Quinn acordou com batidas na porta.

"Quinn Fabray, abra essa porta agora antes que eu a derrube com minhas próprias mãos!" Era a voz de sua mãe.

"Pernas, Judy, pelo amor de Deus!" Esse era seu pai. "Como você derrubaria uma porta com as mãos?"

"Ah vai se ferrar, Russell! Você não é mais meu marido!"

"Fabray, abre a porta!" Essa era Santana. Quinn sentiu uma sensação de alívio.

Ela abriu a porta e se deparou com seus pais, um de cada lado, e Santana no meio. Antes que eles pudessem dizer qualquer coisa, Quinn agarrou o braço de Santana e a puxou para dentro do quarto antes de trancar a porta novamente.

~

"Ela desistiu."

Rachel olhou para a garota à sua frente como se ela tivesse acabado de questionar a grandiosidade de Barbra Streisand.

"O quê? Mas... Por quê?"

"Não sei, ninguém sabe. Ela so disse 'não' e saiu correndo."

Rachel estava chocada. Como assim Quinn tinha desistido do casamento? Ela ia cantar na festa!

"Tina, você sabe onde ela tá agora?"

A garota sacudiu a cabeça em negativa. "Tudo o que eu sei é que, seja lá onde ela esteja, ela chegou com o carro do Finn."

Rachel estava confusa, mas mais do que isso, preocupada. Ela tinha chegado mais tarde pois seu vôo de Nova York para Ohio tinha atrasado. Apesar de estressada ou, para ser mais exata, puta com o atraso, estava ansiosa e feliz por Quinn. Afinal elas eram... amigas? Tipo isso. Mas agora, quando ela finalmente chegara à igreja, viu todos saindo e cochichando, e descobrira que o casamento não tinha acontecido porque sua 'amiga' tinha dito não.

Por que Quinn tinha abandonado Finn assim, de repente? Será que alguma coisa tinha acontecido? Como ela deveria estar se sentindo agora? Será que ela estava bem? Um milhão de perguntas e teorias passaram por sua cabeça.

Rachel suspirou e tirou aqueles pensamentos da mente. Será que ela devia ligar para Quinn? Talvez não fosse uma boa ideia. Talvez ela quisesse privacidade ou um tempo para pensar. É, era melhor não incomodá-la, pelo menos não agora. Mais tarde ela ligaria.

Com um agradecimento e um abraço, se despediu de Tina e foi para a casa de seus pais.

~

Quinn conversou com Santana por cerca de uma hora. Ela explicou mais detalhadamente o porque de ter abandonado Finn, falou sobre como estava se sentindo no momento e como não tinha ideia do que fazer quando estivesse cara a cara com ele novamente.

"Eu não sei o que dizer quando ele me perguntar o porque da minha desistência."

"Diz a verdade. Que você nunca poderia ir visitar os pais deles porque você não sabe respirar debaixo d'água, tenho certeza que ele vai entender. Baleias são compreensivas."

Quinn revirou os olhos. "Dá pra falar sério? Eu não sei o que fazer!"

"Minha bunda tá vibrando."

Quinn suspirou e revirou os olhos novamente. "Não dá pra você... calma, o quê?"

"Minha bunda. Acho que eu sentei no seu celular." Santana levantou da cama e lá estava o telefone de Quinn, tocando sem parar. Com uma cara de nojo, ela o pegou e sua expressão ficou confusa quando viu o nome na tela.

Rachel Berry.

Ela atendeu relutante. "Alô?"

"Quinn? Ah, que bom que você atendeu. Você tá bem? O que aconteceu? Eu cheguei na igreja e encontrei a Tina e ela disse que... que você desistiu."

Quinn lambeu os lábios. Ela gostaria de conversar com Rachel - já fazia um bom tempo desde a última vez que elas se viram -, e ela agradecia a preocupação dela, mas não sabia se devia contar a verdade à garota. "Eu tô bem Rachel. E sim, eu desisti. Mas eu prefiro não falar sobre isso agora." Ela disse, quase sussurando, imaginando quantas vezes Rachel teria ligado para Finn.

"Ah... tudo bem." Do outro lado da linha, Rachel se sentiu meio decepcionada. Ela queria que Quinn se abrisse com ela, ela pensou que já estavam nesse nível de amizade. Mas ela entendia. Quinn devia estar confusa e cansada, ela tinha o direito de não falar sobre o assunto. "Bem, eu te ligo depois então. Até mais, Quinn."

"Rachel, espera!"

"Sim?", ela perguntou esperançosa.

"Eu... você... você pode me dizer como o Finn tá?"

Rachel franziu a testa, confusa. "Hãn... como assim?

"Bem... eu não falei com ele depois do que aconteceu e bom, você já deve ter entrado em contato com ele..."

"Na verdade, não." Rachel disse, sentindo-se surpresa consigo mesma. A ideia de ligar para Finn nem havia passado por sua cabeça. Ela estava mais preocupada com Quinn, que abandonou, do que com Finn, que foi abandonado.

Quinn parecia tão surpresa quanto ela. Rachel Berry não havia se importado em ligar para Finn Hudson, seu namorado do colégio, aquele que ela dizia ser o amor de sua vida? Parece que as coisas realmente tinham mudado nesses últimos anos.

"Ah... tudo bem, então. Tchau, Rach."

"Tchau, Quinn."

Quando desligou o celular, Quinn suspirou e olhou para Santana, que a observava curiosa. "Então... já tá meio tarde. Você quer que eu passe a noite aqui com você?"

Quinn suspirou. "Eu acho melhor ficar sozinha essa noite."

A morena balançou a cabeça. "Tudo bem. Eu já vou indo, eu volto amanhã. Tchau, Q. Se cuida."

Quinn sorriu, observando Santana sair de seu quarto e com um suspiro, deitou-se em sua cama e voltou a dormir.

~

Quinn acordou, dessa vez com o barulho do despertador. Ela esticou o braço sonolentamente e o desligou. Com um bocejo, esfregou os olhos e levantou. Em poucos minutos, seu pijama estava no chão e ela vestia uma blusa regata amarela e um short jeans branco. Seu cabelo estava preso em um alto rabo de cavalo e seus pés estavam descalços.

Depois de se espreguiçar, ela abriu a porta do quarto e se dirigiu à escada que levava ao andar de baixo. Quando chegou no quinto degrau, ela parou e seus olhos se arregalaram com o que viu.

Finn estava lá, de pé em sua sala de estar.

Quinn ficou ali parada com a boca aberta por tanto tempo que Finn eventualmente acabou olhando para cima e viu a garota. Assim que seus olhos se encontraram, Quinn saiu correndo de volta para seu quarto, trancando a porta.

Que diabos ele estava fazendo ali? Ela não queria falar com ele, não ainda. Seu coração estava batendo forte em antecipação. "Merda, merda, merda!", ela xingou enquanto andava de um lado para o outro, tentando pensar em algo para dizer.

Seus pensamentos foram cortados pelo toque do telefone e com um impulso, ela atendeu. "Santana, eu preciso de ajuda!"

"Quinn? Quinn, é a Rachel, aconteceu alguma coisa?" Droga. A voz de Rachel estava cheia de preocupação e Quinn suspirou. "Não, Rachel, tá tudo bem. Eu só achei que fosse a Santana, eu tava precisando falar com ela."

"Bom... se for algo em que eu possa ajudar..."

Quinn hesitou por um momento. Talvez Rachel pudesse lhe dar uma ideia ou... não. Era melhor não envolvê-la nisso. "Não, Rachel. É uma coisa entre mim e ela."

"Entendo. Bom, eu... eu liguei pra ver se você tá bem. E... eu pensei em dar uma passada aí na sua casa pra gente conversar melhor..."

Por um momento, Quinn esqueceu a ansiedade e sorriu. Rachel estava mesmo preocupada com ela e queria ajudá-la. Elas eram mesmo amigas.

"Tudo bem, você pode vir. Às duas pode ser?"

"Hun... Quinn? Já são três da tarde."

Quinn franziu a testa e olhou para o relógio de seu celular. Caramba, ela tinha dormido tudo isso desde a noite passada? Seu despertador tinha atrasado de novo, mas dessa vez um pouco mais do que ela esperava. "Que tal se eu for às cinco, então? Tudo bem pra você?"

Quinn sacudiu a cabeça. "Claro. Pode ser."

"Então a gente se vê mais tarde, Quinn!"

Assim que a ligação foi encerrada, alguém bateu na porta. "Quinn?" Era a voz de Finn.

Ela ficou paralisada. Ainda não sabia o que dizer e era tarde demais para inventar alguma coisa. "Quinn?", ele chamou novamente.

Quinn respirou fundo e decidiu abrir a porta. Sua barriga estava se revirando e ela sentia vontade de vomitar, mas na melhor das hipóteses ela podia usar o vômito como desculpa pra sair correndo.

Depois que a porta se abriu, os dois ficaram se olhando por um longo momento.

"Posso entrar?" O tom calmo de Finn surpreendeu Quinn. Ele não parecia tão bravo. Pelo menos ele não estava chutando cadeiras por aí.

"C-claro.", Quinn gaguejou, dando espaço para ele entrar. Finn ficou de pé no meio do quarto, esperando que ela dissesse alguma coisa. Mas ela também estava esperando que ele dissesse algo, então os dois ficaram parados ali, em um silêncio constrangedor.

"Bem..." Finn disse, finalmente. "Eu acho que você me deve uma explicação."

Quinn estava se sentindo triste, com pena dele, com raiva de si mesma, ansiosa, tudo ao mesmo tempo. Ela tinha vontade de dizer mil coisas mas nada saía de sua boca e ela agradecia por isso. Afinal, se ela dissesse tudo o que se passava em sua mente, provavelmente nem ela entenderia o que quis dizer.

"Me desculpa, Finn", ela começou. "Eu... eu não queria... eu juro que... olha não foi minha intenção... eu não queria te machucar, eu só..."

"Quinn?", ele interrompeu com o olhar fixo no chão.

"...sim?"

"Só... me diz a verdade, tá? Por que você me deixou lá, me humilhou na frente de todos? Você... não me ama?"

Quinn podia escutar seu próprio coração quebrando. Finn não estava bravo: ele estava magoado e isso era muito pior.

"Não, Finn! Não é isso, é que... eu tenho uma razão muito forte pra ter fugido." Ela não fazia ideia do que estava dizendo à esse ponto.

"E qual é?"

"Eu sou apaixonada por outra pessoa!"

Puta. Que. Pariu.

Pronto. Com uma simples frase, ela tinha fudido com tudo. Parabéns Fabray.

"Uau. E... eu posso ao menos saber quem é?"

Demais. E agora? O que ela ia fazer, meu Deus, tudo tinha ido por água abaixo porque ela resolveu dizer que tava apaixonada por alguém. Quem? Nem ela sabia. E agora, como você vai sair dessa hein, sua idiota?

E com um suspiro mais profundo do que qualquer outro que ela já tinha suspirado, ela soltou o nome que aumentou sua bola de neve. "Rachel."

Pra quem não queria envolver Rachel Berry no assunto, Quinn fez um péssimo trabalho.