espera! – o interrompi. – A Wendy não estava com você?

– Ah teve isso... Ela acabou não vindo, a mãe dela ligou e a mandou voltar. Mas como eu estava dizendo, eu desconfio que...

– Então, você estava sozinho ontem à noite? Você e a Wendy não...?

Stan me fitou por alguns segundos.

– É, cara, foi o que eu acabei de dizer!

Mordi o lábio inferior para não sorrir.

– Ainda bem, não é? – disse sem querer, por isso, precisei improvisar. – Quer dizer, ia ser um problema ainda maior se você estivesse com ela e tivesse que acalma-la, essas coisas.

Stan semicerrou os olhos para mim, pensativo.

– É... acho que sim...

– Hã, então você está legal? Está tudo numa boa agora?

– Bom, está...

– Ótimo! Vamos jogar – liguei a TV e o videogame, e peguei o joystick que estava no chão.

Após alguns instantes, percebi que era o único com o controle em mãos. Olhei para o lado e vi que Stan ainda estava me encarando.

– Que é, cara? Não quer jogar mais? – indaguei.

– Não é isso. Você parece muito... Não sei, você não ficou nada impressionado com o que eu contei.

– Qual é, estamos em South Park! Um trote à toa não é exatamente surpreendente.

Stan refletiu por alguns instantes e depois deu de ombros.

– É, tem razão – ele se inclinou para pegar um controle.

Que deslize! Essa foi quase. Bem, ainda que minha mentira tenha sido em vão, eles não haviam feito nada na noite passada e era isso que eu precisava ouvir. Consegui!

Porém, festejei internamente por pouco tempo, pois notei o que estava fazendo. Eu tinha armado uma para cima do meu melhor amigo só para que ele e a namorada não tivessem tempo de ficarem sozinhos. Eu fiz a polícia invadir a casa dele. Em que tipo de pessoa eu estava me transformando?

Uma hora ou duas haviam se passado quando lancei um olhar culpado para Stan, enquanto ele euforicamente detonava o meu personagem no jogo. Uma musiquinha da vitória começou a tocar.

– Nocaute! É isso aí! Você se fodeu, Kyle! – ele comemorava. Devido a minha falta de resposta, meu amigo precisou olhar para mim. – Kyle, você está bem? Que cara é essa?

Talvez fosse melhor eu contar. Eu não era muito bom nessa coisa de mentir para o Stan, muito menos se tinha algo a ver com ele. Já fazia meses que eu vinha escondendo aquilo e agora eu havia chegado ao ponto de cometer minha primeira sabotagem! Quantas mais eu ainda faria se não fosse impedido?

– Stan, tem uma coisa que eu preciso te contar.

Ele ergueu uma sobrancelha.

– É algo sério?

– É, mais ou menos. Stan, eu...

Maldita campainha.

– Pera aí, cara, tenho que ir ver quem é.

Stan foi até a porta, me deixando com meus sentimentos de culpa.

– Ei, Stan, como foi o fim de semana? – Randy Marsh, seu pai, entrava seguido por Sharon, sua esposa.

Droga, agora que eu não ia poder contar mesmo.

– Stan, por que a porta está quase caindo? O que você fez? Deu alguma festa? – Sharon foi perguntando incisivamente.

– Não, mãe, é que teve uma confusão ontem e...

– Sharon, dá um tempo pro garoto, acabamos de chegar... – Randy foi empurrando a mulher escada acima. Depois voltou para a sala, com os olhos faiscando de curiosidade. – E então, rapazes, conseguiram que alguém maior comprasse bebida para vocês? Traçaram muitas garotas? Poxa, eu podia ter dado uma forcinha com os suprimentos...

– Pai, a gente não deu festa nenhuma! Passaram um trote pra polícia e eles que fizeram a bagunça.

– Oh, entendo... Isso quer dizer que vocês não transaram com muitas garotas?

– Eu tenho namorada!

– Bom, er... E o Kyle?

Tenho certeza de que corei violentamente.

– Pai, você não pode perguntar essas coisas pra ele! O Kyle ainda é virgem e isso já é embaraçoso o suficiente.

– Stan! – eu berrei, furioso.

– Opa, foi mal, Kyle.

– Por que isso deveria ser embaraçoso? Eu não sou o único!

Stan coçou a nuca, sentindo-se sem graça.

– Bom, na verdade, você é sim.

– O quê!?

– Ah, não é tanta surpresa assim, vai...

– Cara, como assim? Quer dizer, até o Timmy...?

– Pois é, só sobrou você.

Puta que pariu, minha situação era três vezes pior do que eu imaginava.

– Bom, acho que já causei discórdia o bastante por aqui – Randy subiu as escadas e nos deixou ali.

Stan suspirou.

– Meu pai e o Kenny tinham razão. A gente devia ter dado uma festa pra ver se você perdia o cabaço.

– Como é? Você estava conspirando contra mim?

– Não contra você, era a seu favor! E, como pode ver, o plano nem vingou já que a irmã mais velha do Clyde deu para trás e não comprou o álcool.

Incrédulo demais para formar alguma frase, eu apenas me levantei e fui andando até a porta.

– Kyle, cara, não faz isso! A gente só estava pensando no seu bem!

– No meu bem? Caralho, Stan!

– É sério, imagina só se você entrar na universidade assim... Eles vão te apedrejar! E estou falando literalmente!

– Stan, se eu tivesse algum problema com isso, já teria feito algo a respeito. Além do mais, temos dois anos até nos formarmos, eu tenho tempo!

– Bom, na teoria sim, mas nós achamos que, observando esses últimos anos, você não vai conseguir sozinho.

Se eu não estava puto o suficiente, agora eu estava. Cerrei os punhos com força, tentando me controlar. Eu não acredito que eles estavam falando de mim pelas costas (que o Stan estava envolvido!), muito menos que fosse sobre aquele assunto.

Olhei uma última vez na cara de Stan, antes de dizer:

– Adeus, Stanley – abri porta e a fechei com toda a força, o que fez com que ela despencasse no chão.

– Stanley Marsh! – ouvi a mãe dele gritar do andar de cima, mas não iria ficar para esclarecer nada.

Desgraçado! E antes eu estava me sentindo mal por gostar da namorada dele... Agora me sentia o otário da história. Tá certo, não que eu estivesse feliz por não ter perdido a virgindade ainda, afinal, eu era um adolescente de dezesseis anos como qualquer outro e tinha hormônios enfurecidos. Mas o que me distinguia dos demais era que eu não estava necessariamente tão desesperado por aquilo, como se fosse meu único objetivo na vida até que se concretizasse. Eu tinha paciência. Eles que estavam errados em me apressar... Certo? CERTO!?

Ainda extremamente indignado e chateado, fui para o shopping ver se conseguia refrescar as ideias. Comprei um milk-shake e me sentei na praça de alimentação, vendo as horas passarem.

Eu me sentia traído. Nem mesmo o sabor do chocolate conseguia espantar aquela sensação.

De repente, alguém esbarrou uma sacola de compras na minha cara. Claro que não fiquei quieto.

– Mas que merda! Será que não dá prestar atenção?

A pessoa se virou, ouvi o barulho de seu salto agulha batendo contra o piso polido.

– Kyle Broflovski?

Tive que erguer a cabeça para constatar quem era. Fiquei surpreso, mas não deixei transparecer.

– Bebe, vê se toma mais cuidado, tá legal?

– Uh, alguém está nervosinho hoje...

– Dá pra ir se foder? – comecei a ignorá-la, voltando-me para o milk-shake.

Infelizmente, ela não me obedeceu. Sentou-se à minha frente, colocando suas compras na cadeira ao lado.

– Que é que você quer?

– Saber por que você está tão irritado.

– E você liga? Aliás, não está preocupada que alguma amiga a veja? Que eu saiba, um legítimo perdedor como eu não é digno da sua companhia – provoquei, não poupando na ironia.

– E você está certo, mas nenhuma das garotas anda por essa parte do shopping. Quer dizer, estamos na praça de alimentação e elas não são de comer muito, se é que me entende. Quanto à sua outra pergunta, eu preciso confessar que ligo.

Olhei-a desconfiado.

– Por que você faria isso?

– Bom, porque deve ser uma fofoca das grandes! Afinal, pra estar nesse estado, ou você brigou com todo mundo ou sua TPM está atacando.

– Eu não tenho TPM!

– Então, só está fulo da vida.

– É, estou mesmo! Mas não vou te render essa fofoca, Bebe, pode esquecer! – dei um longo gole na minha bebida, tentando mais uma vez fingir que ela não estava lá.

Sem sucesso. Bebe tirou uma lixa da bolsa e começou a retocar suas unhas.

– Tudo bem, Broflovski. Você pode me dizer quando se sentir com vontade.

Mandei-lhe um olhar descrente e recomecei a ignora-la. Até parecia, eu não estava precisando desabafar.

– Lembre-se, Kyle. Eu estou bem aqui. – Bebe encorajou-me com seu tom de voz mais melodioso.

– Esqueça.

Aquele barulho irritante do esfregar da lixa começava a me dar nos nervos.

– Como eu disse, Kyle...

– Chega! Eu já entendi!

Bebe deu um sorrisinho vitorioso, guardando a lixa de volta na bolsa.

– Então, conte-me, Kyle. O que te incomoda?

Fiquei algum tempo brincando com os polegares e os encarando, sem saber como começar e o que eu poderia dizer. Inspirei fundo, adquirindo coragem.

– Certo. Bom, eu tenho esse amigo...

Ela segurou o riso.

– Sei, o seu “amigo”...

– É verdade! E, bem, esse amigo tem um primo de terceiro grau...

Bebe revirou os olhos.

– Ok, prossiga.

– E esse primo de terceiro grau descobriu uma coisa chocante, que pode abalar uma amizade de uma vida inteira!

– Que seria?

– É que ele... Ele está apaixonado pela namorada do melhor amigo dele.

Bebe se inclinou para frente, apoiando o queixo numa mão. Acho que ganhei o interesse dela.

– E esse sentimento é torturante, sabe? Os meses passam e a o negócio só piora! O primo de terceiro grau já não sabe mais o que fazer... Ele acha até que isso está o consumindo por dentro e o obrigando a fazer coisas erradas, coisas que normalmente ele reprovaria...

– Mas então por que você está bravo?

– Ora, por quê? Eu digo por quê! O primo de terceiro grau ficou se sentindo mal pelo que sentia, quando todos os amigos dele, incluindo o melhor amigo, estavam conspirando para fazê-lo perder a virgindade porque acham que ele não tem capacidade de fazer isso sozinho! Como se isso fosse da conta deles! – eu falava num tom bem mais alto que o necessário e até fiquei ofegante.

Passados alguns instantes para que minha respiração se normalizasse, Bebe pegou meu milk-shake e deu um gole. Antes que eu pudesse protestar, ela falou:

– Olha, Kyle, eu acho que você deveria mostrar para eles do que é capaz e dormir com a Wendy.

– E-espera! Não estávamos falando de mim!

– Eu lá tenho cara de retardada? Deixo isso com o Clyde.

Ela havia acabado de insultar o namorado dela para mim? Bom, então tá.

– Mas você ficou louca? Ela é namorada do Stan!

– E o Stan acha que você é um frouxo. O seu melhor amigo disse com todas as letras que acha que só uma garota muito bêbada numa festa ficaria com você.

– Ele não disse isso.

– Disse sim! Você que quis interpretar da forma mais light.

– Mas...

– O Stan sempre dá mancada.

– Bebe, também não é assim...

– Ano passado, ouvi dizer que ele queimou seu computador. E o que estava nesse computador? O trabalho final de vinte páginas de Literatura.

– Mas no fim deu tudo certo, quer dizer, a professora me deixou entregar na semana seguinte valendo metade da nota...

– Metade da nota? Que consolo. E ele nem pagou pelo conserto. Vejamos... Férias depois da quinta série, quadra de basquete. Ele fez uma jogada não muito dentro das regras que resultou no seu braço quebrado em três lugares.

– Era só um jogo entre amigos, não estavam valendo as regras! E como ele poderia saber que a placa da cesta estava pra cair?

– Bom, não devia ter feito aquela jogada pra começar. Que tal quando...

– Olha, Bebe, se for assim você vai encontrar uma lista enorme de coisas, mas a maior parte delas foi acidente. Eu não guardo rancor do Stan.

– Tá certo, Kyle! Seja motivo de piada entre seus amigos por mais algum tempo! Você pode achar que está se guardando para a pessoa certa porque é paciente e respeitoso demais para tentar conseguir o que quer, mas a verdade é que você só está se deixando pisar. A Wendy é essa garota, você não vê? Vocês têm muito mais a ver do que ela e o Stan.

Cara, a Bebe é uma manipuladora de primeira. Ela sabe exatamente o que dizer para que minhas ações pareçam justificáveis. O pior de tudo é que eu estou começando a acreditar nela.

– Kyle, você é... É um cara legal. Eu não digo isso para um perdedor qualquer, realmente enxergo seu potencial.

– O que você espera de mim me fazendo um elogio e me chamando de perdedor dois segundos depois?

– Eu sou honesta, quer o quê? Mas isso me permite enxergar o que você não enxerga. Eu posso ver como você e a Wendy se encaixam perfeitamente, e também como o Stan está precisando seguir em frente. Talvez ele até se torne um amigo melhor com tudo isso.

Comecei a encarar o milk-shake já quase todo derretido dentro do copo plástico.

– Não posso ficar com a namorada do meu amigo, isso fere as regras.

– Ah, não se preocupe, Kyle. Eu sei como fazer isso tudo sem que você saia como o vilão da história. Todo mundo vai sair feliz.

– O que quer dizer com esse “eu sei”?

– Olha, Kyle, eu te acho capaz de muitas coisas, mas nisso sei que precisará da minha ajuda. Felizmente pra você, eu estou me sentindo generosa hoje. Ah, mas é claro, tem uma condição...

– E qual é?

– Peça por favor – ela deu um sorriso travesso, roubando mais um gole do meu refresco já derretido.


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Notas finais do capítulo

Bom, sinto que estou começando a fugir mais e mais do show, mas continuarei a escrever mesmo assim. E olhem, não há realmente um "vilão" na história, só opiniões divergentes digamos.
Bjooooos!