O Passado E O Futuro De Peixes escrita por Filha de Hades


Capítulo 4
Capítulo 4: Era uma vez


Notas iniciais do capítulo

Oi gente... Só peço desculpas pela demora em postar, eu fiquei doente e de cama por algum tempo, mas estou melhor agora, passei o dia todo escrevendo isso. Me perdoem os errinhos de ortografia mas não tive tempo de revisar ç.ç ...
Espero que gostem...
Boa leitura.



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“Essa é a parte da história

Que era pra gente não saber

E viveram felizes pra sempre

Não vai mais me convencer”

Terra Celta

— Acorda!!!!!!!

Afrodite pulou da cama pelo grito que ouvira. Ele gritou junto. Seu coração foi parar na garganta, achava que algo terrível deveria estar acontecendo, o cobertor ainda estava sobre parte de seu corpo, que se encontrava sentado sobre a pequena cama. Seu olhar rapidamente e por fim fixou o olhar em Ann. “Tinha que ser” – Pensou. Ela estava postada e frente à cama com as mãos na cintura, como sempre invocada e com um irritante sorriso largo no rosto.

— Pelo amor de Athena, o que está havendo aqui? – Perguntou o cavaleiro ainda em choque.

— Levanta bela adormecida. Temos um dia cheio.

— Ah não... – Ele olhou pela janela e ainda estava escuro lá fora se jogou outra vez na cama e cobriu até a cabeça. – Que horas são?

— Cinco e quinze da manha. Pode me agradecer depois por ter te deixado dormir tanto.

— Dormir tanto? – Ele descobriu o rosto e a encarou apontando para a própria face. – Eu preciso dormir. Você acha que manter esse rostinho aqui é fácil?

— Como você pode ser tão fresco?

— Da mesma forma que você pode ser tão chata.

— Você parece uma garota. Fresca e nojenta.

— Há. – Ele riu. – E você parece um homem. Mandão e chato.

— Arg. – Ele gritou impaciente. – Sai já dessa cama!

— Me obrigue!

Ele se cobriu mais uma vez formando quase que um casulo com o cobertor. Estava decidido a ficar ali por um bom tempo. O que o manteria longe da monstra. Mas ela não desistiria. “Se não vai sair por bem. Sairá por mal.” – Foi tudo que Afrodite ouviu antes de sentir as mãos de Ann sobre o seu corpo tentando puxar as cobertas. Ela era forte e eles começaram quase que um cabo de guerra. Até o momento em que o cavaleiro cansado da disputa puxou com mais força fazendo a garota tropeçar e cair sobre ele na cama. Em um movimento rápido ele girou por cima dela prendendo-lhe os braços sobre a cabeça dela e com o resto do corpo impedindo que ela se movesse. Aquela posição obrigava que ela o olhasse diretamente nos olhos.

— Me solta já seu louco, maníaco... Seu...

— Escuta aqui... – Ele a cortou com uma voz autoritária. – Eu sei que você está acostumada a ficar sozinha aqui, a fazer o que quer ou sei lá como se porta com o seu mestre. Mas é educado tratar bem as visitas. E o que você está fazendo é exatamente o oposto. Sendo assim, elas vão embora à primeira oportunidade. O que eu já deveria ter feito.

— E porque não fez? – Ela disse séria, em um bom tom, mas sem gritar, ela parecia quase triste quando ele cogitou a possibilidade de ir embora, porem jamais admitiria isso. Seus olhos mergulharam no azul profundo bem a sua frente, bem próximos aos seus. Ela estava se apegando a companhia dele e tinha se esquecido que em algum momento ele iria embora. E seu instinto a fez pensar que se era assim, melhor que ele fosse logo, antes que ela se apegasse mais.

A expressão do pisciano mudou. Ele não havia parado para pensar nisso nesses últimos dia, apenas naquele instante notou que nenhuma vez se quer perguntara para que lado era o santuário. Que ele não estava no seu normal ele já havia notado, mas não imaginou a que nível isso já estava.

— Eu... Eu... – Sua voz falhou. Ele não sabia o que dizer e a expressão da garota também mudou, por um instante ela se esqueceu de tudo e perdeu a pose de “macho” que gostava de impor ao rapaz. Afrodite engoliu a seco a fitando profundamente nos olhos notando a proximidade que estavam. Ela sentiu o próprio coração um pouco irregular pulou uma batida e bateu duas mais fortes, seguindo para um ritmo cada vez mais inconstante. Nunca havia se sentido assim antes, talvez devesse sair dali. Mas a questão era: Ela queria sair dali? Afrodite tentou sussurrar mais alguma coisa, porem o sussurro saiu mais baixo que o esperado não dissipando som algum pelo ar. Apenas entre abrindo os lábios enquanto inconscientemente se aproximava. Eles estavam tão perto que Ann estremeceu ao sentir a respiração dele.

Neste instante inerte, no qual o tempo pareceu parar foi que eles ouviram um pigarro.

— Estou atrapalhando alguma coisa?

Ann sentiu seu peito gelar e desviou o olhar para a fonte da voz. Os olhos verdes se arregalaram quase que automaticamente. Em um impulso rápido empurrou com força o cavaleiro que caiu da cama bastante atordoado. Ficou sentado no chão e levou as mãos à cabeça tentando se localizar.

— Hey... Sua...

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa ouviu a garota.

— Mestre!

“Mestre” – Ele repetiu mentalmente. Ainda estava meio tonto, havia acabado de acordar demorou alguns segundos para que a ficha caísse. “Mestre!” – Pensou novamente e ergueu o olhar. A primeira coisa que viu foi a pequena Ann postando reverencia. Ela estava tão calada, sua face escondida, tão submissa que nem parecia a mesma garota com quem brigava sempre que abria a boca. Essa situação era tão estranha que lhe arrepiava. Não demorou em erguer ainda mais o olhar e notar um homem ali. Ele olhava para baixo, para Ann. Seu olhar não parecia ter um significado certo talvez de reprovação pela cena que vira, mas não era necessariamente isso. Afrodite sentiu um arrepio incomum lhe percorrer a espinha quando o olhar daquele homem se desviou em sua direção. O pisciano não se deixou intimidar, retribuiu o olha penetrante na mesma intensidade, eles ficaram ali por um momento que parecia interminável, trocando aquele olhar, até que o homem – que Afrodite prontamente havia identificado como o homem da foto, como Pefko – sorriu de uma forma estranha. Voltando em seguida seu olhar para a garota.

— Pode levantar-se Ann. Achei que me receberia de outra forma. – O sorriso dele agora era leve e doce. Aconchegante. Daquele tipo que qualquer pessoa poderia facilmente sorrir junto. Que qualquer pessoa desejaria presenciar. Ann se levantou e olhou o mestre sorrindo junto dele e o abraçando.

— Desculpe mestre. – Ela sussurrou baixinho em meio ao abraço. Ele acariciou os cabelos da garota uma vez. Então ela se afastou. — Senhor Pefko eu posso explicar. – Ela engoliu a seco baixando a cabeça. Estava visivelmente corada. A verdade é que ela não sabia bem como explicar o que estava prestes a fazer, mas poderia dizer como aconteceu.

— Não precisa criança. – Ele disse bagunçando os cabelos dela com a destra e rindo de leve. Em seguida seus olhos mais uma vez foram parar em Afrodite. Este por sua vez já estava de pé e mantinha uma pose um tanto defensiva. Mesmo não demonstrando isso claramente, já que seu cinismo habitual podia esconder qualquer coisa. — Pois vejo que temos visita hoje... E não é qualquer visita, uma visita ilustre.

Ann franziu o cenho. Não estava entendendo a reação de seu mestre e nem exatamente do que ele falava. Pefko deu alguns passos na direção de Afrodite e fez um leve e rápida reverencia que Ann pode ver. Ela estava quieta, queria ver onde ele iria chegar. E na fala seguinte seus olhos novamente se arregalaram.

— A que devemos a honra de sua visita Afrodite... Cavaleiro de ouro de peixes?

♀ -------------------------------------------- ♂

Existem dias que literalmente te decepcionam não é?  Que prometem tanto e no fim das contas não retribuem em nada as suas expectativas. Existem dias que não te dão descanso. Mas esses dias às vezes vêm como trégua. Uma trégua forçada, mas que ainda assim pode ser manejada e moldada por alguém que saiba como. A manha foi cheia. Cheia de explicações. Cheia de histórias. Cheia de perguntas não feitas e respostas não dadas. Uma manha insatisfatória. Ann contou como achou o cavaleiro, ela não havia visto quem ou o que o atingira, apenas o encontrou e levou para casa. Afrodite contou o que lembrava, não que fosse muito, sabia que alguma coisa estava mal contada sobre como ele chegou ali, mas não conseguia se lembrar o que, era como se parte recente daquela memória tivesse sido desfocada. Eles contaram tudo, da invasão, do roubo, das brigas, tudo sem muita ênfase. Eles chegaram a discutir discretamente enquanto relatavam suas versões da história. E Pefko apenas balançava a cabeça positivamente como que entendendo. Ele não ficou bravo, nem minimamente alterado. Nenhum “mas”, nenhuma “porque?”, nenhum simples “porem”... Nada. Ele não questionou ou bronqueou. Afrodite se lembrou de ter pensado que ele não poderia ser humano. Que ele teria algum problema sério em expressar sentimentos.

Ao fim da explicação Pefko pediu para que os dois se retirassem. Ele precisava ficar um pouco sozinho, tinha algumas coisas a resolver e que eles poderiam conversar sobre aquilo depois. Constou também que Afrodite ainda era convidado a estar ali por quanto tempo mais precisasse. Perguntou se eles poderiam fazer a colheita de algumas frutas do pomar que iriam apodrecer em breve se não retirados com cuidado.

Afrodite e Ann estavam agora no pomar. Era um lugar maravilhoso. Ficava atrás da casa um pouco afastado. Elas nasceram próximas as margens do rio. O que favorecia os dois lados. Mantendo as arvores bem vigorosa e as margens do rio sempre protegidas pela vegetação. O céu estava bem azul, quase sem nenhuma nuvem. Não sabia dizer se o rio refletia o céu ou o contrario. Tão pouco sabia a quanto tempo não tinha uma visão como aquela. A quanto tempo não esteve tão perto assim dessas belezas naturais. Mesmo tendo as suas rosas por perto, não sentia como se fosse a mesma coisa.

Não estaria nada tão mal assim se não fosse por um motivo. E esse motivo tinha nome. Ann. Ela estava calada, trabalho o tempo  todo sem dizer um “ah” se quer. Isso não o assustava por assim dizer, isso o incomodava. O Silencio da garota irritante lhe era mais irritante do que quando a mesma falava. Afrodite quase tentou puxar assunto algumas vezes, mas era inútil. Nada fazia sentido, nada funcionava. Nem mesmo a quase queda dela. Nada. Depois de algum tempo ele passou a apenas trabalhar também. Seus pensamentos vagavam por varias coisas, mas o ponto principal era o tal Pefko que agora apareceu, assim seria mais fácil de descobrir o que queria dele. “Mas ele tinha que aparecer bem naquele momento?” – Pensou. “Bem quando eu estava prestes a...” Ao notar o que estava pensando e que estava olhando a garota naquele instante, ele balançou a cabeça desviando o pensamento que quase se formulou. Continuou tentando não pensar muito, toda vez que o fazia seus pensamentos acabavam no mesmo ponto.

Perdeu a conta de quantas vezes ele teve que respirar fundo. Ao fim do trabalho se ajoelhou as margens do lago e lavou o rosto com aquela água corrente. Repetindo para si mesmo.

— Fica calmo Afrodite. Não se deixe enlouquecer. – Ele repetiu isso algumas vezes em um tom tão baixo que apenas ele mesmo poderia ouvir. Quando ele abriu os olhos pode ver seu reflexo na água e o de Ann ao seu lado. Ela estava cabisbaixa e nada dizia, mas Afrodite tinha a sensação de que ela poderia explodir em lagrimas a qualquer instante se não falasse algo. — Ann...

— Porque? – Ela o cortou.

— Ahn?

— Porque não me disse que era um cavaleiro? – Ela perguntou sem olhá-lo. — É claro que você tinha porte de cavaleiro... Mas... Um cavaleiro de ouro? É claro que isso explica porque és tão belo. A fama do cavaleiro de peixes até mesmo eu conheço.

— Mas Ann... Eu achei que não fosse importante. Ou que você soubesse... Eu ...

— Eu saber? – Por fim ela o olhou, lagrimas estavam formadas naqueles olhos verdes, contra a vontade da garota elas caiam, e já não importava mais. — Eu vivo aqui, presa, neste mesmo lugar inabitado desde que eu posso me lembrar, e você esperava que eu fosse conhecer a aparência dos cavaleiros de ouro? Tudo que eu sempre soube é que eles são agraciados com as armaduras mais poderosas, e me desculpe, mas você não apareceu aqui trajando uma armadura dourada.

Ann foi jogando tudo sob o cavaleiro que ficou sem falas, pela primeira vez ficou sentido em relação a algo que deixara de fazer.

— Mas Ann... Como eu poderia...

— Como você poderia? Você não se importa é claro. Posso não te conhecer pela aparência, mas a sua fama é bem explícita. Você só se importa consigo mesmo, nunca com os demais. – Ela riu em meio as lagrimas enquanto tentava secá-las, mas antes que pudesse outras tomavam o seu lugar. — Seria ingenuidade demais achar que se importaria comigo. Eu posso ser uma garota e não ter muita experiência.. Mas eu não sou simplória Afrodite... Eu...

Ela começou a chorar mais forte, algo lhe doía por dentro, algo bem mais forte do que uma simples revelação como essa. Algo que se Afrodite quisesse mesmo ajudar teria que descobrir de uma maneira ou de outra. Ann levou as mãos ao rosto o cobrindo tentando disfarçar a dor acumulada que agora escorria pelos olhos. O pisciano não se conteve agora e a abraçou aninhando a garota em seu peito, ela não rejeitou, não queria e nem podia fazê-lo. Aquilo era tudo o que precisava. Eles ficaram assim, em silencio por um longo momento, até que ela respirou fundo.

— Você vai embora não é?

— Eu... – A voz de Afrodite falhou na primeira palavra. — Eu terei que voltar ao Santuário. Tenho uma obrigação lá. – Ela se apertou nos braços dele sem querer olhá-lo. — Mas... Mas... Eu... Eu não preciso voltar agora. Posso ficar mais um pouco.

— Eu... Não queria... Que fosse.

— Ann... Você é... Uma grande garota... Uma.. Irritante, mandona e sarcástica... Garota. – Ela olhou pra ele desconfiada. — Você é... Uma bela... Mulher. – Os dois coraram. — E... Você vai ficar bem... E... E... Você não está presa aqui. Você se prendeu a este lugar. Você é livre para ir e vir Ann. Não precisa passar o resto da vida presa aqui isolada do mundo. Pode vir comigo visitar o santuário... Se quiser.

— Posso... Mesmo? – Ele sorriu mas ela balançou a cabeça negativamente. — Não.. Eu não posso sair daqui.

— Só se você quiser Ann. – Ele a olhou nos olhos segurando-a pelos ombros. Ela sorriu, mas não disse nada sobre o assunto.

— Ah, Afrodite... Não sei como pode ter tomado uma parte da minha vida tão rápido... Sendo... Que não sei nada sobre você. Nem se quer sabia que era um cavaleiro.

— E o que mais... Quer saber de mim?

— Você não é a pessoa ruim que todos falam. Eu vi que não, você não agiu assim. Você me ajudou, me salvou. Porque ganhou aquela fama? Porque fingi ser quem não é?

— Ann... – Ele a soltou e voltou-se para a água vendo seu reflexo ali. — Temo dizer que eu seja exatamente o que os rumores disseram.

— Mas...

— Shiii... – Ele a cortou. — É verdade Ann. Eu sou tão fútil e cruel quanto eles dizem. E estaria mentindo se dissesse que não me orgulho disso.

— Então por quê? – Ela disse desanimada o olhando.

— Acho que não entenderia se eu não contasse tudo não é... Mas... Acho que temos tempo pra uma longa história. – Ele respirou fundo antes de começar, porem não a olhou diretamente. — Eu nasci longe daqui Ann. Nasci em uma tradicional família do norte da Inglaterra. Meu pai era um bom homem, ele quem me criou. Minha mãe, apenas conheci por foto... Ah... Como era linda! A criatura mais bela que já tive o prazer de contemplar.

— O que houve com ela? – Perguntou com a voz rouca.

— Complicações no parto. Segundo o medico ela era muito nova e... Ficou muito doente e debilitada perto do fim da gestação. Mas... Bem, eu nunca reclamei disso, apenas lamentei minha vida toda nunca ter podido tocar aquele rosto. Meu pai também era um belo homem, era influente em nossa região, ele era enólogo, um dos mais respeitados. Tinha os melhores vinhos em casa, de todas as partes onde já tinha participado como degustador. Isso para mim nunca fez muita diferença, ele trabalhava pouco depois que eu nasci. Estava sempre comigo. Por causa dele nunca sentia a falta de uma mãe. Por causa dele e de minha babá. Não me lembro mais de seu nome, porem foi ela quem começou a me chamar de Afrodite.

— Como é seu nome?

— Jean... Meu nome é Jean. Minha mãe escolheu, acho que significa “Agraciado por Deus” algo assim. Nasci em uma família rigorosamente católica. Mas a minha babá era da Grécia. Ela quem me ensinou muito do que sei hoje sobre mitologia e Deuses. Ela passou a me chamar de Afrodite pela minha beleza... Me lembro até hoje quando ela disse pela primeira vez...

[...] — Bom dia pequeno Afrodite. Está na hora de levantar. – Disse uma mulher esbelta e alta agachada ao lado da cama do pequeno Afrodite. Ela tinha a pele corada, mas não era negra, tinha uma beleza singular que não era valorizada pelas vestes simples.

— Do que me chamou? – Disse o jovem garoto sonolento se sentando na cama.

— Afrodite... Chamarei-lhe assim de agora em diante. Você é o garoto mais belo que já vi, seus traços delicados te tornam único e especial.

— Mas porque.. .Afro.. .Afrodite?

— Não conhece a lenda de Afrodite? – Ele balançou a cabeça negativamente. — Afrodite é a Deusa grega, filha de Zeus, abençoada pela beleza divina, ela era a Deusa mais bela de todas e sabia disso. Vangloriava-se disso, como deveria ser. Por isso ganhou o titulo de Deusa do Amor e da Beleza. Lembre-se Jean... Afrodite te abençoou. Te deu o dom da beleza, e você deve se sentir feliz com isso, é um dom de poucos, você é único e superior, a beleza te torna superior. Essa beleza trás glorias únicas, a vitória é bela, a singularidade é bela. A derrota é feia e odiada, a igualdade é comum e sem brilho. Você deve pertencer ao primeiro grupo Afrodite. Meu pequeno Afrodite... [...]

— Acho que depois disso, ela passou a me falar dos Deuses todas as noites, escondida de meu pai. Passávamos horas falando disso, e toda a noite ela me lembrava de como eu deveria ser. Das conseqüências e do legado que aquela aparência me trazia. E eu comecei a gostar, não só aceitar, passei a gostar muito do que eu era, da graça que me fora dada. E eu passei a pedir que todos me chamasse pelo novo nome, acho que só não me esqueci de meu verdadeiro nome por meu pai, meu amado pai que adoeceu pouco tempo antes de meu aniversário de sete anos. Mudamos-nos para a casa do pai dele. Foi ai que passei a odiar mudanças. Meu avô era um homem horrível, tanto na aparência quanto no seu jeito de ser. Minha babá foi comigo é claro, não ficaria longe dela.

Ele fez uma pequena pausa olhando para o céu. Ann esperou pacientemente que ele respirasse.

— Foi tudo tão rápido... Perdi meu pai naquela noite fria.

[...] — Lembre-se sempre meu filho, não importa o que aconteça, seu pai sempre estará olhando por você. E não mude, seja sempre essa criança que seu pai tanto ama.

— Mas papai... Eu ... Eu não quero que vá. – Disse o garoto em lagrimas ao lado do leito do pai.

— Mas eu tenho que ir meu anjo. E é uma viagem que eu não posso te levar. O pai não vai voltar Jean, você terá que ficar com seu avô.

— Eu não gosto do vovô papai...

— Sei que cuidarão bem de você. Nunca se esqueça de seus valores Jean. Eu te amo. [...]

— Mas ele não sabia que eu já tinha valores diferentes, e achei que eram desses que ele estava falando. O coração de meu pai parou de bater logo em seguida. Eu nunca chorei tanto em toda a minha vida. Meu avô não er ao que se podia chamar de família, e quando ele quis mandar a minha babá embora por pura avareza ela me fez uma proposta.

[...] — Eu posso te levar comigo Afrodite. Você tem uma grande força interior... Eu sinto. – Disse colocando a mão no peito do menor. — Você tem uma grande chance de ser alguém lendário lá... Será o ‘Adônis’ de sua época. Só que com muito mais honra e gloria.

— Para onde vamos? – Disse ele sem nem pensar duas vezes.

— Para a Grécia. [...]

— Foi neste instante que a minha vida mudou para sempre. Ela me levou ao santuário e lá me deixou para ser treinado. E me tornar um cavaleiro. Treinei muito em vários lugares e de varias formas diferentes. Fui treinado por uma mulher cavaleiro. Era uma amazona de prata... Em resumo, ela também admirava a minha beleza, e eu gostava de ter aquela atenção até mesmo de minha mestra que era uma mulher muito rígida. Ela me passou as antigas técnicas dos cavaleiros de peixes. Ela não trajava essa armadura porque nunca fora capaz de controlar todas as técnicas. Eu fui, superei minha mestre, a venci em uma batalha e desta forma me tornei um cavaleiro digno de trajar a armadura de peixes, o único digno. Nunca mais vi minha mestra depois que assumi meu posto, fiz questão de não vê-la, se o tempo me ensinou uma coisa certa, é que não vale a pena se apegar. E quanto a minha ex-baba? Ela prometeu que voltaria, e ficaria para sempre ao meu lado. Ela também não passava de outra mentirosa e arrogante. É isso o que as pessoas fazem com você Ann, você confia nelas, e elas te traem. Você se apega a elas e elas te deixam. Você se entrega a elas... E você morre.

— Mas nem todas as pessoas são assim Afrodite.

— O mundo está corrompido. O mundo todo corrompido por uma doença que vem sendo passada de geração para geração e enfiada na cabeça de crianças desde que nascem, a arrogância e o egoísmo fazem parte do coração das pessoas, de todas elas. E não da pra vencer uma multidão. A única forma de não se ferir Ann, é ser superior a elas. A todas elas. E isso eu sou, com isso eu fui agraciado. Sempre que as coisas mudavam algo se quebrava em mim. E foi isso que eu me tornei. Me faz bem ser assim. É... Eu acho que faz. As pessoas não valem a pena Ann.

— Desculpe. – Foi tudo que a garota conseguiu dizer naquele instante. O que fez Afrodite acordar para a realidade. Para a situação que se encontrava.

— Mas Ann. – Ele se voltou para ela segurando-lhe as mãos. — Você contraria tudo isso. A maior parte pelo menos. Eu não sou totalmente insensível. Pelo menos não fui com você. Eu me preocupei de verdade com você e ainda me preocupo... É... Por isso que ainda não fui embora.

— Mas Afrodite, existem mais pessoas como eu. Mais pessoas que podem lhe fazer bem.

— Eu já desisti da humanidade a muito tempo Ann. Eu luto por Athena, porque ela é uma Deusa, e luto por mim. Porque a vitória é a beleza extrema. A beleza que eu devo alcançar. Que devo honra pelo nome que decidi ostentar.

— Afrodite... Jean... Me escute. O que diz de... Meu mestre? Pefko?

— Esse é o que mais me intriga Ann. Eu sei da devoção e da gratidão que tem por ele. Mas existe algo errado com o Seu mestre. E eu vou descobrir o que é... Ninguém é tão bom... Ninguém é tão perfeito assim. Não se iluda com o mundo. Você fica mais duro e mais frio com o tempo, e isso é uma pena... Mas viver a vida toda tão ingênua, certamente é fatal.

Afrodite se levantou sem esperar uma resposta e foi em direção a casa. O entardecer já havia caído e eles nem se quer haviam notado. O pisciano se fechou no quarto pelo resto do dia. Ann por sua vez ficou ali mesmo onde estava por um bom tempo, pensando no que ouviu. No que sentia... E no que faria agora. Porque Afrodite havia feito com ela o que ele tanto odiava. Ele mudou a vida de Ann para sempre. E no momento, ela estava perdida. 


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Notas finais do capítulo

Nota: Para quem não conhece o mito de Adonis, em resumo ele era um jovem muito belo que nascera de relações incestuosas que sei pai o rei Cíniras de Chipre manteve com a sua filha Mirra. Adônis era tão belo que veio a despertar amor em duas Deusas Afrodite e Persephone. Zeus impôs que as brigas parassem com a divisão desse 'amor'. Ele deveria passar meio ano com cada uma porem Adônis tinha preferencia por Afrodite e passava com ela todo o tempo. E isso da origem a outro mito que fica pra uma outra hora. rs'
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Kissus ♥



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