Querida pagina de documento Word, estou com problemas para dormir. Tive um surto de ansiedade depois que um casal veio no apartamento ao lado, lá pelas duas da tarde. Eles tinham dois filhos pequenos. DOIS! Imagina o inferno que isso aqui vai virar caso eles se mudem para cá? Criança correndo, gritando e chorando o dia inteiro! Como eu vou trabalhar deste jeito? Não sei se fecharam contrato e torço fervorosamente para que não. Não quero essa gente morando aqui. Dei uma espiadela pela fresta e vi! Vi a cara daquele homem! Ele não é uma boa pessoa. É aquele tipo de cara irritante que vai vir aqui em casa todo domingo pra gente tomar uma, ou vai me chamar pra assistir jogo com ele. Eu nem assisto futebol, ou qualquer outro tipo de esporte! A única vez que topei com uma bola, fui parar na enfermaria com um nariz quebrado. Sei que o Brasil tem um time de futebol e só. Não quero eles aqui. Alem disso, para me dar mais dor de cabeça, meu vizinho de cima, que sempre viajava, resolveu alugar o apartamento também! Imagina se duas famílias iguais a desse cara vem morar aqui?

Definitivamente hoje não vou dormir. Preciso desviar a minha atenção, focar em outra coisa. Pense, pense. Já sei! A Madinusa pelada. Isso espanta qualquer assombração. Imagina aqueles peitos dos tamanho de duas melancias deformadas. Cheios de estrias, pelo e rugas. Argh. Aquela barriga cheia de celulite balançando a luz do luar. Eca. Sua vagina jamais será vista por nenhum homem, pois seu abdômen se configura em um cinto de castidade. Suas pernas muxibentas com estrias a cada dois centímetros e varizes a cada meio. E os pés! Ai, aqueles pés! Não me esqueço desta visão dos infernos. Ela tirou o sapato para mostrar-me sua unha encravada. Não tenho palavras para descrever o que vi. Aquilo não era um pé, mal reconheci os dedos! Era inchado, com protuberâncias estranhas e a maior delas, que tomei pelo dedão, tinha uma bolsa de pus enorme, sangue e carne viva. Se zumbis existissem, eles seriam desse jeito. Agora preciso tirar meu pensamento desta aparição demoníaca.

Esse inferno fez-me lembrar uma das causas pelas quais tentei suicídio. Foram 5 tentativas frustradas ao longo dos meus 47  anos. Não lembro quando desencantei do mundo, mas a partir deste fato que os suicídios (tentativas) começaram. Na primeira vez tomei todos os meus remédios antidepressivos. Resultou em dragões voando e ratos gigantes falando por uma semana. A segunda tentei me enforcar. Resultado: uma dor nas costas que me assombra até hoje. Na terceira vez pulei do quinto andar do meu ex prédio. Resultado: um fêmur fraturado, braço direito quebrado em três lugares, duas costelas quebradas, lesão no pescoço e uma mudança de casa. A quarta vez foi uma tentativa de sufocamento por CO2, mas infelizmente a gasolina acabou antes do processo. Não saio muito de carro, então não sabia o quanto tinha de gasolina. Na quinta e ultima tentativa decidi ser mais tradicionalista e apelar pelo clássico corte nos pulsos, seguido de um banho quente. Não cortei profundo o suficiente e me encontraram inconsciente na banheira.

Um dia quando eu estiver a toa escrevo mais sobre essas tentativas. No fim das contas elas se tornaram cômicas perante o humor negro da vida. Elas também me provaram que eu não fui feito para morrer. Ainda.