Violinos e Veneno escrita por Mariana M


Capítulo 8
Erros do Passado




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Capítulo 8 – Erros do passado

Sabe quando você vê seu mundo inteiro cair? Quando tudo já está perdido, mas sempre tem alguma coisa que faz tudo ficar pior? Essa é minha vida. Às vezes eu penso que eu não nasci para ser feliz, eu nasci para sofrer e esse é meu destino. Quando alguma coisa ruim vai embora da sua vida é sempre bom, mas aí você pensa que essa coisa não vai voltar e que você está livre para sempre, mas aí essa coisa volta e torna sua vida um inferno novamente.

Regina estava tentando me consolar, mas era impossível. João Pedro me abraçava e dizia que tudo ficaria bem, mas eu sabia que não ficaria. E Sarah não estava entendendo nada, ela andava de um lado para o outro e parecia preocupada com alguma coisa ou então ela não estava entendendo o motivo dessa preocupação toda.

- Ok, está na hora de vocês me contarem – Ela se sentou no sofá pacientemente – Porque vocês tem tanto medo desse cara?

Eu e Regina suspiramos, era difícil desenterrar uma história que havia acontecido há tanto tempo. Mas e decidi contar, se eu não contasse não tinha como a Sarah nos ajudar.

- Muito bem, esteja preparada para o que você irá ouvir – eu respirei fundo – Está pronta?

- Sim

Eu me preparei rapidamente para contar aquela história, depois de uns 2 minutos eu comecei:

- 3 anos atrás um garoto se mudou para o nosso colégio, o nome dele era Max, Max Martinez. Ele tinha vindo do México e estava morando com seus tios e digamos que ele era um pouco estranho.

- Como assim estranho? – Sarah perguntou

- Ele vivia calado, quando alguém o cumprimentava, ele não respondia. Um dia todos nós tivemos que escrever redações e ler para a sala toda e quando ele foi ler todos repararam que ele tinha um sotaque estranho e que ele não sabia falar português direito e por causa disso uns garotos começaram a zombar dele.

Regina continuou:

- Eles não deixavam o Max em paz, roubavam o lanche dele, zombavam do sotaque, o empurravam e ele não fazia nada, até que um dia eu e a Ariane ficamos com dó porque ele não tinha nenhum amigo e fomos falar com ele. No começo ele ainda era um pouco fechado, mas depois ele foi se soltando mais. Então coisas estranhas começaram a acontecer.

- Que coisas? – Sarah perguntou ansiosa.

- O grupo de garotos que zombavam dele... Eles morreram em um acidente de carro. E a policia descobriu que alguém tinha tirado o cabo do freio e isso havia causado o acidente. – Eu respondi

- Até aí eu e Ariane não havíamos desconfiado de nada, mas como o Max nunca nos falava de seu passado nós resolvemos investigar. Descobrimos sobre um incêndio na cidade de Apodaca, a cidade em que ele morava. E adivinha? Mais mortes.

- Segundo vizinhos havia uma família em que os pais eram muito rígidos com seus filhos, as vezes batiam tanto nos meninos que as manchas roxas demoravam semanas para sair. A principal vitima era seu filho mais novo, Max. Mas certo dia o garoto cansou de apanhar e resolveu se vingar dos pais colocando fogo na casa em que eles moravam. – Eu expliquei

- Uma vizinha jura por Deus que quando deu 02h00min da manhã ela viu Max saindo da casa e jogando um fósforo lá dentro, ela disse que assim que ele jogou o fósforo a casa toda ficou em chamas e ela não acreditou que aquele pequeno garotinho de 12 anos seria capaz de fazer aquilo. A polícia não acreditou na vizinha porque ela tinha uma doença mental, e esse foi o pior erro da vida deles. – Regina disse.

- Depois da morte dos pais do Max ele e seu irmão vieram para o Brasil morar com os tios. Eu e Regina fomos até a casa deles várias vezes e os tios nunca estavam em casa. Até que um dia o Felipe, o irmão mais velho nos disse que os tios não voltavam para casa há semanas.

- Quando ficamos sabendo disso nós tentamos nos afastar do Max, mas ele não queria se afastar da gente. Ele começou a ficar mais louco ainda, desenhava nossos rostos em papeis aleatórios e entregava para a gente, e tinha fotos nossas coladas nas paredes do seu quarto, ele parecia estar obcecado. – Regina disse quase chorando.

- E não acaba por aí: Uma professora deu nota baixa para ele e no dia seguinte ela foi encontrada morta em seu apartamento. Depois que isso aconteceu eu fiquei tão apavorada que resolvi enfrenta-lo, o chamei para sair e contei que eu havia descoberto tudo, o chamei de psicopata, e isso só o fez dar risadas. Eu ameacei contar tudo para a polícia se ele não parasse de matar as pessoas e ele me ameaçou, disse que se eu contasse a alguém sobre aquilo todos que eu conhecia iam morrer e então no dia seguinte ele foi embora e nunca mais tivemos noticias dele.

- Nós pensamos que ele nunca mais ia voltar e que ia nos deixar em paz e então prometemos esquecer esse assunto e seguir com nossas vidas, mas ele voltou para nos assombrar – Regina não parava de chorar.

Sarah olhava incrédula para nós, eu sei o que ela estava pensando, pensando que nós éramos burras a nos submeter a um assassino, que erramos de não contar a policia, hoje eu com certeza acho que erramos, mas há três anos eu estava com tanto medo dele matar todos àqueles que eu amava que não pensei duas vezes em calar a boca. Eu já tinha perdido meu Pai, não podia perder mais ninguém.

- Esperem, vocês estão me dizendo que eram amigas de um psicopata e deixaram-no ir embora por medo dele matar quem vocês conheciam? – Sarah parecia desacreditada

Aquele tom de voz que ela estava usando me deixou muito incomodada, resolvi rebatê-la

- Se um psicopata ameaçasse matar todos aqueles que você conhece o que você faria?

- Chamaria a polícia! Se ele fosse preso ele não mataria ninguém! – Ela falou aquilo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Ninguém fica preso para sempre, Sarah. Uma hora ele ia sair e viria atrás de nós.

- Gente, ele matou 8 pessoas e sabe lá o que ele fez com os tios, se ele pegasse uns 80 anos de cadeia seria sorte para ele.

João Pedro finalmente falou:

- Sarah, isso aqui é o Brasil, ele poderia pegar os 80 anos de cadeia, mas sairia depois de 10 anos por bom comportamento e ele é menor de idade, não ficaria muito tempo preso.

Sarah ficou nos encarando por alguns minutos e depois continuou a falar:

- Escutem, temos que prender esse cara.

- Isso é óbvio né, Sarah. Mas como vamos prendê-lo? – Regina disse impaciente.

- Temos que armar um plano. – ela ficou encarando a parede enquanto falava

Todos ficaram em silêncio esperando que Sarah nos desse uma ideia, afinal ela era o cérebro dali. Mas parecia que ela queria que nós pensássemos também. Eu estava tentando pensar, mas eu não tinha ideia alguma de como prender um psicopata. Certa vez eu li que psicopatas eram extremamente inteligentes, e que eles usavam 2% a mais do cérebro do que as pessoas normais, se isso fosse verdade nós estávamos muito ferrados. Sarah interrompeu meus pensamentos:

- Ok, eu acho que o primeiro passo é alertar as pessoas mais próximas a nós, os nossos pontos fracos.

- Como assim ‘’nossos pontos fracos’’? – eu perguntei

- Max vai fazer de tudo para atingir quem está tentando deter ele, e como ele vai fazer isso? Matando as pessoas que nós mais amamos. Por isso precisamos avisar para eles o que está acontecendo.

Nesse exato momento eu pensei na minha mãe. Caroline disse que ela tinha ido a uma viagem da empresa e que voltaria dali a 1 mês. Fiquei imaginado eu indo falar com ela sobre isso: ‘’oi mãe, eu só queria te avisar que tem um psicopata que eu estou tentando prender e provavelmente ele vai tentar atingir a senhora, então não fique muito sozinha tá bom?’’ Acho que se eu falasse uma coisa dessas para minha mãe ela me colocaria em um hospício ou então me trancaria em casa e nunca mais me deixaria sair (o que não daria certo) ou então ela nem ligaria.

- Não tem como eu dizer uma coisa dessas para a minha mãe – eu disse

Sarah olhou para mim severamente

- Por quê? Porque ela vai pensar que você está louca?

É isso mesmo.

- Olha, se eu falasse isso para minha mãe ia ser a mesma coisa de não falar nada, ela não acreditaria em mim e provavelmente me colocaria em um hospício.

Sarah abriu a boca para falar alguma coisa, porém João Pedro a interrompeu:

 - Ela não acreditaria em você, mas acreditaria na Caroline.

Isso é, se a Caroline chegasse em casa dizendo que alienígenas invadiram a terra e fizeram o presidente dos Estados Unidos dançar Macarena de calcinha era bem provável que minha mãe acreditasse, mas seu eu chegasse em casa falando que ia chover ela mandaria eu calar a boca.

- Eu vou tentar fazer com que a Caroline faça a minha mãe acreditar nisso.

Todos ficaram em silêncio encarando um ao outro até que Regina arregalou os olhos como se tivesse descoberto uma coisa extraordinária.

- Eu pensei em uma coisa agora...

- O que? – todos falaram juntos

- E se o Max matou mais pessoas?

Sarah fez uma expressão de que estava muito decepcionada

- Mas é claro que ele matou mais pessoas, ele é um psicopata.

Percebi que Regina se segurou para não dar uns tapas nela.

- Eu estou falando da Bianca e da Jéssica. E se ele as matou para tentar se vingar da Ariane?

Todos ficaram pensativos por um momento. E pensando bem aquilo fazia todo sentido, ele desapareceu por 3 anos e teve tempo suficiente para bolar um plano. Um plano perfeito, eu tinha que admitir. Quando eu fui confrontá-lo eu o xinguei de tanta coisa, e disse que um dia eu acabaria com ele, ameacei chamar a policia, eu havia humilhado ele e agora ele voltou para me humilhar mais ainda. Havia castigo pior do que fazer eu me tornar uma pessoa que eu desprezava? Não. Eu fiz Regina odiar ele, naquela época ele se dizia apaixonado por Regina, mas ela não sabia e nunca soube. Eu fiz a pessoa que ele era apaixonado o odiar e ter nojo dele. E ele e por vingança ele fez o mundo inteiro me odiar.

- Faz todo sentido ele ter matado a Bianca e a Jéssica. – eu finalmente disse

Todos olharam estranhos para mim.

- Por quê? – Sarah e João Pedro perguntaram ao mesmo tempo

- Os recados que ele mandava coincidem com as datas das mortes, ou seja, ele chegou aqui na mesma época em que a Bianca morreu e apareceu para nós no dia que a Jéssica foi mutilada dentro do banheiro. – eu expliquei

- Pensando por esse lado... – João Pedro disse

- Mas como que ele entrou no banheiro feminino cheio de gente e cortou aos pedaços uma garota lá dentro sem que ela gritasse? Faz sentido ele ter matado a Bianca, e não a Jéssica – Sarah disse.

- Então temos que prender 2 assassinos? – Regina perguntou

- Acho que sim – Sarah respondeu

Todos ficaram cabisbaixos, não sabíamos como prender 1 assassino, imagine 2.

- Lado bom: nós já sabemos quem é um dos assassinos e isso já facilita metade do processo. Lado ruim: Não temos a mínima ideia de como colocar esse assassino na cadeia e ainda por cima descobrimos que existem 2 assassinos e isso dificulta muito a nossa vida. – Sarah disse cansada.

Regina revirou os olhos e disse:

- Obrigada por me dizer o óbvio, isso ajudou muito.

- Cala a boca, pelo menos eu estou pensando e você aí sem fazer bosta nenhuma – Sarah rebateu.

Regina tentou se levantar para bater na Sarah, mas João Pedro a segurou pelo braço a tempo.

- Vocês duas parem com isso! Temos que pensar numa forma de prender 2 assassinos e ainda nem sabemos quem é o segundo, se vocês ficarem com essas briguinhas idiotas nós não vamos conseguir nunca – João Pedro brigou com as duas

Sarah se levantou e pegou sua bolsa.

- Escutem, eu vou para casa pensar em alguma coisa e eu peço para que vocês pensem também porque eu não vou ficar me virando sozinha vocês tão me entendendo? Nós precisamos de um plano e, por favor, nada de planos idiotas ok?

- Ok – todos reviraram os olhos enquanto falavam

- Custe o que custar nós vamos prender esse cara.

Sarah foi embora deixando apenas uma coisa para fazer e que eu não tinha ideia de como que aquilo devia ser feito, peguei meu caderno e comecei a rabiscar ‘’como prender um psicopata...’’


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