O Livro Da Bruxa escrita por Vega Sage


Capítulo 12
Bananas


Notas iniciais do capítulo

Quem nuca fez isto,eu não sei,Mais ainda bem que eu sou humana.Eu acho ate saber se sou ou nao fiquem com a história



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Chegamos à praia e percorremos sem pressa a avenida em frente ao mar.

Depois de meia hora passeando sem destino,encontrei um bom lugar para estacionar o carro.Descemos e nos sentamos num banco sob uma árvore.

-Você já pensou em como são simples os ingredientes de que precesamos para sermos felizes?-perguntou ela.

-Na minha opinião,o ser humano é uma espécie eternamente insatisfeita.Nunca seremos felizes.Sempre haverá algo a ser conquistado,e nossa felicidade sempre dependerá disso-respondi.

Ela apoiou o pé num montinho de areia.

-Sofremos porque caminhamos no sentido oposto ao natural.Nossos desejos são cada vez mais complexos,e não percebemos que os momentos felizes são feitos de ingredientes simples.Olhar o mar,conversar com um amigo,assistir ao nascer e ao pôr-do-sol,fazer outra pessoa sorrir,ouvir o canto dos pássaros,andar na chuva...-suspirou.

Era um prazer ouvi-la.Permaneci em silêncio,feliz,sentindo a brisa do mar.

-Sabe qual é nosso maior engano?-ela perguntou após alguns instantes.

-Não-respondi,saindo do transe.

-Levamos a vida como quem vai ficar aqui para sempre.

-E como deveríamos levar a vida?-perguntei.

-Como turistas.

-Turistas?-repeti.

-Quando viajamos,fazemos tudo para nossa viagem ser agradável,não é?Passeamos pelos locais mais bonitos,experimentamos as novidades e carregamos apenas o essencial.Sabe por quê?Porque sabemos que estamos de passagem.Que cedo ou tarde iremos embora.

-Você acredita que podemos adotar essa mesma atitude em nosso dia a dia?-perguntei.

-É a única atitude racional.Ninguém ficará aqui para sempre.Estamos apenas visitando este planeta.

-É difícil conviver com a ideia de que um dia iremos morrer-retruquei.-Acho que viver como se fôssemos eternos é um tipo de fuga da realidade.Acumulamos bugigangas e fazemos projetos a longo prazo para ter a sensação de que nunca precisaremos partir.Somos como aranhas construindo teias.

-O problema é que estas teias nos imobilizam.Quanto mais nos agarramos,menos conseguimos usufruir de nossa vida.

-Não é tão fácil assim viver com turista.As convenções sociais impedem...

-Lembra-se de seu artigo sobre macacos e bananas?

Pensei um pouco e comecei a rir.Ela havia me flagado tentando defender um ponto de vista oposto ao artigo que eu mesmo escrevera.

A seguir,uma cópia do artigo.

     POR FAVOR,LARGUE ESSA BANANA!

Uma antiga tribo africana utiliza um método bastante curioso para capturar os espertos macacos que vivem nos galhos mais altos das árvores.O sistema é o seguinte:os nativos pegam um recipiente de boca estreita,colocam uma banana dentro,amarram-no ao troco de uma árvore e se afastam.

Quando saem,um macaco curioso desce,olha dentro da cabaça e vê a banana.Então enfia a mão e apanha a fruta,mas como a boca do recipiente é muito estreita ele não consegue tirar a banana.Surge o dilema:se largar a banana,sua mão sairá e ele poderá ir embora livremente;caso contrário,continuará preso na armadilha.

Alpós algum tempo,os nativos voltam e capturam sem dificuldade os macacos teimosos que se recusaram a largar as bananas.O final é trágico,pois eles são caçados para serem comidos.

Você deve achar absurdo o grau de estupidez desses macacos;afinal,basta largar a banana e ficar livre do destino de ir para a panela.Fácil demais,não é?

O problema deve estar no valor exagerado que o macaco atribui à sua conquista.A banana já está ali,na sua mão.Parece ser uma insanidade largá-la e ir embora.

Achei a história reveladora,porqu muitas vezes fazemos exatamente como esses macacos.Ou você não conhece ninguém que está insatisfeito com o emprego,mas permanece lá,mesmo sabendo que está cultivando um infarto?Ou casais com relacionamentos completamente deteriorados que insistem em ficar sofrendo?Ou pessoas infelizes por causa de decisões antigas que continuam adiando um novo caminho que trará de volta a alegria de viver?Somos ou não como os macacos?

A vida é preciosa demais para trocarmos por uma banana que,apesar de estar em nossa mao,pode nos levar direto à panela.

-Você tem razão.Escrevi exatamente o contrário do que ia tentar defender.Vivemos presos a falsas conquistas.Basta um pouco de bom senso para escaparmos-confessei.

Ela concordou com a cabeça.

-Se o macaco tivesse uma visão de turista,largaria a banana na hora,pois,sabendo que o tempo da viagem é curto,sairia em busca de algo mais emocionante-declarou.

Levantei-me do banco e espreguicei-me.

-Bem,como somos turistas nesta praia,vamos aproveitar o que ela nos oferece de melhor.Aceita um coco gelado?-sugeri.

-Ótima ideia.Depois faremos uma caminhada enquanto o sol ainda não está muito forte.

-Negócio fechado.Vou comprar os cocos.Quer algo para comer?

-Não,obrigada.

Comprei dois cocos num quiosque próximo e voltei ao nosso banco.Entreguei um a ela e sentei-me ao seu lado.

-Você conhece a história do executivo que decidiu tirar uma semana de férias numa vila de pescadores?-perguntou ela.

-Acho que não.Conte-pedi.

-Ele gostava do mar e desejava sossego.Então,alugou uma modesta cabana numa vila de pescadores e partiu para lá com seu carro abarrotado de mantimentos.Uma semana sem fazer nada,longe do estresse diário,sem celular nem televisão,apenas vivendo no paraíso.

-Já estou gostando da história-comentei.

-No primeiro dia,ele acordou bem cedo,pegou a esteira,guarda-sol,passou oprotetor solar e foi à praia.Ainda estava arrumando tudo na areia quando viu seu vizinho pela primeira vez.Era um pescador local.Tinha a pele bronzeada,aparência saudável ,apesar dos cabelos brancos,corpo jovial.O pescador colocou uma canoa na água,remou até passar a formação das ondas e jogou a rede.Ao puxá-la,vieram uns cinco ou seis peixes.Ele escolheu dois e devolveu os outros ao mar.Voltou com o barco,guardou os peixes e passou o restante do dia passeando pela praia.

Ela pôs o canudinho na boca e bebeu alguns goles da água de coco,deixando escapar um murmúrio de satisfação.

-No dia seguinte-prosseguiu-,a mesma cena se repeteiu.Curioso com o comportamento do vizinho,o executivo não resistiu e o abordou quando ele retornava do mar.

"Desculpe-me a intromissão,mas por que você joga a maioria dos peixes que pesca de volta ao mar?",perguntou.

"É porque só preciso de dois:um para o almoço e outro para o jantar",respondeu o pescador.

O executivo ficou inconformado com tamanha ignorância.

"Ah,meu amigo!Você está fazendo errado.Deve trazer todos os peixes,assim poderá vender aqueles que não quiser comer",recomendou.

"Para quê?",perguntou o pescador,surpreso.

"Porque com o dinheiro da venda você poderá compra uma rede maior e pegar ainda mais peixes."

"E o que eu faria com mais peixes?"

"Ora essa!Vendendo mais peixes,você poderá comprar um barco melhor e pescar mais...Então poderá comprar outro barco e contratar pessoas.Seus barcos poderão pescar em alto-mar,e assim você ganhará mais e mais dinheiro."

"É mesmo?"

"Claro!E quando você tiver bastante dinheiro não precisará mais trabalhar.Já pensou?Se quiser poderá ficar na praia o dia todo sem fazer nada",exclamou o executivo.

O pescador coçou a cabeça sem entender,olhou para o homem à sua frente e disse:

"Pois é,mas isso eu já faço pescando só dois peixes por dia."

A bruxa ficou em silêncio,esperando minha reação.Fiquei sem saber se deveria rir ou não.

-É uma piada?-perguntei.

-Apenas uma história de que me lembrei quando você foi buscar os cocos-respondeu.

Ela sorriu e olhou para o mar.

Enquanto permanecemos lá sentados,confesso que pensei em muitas bananas às quais estava agarrado e no excesso de peixes que estava carregando sem necessidade.

Com certeza a vida seria muito mais fácil se eu assumisse minha verdadeira condição de turista neste lindo planetinha azul.


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Notas finais do capítulo

Life is a divine experience ...
We're just tourists in this small planet blue!
Dois capitulos no mesmo dia aproveitem



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