Butch continuou encarando-a com aqueles olhos verdes.

Ele estava sério, com o rosto sem expressão. Catherine podia sentir seu coração martelar contra as costelas, com tanta tensão e expectativa. Quando viu que Butch não falava nada, seu olhar ficou fosco com as lágrimas que lhe começavam a surgir, e um bolo se formava na garganta. Mas ela não iria chorar. Não na frente dele.

– Eu sabia - ela disse, com a voz tremula. - Sempre é essa a reação quando sabem da verdade.

Butch continuou encarando-a, com seus olhos claros. O seu cabelo era meio encaracolado, Catherine percebeu, e isso o deixava parecido com um anjo, como Cath imaginava um anjo.

Ele era o que se podia imaginar de um filho de Mercúrio, exceto pelo forte e grande corpo que possuía. Suas orelhas eram ligeiramente pontudas, o que estragava sua característica de anjo. Geralmente, lembrou Cath, os filhos de Mercúrio também são sorridentes.

Mas ele não estava assim.

– Eu sou uma ferrata– disse Catherine, olhando para o chão. Como Butch ficou calado, ela prosseguiu: - Sou da antiga Sexta Legião. Octavian estava certo.

Ela olhou para ele, que estava com uma expressão de espanto no rosto. Não era um espanto de medo, mas um de esperança. Mas Catherine não percebeu isso.

– Eu estava em uma missão - ela prosseguiu -, uma missão suicida. Meus dois parceiros morreram, e eu voltei ao Acampamento, sem nada nas mãos, com uma péssima notícia. Eles iriam me punir, mas meus companheiros me fizeram jurar que voltaria ao Acampamento, para dizer o que havia acontecido, o que esperava os que iriam em meu lugar. Mas... Quando eu cheguei lá - sua voz ficou marejada e sua visão não passava de óleo em água. Ela parou e pensou bem, tentando não chorar. Por fim, disse, num sussurro para ele não perceber em que ponto estava. - Quando eu cheguei lá, o Acampamento estava todo queimado. Ainda havia poucos focos de incêndio, mas nada se salvaria. Estava tido cinza e preto, tudo aniquilado... O cheiro no ar era de pessoas mortas.

Catherine se silenciou e se rendeu, deixando uma lágrima escorrer pelo rosto, que estava abaixado, para não sustentar o olhar de Butch. Ela ficou lá, imóvel.

Mas, logo depois, sentiu um toque em sua bochecha, e viu que Butch estava limpando o local onde a lágrima correra. Sua mão era áspera e firme, como a de um guerreiro. Ela o olhou novamente e viu que ele não estava mais com o olhar espantado de antes.

– Foi difícil - ele disse, por fim. Seus olhos quase pareciam brilhar com a luz da Lua. - Não se preocupe, eles vão aceitar.

Ela balançou a cabeça, ainda nas mãos dele.

– Não vão não. É muito pior do que você imagina, Butch. Só de estar nervosa eu posso...

Ela não conseguiu terminar a frase.

Em um momento, estava séria, falando sobre o que poderia matar a todos, inclusive ele, e, sem se importar, Butch se inclinou e lhe deu um beijo. Ela se assustou, colocando as mãos para trás, para conseguir apoio, e ficou com os olhos arregalados. Num segundo depois, se deu conta do que estava acontecendo e o abraçou.