Conto De Fadas: O Outro Lado Da História escrita por Anne Diogo


Capítulo 1
Branca de Neve


Notas iniciais do capítulo

Bianca, a primeira das princesas a se manisfestar e querer contar sua história...



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De: Bianca da Neve (neve.bia@uhul.com)







Para: Jornal True (redação.true@jornaltrue.com)



Assunto: Minha versão sobre sua publicação sobre “princesas” na semana passada.


Olá,




Li seu jornal contando uma história sobre mim que não é verdadeira, a história é emocionante, mas não é real, então decidi mandar esse e-mail com a minha versão dos fatos, se fizer jus ao nome de seu jornal, irá publicar. Em anexo o arquivo que conta toda minha história.




Obrigada,



Bianca da Neve





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O chefe de redação do jornal passou o arquivo pelo antivírus antes de baixar para ler, pois pensou ser um trote já que o texto que se recorda de ter divulgado na semana passada era sobre as princesas dos contos de fadas e mesmo que elas tivessem existido não teria como estarem vivas, já que haviam centenas de anos. O arquivo estava em pdf e estranhamente era um papel pardo escrito com caneta tinteiro e depois escaneado. Ficou surpreso com o que leu e decidiu divulgar o documento no dia seguinte, exatamente do jeito que lhe foi enviado.






“Olá, meu nome é Bianca da Neve, não direi minha idade, pois não dariam credibilidade ao que escrevo, posso dizer que vocês já me conhecem, esse jornal (Jornal True) publicou uma matéria sobre os contos de fadas, mas esqueceu de verificar a veracidade dos fatos, essas histórias são contadas desde muito tempo mas não da maneira certa, só quem viveu sabe e eu muito mais do que ninguém, pois eu sou a famosa BRANCA DE NEVE.






Sim, eu fui a princesa de um reino, minha mãe era muito bela, casou muito nova, tinha apenas 9 anos, meu pai tinha 12, na época não errado isso acontecer, o reino dos pais deles estavam em guerra e a única solução era casar os filhos, então não ligaram para a idade deles. Meus pais não tiveram nenhum tipo de relação até minha mãe ter 15 anos, pois foi quando ela virou mulher, até então eles não tinham desejo algum pelo outro, ela me disse que eles nunca tinham se olhado daquele jeito, nunca tinham pensado em ficar juntos, antes disso, eles só brincavam, corrida de cavalos, pega-pega no jardim, tudo tão inocente e de repente, como se abrissem os olhos dela, ela começou a enxerga-lo como belo e formoso e pela primeira vez depois de casados, quando ela caiu no gramado depois de correr meio palácio, eles deram um beijo, mas não parou por ai, no dia seguinte, um dia de neve, aconteceu sua primeira vez, ela amanheceu em sua cama. A admirando, meu pai disse a ela que quando eles tivessem uma filha, ele a queria como ela, branca dos cabelos negros e ela acrescentou dizendo que queria que a mesma possuísse lábios vermelhos como os seus.







Nove meses depois, eu nasci igual à descrição. Como eu era bastante branca, meus pais decidiram colocar meu nome de Bianca, que significa branca, clara, alva. A neve era um dos símbolos do nosso povoado porque na região onde vivíamos os invernos eram bastante rigorosos, éramos o “povoado da neve” e o sobrenome da realeza, da Neve. BIANCA DA NEVE, esse é meu nome, BRANCA DE NEVE é um apelido, o ganhei depois que comecei a frequentar a escola do povoado, ser filha do rei não me livrava do bullying, ao contrário, raras eram as pessoas que se aproximavam de mim sem me zoar, eles achavam que eu ia mandar em tudo se me dessem brechas, apesar de meu pai ter o costume de ouvir o povo, era um bom rei. Ser considerada a mais bonita do reino me privava também as amizades, as meninas brincavam mas não conviviam comigo, a segurança do castelo também restringia esse contato com o povo, mas conheci alguém. Todas as tardes, desde os meus 4 anos de idade eu me encontrava com Rooney, nós brincávamos, caçávamos, explorávamos a floresta que havia em volta, subíamos em árvores, nos escondíamos, ele era meu melhor amigo, mas ninguém sabia e nem poderia saber, não era costume meninos brincarem com meninas, podiam estudar juntos mas qualquer tipo de contato fora de sala de aula era abominável. Minha vida por um bom tempo era essa, bullying na escola, encontro às escondidas com o Rooney, festas que ia com meus pais, não participava ainda dos bailes reais, pois não tinha debutado até então.





Todo ano acontecia um debut dado pelo meu pai ao povo, para a apresentação de seus filhos e filhas na sociedade, mostrando que estão disponíveis para casamento, mas como eu era filha do rei, ganhei um baile só para mim. Chegou o dia do meu debut, eu estava com um vestido branco, típico da época, a decoração do salão era nas cores vermelho e dourado, por conta do meu baile, o vermelho saiu sendo substituído por branco, o dourado permaneceu, porém adicionado à um tipo de azul turquesa, lilás e roxo, haviam flores por toda parte nessas cores, era tudo bastante encantador. Parecia um sonho, a decoração, a orquestra, os convidados, o meu retrato à óleo, eu apenas suspirava. Dancei com todos os rapazes solteiros do povoado e meu pai, como mandava a regra, Rooney estava lá e foi com ele que eu mais dancei. O rei e a rainha, meus pais, estavam orgulhosos dessa minha entrada para as festas sociais, mas eu ainda não me sentia fazendo parte desse novo mundo.


Uma semana após esse baile, minha doce, bonita, jovem, educada e bem-humorada mãe morreu, até ai as histórias estão certas, mas o que não contam é que não foi uma madrasta que apareceu, era minha mãe ainda, na verdade, o outro lado da personalidade dela, a minha estrada para esse novo mundo somado a seu envelhecimento a fazia ver um espelho de sua vida e ela não conseguia aceitar inconscientemente que eu errasse nas mesmas coisas que ela, foi dai que surgiu aquela história maluca de espelho mágico, tsc tsc tsc, pura bobagem.

O reino padecia com o mau humor dela, pois a prática de ouvir o povo cessou, era ela que o fazia quando meu pai não estava e ultimamente ele estava viajando bastante e sua ausência era enorme. Ela estava entrando na famosa menopausa, um tremendo turbilhão, virando realmente UMA BRUXA. Na minha visão aquela mãe de antes, tinha se tornado uma chata, enjoada, controladora, que só queria me prender das coisas boas, que só queria sugar minha felicidade.

A adolescência é a pior fase do relacionamento “pais x filhos”, pois os pais veem seus reflexos, tentando endireitá-los, os filhos apenas veem ditadores, controladores e maus, bruxos e bruxas feias que possuem o poder de destruir suas vidas. A menopausa é uma contra-adolescência, pois acontecem as mesmas coisas, mas em direções opostas, enquanto na adolescência a falta de experiência que pesa no turbilhão de emoções, na menopausa é o excesso de experiência que faz o furacão acontecer, quando acontecem juntos, como foi nosso caso, vira o caos, uma guerra.

Na clássica historia de vocês, aquela ilusão de que por conta de um espartilho fui sufocada quase morrendo, sendo salva pelos anões e depois morri por conta da maçã, sendo acordada por um beijo do príncipe, TUDO MENTIRA, tudo não, a grande maioria.

Quando cheguei à minha casinha na arvore, percebi o quanto naquele ultimo inverno eu havia abandonado-a, estava empoeirada e com bastante teia de aranha, mas as nossas coisas ainda estavam lá, meu baú, as camas improvisadas minha e do Rooney, a lareira... Fiquei lá por uns três dias até que fui surpreendida por alguém, era Rooney, ele entrou na casa devagar, fiquei mais tranquila, até que ele me confessou que minha mãe tinha o enviado para matar algo em mim, fiquei assustada já que ele era um caçador e não o deixei terminar de falar, fugi, corri bastante em direção à casa dos meus tios, desmaiei em sua porta. Quando fui acordada, estava na casa deles, que por sinal era bastante bagunçada por conta de ali conviver sete homens e nenhuma mulher. Meus tios estavam todos ao meu redor, depois que certificaram que eu estava bem, me exigiram uma explicação do que estava acontecendo, contei-lhes tudo, mas eles me disseram que não poderiam fazer nada, minha mãe havia virado uma megera e meu pai era praticamente um homem morto, eles poderiam padecer ainda mais se fossem contra as vontades dela. O conselho que me foi dado era ‘Volte para casa, menina. Tudo era se resolver, ela é sua mãe, não irá lhe matar. Volte, não tenha medo, é apenas uma fase’. Essa frase latejava em minha cabeça, mas o medo latejava mais, então negociei com meus tios minha secreta estadia na casa deles, eu ficava e eles teriam tudo organizado, casa arrumada e comida na mesa. Eles me aceitaram, a casa deles era escondida por folhas, arvores, uma bela camuflagem, que por conta do meu descuido não valeu de muita coisa. Depois de um longo mês escondida, Rooney me achou, em um dia que ninguém estava em casa e eu havia decidido dar um passei pelo bosque, a minha primeira reação foi fugir, mas assim que comecei a correr ele correu atrás de mim, me alcançou e se lançou contra mim, caímos na grama, tinha algo diferente entre nós, eu estava ofegante e parecia que tinha o visto pela primeira vez, e ele repetiu as palavras que havia me falado na casa da arvore, só que dessa vez, elas foram sussurradas no meu ouvido e não tive forças para não ouvi-lo. As doces palavras dele eram ‘Sua mãe me enviou para matar algo em você, ela sabe sobre o sentimento que nos envolve e me disse que só eu poderia matar isso... ’. E iniciando com um beijo ele matou, matou com um fruto envenenado chamado luxúria a menina inocente que vivia em mim, agora tudo fazia sentido, era a melhor morte que eu poderia ter tido, ela me fazia sentir mais viva, descobri meus segredos que eu nem sabia que existia, depois eu era uma mulher. Mas não foi apenas eu quem morri, minha ‘madrasta’ também e minha mãe havia voltado, nada verdade ela nunca tinha ido embora, eu quem não estava ali, a menininha que vivia em mim não compreendia os medos e inseguranças de mulher que minha mãe tinha. Tudo havia voltado ao normal e brevemente eu seria rainha. Continue a provar o fruto proibido com o Rooney, a floresta e a casa na arvore eram nossos lugares favoritos e cada vez mais eu ia morrendo e renascia mais mulher. E esse é o meu ‘FELIZES PARA SEMPRE’.”

Depois de ler a história, o chefe de redação ficou boquiaberto, será que era verdade aquela história? Será que não seria um trote ou engodo? Pediu para verificarem a origem do e-mail e era da mesma região onde segundo a história teria sido o seu cenário. Assustado, logo enviou um e-mail de volta !

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De: Jornal True (redação.true@jornaltrue.com)

Para: Bianca da Neve (neve.bia@uhul.com)

Assunto: Verdade.


Li sua historia e verifiquei sua origem. Quantos anos você tem? Me diga a verdade, pois se for o que estou pensando a próxima pergunta será “Como?”


Aguardo resposta,

Luiz Guimalhães

Chefe de redação do Jornal True

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Notas finais do capítulo

Isso é tudo pessoal, continuem lendo, a continuação desse capitulo será no final da história :D ! Breve o e-mail das outras princesas e a resposta da Branca De Neve !