Naraku Apaixonado? escrita por Amanda Catarina


Capítulo 3
Débito




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Capítulo 3

Cinco dias atrás, antes do encontro entre Naraku e Yeda, Kagura atacou o grupo de Sesshoumaru com seus zumbis cadáveres. O ataque em si, não seria contratempo para o poderoso youkai cachorro, se o covarde Naraku não tivesse usado de suas artimanhas. Utilizando o poder da Jóia de Quatro Almas de uma forma diferente, Naraku enfraqueceu Sesshoumaru, ao invés de aumentar o poder de seus servos. Assim, Kagura precisou apenas invocar um imenso número de zumbis para que a situação ficasse bem complicada para o irmão de Inuyasha.

Rin caída ao chão, desmaiada e rodeada por zumbis, Jaken, seriamente ferido, bravamente tentando protegê-la, enquanto Sesshoumaru não conseguia se livrar de um youkai gigante que o mantinha imobilizado.

Não muito longe dali, Yeda descansava contra uma árvore, mas, então, saltou de pé num instante ao sentir o cheiro de Sesshoumaru. Apurando ainda mais seus sentidos aguçados, soube que o grupo estava sob ataque, e sem nem pensar, ela saiu em disparada para ajudá-los.

Ao mesmo tempo, Sesshoumaru concentrou seu youki para desferir um golpe.

– Afaste-se, maldito! - bradou e expeliu tanto veneno que o monstro cedeu o suficiente para que alcançasse sua espada.

Com Tokijin na mão, em poucos segundos, Sesshoumaru aniquilou o youkai, cortando-o ao meio. Dando um salto para trás, ele correu preocupado na direção da menina humana. Alcançou Rin e Jaken e exterminou os zumbis que os cercavam.

Depois, à frente dos dois, olhou ao redor. Como os inimigos ainda eram muitos, ele concentrou sua energia na intenção de assumir sua forma youkai, mas, subitamente, ouviu alguém gritar “Cuidado!”, e no instante seguinte, algo se chocou contra suas costas.

Virou o rosto bruscamente se deparando com a youkai lobo, Yeda, que para seu espanto, interceptara um golpe que poderia tê-lo matado.

Atingida por uma lança bem no meio da barriga, Yeda se curvou ao chão próxima a Sesshoumaru.

– Cachorro descuidado... - ela resmungou e levou a mão à extensão da lança. Com um só puxão, arrancou o projétil de si, sem emitir um único gemido, apenas fechou um dos olhos. Um jato de sangue esguichou do ferimento aberto.

Sesshoumaru ficou sem ação por alguns instantes, mas então se voltou para Rin. Pegou-a no braço assobiou para Arurun, que pegou Jaken, largou-o com cuidado em seu lombo, e veio para junto de seu mestre.

O youkai branco montou Arurun e sua intenção era mesmo fugir. Óbvio que aquilo não era de seu feitio, e o fato serviu também para que ele próprio se desse conta de que não vivia mais por si só, Rin e Jaken eram sua responsabilidade e a prioridade naquele momento.

Yeda ficou imóvel, a cabeça baixa. O inimigo que tinha atirado a lança se preparava para outro ataque. Sesshoumaru o percebeu indo na direção dela. Ainda sem levantar vôo, ele ponderou se deveria ajudar a youkai, retribuindo o favor, mas eis que sentiu uma energia sinistra muito poderosa emanar dela. Esperou para ver o que aconteceria.

Kagura também fitou a youkai e os zumbis detiveram seu ataque aguardando um sinal de sua mestra.

Num instante, Yeda assumiu sua forma de lobo. A serva de Naraku se espantou, pois a youkai se tornou um animal imenso e sua energia era tão agressiva que os zumbis se acuaram.

– Mas quem é essa? - Kagura se indagou, já pensando em fugir.

Com um rugido aterrador, Yeda varreu o campo de batalha como um tornado, aniquilando todos os zumbis numa fração de segundos.

Kagura e Sesshoumaru ficaram atônitos.

Diante do ataque arrasador, Sesshoumaru constatou que a youkai era ainda mais poderosa do que tinha se revelado no embate que tiveram antes.

Definitivamente, aquilo não estava nos planos de Naraku. Sem pestanejar, Kagura desapareceu.

Yeda, então, voltou ao normal e encarou Sesshoumaru em sua montaria.

– Agora já pode me agradecer... - provocou, mas em seguida sentiu uma vertigem forte. Levou a mão à barriga e percebeu um líquido roxo misturado a seu sangue.

– ...veneno... - murmurou Sesshoumaru e, logo depois, Yeda tombou para trás.

Ele a encarou por alguns instantes e decidiu que não tinha mais nada a fazer ali. Acomodou Rin em Arurun, ao mesmo tempo em que Jaken, que perdera o sentidos com toda a agitação, despertou num sobressalto e gritou de dor por causa dos ferimentos.

– Já iremos resolver isso, Jaken. - ele falou ao servo num tom controlado, ainda que não estivesse tão controlado assim. Puxou as rédeas de Arurun e deu uma última olhada na youkai caída ao chão.

– Ora, não tenho nada a ver com essa insolente... - disse baixo a si mesmo, tentando calar o sentimento de ingratidão em seu íntimo.

– Senhor Sesshoumaru... o que aconteceu...? - perguntou Jaken fracamente, tremendo de dor.

– Evite falar. - desconversou e fez o youkai voador subir um pouco, mas a alguns metros do chão, olhou novamente para a youkai lobo, que permanecia imóvel, pálida, enquanto veneno e sangue se espalhavam pelo chão ao seu redor.

Sesshoumaru fechou os olhos, seu desejo era ir embora e deixar a youkai morrer ali mesmo, afinal, depois da afronta do outro dia, aquele era um bom castigo pra ela. No entanto, esse pensamento feriu seu orgulho e sua honra. E ele não era um youkai sem honra. Se buscava aumentar seu poder era para não depender de ninguém, mas uma vez que fora salvo, não poderia simplesmente agir com indiferença.

Fez o youkai voador descer e desmontou. Com passos lentos se aproximou de Yeda, mas, de repente, ficou desconfiado. Era estranho que ela tivesse sido tão facilmente abatida. Um youkai que manifestasse tal nível de poder, deveria ser mais resistente.

Ponderou se ela não estaria fingindo. Quando ficou bem próximo, agachou-se no chão e examinou o veneno. Era fortíssimo, no entanto, não devia ser letal a ela, pois não era a ele.

Animou-se com a idéia de sentir-se superior à youkai, mas, logo, esse sentimento foi substituído por um certo pesar. Passou a mão pelo ventre encharcado e constatou que o buraco que a lança causara ainda estava aberto, na verdade, o veneno o aumentara. Checou a pulsação da youkai, era quase nula.

– Está mais morta que viva, a Tenseiga resolverá isso, então minha dívida estará paga. - falou baixo e se levantou. Depois, veio para perto de Jaken. Sacou Tokijin, encerrou com a vida do servo e pela terceira vez o trouxe de volta a vida com a Tenseiga.

– Aaaw... Senhor Sesshoumaru?! O que aconteceu?

– Cuide de Rin... tenho que fazer uma coisa. - falou e voltou de novo para perto da youkai.

– Sim, senhor.

Intentando o mesmo procedimento, Sesshoumaru levantou sua espada para o golpe, mas então a youkai se mexeu. Ele se deteve.

Yeda inspirou e levou a mão ao peito. Entreabriu os lábios como se fosse dizer algo e depois, se sentou no chão, a tempo de ver Sesshoumaru pronto a acertá-la.

– Hey, calma aí com isso! - falou levantando os braços num gesto defensivo.

Sesshoumaru abaixou a cabeça e sua espada.

– Estava mesmo fingindo, sua vadia insana... - disse entre os dentes.

Yeda encarou Sesshoumaru e ao entender o comentário dele sorriu divertindo-se. Saltou de pé como se estivesse na melhor forma e de modo ousado aproximou o rosto bem perto do rosto dele.

– Estava preocupado comigo?! - indagou em provocação e bateu um dedo no nariz dele.

Sesshoumaru afastou a mão dela bruscamente.

– Como ousa me tocar, sua víbora asquerosa!?

Yeda riu e se afastou uns passos para trás, tocou sua barriga, levemente incomodada com a dor. Então, fechou os braços em si mesma e invocou sua energia.

Furioso, Sesshoumaru saiu de lado, se dirigindo a seus protegidos, mas então se deteve. Voltou o rosto para trás para ver o que a youkai fazia.

Viu que o corpo dela brilhava com uma luz azulada ao redor, suas vestes tornaram-se transparentes, como um véu, e desenhos negros surgiram em seu corpo, um som melodioso escapou dos lábios dela e preencheu a clareira.

O youkai branco ficou como se sob o efeito de uma magia, sem conseguir se mover ou raciocinar, mas em poucos instantes, tudo voltou ao normal, e ele a viu novamente com os trajes ensangüentados. Notou ainda que os desenhos no corpo dela tinham sumido, junto com o grave ferimento também.

– Tem um vilarejo aqui perto, a menina precisa de cuidados devidos. - Yeda disse numa voz límpida.

Sesshoumaru não disse nada. Deixou o local sem olhar para trás, mas seguiu a procura do vilarejo mencionado pela youkai.

ooo ooo ooo ooo

Cinco dias depois, na região onde Yeda e o grupo de Inuyasha tinham passado a noite...

Amanheceu com sol, Sango e Kagome estavam entretidas no preparo do café da manhã, enquanto Inuyasha, Yeda e Miroku ficaram conversando na clareira.

– Como é? Você ajudou Sesshoumaru!? - indagou Inuyasha. – Não... Não posso acreditar nisso.

– Acredite ou não é verdade.

Inuyasha se levantou com um sorriso contente.

– Ha! Aquele convencido teve o que merecia. Puxa, como eu queria ter visto a cara dele. - disse e seus olhos até brilhavam de satisfação.

– Acho que agora ele deve estar ainda com mais raiva de mim... - Yeda disse com uma expressão chateada.

– Mas isso é claro, e acho que pela primeira vez na vida dou razão a ele. Você também sabe ser bem irritante!

– Olha só quem fala... - ela disse com um risinho – Mas... é impressão minha ou existe uma rixa entre você e ele?

– Rixa?! É bem mais que isso, ele não me suporta.

– Está exagerando, Inuyasha - advertiu Miroku. – Mesmo sendo tão frio, seu irmão já o ajudou diversas vezes.

– De onde você tirou isso, Miroku!? Até parece! O Sesshoumaru me ajudar, isso...

– Deixa de ser criança. - cortou o monge – Mas aconteceu isso mesmo, senhorita Yeda?

– Foi sim, só tem uma coisa que não entendo... Sesshoumaru é realmente muito forte, não faz sentido que tenha sido subjugado tão facilmente... pra mim tem coisa do Naraku nessa história...

– Ah, mas isso sem dúvida. - falou Inuyasha sentando-se novamente no chão, diante de Yeda. – Por sua descrição a mulher que os atacou com certeza é Kagura, ela é cria do Naraku.

– Eu imaginei... é, precisamos ficar de olhos bem abertos com esse Naraku. Mas, Inuyasha, me diz por que não se dá bem com seu irmão? - indagou a youkai.

– Porque aquele metido me acha desprezível por eu ser um meio-youkai. Além disso, não se conforma que nosso pai decidiu dar a Tessaiga pra mim. Demorou um tempão até ele desistir de roubá-la.

– Mas ele sendo um youkai completo não pode usá-la, não é? O Toutousai me disse.

– É, mas ele demorou a se convencer disso. De todo jeito, ele não faz questão de mim, e eu também não dou a mínima pra ele, o que tem feito da vida não me interessa nem um pouco.

– Mas vocês são irmãos! - ela exclamou.

– Ora, e daí? - rebateu e virou o rosto.

Yeda balançou a cabeça.

– Como não tenho mais parente vivo, vago por aí sem rumo. Puxa, se eu tivesse um irmão... Sabe, Inuyasha houve um tempo em que os clãs de youkai eram numerosos e as famílias eram grandes, as guerras não aconteciam por qualquer coisa. Mas daí veio um tempo de caos, e este mundo tornou-se tão violento que só mesmo os youkais mais fortes sobreviviam, desde então aprendemos a viver cada um por si. Por isso, os youkais vivem hoje isolados em suas tribos ou solitários, me diz quantos youkais você conhece que têm família?

– Ora tem o... tem... - ele tentou, mas não lembrou de nenhum.

Miroku ficou surpreso com as palavras de Yeda.

– É mesmo... - começou ele - ...vendo bem, o Shippou perdeu o pai, o Kouga é apenas líder de seu bando, mas não tem irmãos de sangue, Inuyasha é um dos poucos que conheço que tem um familiar.

– Shippou? - indagou Yeda ao monge.

– É um filhotinho de youkai raposa, ele anda com a gente, mas dessa vez deixamos ele no vilarejo com a senhora Kaede, porque ele estava um pouco resfriado. Ele já é manhoso estando bem de saúde, assim então... mas também saímos às pressas quando sentimos a presença de Naraku.

– Um filhote de raposa! - ela exclamou sorrindo – Deve ser uma gracinha!

– É, acho que a senhorita vai gostar dele.

– Ele é muito chato isso sim. - falou Inuyasha, em seu tom reclamão de sempre.

– Espero poder conhecê-lo, mas Inuyasha você não concorda comigo? Hoje em dia, não há famílias de youkais como antes. Acho que você devia tentar acabar com esse distanciamento em relação ao seu irmão. Ora, vocês dois não estão atrás do mesmo inimigo? Por que não unem suas forças?

– Quê?! Está maluca?! Eu e Sesshoumaru jamais iremos nos entender. Além do que eu não preciso da ajuda dele pra derrotar o Naraku. Vou fazer isso sozinho!

– Senhorita Yeda, dessa vez, vou ter que concordar com Inuyasha. Se ele e Sesshoumaru não estão mais se pegando no tapa já é um grande progresso.

Yeda riu.

– Mas as coisas mudam... mais cedo ou mais tarde vão perceber. Um laço forte desse não é coisa que dê pra ignorar pra sempre.

Naquele instante, Kagome e Sango voltaram para junto deles.

– Mas que gracinhas, eu e a Sango nos acabando de trabalhar e vocês folgados aí no maior bate-papo.

– Kagome... já vai começar a encheção logo cedo...?

– Inuyasha, você me respeita!! - ralhou a colegial e tacou uma frigideira na cara dele.

Yeda sorriu levemente e ficou acompanhando a confusão daqueles jovens em sua despreocupada e barulhenta relação. Era nítido o cuidado e carinho que compartilhavam. Há anos ela não via aquilo, ficou até um pouco nostálgica. Sentiu então que adoraria fazer parte daquele grupo, afinal, ela poderia emprestar-lhes sua força, e eles ensiná-la o real significado da palavra amizade.

– Senhorita Yeda, o que foi? - Kagome perguntou reparando na expressão distante da youkai. – Não quer comer?

– Ah... eu posso? Eu nem ajudei a preparar...

– Ora, não se preocupe com isso, sirva-se. - disse meiga a colegial, ao que a youkai assentiu com um gesto de cabeça e um sorriso.

Depois de uma saborosa refeição, Kagome se voltou para Inuyasha.

– Eu preciso ir pra minha casa... - falou ela. – Faz dias que não vejo minha família.

– Então vamos voltar ao vilarejo da velha Kaede. - ele resolveu.

Yeda apenas prestava atenção na conversa deles.

– Por que não vem conosco, senhorita Yeda? - sugeriu Kagome.

– É, já que não tem rumo certo. - comentou Inuyasha.

– Bem... acho que não tenho porquê recusar realmente... então se não for incômodo pra vocês... gostaria de acompanhá-los sim.

Inuyasha assentiu com um gesto de cabeça, depois de ter conhecido Yeda melhor, acabou indo com a cara dela. Sango ainda não sabia se confiava na youkai, mas sabia que podia seguir a intuição de Kagome, que parecia também ter simpatizado com ela. Miroku depois de ter visto o quanto Yeda era forte, achou melhor tê-la como aliada do que inimiga.

E assim ao cair da tarde eles partiram de volta ao vilarejo.

ooo ooo ooo ooo

Naraku em seu castelo, através de um globo mágico, visualizava o grupo de Inuyasha em sua despreocupada jornada.

– Então, ela se uniu ao bando deles... - Naraku falou com o olhar fixo no globo. – Isso é perfeito, assim aquele miserável do Inuyasha não poderá mais me surpreender.

O globo passou então a focalizar somente a imagem da youkai lobo.

– Yeda... seu destino me pertence a partir de agora.

CONTINUA...


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