–-Léo! --Falo mais alto, com a voz falhando. --Léo!

Ele começa a se mover. Pouco, mas isso já é o suficiente para eu perceber que ele está vivo. Vivo, respirando, apenas com alguns machucados. Começo a chorar de novo, até que Marcus começa a reclamar.

–-Nossa... Dá pra parar de chorar? Ele está vivo! Isso não é ótimo?

Não sei onde ele quer chegar com esse "ótimo", mas não arrisco em perguntar. Marcus apoia a mão no ombro de Léo, enquanto olha a lamina da faca na outra. Os braços e o tronco de Léo se movem lentamente, e Marcus não parece perceber.

–-Onde... eu estou? --Léo pergunta, voltando a si.

Marcus levanta a cabeça dele puxando-o pelos cabelos, fazendo com que eu olhasse em seus olhos azuis. Seu rosto estava molhado de suor e o lado esquerdo de sua cabeça tinha um machucado grande que ainda sangrava, fora o olho direito estar inchado e roxo. Além de tudo, consegui ver sua camiseta branca empapada de sangue na altura do ombro. Não mata na hora, mas dói e sangra muito.

Marcus sem nenhum lampejo de piedade, risca o rosto de Léo com a faca, a partir da parte inferior de seu lábio, até a gola de sua camiseta. Léo grita de dor enquanto Marcus limpa a faca na própria camisa. O sangue de Léo escorre e sinto como se alguém estivesse apertando meu coração, com a intenção de quebra-lo em pedaços.

–-Pare! Por favor! --Grito para ele, tentando soltar o que amarra meus pulsos.

–-Ah, Char... Se eu parar de tortura-lo, vou ter que mata-lo mais rápido. --Marcus diz, com aquele sorriso doentio.

Léo tenta regular sua respiração, mas as tentativas não tem sucesso. Ele está pálido e parece fraco. Não tenho certeza quanto tempo mais ele vai aguentar. Começo a chorar mais ainda com a possibilidade de assistir Léo morrer. Ele joga a cabeça para trás e murmura alguma coisa. De inicio não entendo nada. Mal consigo ver seus lábios se moverem.

–-Espera, espera. O que disse? --Marcus pergunta, se inclinando para o lado de Léo.

Léo fala de novo, mas não consigo ouvir. Marcus arruma o cabelo dele com a ponta da faca, obviamente aproveitando pra fazer outro corte na testa. Não consigo nem mais chorar.

–-Por que ainda está fazendo isso? --Digo, tentando controlar meus soluços. --Ele não tem nada a ver com isso.

–-Não tem nada a ver com isso? Não tem nada a ver com isso?–-Ele grita, e parece até ofendido. --Você é burra ou só não presta atenção?

–-Por que você gosta tanto de ser mal? Por que ser o vilão, Marcus?

–-Quando você vai perceber que eu não sou o vilão dessa historia? Eu fiz o melhor pra você! Te livrei de gente ruim na sua vida... E agora eu vou te livrar desse idiota...

–-Dá pra acabar com esse discurso.. --A voz de Léo aparece. Ele está respirando com dificuldade. --E... Me matar logo?

–-Não! --Grito.

–-Shhhhh.. eu estou gostando disso.. continue, Léo. --Marcus diz.

–-Por favor... Acabe logo com isso... --Léo está agora suplicando.

–-Não, não o mate! --digo, mas Marcus nem parece me ouvir.

–-É tarde de mais pra mim, Lottie... Vamos aceitar os fatos... --Léo mal consegue falar sem ter que tomar muito folego.

Marcus tira um pouco do resto de sangue de sua faca e se olha na lamina. Vira a cadeira onde Léo está sentando para a sua frente, olhando nos olhos dele.

–-Tchau, Lottie. Te vejo logo. Eu amo você, minha princesa. --Léo diz, virando a cabeça para o meu lado, e sorrindo fraco.

–-Se você mata-lo, eu nunca vou te perdoar, Marcus! --Grito.

Marcus levanta a faca, apontando-a para o peito de Léo. Ele nem escuta meus gritos. Seus olhos tem um brilho doentio e sedentos de sangue. Léo mantém a expressão calma e serena, como se dissesse "está tudo bem, Lottie, vai ficar tudo bem". Me recomponho momentaneamente e digo a Marcus:

–-Eu nunca vou amar você, Marcus. Nunca nessa vida.

Minha voz não falha, não gaguejo, não tenho uma ponta de duvida nas minhas palavras. Marcus olha em meus olhos quando vejo a faca entrar no peito de Léo, que solta um grito abafado. Os olhos de Marcus, por outro lado, transmitem mais dor do que os de Léo.

Sinto uma pancada na cabeça, e não vejo mais nada.