Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 52
Capítulo 48 - Um Natal gelado


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras divosas! Vocês viram a capa nova? Eu finalmente consegui fazer uma capa decente kkkkk antes que me perguntem, usei o photoscape. Estou chateada porque apenas cinco pessoas comentaram na minha one shot. E eu pensando que vocês amavam o Hook e a Ruby... Brincadeira! kkkk Espero que mais gente passe lá, assim providencio uma continuação. Espero que gostem desse capítulo, achei que ficou divertido. Ah, outra coisa, algumas meninas me perguntaram quando volta a quarta temporada. Disseram que é no outono, mas ainda não tem uma data definida. Vamos rezar pra ser em setembro, porque pode ser em outubro ou novembro. E há possibilidade de a Ruby voltar na quarta :D E talvez agora eu só poste nos domingos, porque tenho cinco meses até o ENEM e preciso estudar. Mas até acho bom postar uma vez na semana porque senão a fic acaba mais rápido. Enfim, espero que gostem.



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Capítulo 48 – Um Natal gelado

“...E Chapeuzinho Vermelho e Capitão Gancho não puderam fazer mais nada, apenas se abraçaram e esperaram por seu destino”.

Assim terminava a história do livro.

Flashes passaram pela cabeça de Killian. A Floresta Encantada, seus pais, um navio, piratas, os oceanos, príncipes e princesas, um gancho, uma capa vermelha, Ruby...

No momento em que ele acreditou, suas lembranças retornaram. Ele se lembrava, ele sabia quem ele era!

– Eu sou o Capitão Gancho – ele disse para si mesmo, completamente pasmo – Eu sou... o Gancho...

Henry estava certo! A maldição era real! Emma era a Salvadora. Ruby era a Chapeuzinho. Mary Margaret era Branca de Neve. David Nolan era o Príncipe Encantado. Gold era Rumplestiltskin. E Regina era a Rainha Má, a rainha que lançara a maldição e os levara para aquele mundo.

– O garoto estava certo... – ele balbuciou – É tudo real...

Sua cabeça doía pelo esforço. Lembranças de vários anos de sua vida retornaram à sua memória e Killian, agora Gancho, precisou recostar a cabeça contra o travesseiro.

– Que loucura!

A maldição precisava ser quebrada. O reinado de Regina tinha que acabar. Aquela maldita rainha! E quanto à Salvadora? Rumple não tinha dito que Emma ia salvar a todos quando completasse vinte e oito anos? E bem, se ela estava ali em Storybrooke, era de se esperar que algo já tivesse acontecido. Por que a maldição não fora quebrada? Ele certamente teria que conversar com Henry sobre isso.

– Pronto pra ir pra casa? – Orlando adentrou o quarto, segurando um copo de café – Dr. Whale te deu alta.

– Will!

Oh, mas aquele era seu irmão Willian. Killian precisou piscar algumas vezes, pra ter certeza de que tudo aquilo não era um sonho. Agora ele entendia por que sua amizade com Orlando era tão forte, na verdade eles eram irmãos.

– Hã? – o outro o encarou confuso, sem entender – Não, não, você está me confundindo com outra pessoa. Sou o Orlando, lembra? Acho que deve ter batido a cabeça com força.

– Eu estou perfeitamente bem! Will, precisamos dar um jeito nisso... tá tudo errado nesta cidade.

Orlando ergueu as sobrancelhas e ficou encarando Killian como se ele fosse louco. É claro! Como Gancho fora burro! Ele não podia contar a ninguém sobre a coisa da maldição, iam achar que ele estava delirando ou pior, poderiam achar que ele enlouquecera, e Killian não estava com muita vontade de ser vizinho de cela de Sidney Glass.

– Que foi que eles te deram? – Orlando ainda o encarava – Não sei não, acho que esses remédios não fizeram bem pra sua cabeça. Vou chamar o doutor...

Orlando/Will saiu deixando Killian sozinho com seus pensamentos. O homem ainda estava atordoado. Ele era um pirata! E aquela vida que ele tinha em Storybrooke era uma grande mentira. Como era possível que já tivessem se passado vinte e oito anos sem que ele percebesse? Oh, Regina fizera um bom trabalho ao lançar aquela maldição. Aquelas falsas memórias, ele poderia passar anos achando que era sozinho e filho único.

– Ele vai ficar bem – disse o doutor Whale, depois de examiná-lo – Mas precisa fazer repouso e tomar os remédios. Nada de se esforçar, hein?

– Quer dizer que vou ficar um bom tempo em casa? – Killian perguntou.

– Algumas semanas, talvez um mês. – disse Whale, examinando anotações em uma prancheta - Em todo caso, considere-se um cara de sorte, você poderia ter se machucado feio.

Depois de trocar de roupa, livrando-se daquela horrível camisola de papel, Killian juntou suas coisas. Orlando fora atrás de uma cadeira de rodas e havia algo que Killian precisava fazer antes de deixar o hospital. Ruby, ele precisava ver sua princesa.

Devia ser pouco mais de sete horas da manhã. Os corredores estavam vazios e vez ou outra uma enfermeira passava por ali. O homem caminhou devagar até o quarto de Ruby. Seria loucura dizer a ela que Henry estava certo e que todos ali eram amaldiçoados, mas ele tinha que dizer algo, tinha que confortá-la. Mas o quarto estava vazio, ela já recebera alta. Droga! Seria praticamente impossível falar com ela. Vovó e Kate provavelmente tentariam matá-lo se ele fosse até o Granny’s.

– O que está fazendo? – uma enfermeira o encontrou no meio do corredor e ainda atordoado pela descoberta de sua verdadeira identidade, Killian/Gancho mentiu.

– Eu... estava à procura de um banheiro...

– Oh, querido – ela sorriu gentilmente – Venha, vou ajudá-lo. Você não devia ficar se esforçando assim, suas costelas precisam de descanso.

Ah meu Deus! Que coisa mais estranha! Todos ali eram personagens de contos de fadas. Killian não fazia ideia de quem seria aquela enfermeira. E todos aqueles pacientes e funcionários passando pra lá e pra cá pelos corredores? Talvez ele se lembrasse de alguém.

E agora ele sabia, Orlando era Willian. E Jake,seu colega de peixaria, era seu irmão Jack. Oh, mas como ele sentira falta daqueles imbecis. Embora convivesse com os dois diariamente, Will e Jack eram muito diferentes ali em Storybrooke. E seu pai, ele se lembrou, ele o vira há semanas atrás, quando esbarrara com ele e derrubara suas compras. Céus! Ele já tivera uma queda por Mary Margaret Blanchard, que na verdade era Branca de Neve e irmã de Ruby... Mas que confusa era aquela vida!

A enfermeira o levou de volta ao quarto, onde Orlando/Will o esperava com uma cadeira de rodas.

– Onde é que você se meteu? – ele perguntou sem esperar resposta – Vamos, Jake está esperando.

Orlando empurrou Killian na cadeira até a saída do hospital. No caminho eles passaram pela enfermeira boazinha que conversara com Killian no dia anterior! Meu Deus! Aquela era Charlotte! Oh, mas ele ia acabar enlouquecendo...

– Até logo! – ela acenou, sorrindo bondosamente.

Como é que aquela louca podia ser enfermeira? Ela matara Liza de forma brutal e cruel. Aquela cidade era mesmo uma loucura!

Os dois encontraram Jake/Jack recostado contra seu velho carro. Killian não conseguia disfarçar a felicidade por ver os irmãos. Por vinte e oito anos ele achara que era órfão, natural que estivesse tão feliz.

– É tão bom ver vocês! – o homem de uma mão só exclamava enquanto Jack dirigia em direção ao apartamento de Killian – Há quanto tempo! Eu realmente... eu senti saudades.

Os dois o olharam como se ele fosse louco.

– Que foi que te deram naquele hospital? – perguntou Jake/Jack, olhando Killian pelo retrovisor.

– Acho que o acidente afetou a cabeça dele – riu Orlando/Will – Nosso amiguinho jamais será o mesmo.

E jamais seria mesmo. Ele não era mais o Killian inseguro de Storybrooke, ele era o Capitão Gancho, o pirata sedutor, corajoso e ambicioso que se tornara conhecido por suas façanhas. O pobre Gancho se instalou em seu apartamento e ficou pensando numa forma de reconquistar Ruby. Talvez, se usasse todo seu charme, seu talento natural para seduzir... Mas era de se esperar que ela nem quisesse vê-lo mais. E pensando bem, ela o ignorara completamente quando ele fora falar com ela no hospital. Ah, mas ela ia ter que ouvir, querendo ou não.

– Eu ainda tenho que ir trabalhar, mas você pode me ligar se precisar de alguma coisa – disse Orlando/Will, enquanto ajeitava os travesseiros de Killian – Sabe, você devia contratar uma enfermeira.

– É claro! – o outro sorriu debochado – Mas aí terei que vender minha casa com tudo dentro. Ficou louco? Eu mal tenho dinheiro para o aluguel...

Orlando riu.

– Foi só uma sugestão! Bem, vou indo. Tente não se esforçar demais.

Droga! Mil vezes droga! O que é que ele ia fazer o dia todo? Férias, fora como o doutor Whale chamara aquilo, um tempo de descanso. Mas não soava como férias para Killian. Se pelo menos Ruby estivesse ali para lhe fazer companhia...

O homem cochilou no sofá. Embora não tivesse feito quase nada, recuperar suas memórias tinha sido desgastante e ele decididamente precisava dormir. Acabou por acordar meia hora depois com a campainha tocando. Seu coração bateu disparado quando ele pensou na possibilidade de ser Ruby. Talvez ela tivesse o perdoado e vindo vê-lo.

– Quem é? – ele perguntou.

– É a Kate!

– Entre! – ele pediu, meio desapontado. A moça abriu a porta e entrou, uma vez que o homem não podia se esforçar muito – O que a traz aqui? Pensei que tivesse me chamado de canalha...

– Bem... eu quero me desculpar! – ela disse meio acanhada – Não devia ter te julgado sem realmente saber o que aconteceu. E também não devia ter te batido. Você entende que eu estava com raiva, não é?

– Tudo bem, você só fez isso pela Ruby, não é?

Ela assentiu.

– Por que não se senta? – ele disse, fazendo menção de se levantar – Quer alguma coisa? Uma água?

– Não, não – ela o impediu de se levantar – Não quero nada, obrigada. Soube que quebrou as costelas... – ela apontou para o peito dela.

– Não foi nada de muito grave, mas você sabe, vou ficar de molho por um tempo.

Ela assentiu mais uma vez, encarando-o. Talvez tivesse percebido que havia algo de diferente no homem. Não era mais o Killian tímido, era quase como se fosse outra pessoa.

– A Ruby não sabe que eu estou aqui – ela disse – Mas eu precisava falar com você. Agora que o Billy está no hospital as coisas vão ficar muito complicadas pra ela. Ela se culpa pelo o que aconteceu.

– Não foi culpa dela. Eu fui o culpado, por ter entrado na frente do carro.

– É, e isso foi muita imbecilidade! Você parou pra pensar que poderia ter morrido?

– Bem, eu não podia deixar ela ir embora, não é? – ele deu de ombros, depois se ajeitou no sofá, tentando ficar mais confortável.

– Você gosta mesmo dela, não é? – Kate sorriu.

– Eu a amo!

– Acho que isso foi prova de amor suficiente, mas ela está cega demais pra perceber. Foi alienada por aquela revista e não quer acreditar que tudo aquilo é mentira.

– Kate... tem que dizer a ela a verdade. Tem que dizer a ela o quanto a amo... Regina fez tudo isso, foi ela quem armou pra nós dois... Infelizmente eu não tenho provas, mas acho que meu amor é prova suficiente de que estou dizendo a verdade.

Kate o encarou por um tempo, pensando. Depois ajeitou os cabelos e finalmente falou.

– Olha, eu bem que tentei. Eu e a Vovó achamos que você é inocente nessa história toda, mas a Ruby não quer acreditar nisso. E eu até que entendo a situação dela. Ela está grávida, Killian, e isso complica tudo.

– Então... o exame deu positivo? – ele perguntou, mesmo já sabendo a resposta.

– Ainda não saiu o resultado – ela negou com a cabeça – Mas ela está tão assustada... O melhor é dar a ela um tempo, deixar que ela absorva tudo isso. Vocês vão poder conversar quando a poeira abaixar.

Talvez Kate estivesse certa, Ruby precisava de um tempo pra absorver tudo. As notícias tinham caído como bombas na cabeça da pobre garçonete e Gancho se lembrava bem de como Ruby podia ser sensível às vezes. Ele sentia tanta falta dela... sua Chapeuzinho, sua linda princesa... E pensar que eles ficaram separados por 28 anos...

– Ela vai precisar de um ombro amigo – a moça continuou – Mas eu acho que você também precisa, então, se precisar de alguma coisa, sinta-se à vontade pra me ligar.

Ele assentiu, pensando. Na Floresta Encantada Kate era uma das empregadas no castelo do Rei Anthony e era por isso que ela e Ruby eram tão amigas aqui em Storybrooke, as duas já se conheciam há muito tempo. Mas e se Kate estivesse envolvida na coisa da revista? A garçonete era decididamente uma suspeita.

– Obrigada, Kate! – ele disse – Cuide da Ruby por mim, está bem?

Ela foi embora e Killian começou a trabalhar num plano. Ele ia descobrir quem era a pessoa por trás daquela revista e começou por listar os suspeitos...

***

Ignorando as recomendações de Doutor Whale, Killian resolveu sair. Ele precisava falar com Henry e iria até a escola do garoto. Havia coisas que ele precisava saber sobre a maldição e já que não tivera tempo de ler o livro todo, Henry seria a pessoa certa a lhe tirar as dúvidas. E pensar que o menino era seu sobrinho-neto...

O homem desceu para a rua e mancou em direção às docas. Havia algo que ele precisava fazer antes. Uma brisa morna varreu seus cabelos para cima e o cheiro do mar adentrou suas narinas. Lá estava ele! O navio. O Rei dos Oceanos. Era aquele velho navio que Anita dera a ele e Ruby como presente de casamento.

– Por onde será que anda minha querida sogra? – ele perguntou a si mesmo. Regina realmente cumprira com a promessa de tirar tudo o que eles amavam, o homem tinha sido separado de toda sua família.

Killian mancou até onde o navio estava ancorado. Ele costumava ir ali pra ver os barcos e o navio sempre lhe chamara a atenção. Agora ele sabia por que aquilo tinha tanto significado pra ele. Mas agora o Rei dos Oceanos estava abandonado. As velas estavam amarradas e a embarcação balançava monotonamente.

– Pobrezinho! – ele exclamou, como se falasse com o navio – O que fizeram com você? Está praticamente morto... Aposto que deve ter visto muitas aventuras, não é amiguinho? Um dia vamos sair por aí de novo, procurando por aventuras...

Um homem que trabalhava ali olhou Killian como se ele fosse louco.

– Que foi? – Killian lhe lançou um olhar meio arrogante – Navios também tem sentimentos, sabia? Por que é que este navio está abandonado aqui?

– Eu não sei – respondeu o homem - Esse navio não tem dono.

O homem se afastou e Killian se despediu do navio (poderia estar mesmo enlouquecendo, a ponto de falar com um ser inanimado), mancando em direção à rua. Ele caminhou para uma das ruas principais de Storybrooke. A escola de Henry era longe e ele nunca chegaria lá mancando daquele jeito. Acabou por pegar um táxi e se surpreendeu quando viu quem era o motorista.

– Pra onde, rapaz? – o homem perguntou, olhando Killian pelo retrovisor.

Oh, mas aquele era Albert, o irmão de Anthony que assumira o trono depois da morte do irmão. E o que teria acontecido a Anne e o pequeno Josh? Talvez tivessem sido separados com a maldição.

– Ahn... pra escola – ele balbuciou, ainda olhando o homem. Albert não mudara nada. Era estranho vê-lo daquele jeito, vestido de maneira simples e trabalhando como taxista.

O homem dirigiu calmamente, enquanto Killian olhava pela janela. E lá estava Archie, caminhando com seu guarda-chuva preto no braço. E pensar que ele já fora um grilo. E mais à frente ele viu Marco, que na verdade se chamava Gepeto. Onde estaria seu filho Pinóquio? E lá em frente ao Granny’s ele viu a Vovó. E Rumplestiltskin atravessando a rua. E aquela garota com o bebê era a Cinderela. E não seriam João e Maria andando de mãos dadas? Oh, como era bom ver aquelas pessoas!

– Você não é o cara da qual estão todos falando? – o motorista perguntou a Killian, sem desviar os olhos da direção – O que traiu a garçonete e ainda foi atropelado por ela?

– Eu não a trai! – ele respondeu – Mas sim, fui atropelado quando tentei bancar o herói.

– Sim, eu imaginei. – o outro riu – Sabe que aquela revista é coisa da prefeita, não é? – ele olhou Killian pelo retrovisor – Aquela lá não passa de uma hipócrita, não sei como acabou como prefeita...

“Mas eu sei”, pensou Killian. E pensar que Regina os manipulara por vinte e oito anos.

– Em todo caso – o outro continuou a falar – vai ser questão de tempo até que todos parem de comentar sobre isso. E quanto à garota, acho que ela mereceu o que aconteceu, o lance da gravidez... Não é você o pai, é?

Se ele soubesse que aquela garota era sua sobrinha, provavelmente não estaria falando assim.

– E se for? – Killian lhe lançou um olhar de desagrado – Desculpe, senhor, mas por que está dizendo essas coisas?

– Só pra passar o tempo – o outro deu de ombros.

Eles ficaram calados durante o resto do caminho. Killian pagou pela corrida e desceu do carro com dificuldade, mancando até a entrada da escola. A aula ainda não terminara. O homem se sentou num banco ali perto e ficou observando. O taxista ficou parado ali, como que esperando por clientes, mas logo Killian viu que a intenção do homem era outra. Uma mulher bonita desceu a escadaria da escola carregando um saco de lixo. Era Anne. Em Storybrooke ela era apenas uma faxineira. O taxista ficou observando a mulher de longe, até que ela entrou na escola novamente. Que loucura! E pensar que ela tivera uma vida de rainha quando ainda vivia na Floresta Encantada...

Um sinal soou e logo depois um bando de crianças saiu, Henry entre elas. Killian o chamou antes que o garoto entrasse no ônibus amarelo parado ali perto.

– Que está fazendo aqui? – o garoto sorriu quando o viu – Não devia estar no hospital?

– Eu tive alta! – o homem respondeu e o garoto se sentou ao lado dele – Precisamos conversar...

Henry o olhava com curiosidade e ficou meio esperançoso quando Killian lhe devolveu seu livro de contos. Henry pensou que a conversa poderia ser boa ou ruim. Boa se caso Killian tivesse se lembrado de sua verdadeira identidade e ruim se o homem tivesse lido o livro e achado que o menino estava louco por pensar que ele era o Capitão Gancho.

– Eu lembrei, garoto! Eu sou o Capitão Gancho! – Killian sussurrou pra ele, olhando em volta pra ver se alguém prestava atenção à conversa.

Henry abriu um sorriso tão grande que poderia ter rasgado o rosto.

– Verdade? Está falando sério?

– A maldição é real! – o homem assentiu, ainda sussurrando - Sou o Capitão Gancho e Ruby é a minha esposa, a Chapeuzinho. E você estava certo, ela estava grávida quando a maldição nos atingiu, é por isso que ela não sabe quem é o pai do bebê.

Henry se levantou, puxando Killian para um canto mais reservado, não poderiam conversar ali. Os dois foram se sentar sob a sombra de uma árvore e Henry ficou radiante de felicidade por mais alguém saber a verdade.

– Eu não disse? Não disse que a maldição era real?

– Me perdoe, Henry, eu não acreditei em você. Sempre achei que essa história de maldição era uma bobagem sem sentido... Me perdoe, está bem?

– Tudo bem. Agora eu sei que alguém acredita em mim.

– Você se parece tanto com a Emma – disse o homem, analisando o rosto do garoto – Até com a sua avó, devo dizer.

– E então, como era lá? Como era a Floresta Encantada?

Killian, é claro, teria ficado muito feliz por recontar suas aventuras como Capitão Gancho, mas eles não tinham muito tempo e Henry tinha que voltar pra casa. No entanto, o homem falou um pouco sobre a vida em outro mundo, apenas para satisfazer a curiosidade do garoto.

– Você ia gostar de lá. Na verdade, acho que há possibilidade de voltarmos pra lá, quando a Emma quebrar a maldição. E falando nisso, porque ela não a quebrou ainda?

– Estou trabalhando nisso – o garoto respondeu. Ele às vezes falava como adulto, o que deixava Killian impressionado - Temos que fazê-la acreditar que a maldição é real. Só não sei como. Eu tentei provar, mas ela é muito cabeça-dura.

Killian riu e sentiu dor no peito ao fazer isso.

– Oh, acredite, a mãe dela também era, quero dizer, a sua avó. Deve ser de família, porque a Ruby também é muito teimosa.

O homem suspirou tristemente e o menino lhe deu um tapinha no ombro.

– Ela vai te perdoar – disse – A Emma ainda está atrás da pessoa que publicou a revista, mas acho bom que vocês fiquem separados por um tempo. Minha mãe fez isso pra que o amor de vocês não enfraquecesse a maldição. Agora eu entendo... ela faz de tudo pra estragar a felicidade das pessoas.

– Henry... acho que... apesar de ela fazer essas coisas, ela te ama. – o homem tentou consolá-lo - Pelo menos foi o que ela me disse, você sabe, antes de me beijar e tudo mais.

– Se ela me amasse, não tentaria me separar da Emma.

– Mas é por isso mesmo, não percebe? Ela não quer te perder pra Emma. Em todo caso, é melhor pensarmos num jeito de fazer a Xerife acreditar. Eu já esperei demais, não agüento viver sem minha Ruby.

– August está nessa missão. Ele disse que sabia como fazer ela acreditar.

– August? – Killian franziu a testa. O que o escritor tinha a ver com isso?– August sabe sobre a maldição?

– É claro! Ele é o Pinóquio!

Claro! Pinóquio! Era por isso que August ajudara Killian. Na Floresta Encantada, quando Pinóquio ainda era um garoto, Ruby vivia brincando com ele, dizendo o quanto ele era fofo e o quanto ela desejava ter um filhinho como ele. Às vezes ela o colocava no colo e Killian contava uma de suas aventuras ao garoto.

– Está dizendo que August, aquele cara da moto, é o Pinóquio? – era meio difícil de acreditar que aquele garotinho fofo se transformara no homem que arrasava os corações das moças.

– Ele veio com a Emma, pelo guarda roupa – disse Henry – Gepeto queria que o filho escapasse da maldição e tivesse uma chance melhor. Ele e Emma foram para o mesmo orfanato quando chegaram no nosso mundo, mas seguiram caminhos diferentes. Agora ele está na Operação Cobra pra me ajudar.

– Operação Cobra?

– É como eu chamo essa missão de fazer a Emma se lembrar. E agora você está na Operação também.

Oh, pelo visto Capitão Gancho tinha mais uma missão. Mas por mais que ele tivesse passado por desafios antes, nada parecia mais difícil do que fazer Emma acreditar. No entanto, Ruby costumava ser mente aberta, talvez ela acreditasse neles.

– Henry, eu estive pensando... talvez a Ruby acredite, se a induzirmos a ler o livro.

O garoto balançou a cabeça.

– Ela não iria acreditar, e se acreditasse e se lembrasse, estaria em risco. Você não sabe do que minha mãe é capaz! . E você não pode contar nada pra ninguém. Se minha mãe descobrir que recuperou suas lembranças, ela vai te matar como fez com o Graham.

– Regina matou o Graham? – Killian ergueu as sobrancelhas. Mas por que ele estava tão surpreso? Ela era a Rainha Má e era capaz de qualquer coisa. Henry assentiu.

– Graham tinha recuperado suas memórias e minha mãe sabia que ele ia ser uma ameaça à maldição. Até que a Emma nos liberte da maldição, vai ter que agir como se fosse o mesmo de sempre.

– Tudo bem, eu posso fazer isso.

A Xerife ia passando por ali quando avistou Killian e Henry. Por mais que Regina não gostasse que a Xerife se aproximasse de seu filho, Emma não podia evitar. Ela parou a viatura e foi até os dois, perguntando como Killian estava.

– Oh, você sabe, minhas costelas podem estar quebradas, mas o resto ainda está inteiro – Killian lhe lançou um sorriso sacana e ela arqueou a sobrancelha, mas não disse nada.

Emma deu aos dois uma carona e ficou curiosa quando notou a troca de olhares entre Henry e o homem.

– Que é que vocês dois estão aprontando? – ela perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

– Nada demais – disse Henry, sentado no banco de trás – Killian está me ajudando com uma coisa.

– Não tem a ver com a Operação Cobra tem? E por falar nisso, garoto, aquele escritor veio com um papo estranho ontem. Ele acha que é o Pinóquio... Francamente, nunca vi mais desequilibrado...

– Só porque você acha que é mentira, não quer dizer que é – respondeu Henry. Emma o olhou pelo retrovisor, mas ficou calada. Não que ela achasse que o garoto era louco, mas aquela história de maldição estava passando dos limites.

***

Killian entristeceu e se recolheu à solidão. Conforme os dias iam passando, Gancho ia se recuperando, mas seu coração estava despedaçado. A gravidez de Ruby tinha sido confirmada no exame de sangue e agora o povo de Storybrooke não falava em outra coisa. Mais uma vez a The Gossip Magazine noticiou a fofoca e era de se esperar que Ruby nem saísse de casa mais, depois de passar por tanta humilhação.

Basicamente, a revista noticiava sua versão dos fatos, inclusive atentando ao fato de que Killian só se jogara na frente do carro para bancar o herói. A reportagem ainda dizia que Ruby agora estava sozinha pra cuidar de seu filho, uma vez que Billy estava entre a vida e a morte.

Felizmente, os médicos disseram que o mecânico ficaria bem, embora tivesse batido a cabeça com força. Quando ele acordasse poderiam afirmar com certeza, mas por enquanto podiam apenas se basear na hipótese de que ele não ficaria com seqüelas no futuro.

– Não foi sua culpa, cara – Orlando disse a Killian mais uma vez – Aconteceu o que tinha que acontecer.

– Se eu não tivesse tentado bancar o herói, talvez o carro não tivesse batido na maldita árvore.

– Você fez o que tinha que fazer e ponto final. E o cara tem sorte de estar vivo. Só não digo o mesmo da Ruby...

– Ei! – Killian protestou e gemeu ao mesmo tempo.

– Que foi? – Orlando lhe lançou um olhar inocente – Se eu estivesse no lugar dela, teria preferido morrer a ter virado motivo de fofoca da cidade.

Embora Orlando criticasse Ruby, Killian sabia que o homem não estava em seu juízo perfeito. Orlando estava caindo de amores por Rose Bells e a coisa piorou quando a repórter lhe deu um fora. Felizmente, Killian sabia que o amigo não estava louco. Rose era Tinker Bell e Orlando/Will se apaixonara por ela mais uma vez.

Era véspera de Natal e a cidade entrara em polvorosa pela chegada da neve. Killian não estava com espírito para festas, mas Orlando queria fazer uma ceia, como eles faziam todo ano. Era estranho comemorarem aquilo, já que não havia nada parecido na Floresta Encantada, mas Killian acreditava em um deus e em Jesus.

– A gente compra um peru, daqueles bem gordos. – ia dizendo Orlando - E Jake pode trazer as bebidas. Você pode convidar a Kate se quiser, já que ela virou sua amiguinha.

– Ela provavelmente vai participar da comemoração no Granny’s.

– Hum, então pelo visto vamos ser só nos três... Que legal! Três solteirões idiotas comemorando o Natal...

Killian adoraria passar o Natal com Ruby, ela geralmente era animada pra essas coisas. Em todo caso, ele resolveu sair pra comprar presentes. Suas costelas ainda não estavam boas e ele sentia uma pontada no peito a cada vez que se esforçava demais, mas não agüentava mais ficar em casa o dia todo. Lá fora, uma grossa camada de neve cobria o chão. Se Orlando visse Killian, teria impedido que o amigo saísse, afinal, ele poderia cair e quebrar mais umas costelas e até outras partes do corpo. Killian tentou não pensar muito nisso quando mancou até o centro de Storybrooke.

Lojas e casas estavam adornadas por enfeites e luzes. Um pinheiro tinha sido colocado na praça principal e fora enfeitado por luzinhas e bolas coloridas. Killian sentiu cheiro de castanhas assadas e logo depois um coral passou por ele cantando músicas natalinas. Ele se viu sendo cumprimentado por meia dúzia de pessoas. Incrível como o Natal podia fazer com que as pessoas ficassem mais bondosas e tolerantes.

Killian se distraiu observando as vitrines das lojas e não viu quando Ruby veio na direção oposta, também muito distraída. Os dois acabaram por se esbarrar e Ruby escorregou na neve, caindo de bunda no chão.

– Você não tem olhos na cara? – ela xingou, tentando se levantar. Killian ficou preocupado e lhe estendeu a mão, com menção de ajudá-la.

– Desculpe, eu não vi você.

Ela olhou pra cima quando ouviu a voz e reconheceu como sendo Killian, aí fechou a cara.

– Você! Idiota! Olhe por onde anda. – ela finalmente conseguiu se levantar e espanou a neve de sua roupa.

– Ruby... por favor, vamos conversar. – ele praticamente implorou. Estava feliz por vê-la, sua linda e adorável esposa. Como ele sentia falta dela!

– Não temos nada pra conversar – ela ia se afastando, mas ele a segurou pelo braço.

– Por favor, eu posso explicar tudo. É Natal! É tempo de perdoar!

– Não use Jesus como desculpa – ela vociferou – Eu não quero ouvir nada!

– Mas vai ouvir! – num surto de raiva, ele a prensou contra a parede. Estavam na frente do consultório de Archie e Killian imediatamente imaginou que ela devia ter acabado de se consultar com o psicólogo – Eu não fiz nada! A Regina me beijou!

– Você espalhou pra todo mundo que eu estou grávida! – ela estava quase gritando, mas não queria chamar a atenção de ninguém. Umas poucas pessoas passavam por ali e todas elas olharam na direção dos dois.

– Eu não fiz isso! Olha, alguém fez isso pra nos separar e eu vou descobrir quem foi. Me escuta, Ruby, eu te amo! Você não vê isso? Regina fez tudo isso pra nos separar, porque ela não suporta ver a felicidade das pessoas.

Ruby começou a chorar. Killian ficou com tanta pena que queria pegá-la no colo, mas o fato de suas costelas estarem quebradas o impossibilitava de fazer isso.

– Mas a revista... – ela balbuciou – Eu vi a foto de vocês dois juntos...

– Foi ela quem me beijou! – ele disse mais uma vez – Nós não temos nada! É você quem eu amo! Você é... você é minha princesinha...

– CALA A BOCA! EU NÃO QUERO OUVIR NADA! – ela chorava, ainda prensada contra a parede. Killian não sabia de onde tirara força para segurá-la – Por sua culpa Billy está em coma no hospital. É tudo culpa sua! Eu te odeio! Eu te odeio!

Atraído pelos gritos de Ruby, Archie saiu do consultório e arregalou os olhos quando viu a cena.

– Mas que é isso? Killian, o que está fazendo?

– Desculpe, Archie, mas vamos precisar do seu consultório – Killian arrastou Ruby para dentro do consultório e ela ficou tão surpresa que não teve reação.

– Killian! Não pode fazer isso! – Archie estava assustado - O que está acontecendo?

– Eu não tenho nada pra falar com você – Ruby gritava – Me larga!

Killian a empurrou para um dos sofás de Archie. Ele mesmo não sabia o que estava acontecendo, mas fora tomado por uma onda de raiva. Raiva por Regina ter feito o que fez e raiva por sua vida ser sempre tão complicada e cheia de problemas. Ruby agora chorava assustada enquanto Archie olhava de Killian para a moça.

– Me parece que é hora de conversarem sobre toda essa situação – o psicólogo falou, tentando apaziguar a situação – Isso não pode ficar como está.

Killian ficou de pé a um canto, seu peito doía e ele respirava com dificuldade.

– Ela não acredita em mim, Archie. Eu estou dizendo a verdade e você sabe disso.

– Sim, eu sei – Archie se sentou, depois suspirou – Ruby, você ao menos deu ao Killian uma chance de se explicar?

– Explicar o quê? – ela cruzou os braços, enraivecida – Que ele me traiu e depois espalhou boatos pela cidade?

– Eu já disse que não fui eu... – ia dizendo Killian.

– Então quem foi? – ela estava muito brava, mas acima de tudo, muito infeliz – Porque alguém contou e agora eu sou a vadia da cidade. A vagabunda que não sabe de quem engravidou! E não posso nem sair na rua sem me sentir culpada! E o Billy... se ele morrer eu vou levar a culpa! E tudo isso porque você e Regina decidiram destruir minha vida!

Killian e Archie trocaram um olhar. Ruby pôs as mãos no rosto e desatou a chorar. A pobrezinha estava se sentindo humilhada e sozinha.

– Ninguém nunca me amou! – ela soluçava – E eu caí como idiota na sua conversa! Acreditei em você, acreditei que me amasse... E pensar que eu estava apaixonada... Pra quê? Você só queria brincar comigo...

– Meus sentimentos por você são verdadeiros – Killian começou e Ruby o interrompeu, gritando com ele.

– CALA A BOCA! EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA!

– NÃO! EU VOU FALAR E VOCÊ VAI ME OUVIR! – ele gritou de volta. Archie não ousou interromper, pois sabia que havia muita coisa acontecendo ali. Eles precisavam desabafar – Você não me escuta! Eu já te disse o que aconteceu, mas você prefere acreditar nas mentiras de uma revista? Por tudo que é mais sagrado, Ruby! Eu e Regina nunca tivemos nada. Tudo o que está escrito naquela revista é mentira. Tudo o que aconteceu, foi que ela me deu uma carona pra casa e aí me beijou. Ela não suporta ver a felicidade das pessoas... Ninguém sabe disso, mas um dia Regina já perdeu alguém que ela amava e é por isso que ela se empenha tanto em destruir as vidas das pessoas. Você viu o que ela fez com Mary, acusando-a de assassinar Kathryn. É claro que ela convenceu o Sidney Glass a assumir a culpa. E não há dúvida de que ela mandou alguém tirar aquelas fotos e publicar aquelas revistas. Meu único amor sempre foi você, desde o dia em que nos conhecemos.

E ele não estava falando apenas do reencontro em Storybrooke, quando ele se apaixonara por ela pela segunda vez. Estava falando de quando ele a “seqüestrara”, de quando eles se viram pela primeira vez. Desde o momento em que pusera os olhos nela, Killian sentira algo pela garota. Agora ele podia afirmar isso.

– E acha mesmo que eu teria enfiado na frente daquele carro se não me importasse com você? Acha que eu teria me quebrado todo apenas pra bancar o herói? Porque eu só fiz aquilo pra te impedir de fazer uma burrada... Desde que me apaixonei por você eu vivo me machucando! E você não sabe o quanto dói em mim, todas as lembranças ruins que eu carrego aqui dentro – ele colocou a mão no peito. A dor em suas costelas o lembrava de que ele não devia se esforçar, mas aquele momento era tudo o que ele tinha. Ele precisava dizer o que sentia – Desde que botei meus olhos em você... todos os dias, todas as noites, eu penso que posso te perder a qualquer momento. Eu nunca te disse isso, Ruby, mas amar você também significa lutar e sentir dor... porque desde que eu te conheci tudo o que fazemos é lutar por nosso amor. E eu sempre me machuco, mas você é sempre quem se fere mais, você é sempre quem sofre mais... E eu choro internamente porque não suporto te ver sofrer. Eu morreria por você, só pra não te ver sofrer... eu daria minha vida por você porque eu te amo! Você é a única coisa que me faz feliz nesse mundo...

Ruby estava paralisada no lugar, assim como Archie. Aquela fora a declaração de amor mais bonita que o psicólogo já vira. Ambos, Killian e Ruby choravam. Ela nunca vira Killian tão vulnerável e com tanta raiva como vira agora.

– Eu... – ela começou, encarando-o enquanto derramava lágrimas – Me desculpe... me perdoe por não ter acreditado em você...

Ruby se levantou e foi em direção a Killian, abraçando-o. Ele gemeu de dor, mas a puxou para mais perto.

– Tá tudo bem, tá tudo bem... – ele dizia.

Seus lábios se encontraram e eles nem ligaram para o fato de Archie estar vendo a cena. O psicólogo parecia encantado. Sim, senhoras e senhores, aquilo era amor verdadeiro! Foi um beijo desesperado, cheio de saudade. E pensar que eles ficaram separados por tanto tempo. Vinte e oito anos! Como era possível? Como era possível que já tivesse se passado tanto tempo?

– Eu te amo, Killian!

– Eu também te amo, minha princesa!

– Vou me retirar pra que fiquem mais à vontade – Archie se levantou e finalmente os outros dois se lembraram que o psicólogo ainda estava na sala.

– Não, pode ficar, Archie – disse Killian – Na verdade, vamos precisar de sua ajuda.

– É claro, em que posso ajudar?

– Temos que desmascarar um certo jornalista...

***

Henry, é claro, insistiu mais uma vez que Killian e Ruby não deviam se encontrar. Regina estava muito feliz, achando que conseguira separar os dois, e se por um acaso descobrisse que eles tinham feito as pazes, a coisa ia ficar feia.

– Não se preocupe, garoto, ela não vai descobrir. – Gancho o tranqüilizou – Nos vemos amanhã?

– Claro! Vou avisar a Emma sobre a nossa nova missão. Feliz Natal!

– Feliz Natal, Henry!

O garoto ficara animado com o plano de Killian. Eles formaram um grupo de investigação pra descobrir quem andava escrevendo aquela revista de fofoca. Felizmente, agora que voltara a ser o Capitão Gancho, Killian recuperara sua esperteza. Ele bolara um plano e iria colocá-lo em prática no dia seguinte.

Por ora, ele tratou de comprar presentes de Natal. Não sabia o que dar a Ruby, mas o fato de ela estar grávida mudava tudo. Ele sorriu ao pensar que eles iam ter um bebezinho. Mesmo que a moça não soubesse que ele era o pai, concordara em deixar que ele assumisse a criança.

À noite, enquanto todos comemoravam e passavam um tempo com a família, Killian se esgueirou pelas ruas de Storybrooke. Não havia viva alma naquelas ruas, então o rapaz pensou que não haveria como Regina saber que ele fora ver Ruby. Ele entrou pela porta dos fundos do Granny’s e foi acobertado por Vovó.

– Ela está lá em cima! Para o seu bem, espero que não a magoe de novo.

– Sim, senhora! Eu lhe prometo que vou fazer de sua neta a mulher mais feliz do mundo.

– Oh, é bom mesmo! Feliz Natal, Killian!

O fato de Ruby ter perdoado Killian mudara a cabeça da avó. A idosa meio que considerava o rapaz inocente naquela história toda, mas não tinha muito certeza. Porém, quando Ruby contou a ela sobre a declaração de amor de Killian, Vovó achou que devia dar ao rapaz um voto de confiança.

Ele subiu a escadaria e passou por Kate no corredor. Vovó organizara uma pequena comemoração para os amigos mais íntimos e Ruby se arrumava no quarto enquanto as pessoas chegavam ao Granny’s. Ele abriu um sorriso ao ver o look de Natal da moça. Ele gostava da forma como ela se vestia ali em Storybrooke. Hoje usava um tomara-que-caia vermelho com meia calça preta e as mechas vermelhas de seu cabelo estavam mais escuras.

– Como você consegue ser sempre tão linda? – ele perguntou parado à porta e admirando-a.

– Ah para com isso – ela sorriu envergonhada – Não sou tão linda assim.

– É claro que é! – ele se aproximou para beijá-la e depois lhe entregou uma caixa retangular – Comprei isto pra você.

– Oh... eu nem te comprei um presente, desculpe, não tive muito tempo...

– Não precisa de presente, você é o melhor presente que eu podia ganhar.

Ela sorriu e se ocupou em abrir a caixa. Killian passara numa loja de roupas que vira mais cedo e por sorte encontrara o que queria. Já que eles iam ter um filho, era necessário que comprassem roupas e brinquedos. Ela se livrou do laço de fita que envolvia a caixa e depois abriu a tampa, encontrando um macacãozinho branco de bebê.

– Ah Killian... Que fofo! Obrigada!

– Agora que vamos ser uma família, achei que devíamos nos preocupar com o bem estar do bebê.

– Uma família? – ela sorriu

– Se você ainda quiser, é claro.

– É claro que eu quero!

Ele tirou o anel de rubi do bolso, enfiando-o no dedo da moça.

– Não vai se desfazer dele de novo, está bem? – ele sorriu, beijando-a – O que doutor Whale disse? Espero que esteja tudo bem.

– Eu fiz alguns exames, mas ainda não dá pra saber muita coisa. Ele disse que estou saudável, mas que preciso manter a alimentação.

A preocupação de Killian era que Ruby pudesse perder o bebê de novo. Ainda que na outra vez aquilo tivesse sido causado por Regina, talvez pudesse acontecer de novo, já que era muito comum que mulheres perdessem seus bebês por aborto espontâneo. Em todo caso, Whale dissera que estava tudo bem.

– Ele não soube explicar aquela história de eu ter nascido sem útero – ela continuou – Mas o fato é que estou grávida e de alguma forma isso aconteceu.

Na verdade havia uma explicação. Já que Ruby estava grávida quando a maldição os atingiu, a maldição se utilizou de mecanismos para explicar o fato de a garota nunca ter menstruado. Killian detestava admitir, mas Regina era mesmo muito perspicaz. A mulher cuidara de cada pequeno detalhe ao inserir memórias falsas na cabeça das pessoas. Ele só queria ver a cara dela quando a maldição quebrasse e todos recuperassem suas verdadeiras identidades.

Killian se despediu de Ruby dizendo que precisava ir pra casa. Ele já se esforçara demais e suas costelas ainda não estavam recuperadas. Quando ia passando pelo corredor, August, na verdade Pinóquio, o puxou para dentro de seu quarto.

– Está piorando – o homem disse e levantou a perna da calça, mostrando sua perna a Killian.

Ao colocar Pinóquio no guarda-roupa, Gepeto dissera ao filho que ele devia fazer tudo para auxiliar Emma, quando os dois chegassem no outro mundo. Mas Pinóquio acabara por abandonar Emma, ao fugir do orfanato para o qual os dois tinham sido levados. E agora, como um lembrete de que ele abandonara Emma, Pinóquio estava virando madeira. Primeiro começou com a perna esquerda, agora também estava tomando a perna direita. Em pouco tempo ele voltaria a ser um boneco de madeira. Aquela “doença” estava matando August.

– Temos que fazer a Emma acreditar – ele disse, sentando-se na cama – Só não sei como. Ela achou que eu estava louco quando lhe contei que sou o Pinóquio. Não adianta! Ela só vê o que quer ver...

– Talvez seja questão de tempo até que ela acredite – falou Killian – Eu teria tentado convencê-la sobre a verdade, mas Henry não acha que é uma boa ideia.

– É claro que não é uma boa ideia. O que ela ia pensar se você dissesse: “Oi, eu sou o Capitão Gancho e sou seu tio”? Provavelmente ia te arrumar uma passagem só de ida para o hospício.

Killian prometeu pensar em algo e saiu para o ar frio de Natal. Todos os problemas seriam resolvidos se Emma simplesmente acreditasse em magia e quebrasse a maldição, mas não, ela gostava de complicar as coisas. Mas era compreensível. Emma crescera em orfanatos e aprendera a acreditar apenas na realidade, a realidade de que ela fora abandonada por seus pais. E agora ela se recusava a ter esperança e acreditar em milagres. Como ela poderia ser uma salvadora quando mal conseguia salvar o próprio filho?

***

Henry, Killian, Ruby, Vovó, August, Archie, Kate, Orlando , Jake e Emma estavam todos envolvidos no que Henry chamara de Operação Spider. A xerife sozinha não conseguira descobrir quem estava publicando a The Gossip Magazine, então Killian acabou por reunir um batalhão de guerra. Henry, é claro, adorou a ideia.

– Escuta, por que o nome da missão é Operação Spider? – Orlando perguntou, quando ele, Killian e Henry se reuniram na manhã de Natal – Não podia ser outro bicho? Eu odeio aranhas...

– Podemos mudar se você quiser – respondeu Henry – Só achei que era um nome legal pra essa missão.

– Não temos tempo pra isso – Killian interferiu – Todos sabem o que fazer, agora temos que colocar a coisa em prática.

A hipótese de Killian era a de que a pessoa responsável pelas revistas fosse alguém inocente o bastante pra se manter fora de suspeita. Ele pensou que poderia ser Kate, já que ela sempre sabia tudo o que acontecia no Granny’s. Mas por outro lado, Kate estava sempre apoiando Ruby.

– É claro que ela é suspeita – dissera Orlando – Ela está sempre por perto e aposto que também estava lá quando a avó descobriu sobre a gravidez da Ruby. De que outra forma a pessoa que publicou a revista ia saber exatamente o que aconteceu nesse dia?

– É, mas então o Billy também é suspeito, porque ele era o único além de mim que sabia sobre essa gravidez – Killian contestou.

– Mas ele estava no hospital quando a última revista foi publicada – lembrou Henry – Ele pode ter contado isso a alguém, mas não foi ele quem escreveu as reportagens.

Orlando e Henry foram na frente. O garoto iria tomar café da manhã no Granny’s com Regina, enquanto que Orlando e Jake ficariam do lado de fora da lanchonete, observando. Depois de esperar por uns minutos, Killian saiu em direção ao Granny’s, mancando um pouco enquanto andava.

O plano de Killian era simples. Ele tinha quase certeza de que a pessoa responsável pela revista estava sempre observando o que acontecia na cidade. Seu palpite é que Regina tivesse pago alguém pra vigiar Ruby. Eles simulariam uma briga, enquanto os outros ficariam atentos, para o caso de o fofoqueiro se revelar.

– Espero que isso dê certo – ele disse pra si mesmo.

Era uma manhã adorável. O ar cheirava a castanhas e torta de maçã e um sol tímido brilhava por trás de uma nuvem. Todas as lojas estavam fechadas, mas já era tradição que o Granny’s funcionasse na manhã de Natal. Quando aproximou-se da lanchonete, avistou Emma em sua viatura, lendo um jornal. Orlando se sentara numa das mesas exteriores à lanchonete e bebericava uma enorme xícara de chocolate quente. Piscou para Killian quando ele passou. Já Jake ficaria ali perto do beco, vigiando. Killian caminhou até a porta da lanchonete e entrou.

– Você não é bem vindo aqui! – Vovó lhe lançou um olhar feroz, que era parte da atuação.

Killian teve tempo de dar uma olhada nas pessoas que estavam por ali. Kate servia os clientes, enquanto que Ruby se sentara no balcão e conversava com Archie. Regina e Henry também estavam ali e a prefeita lia o jornal. Ele também viu Marco conversando com August, sem nem saber que aquele era seu filho; Mary Margaret lia um livro, sentada perto da porta; Doutor Whale bebia café e parecia estar de ressaca; Leroy mastigava sua porção de ovos com bacon e havia ainda um outro homem, que era muito familiar a Killian.

– Vai embora! – Ruby se levantou – Não tenho nada pra falar com você!

– Ruby, por favor...

Todos se viraram para olhar e Regina ergueu uma sobrancelha. Nos últimos dias ela estivera fugindo de Killian, já que ele queria que ela contasse a verdade a Ruby, que fora ela quem o beijara e não o contrário. A prefeita dissera que não tinha nada a ver com aquela revista de fofocas e jogara a bomba nas mãos de Emma, pra que a xerife resolvesse. Agora Regina estava preocupada. Se aqueles dois fizessem as pazes, ela teria que arrumar outro jeito de separá-los.

– Saia, rapaz, antes que eu o chute porta afora! – a avó ameaçou, apontando um dedo gordo na direção de Killian.

– Eu só quero conversar.

– Não há nada pra conversar! – Kate entrou na conversa – Não bastou trair minha amiga e fofocar sobre ela?

– Eu já disse que não tenho nada com isso – disse Killian, depois se voltou para Regina – Por favor, prefeita, diga a ela o que realmente aconteceu.

Regina ficou exasperada, porque não imaginava que fosse se envolver naquilo.

– Eu já disse o que deveria dizer – ela falou educadamente – O que aconteceu entre mim e o senhor Jones foi um equívoco, não vai acontecer de novo. Quanto à revista, acredito que a Xerife Swan esteja tomando as providências necessárias.

– Estão vendo o que estou dizendo? – Killian falou e andou em direção a Ruby – Eu não tenho nada com a prefeita, meu amor, foi tudo um engano.

– Isso não muda o fato de você ter espalhado boatos sobre minha gravidez! – Ruby gritou. – E não me chame de amor!

Nesse momento Dr. Whale despertou (ele estivera cochilando sobre seu prato de omelete) e notou que Killian estava ali.

– O que está fazendo? Eu disse que devia estar em repouso!

– Agora não, doutor – intrometeu-se Leroy – Tem uma discussão rolando aqui.

– Eu já mandei você sair e não vou mandar de novo! – Vovó fingiu estar muito irritada.

– Quer que eu o coloque pra fora? – se ofereceu Leroy.

– Não, eu mesma faço isso! – a senhora saiu de trás do balcão e foi em direção a Killian empurrando-o para a saída.

– Ninguém me tira daqui! Ruby, me escuta, eu te amo!

– Ah, mas quanta baboseira! – exclamou Leroy.

A avó tentava pôr Killian pra fora, dizendo que não queria machucá-lo ainda mais, enquanto que o homem se recusava a sair. Seguiu-se uma gritaria e Leroy se levantou, pronto pra colocar Killian pra fora. Mary Margaret, que não sabia que tudo era encenação, parou em meio ao ato de comer sua torta de maçã e ficou com o garfo levantando no ar, enquanto assistia a confusão. Doutor Whale queria colocar Killian sentado, dizendo que ele não devia se esforçar. Henry segurava o riso, enquanto que Regina ainda estava aturdida pela cena. Ruby começou a chorar e Kate a consolava. Por fim Archie se sobrepôs aos gritos e falatório, gritando.

– CHEGA! Chega está bem? Vocês não estão usando a voz da consciência. Por favor, senhora – ele se dirigiu a Vovó – Killian tem algo a dizer e seria melhor se ele e Ruby conversassem em particular.

– Ela não quer falar com ele – disse a avó – Está vendo? Está vendo o que ele fez à menina?

Ruby era mesmo uma boa atriz, porque chorava de verdade. August viu quando Regina trocou um olhar com o homem sentado no fundo da lanchonete. Ele não sabia quem era o homem mas podia apostar que aquele era um dos cúmplices de Regina. O escritor enviou uma mensagem à Emma, dizendo que havia um suspeito e que ela devia ficar atenta. A gritaria recomeçou. Por fim, Leroy se cansou e fez menção de colocar Killian pra fora.

– Pela última vez, senhor Jones – insistiu a avó – Peço que se retire desse estabelecimento.

Killian deu uma última olhada em Ruby e saiu mancando. Ruby saiu pela porta dos fundos, choramingando e repetindo: “Que humilhação! Que humilhação!”. Regina se levantou ajeitando a roupa e murmurando um “Vamos, Henry”. Vovó mandou que os clientes voltassem às suas refeições e subitamente Mary Margaret se lembrou de sua torta. Doutor Whale resmungou algo sobre nunca mais beber vinho e voltou a se concentrar em sua omelete. August fez sinal para Kate, apontando para o homem suspeito, que agora parecia fazer anotações em seu celular. A garçonete e Vovó trocaram um olhar e Archie imediatamente saiu pra avisar os outros.

– E então? – Orlando ainda estava sentado no mesmo lugar. Killian desaparecera.

– Temos um suspeito!

Do outro lado da rua, Regina interpelava Emma, querendo saber se a xerife já encontrara o responsável pelas revistas.

– Estou fazendo o melhor possível, Regina – disse Emma, recostada contra a viatura.

Henry tinha um sorriso divertido no rosto e Regina encarava Emma com uma expressão de desagrado, mas no fundo estava muito satisfeita porque outro escândalo envolvendo a senhorita Lucas e Killian Jones viria a público.

– Pois então procure por pistas. – disse Regina – Porque enquanto está sentada lendo seu jornal e comendo suas rosquinhas, sou eu quem vive sendo atacada por essa revista de quinta.

Ela saiu andando daquele jeito imponente e Henry acenou pra Emma. Em seguida, o homem suspeito saiu do Granny’s, ainda digitando no celular. Archie fez sinal pra Emma e ela seguiu o homem quando ele caminhou pelas ruas de Storybrooke.

– E então? Deu certo? – Vovó saiu para a rua.

– Emma foi atrás do cara – disse Orlando.

Killian voltou à lanchonete.

– Devo dizer que a senhora fez uma boa atuação – ele disse à vovó.

– Meu sonho sempre foi ser atriz – ela disse toda convencida.

Enquanto isso, Emma seguira o homem até a estrada que saía de Storybrooke. O suspeito entrou numa casa de aparência abandonada e a xerife estacionou a viatura a uma certa distância. Tinha em mãos um mandato de busca. Ela marchou até a casa, batendo na porta em seguida. O homem levou um susto quando veio atender a porta.

– X-xerife?

Ele decididamente estava com problemas...


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Notas finais do capítulo

Leiam minha shot: http://fanfiction.com.br/historia/505808/A_Loba_O_Pirata/
Até a próxima! Não esqueçam de comentar! Beijinhos