Me escondi atrás de uma arvore e olhei em volta de novo. O silêncio reinava ali, como em todas as partes daquela floresta sem fim. Eu já estava cansada de procurar. Edward não estava no nosso antigo “lar” e não estava em lugar nenhum.

Céus, por quê o deixei ir?

Escutei o barulho de passos e coloquei um galho na minha frente.Vi Edward passar lentamente, olhando os lados, com sua faquinha na mão.Corri e o puxei pra trás da árvore onde estava, ele levantou a faquinha, provavelmente pensou que eu fosse algum soldado. Tirei a máscara rápido e ele a abaixou.

-Tá maluca? Eu falei pra você ficar...

-Esperava que eu ficasse lá te esperando? Nesse tempo todo?

-Sim, foi isso que eu te disse pra fazer.

-Se eu seguisse o quê você me diz pra fazer já teríamos morrido. O que é isso no seu rosto?

-Não é nada, Sophie. Vamos voltar.

-Edward, o que é isso no seu rosto?

-Isso é a marca de um soco de um cara forte, tá satisfeita?

-Esteve brigando de novo?

-Eu só me defendi!

-E levou um soco na cara. Anda, vamos sair daqui.

Saímos de trás da árvore, e no mesmo instante, uma flecha atingiu uma árvore atrás de mim, por um triz não atingiu minha cabeça.A nossa frente, estavam três homens com as roupas do exército, tinham algumas armas nas mãos. Eu reconheci o da frente, aquele mesmo que havia cortado minha mão aquele dia.

-Então nos encontramos de novo, não é?-Ele disse rindo.Parecia bêbado, como da última vez.-Que bom te ver de novo por aqui.

 Tirei a arma e apontei pra ele.

-Oh, vá com calma! Não vai me machucar, vai? Eu só quero conversar com você.

-Acha que eu vou cair nessa?

-Não estou brincando com você, amiguinha. Vamos conversar, só conversar.-Ele jogou as armas no chão, e seus amigos também.-Posso acabar com isso tudo, não é o que você quer?

 Meus olhos brilharam.Eu estremeci. Eu realmente queria acabar com isso.Dei um passo a frente, mas Edward me puxou pra perto dele.

-Eu não te deixo ir, Sophie. Não vá com ele.-Ele sussurrou em meu ouvido

-Não tenho escolha agora, eu só quero o fim da guerra!-Sussurrei de volta.

-Acha que ele está falando a verdade?

-Sim, eu acho.

-Vamos logo, eu não tenho a noite toda! Isso não é uma despedida!-Escutamos a voz do soldado.

-Por favor, me chame. A qualquer ameaça de perigo.-Edward sussurrou, mais baixo do que das outras vezes e me entregou sua faquinha.O olhei nos olhos e sussurrei “obrigada”.

 Fui puxada pelo braço para dentro de uma barraca, onde os três entraram.

-Meu nome é Patt.-O chefe, que parecia ser o único a falar ali, disse, com um sorriso.-E o seu?

-Não vou dizer meu nome pra você. O que você quer?

-Calma! Isso é só uma conversa!-Ele estendeu os braços e se aproximou, apontei a arma pro seu rosto.

-Pra traz.

 Ele riu.

-Acha mesmo que estou com medo de você? Estamos com a sua mãe, ela está mal. Acha que me matar vai ajudar a tê-la de volta? Eu sei quem você é, Sophie! Acabou pra você...-Seus capangas me agarraram por trás e taparam minha boca.-Mas que final trágico pra você, não é? Ah, e uma verdade sobre seu namoradinho, Edward não é o moçinho que você pensa, ele é o vilão e logo vai mostrar isso.

  Dei um chute para trás, tentando derrubar o cara que segurava minha mão.Ele não caiu, apenas cambaleou.Tentei me soltar  mas Patt me segurou com força.

-Escute aqui, eu não tenho que aguentar essas suas brincadeirinhas, Sophie. Você já deveria estar presa...-Ele apertou meu pescoço com força, e eu senti lágrimas rolando no meu rosto.Aquilo doía muito!-Agora a decisão está em suas mãos.Se entregue e as coisas ficaram fáceis pra você, eu prometo Sophie. Sei o quanto é difícil estar no meio disso tudo, sem sua família, com alguém que você mal conhece...vamos, se entregue. Tudo voltará ao normal.

  Pensei um pouco. Ele tinha acabado de descrever o que eu queria, exatamente o que eu queria.Abaixei a cabeça, quase não acreditando na minha idiotice, e estendi as mãos.

-Fez o certo.-Seus capangas amarraram minhas mãos num nó bem apertado, com duas cordas.Mais lágrimas escorregaram pelo meu rosto.

 Eles foram me conduzindo até outro lado da barraca, mas antes, Patt chamou meu nome. Me virei e o olhei, mas minha atenção foi puxada para o canto da abertura de frente, Edward estava lá observando.Tentei não sorrir, tirei meus olhos dele.

-Só mais uma coisa que você precisa saber agora, Sophie.-Ele riu e se aproximou.-Eu te enganei.

 Abri um sorriso, e ele estranhou o ato.

-Eu também.-Respondi.Fiz sinal com a cabeça para Edward e ele chutou Patt por trás, que caiu no chão e ficou lá. Pegou a arma e apontou pros dois caras que me seguravam.

-Então agora vocês tem duas escolhas, largar ela, fugir e esquecer que isso aconteceu, ou vir aqui e lutar pra ver quem é melhor.

  Os dois me soltaram e foram pra cima de Edward, eles começaram uma briga.

 A faquinha estava perto de mim, se eu pudesse pega-la...e jogar pra ele. Ele era bom com ela. Escutei um disparo e um dos soldados que estavam em cima dele caiu no chão, o outro correu.

-O que você...-Eu o olhei.

-Foi sem querer, Sophie...Temos que sair daqui agora!

 Assenti e me levantou, ele cortou a corda em minha mão.Fomos em direção a porta, mas antes, escutamos um barulho, e Patt falou, atrás de nós.

-Alguém importante pra você vai pagar o preço pelo que fez, Sophie.Você vai ver.-Ele disse, acabado.Depois saiu, sem rumo.

-Estamos perdidos.-Eu disse caindo no chão, a primeira pessoa que veio a mente foi minha mãe. Não, eu não podia perdê-la assim.

-Sophie, levanta. Temos que ir.

-Não, eu quero ir buscar minha mãe...

-Não há nada que possamos fazer, Sophie!-Ele me tirou do chão e nós fomos embora dali. Aquela noite não seria esquecida tão cedo.

[...]

Chegamos naquela casinha de madeira, e trancamos as portas e janelas. Edward me colocou sentada no tapete macio, perto da fogueira.Eu olhava fixamente para a fogueira, não conseguia parar de pensar nas palavras de Patt.

-Você tá bem?-Ele perguntou me olhando.

-Eu acho que sim...E você?

-A dor tá passando. Temos que cuidar disso aqui, Sophie.-Ele disse tocando o machucado em minha testa.Abriu a mochila e pegou um vidrinho com algo dentro.

-O que é isso?

-Vai ajudar a melhorar.

-Eu estou cansada de ter que ser “curada” por você, Edward.

  Ele riu, e passou o líquido aonde doía, com um paninho.

-Isso é um sinal de que eu não estou te protegendo direito.

-Não está mesmo.-Nós rimos.Escutamos uma bomba forte lá fora, o chão tremeu.

-Acha que as coisas vão dar certo?-Ele perguntou.-Acha que vamos sobreviver a essa guerra?

 -Por quê não acreditar?

 Ele riu.

-Não vão matar sua mãe, tá? Eles não podem. Perderiam a razão e a fama de “bonzinhos”. Relaxa.

-Ok.-As palavras dele tiraram minha agitação.Deitei no tapete e observei a lareira até dormir.