Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 51
Capítulo 47 - Boatos


Notas iniciais do capítulo

Mais um! Não achei que esse ficou muito bom, mas espero que gostem. Eu postei a oneshot, vou deixar o link no final. Gente, quando o Nyah sair do ar assim (espero que isso não aconteça mais), eu vou postar no Spirit. Eu ia fazer isso esses dias, mas ´como poucas leitoras daqui me acompanham lá, imaginei que quase ninguém fosse ver. Em todo caso, seria bom se vocês me acompanhassem lá também, só pro caso de o Nyah dar problema de novo. Enfim, espero que gostem desse capítulo. Em breve revelarei quem é o responsável pela revista e acho que vocês nem imaginam rsrs E já estou trabalhando na minha próxima fic, mas só vou postar depois que essa acabar. Aproveitem!



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Capítulo 47 – Boatos

– Killian, esse filho é seu? – Orlando perguntou preocupado, enquanto Killian ainda encarava a revista.

A boca do homem se abriu e fechou sem que ele encontrasse resposta. Sem dizer nada, Killian se sentou no sofá e leu a nova fofoca:

GRÁVIDA, RUBY LUCAS NÃO SABE QUEM É PAI DA CRIANÇA

Ruby Lucas, a ex-solteira mais cobiçada da cidade, agora conhecida como chifruda, chocou a cidade com o escândalo de sua gravidez. Aos vinte e dois anos, a garçonete não sabe o que fazer e teme ficar desamparada se a avó a expulsar de casa.

Há alguns dias noticiamos o fato de Killian Jones e Regina Mills terem sido vistos aos amassos no carro da prefeita. Na época Jones ainda namorava (leia-se traía) a senhorita Lucas, mas a garçonete acabou lhe dando um pé na bunda quando descobriu a traição.

Deprimida, Ruby ficou alguns dias sem aparecer publicamente e o nome Killian tornou-se proibido na lanchonete Granny’s. Preocupada com a repercussão da história, a viúva Lucas colocou um aviso nada gentil na porta da lanchonete: “Não mencione o nome com K ou será chutado pra fora”.

Ruby foi vista na manhã de ontem, enquanto conversava com Billy, o mecânico bonitinho que já andou dando uns pegas na garçonete. Desesperada, Ruby acabou contando a Billy sobre sua gravidez e teria pedido que o rapaz assumisse a criança.

Nosso fotógrafo flagrou o momento da conversa em que Ruby chora e é consolada por Billy. Pelo visto o mecânico se aproveitou da situação e não se fez de rogado. Abraçando-a, ele aproveitou pra lhe roubar um beijo e fontes afirmam que viram quando os dois entraram pela porta dos fundos da lanchonete. Em seguida, Billy teria exigido saber quem é o verdadeiro pai da criança, mas a própria Ruby não soube dizer.

A avó, que não sabia de nada, passou mal e quase sofreu um enfarto quando soube a notícia. Gritos foram ouvidos por quem passava pela pensão e fontes afirmam que ouviram a avó dizer que Ruby devia se casar com Billy, pensando ser este o pai da criança. No entanto, o mecânico teria dito que não é o pai e quando interpelada pela avó, Ruby teria dito que não sabia como engravidara. A história gerou especulação de quem seria o pai da criança.

Suspeita-se que seja Killian Jones, o parasita sugador de dinheiro. Quando ainda namoravam, Ruby e Killian eram vistos aos beijos e abraços e não faziam nenhuma questão de esconder o relacionamento. “Eles namoraram por umas duas semanas”, uma de nossas fontes contou, “e depois da briga a Ruby se trancou no quarto e não quis sair mais. Ela não quer vê-lo nem pintado de ouro”.

Há quem pense que o pai não seja Killian, mas Dr. Whale. Todos sabem que o médico é mulherengo e não pode ver um rabo de saia. “Ele flertava muito com a Ruby”, diz uma fonte, que prefere ficar no anonimato “Mas ela também não é flor que se cheire. Todo mundo lembra como ela costumava andar por aí, vestida como dançarina de cabaré. Não me surpreende que esteja grávida. Só tenho pena da criança, que vai crescer sem pai”.

“Isso com certeza foi falta de uma mãe para educá-la”, diz outra fonte “O problema é a forma como ela foi criada, a avó nunca ligou muito pra menina. Se fosse filha minha, com certeza levaria uma boa surra.”

Inocente ou não, a senhorita Lucas agora está no ranking das “vadias de Storybrooke”, perdendo apenas para Mary Margaret Blanchard. Ruby não é nenhuma garotinha e com certeza sabia o que estava fazendo. Agora resta esperar por um exame de DNA para descobrir a identidade do pai. Até lá, talvez a senhorita Lucas precise de umas tesouras, para aparar os chifres.

– Killian, é você o pai dessa criança? – Orlando novamente perguntou, temendo a resposta.

Killian respirou fundo e atirou a revista a um canto.

– Sim... – ele mentiu. Prometera que ia assumir a criança e assim ele ia fazer, mesmo que Ruby não quisesse vê-lo mais.

– Vocês ficaram loucos? O que estava pensando?

– Estávamos apaixonados... – Killian massageava as têmporas, tentando ficar calmo.

– Por isso iam se casar? – Orlando andava de um lado para o outro - Você já sabia disso, né? Sabia que ela estava grávida?

– Sim, eu sabia. Droga... o que vou fazer? Ela nem quer me ver...

– Eu não sei, cara, mas precisa fazer alguma coisa pra limpar sua reputação...

Uma batida na porta assustou os dois. A pessoa batera com tanta força que poderia ter arrancado a porta. Orlando foi olhar pelo olho mágico.

– Ih... – ele fez e olhou pra Killian.

– Que foi? – o outro se levantou – Quem é?

– ABRA ESSA PORTA! – a pessoa novamente esmurrou a porta e Killian reconheceu a voz. Era a Vovó. – EU SEI QUE ESTÁ AÍ!

– Será que ela não conhece uma campainha? – Orlando comentou e Killian respirou fundo abrindo a porta.

– SEU CANALHA! CAFAJESTE! – Vovó começou a bater em Killian, assim que eles ficaram frente a frente. Pra alguém da terceira idade, até que a senhora era bem fortinha – NÃO BASTOU TRAIR MINHA NETA, TAMBÉM TEVE QUE ENGRAVIDÁ-LA, NÃO É? CANALHA! SACANA! EU VOU TE MATAR!

– A senhora me desculpe – ele disse, afastando-se dos tapas dela e tentando segurá-la – mas eu não fiz esse filho sozinho.

– OH, COMO SE ATREVE? – ela atirou a revista nele – COMO É QUE SE ATREVE?

– Acalme-se, senhora! – Orlando tentou segurá-la, mas ela o empurrou para o sofá.

– E VOCÊ NÃO SE META, GAROTO. ESTA CONVERSA É ENTRE MIM E ELE...

– Olha, eu posso explicar tudo pra senhora – Killian começou – Mas precisa se acalmar.

– QUER QUE EU ME ACALME? POIS VOCÊ ENGRAVIDOU A RUBY E AGORA SOU EU QUEM VAI TER QUE CUIDAR DA CRIANÇA... O QUE ESTAVAM PENSANDO? O QUE É QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA?

Levou uns minutos pra que a Vovó se acalmasse. Orlando aquietou a fera e lhe preparou um chá de camomila. Ela se sentou e respirou fundo, antes que sofresse um enfarto. Não estava sendo fácil pra ela, a pobre senhora estava sendo vista como relapsa por deixar Ruby tão solta e independente.

– Nós estávamos apaixonados – Killian se sentou e começou a explicar – E reconheço que fomos irresponsáveis, mas vou assumir esse filho e já tinha dito isso a Ruby. Nós íamos nos casar e eu ia cuidar dela e desse bebê, mas infelizmente as coisas tomaram outro caminho. Sei que a senhora está zangada, mas essa revista foi publicada com o objetivo de difamar as pessoas. Eu não tenho um caso com a senhora Mills e bem tentei explicar isso pra Ruby. Tudo o que aconteceu, foi que a prefeita me deu uma carona pra casa e então me beijou. Eu não tive culpa nisso. Estou certo de que é ela quem está por trás dessa revista, mas não pude encontrar provas. Eu amo a sua neta! E dói em mim saber que ela está sofrendo tanto.

– Se a amasse de verdade não teria espalhado pra cidade inteira que ela está grávida. – Vovó depositou a xícara vazia sobre a mesinha de centro, encarando Killian ferozmente – Achou que seria o melhor a fazer? Ela está com fama de vagabunda e eu virei a avó irresponsável...

– O quê? Acha que eu contaria isso pra alguém?

– Bem, alguém espalhou essa história. Você era o único que sabia de tudo. Ela achou que poderia esconder de mim, mas foi pior...

– Eu não contei pra ninguém! Dou-lhe minha palavra, senhora, sou um homem digno.

– De qualquer forma, alguém tem que assumir esse filho – ela se levantou, apanhando a bolsa e ajeitando a roupa – Espere até ela se acalmar e nós três conversaremos. Passar bem, senhores.

Ela saiu batendo a porta e Orlando e Killian se entreolharam.

– Detesto ter que dizer isso – falou Orlando - mas você está muito encrencado...

***

Ruby estava arrasada e de coração partido. Kate e Mary tentavam animá-la, mas a garçonete simplesmente se rendeu à tristeza. O homem que ela amava a traiu. O único homem em que ela confiava, a pessoa que jurara cuidar dela e daquele filho que ela esperava. E o que seria dela agora? O que seria do bebê?

Não bastasse ela ser traída, ainda ficara com fama de chifruda. Era horrível escutar as pessoas comentando isso. Ela estava se sentindo suja, uma mancha que impregnava aquela cidade. Como ele pôde? Por que fez isso com ela? Ele dissera que a amava. Dissera que ela era a única coisa que fazia sentido naquela cidade. E os dois se divertiam tanto juntos... Talvez ele tivesse ficado inebriado pelo dinheiro. E Regina era mesmo muito bonita. Uma mulher experiente, inteligente, poderosa, com um futuro promissor... Como ela não vira isso antes? Regina era muito melhor do que ela. Ruby não passava de uma garçonetezinha burra.

Cansada e abatida, a moça se trancara no quarto. Aquele tinha sido seu refúgio nos últimos dias. Ela se jogou na cama, desanimada demais pra fazer qualquer coisa. A avó fora compreensiva com ela e não fizera nenhum comentário quando a moça não foi trabalhar. Nos últimos dias, tudo o que Ruby fazia era se trancar no quarto e inventar formas de esquecer a tristeza.

Ela contara a Billy sobre a gravidez, praticamente implorara pra que ele assumisse aquele filho. Ele o fez, mas quis saber a verdade. Quem era o pai da criança? Ela não sabia. Por um momento, Ruby achou que Billy iria lhe dar as costas, mas tudo o que ele fez foi acalmá-la, dizendo que tudo ia ficar bem. Mas os dois não tinham sido discretos o bastante, a avó acabou ouvindo a conversa e surtou quando descobriu sobre a gravidez.

A coisa piorou quando Ruby não soube explicar quem era o pai da criança. Desesperada, ela achou que a avó fosse expulsá-la, mas a senhora apenas lhe deu as costas. Logo a Vovó... logo a pessoa com a qual ela mais se importava... Talvez a avó não fosse suportar aquilo, era humilhação demais. Onde é que ela errara ao criar a menina? Ela se empenhara tanto em transformá-la em uma moça decente...

E agora a cidade inteira comentava sobre sua gravidez. Aquele maldito Killian Jones... Não havia dúvida de que ele tinha sido o responsável por espalhar a história. E aquela maldita revista de fofoca... era melhor que Emma descobrisse logo quem estava por trás daquilo. Como é que alguém podia fazer aquilo com ela?

Naquela manhã alguém atirara uma pedra na janela de Ruby, espatifando o vidro. Na pedra viera amarrado um bilhete: Já checou as correspondências? Foi aí que ela descobriu mais uma revista enfiada na caixa de correio.

Agora todos a encaravam como se ela fosse vagabunda. A vadia de Storybrooke. Não havia como viver ali, ela acabou por pensar. Não mais. Era a oportunidade que ela tinha de deixar a cidade.

Quando a avó voltou da casa de Killian, entrou no quarto da neta e a encontrou pensativa, esparramada na cama.

– Não se preocupe, já vou arrumar minhas malas – a garota assegurou, pensando que a avó iria expulsá-la de casa.

– Do que está falando? – a senhora franziu a testa – Não vou te expulsar daqui.

– Não?

– É claro que não. Você é minha neta, e por mais que tenha errado, não vou deixá-la desamparada. Fui até a casa do Killian, ele vai assumir esse filho.

– Você o quê? – a outra se levantou, encarando a avó – Não tinha nada que ter ido falar com ele. Eu não quero vê-lo nunca mais.

– Isso é impossível, uma hora vocês vão ter que se encontrar... – Vovó ajeitou os óculos – E de qualquer maneira, você não pode ficar trancada aqui pra sempre.

– Billy vai assumir a criança – Ruby disse – Esse filho não é do Killian.

– Você vai me contar quem é o pai? – a avó cruzou os braços. – Porque Killian disse que o filho é dele.

Ruby hesitou. Ela não sabia o que dizer, nem sabia como engravidara. Mentir não ia levar a nada. Mas ela não queria que todos pensassem que Killian era o pai de seu filho. Na melhor das hipóteses, acreditariam se ela dissesse que era Billy, mas ele já assegurara que aquele filho não era dele, o rapaz apenas assumiria a criança.

– Você mesma não sabe, não é? – a avó suspirou e se sentou na cama – E como foi que engravidou, pra começo de conversa? Disseram que você nunca ia ter filhos...

– É complicado...de alguma maneira isso aconteceu.

– Nós vamos a um médico amanhã. Só assim teremos certeza.

– Não! Eu não vou sair e ser o centro das atenções. Não vou ser humilhada e julgada como fizeram com a Mary...

– Uma hora você vai ter que sair. Não pode se esconder a vida toda – a avó saiu, deixando-a sozinha.

Ruby sabia o que fazer. Ela ia pra longe, pra Boston. Ela ia ser livre...

***

Killian foi dar uma volta na praia. O som do mar o acalmava e ele precisava absorver tudo o que estava acontecendo. Ruby não atendia seus telefonemas e provavelmente também não lia as mensagens que ele lhe mandava. Ele sentia tanta falta dela! Mas sabia que ela devia estar devastada. E agora, fora humilhada publicamente pela revista.

Emma ainda tentava descobrir que revista era aquela e quem eram as pessoas que a produziam, mas não havia nenhuma pista. Se aquilo era obra de Regina, a prefeita fizera um serviço muito bem feito.

Ele só não entendia o que tudo aquilo significava. Primeiro Regina se aproximava dele, depois o beijava. Aí uma revista mentirosa publicava uma fofoca e a cidade inteira virava a cara pra ele. Depois, a revista atacava Ruby. Eles não tinham inimigos, nunca tinham feito mal nenhum a ninguém. Por que alguém iria querer separá-los?

O rapaz pensava numa teoria. Já anoitecera e não havia viva alma nas ruas. Apenas ele. O pobre solitário. Seu celular tocou. Número desconhecido. Ele hesitou, mas resolveu atender.

– Alô!

Killian?É a Kate! – a voz veio do outro lado da linha.

– Sim, sou eu. O que foi? Tá tudo bem?

Eu estou bem, mas você tem que me ajudar. – ela estava tensa e falava rápido - É a Ruby, ela quer fugir com o Billy.

– Quê?

Escuta, você tem que se apressar. A avó dela saiu e eu não vou conseguir impedi-la de fazer isso. Os dois fizeram as malas e estão indo pra Boston. Depressa! Ela vai se encontrar com o Billy daqui a pouco.

– Estou indo! Você tem que mantê-la aí o máximo que puder, está bem?

Eu vou tentar...

Killian desligou e correu em direção ao Granny’s. Acabou por avistar a viatura da delegacia parada em frente à padaria. Emma e Henry compravam rosquinhas. Estavam passando um tempo juntos.

– Xerife! Preciso de ajuda! Agora! – ele disse esbaforido, entrando na padaria.

– Que aconteceu? – Emma perguntou assustada e os três saíram para a rua.

– A Ruby vai fugir com o Billy. Preciso que me ajude a impedi-la – ele foi logo se sentando no banco de passageiro e Henry se sentou no banco de trás.

– Anda, Emma! – o garoto apressou – Temos que impedi-los antes que algo ruim aconteça.

– Eu sei, eu sei – ela revirou os olhos, entrando na viatura e girando a chave – A mesma história de sempre. Você devia parar de ler esse livro.

– Do que estão falando? – Killian franziu a testa enquanto a xerife colocava o carro em movimento.

– Ninguém consegue sair de Storybrooke, por causa da maldição – explicou o garoto, com uma caixa de rosquinhas no colo – Algo ruim sempre acontece com quem tenta.

– Que tipo de coisa ruim?

– Bem, Ashley e Kathryn bateram o carro quando tentaram, mas nunca se sabe o que pode acontecer.

Killian se preocupou. É claro que ele não acreditava na história da maldição e muito menos achava que algo ruim fosse acontecer com quem deixasse a cidade, mas ele temia que algo de ruim acontecesse a Ruby. Emma virou na rua do Granny’s no exato momento em que Ruby saía com o carro. Billy estava com ela e uma Kate desesperada gritava pra que eles não fizessem isso. Quando a ruiva avistou Killian e a Xerife, respirou aliviada. Ruby também viu os dois pelo retrovisor de seu Camaro vermelho e acelerou, deixando a viatura pra trás.

– Mais rápido, Emma! – Henry falou.

– Não posso infringir as leis de trânsito, garoto – ela respondeu.

– Vamos perdê-los de vista! – Killian se desesperou – Acelera!

Emma acelerou, contra sua vontade. Ruby ultrapassou um sinal vermelho e a Xerife teve que fazer o mesmo, para não perder o Camaro de vista.

– Olha só, uma Xerife quebrando as leis...

– Isso não importa agora – Killian estava nervoso e seu coração poderia saltar da boca – Temos que alcançá-los, eles não podem deixar a cidade.

– Por que está tão preocupado? – Emma arqueou a sobrancelha – Aquele filho é seu?

– Isso não vem ao caso! A Ruby está fazendo uma enorme burrada.

– Eu já disse: ninguém sai de Storybrooke – Henry afirmou mais uma vez.

Estavam quase na estrada que saía de Storybrooke. Poucos carros circulavam àquela hora da noite. Uma vez que passasse da placa de bem vindo, Ruby poderia sumir de vista.

– Liga a sirene! – ele mais mandou do que pediu.

– O quê? Isso não é uma perseguição policial – a xerife redargüiu

– É uma emergência! – o garoto rebateu e Emma o olhou pelo retrovisor – Vamos, Emma, antes que algo de ruim aconteça.

A xerife suspirou.

– Coloquem os cintos! – ela mandou e acelerou o carro depois de ligar a sirene.

No Camaro vermelho, Billy e Ruby ouviram a sirene. A moça dirigia e Billy quis que ela parasse.

– Estamos ferrados! – ele botou as mãos na cabeça, olhando pelo retrovisor – A Xerife vai nos prender! Eu disse que não devia ter ultrapassado o sinal vermelho.

– Eu não vou parar! – Ruby acelerou mais – Ninguém vai me impedir de deixar essa cidade.

Emma conseguiu alcançá-los. A viatura e o Camaro agora estavam emparelhados. Killian abaixou o vidro.

– Ruby! Para o carro! – Emma gritou pra ela.

– Ruby, vamos conversar! – Killian olhou pra moça no carro ao lado. Ela dirigia sem olhar para o lado, como que evitando encarar Killian – Por favor! Não faz isso!

– Eu não tenho nada pra conversar com você! – Ruby gritou e acelerou mais.

– Eles não vão parar, Emma – Killian se desesperou.

– Tá bem! Se segurem! – foi a resposta de Emma. Ela acelerou mais ainda. Deviam estar a quase cem por hora. Eles ultrapassaram o Camaro e Emma foi em direção à saída de Storybrooke.

– O que está fazendo? – Henry gritou.

Emma não respondeu. A intenção da Xerife era parar a viatura no meio da rua, assim Ruby também ia ter que parar, antes que batesse no carro. Mas algo aconteceu e a viatura começou a engasgar.

– Droga! – Emma praguejou – Agora não!

O carro morreu antes que Emma pudesse virá-lo. Ruby estava quase saindo da cidade e Killian fez a primeira coisa que lhe passou pela cabeça. Antes que Ruby os ultrapassasse, o homem arrancou o cinto e desceu do carro, parando no meio da rua. Ruby não conseguiu frear a tempo. Com um olhar de terror, Killian não conseguiu pensar em nada quando o Camaro veio com tudo em sua direção. Ruby gritou quando ele rolou por cima do capô...

***

– Não se mexa! – Emma estava parada acima dele, analisando a gravidade dos ferimentos.

– Emma... a Ruby – ele balbuciou. Emma colocou uma mão no peito do homem e ele gemeu de dor.

– Hum, acho que suas costelas estão quebradas – ela disse.

– Deve ser por isso que dói quando respiro – Killian respondeu com dificuldade.

Henry ligava para a emergência e Emma correu até o carro de Ruby depois de mandar que Killian ficasse quieto. Ruby tinha perdido o controle e o Camaro deslizara para fora da pista, batendo de lado contra uma árvore na beira da estrada. Billy estava desacordado e Ruby batera a cabeça, mas parecia estar bem.

– Não se mexa! – disse Emma, vindo até o carro – A emergência já vai chegar! Fique quieta.

– O Billy! – Ruby olhou para o lado, aterrorizada. A cabeça de Billy sangrava e ela própria sentiu algo escorrer por um lado do rosto.

– Fique calma! – Emma abriu a porta do lado de Ruby – Foi só um corte na cabeça, você vai ficar bem.

– Mas o Billy... Emma, ele tá sangrando muito!

O lado de Billy batera com força contra a árvore. O rapaz estava caído para o lado e Ruby se desesperou.

– Fique calma! – Emma a manteve sentada – Vai ficar tudo bem!

Killian ainda estava caído e gemia de dor. Sangue escorria de sua cabeça e ele tivera pequenas escoriações no rosto. Henry estava certo quando dissera que coisas ruins aconteciam a quem tentava sair de Storybrooke. E ele estragara tudo quando tentara impedir Ruby. Ele tentava ver o que acontecia no carro. A estrada era muito escura, já que não havia postes. Ele ouviu Emma acalmando Ruby e chegou à conclusão de que ela estava bem, mas muito assustada.

Uma sirene veio de longe. Duas ambulâncias vieram para o socorro e Killian viu quando Ruby e Billy foram colocados em macas. Em seguida os paramédicos vieram até ele e constataram que suas costelas estavam mesmo quebradas. Ele foi colocado numa ambulância, enquanto que Ruby e Billy foram na outra.

Emma levou Henry pra casa, mesmo diante dos protestos do garoto.

– Eu preciso saber se eles vão ficar bem.

– Você pode ir ao hospital depois – Emma disse – Mas sua mãe vai ficar louca se você não for pra casa agora. Não se preocupe, eles vão ficar bem.

Henry era muito apegado com as pessoas de Storybrooke. Ele se preocupava com Ruby e Killian, seus tio-avós. Embora Emma não acreditasse nessa história, ela entendia a preocupação do garoto. Henry não tinha muitos amigos, mas quando ele arrumava uma amizade, fazia tudo por essa pessoa.

Depois de deixar o garoto na porta de casa, Emma foi ao hospital. Dr. Whale assegurou que Killian e Ruby estavam bem, mas Billy levara um pancada forte na cabeça e ainda não podiam dizer nada com certeza. Ruby tinha sido sedada pra que se acalmasse e Killian dormia.

Vovó e Kate chegaram esbaforidas e Emma precisou acalmá-las.

– Ela está bem, só teve um corte na cabeça, mas tiveram que sedá-la pra que se acalmasse.

– Graças a Deus! – a avó respirou mais calma, colocando uma mão no peito – Não sei que ideia é essa de fugir... ainda bem que a impediu de fazer essa besteira.

– Na verdade, o Killian impediu. Ele parou na frente do carro e acabou atropelado, mas vai ficar bem.

Killian com certeza ganhara pontos ao fazer aquilo. Vovó e Kate ficaram pensando que ele devia mesmo gostar da Ruby, a ponto de impedi-la de deixar a cidade.

Na manhã seguinte, o Storybrooke Daily Mirror noticiou o ocorrido e Emma teve certeza de contar a história como realmente acontecera, pra que não houvesse nenhum boato. As pessoas comentavam sobre isso e rezavam pra que Billy se recuperasse. Alguns quiseram pôr a culpa em Ruby, já que ela dirigia o carro. Já outros acharam que tudo não passara de um acidente.

Killian dormiu por mais de quinze horas, tão cansado que estava. Estava todo dolorido e precisou piscar algumas vezes quando acordou. Ele ficou confuso ao ver tanta brancura, aí se lembrou da noite anterior, quando fora levado para o hospital. Havia alguém sentado ao lado dele e o homem esperava que fosse Ruby. Talvez ela tivesse ficado preocupada quando ele fora atropelado, e tivesse vindo vê-lo. Mas o homem ficou decepcionado quando encontrou Henry, ao invés de sua amada.

– Henry? – ele murmurou – Que está fazendo aqui?

– Fiquei preocupado e vim te visitar – o garoto disse bondosamente. Killian sorriu. Pelo menos alguém se preocupava com ele – Seu amigo Orlando esteve aqui, mas precisou voltar ao trabalho e diz que vem mais tarde pra te ver.

Killian se mexeu na cama, tentando encontrar uma posição confortável. Ele estava deitado de barriga pra cima, mas seu peito doía quando ele respirava.

– Henry, quão grave é minha situação? – ele perguntou preocupado com a dor.

– Dr. Whale disse que você quebrou umas costelas, mas o resto ainda está inteiro. E também levou um cortezinho na cabeça, mas fora isso está tudo bem.

– Ótimo! – ele bufou - Pelo visto vou ficar de licença por um bom tempo... E... e a Ruby?

– Ela só teve uns arranhões. Tiveram que colocá-la pra dormir pra que ela se acalmasse. Estão preocupados mesmo é com o Billy, disseram que ele bateu a cabeça com força, mas não sabem ainda o que vai acontecer com ele.

– Ah droga... – ele gemeu de dor - a culpa é minha. Não devia ter feito aquilo.

Henry negou com a cabeça.

– De todo jeito ia acontecer algo ruim. Ninguém sai de Storybrooke, só eu e a Emma.

Ficaram em silêncio por um tempo. Uma enfermeira entrou e perguntou como Killian se sentia.

– Dolorido! – ele respondeu.

Ela disse que ele ia ficar bem e que teria que ficar de repouso por cerca de um mês. A fratura seria curada com remédios. Henry resolveu ficar ali por um tempo. Vovó e Kate estavam com Ruby no quarto e o garoto contou a Killian que Ruby faria uma bateria de exames pra saber se o bebê estava bem.

– Sabe, eu pensei numa teoria – o garoto disse, tirando seu livro de contos de fadas da mochila – E acho que sei o que aconteceu pra Ruby engravidar.

– É mesmo? – Killian arqueou a sobrancelha, já adivinhando que o garoto ia falar sobre os contos de fadas – E isso tem a ver com seu livro?

– Sim – ele folheava as páginas. Parou na ilustração de um bonito castelo sendo envolvido por uma estranha fumaça escura – Aqui! Isso foi quando a maldição atingiu a Floresta Encantada. Isso foi há vinte e oito anos, você sabe, no dia em que a Emma nasceu.

– É, eu me lembro dessa parte.

– E eu acho que a Ruby estava grávida antes da maldição atingir vocês – o garoto continuou – Mas ela devia ter acabado de descobrir isso. E então, quando vocês foram trazidos pra cá e o tempo congelou, o bebê ficou congelado dentro dela por vinte e oito anos, até que a Emma chegou a Storybrooke e descongelou o tempo. É por isso que ela não sabe quem é o pai do bebê. Vocês eram casados, só não se lembram.

– O bebê ficou congelado por vinte e oito anos? – Killian ficou impressionado. Era muita imaginação pra uma pessoa só. Henry assentiu.

– E você é o pai.

– Hum. Certo. Até que faz sentido...

Talvez explicasse o fato de Ruby não saber como e de quem engravidara, mas é claro que ele não podia acreditar numa história que um garoto de dez anos estava contando a ele.

– Eu sabia que não ia acreditar, por isso te trouxe uma coisa – o garoto remexeu na mochila e tirou um gancho de dentro dela, um gancho do tipo que marinheiros usavam nos navios. Havia iniciais gravadas na base do objeto, K e J – K. J, Killian Jones.

– E o que isso prova? – Killian arqueou a sobrancelha, sem entender. Por que o garoto ia achar que aquele gancho pertencera a ele? Apenas pelo o fato de o garoto achar que ele era o Capitão Gancho?

– Isto era seu! Seu gancho, o gancho do Capitão Gancho. Está vendo? São suas iniciais.

– Oh, Henry... pode ser apenas coincidência... onde é que arrumou isso?

– Na loja do senhor Gold. Ele guarda objetos que pertenceram aos personagens dos contos de fadas.

– Oh é mesmo? E por que ele guarda estas tralhas?

– Ele é penhorista – o garoto disse como se fosse óbvio – Aprecia coisas antigas e raras. Em todo caso, vou guardar isso pra você, um dia vai precisar...

Henry se despediu e disse que precisava ir pra casa, mas que voltaria no dia seguinte. O garoto tinha deixado o livro ao lado da cama de Killian e o homem o chamou.

– Henry, está esquecendo o livro!

– Não esqueci! – o garoto parou na porta, sorrindo – Achei que talvez quisesse ler sua história...

***

– O exame vai demorar uns dias – disse Dr. Whale – Mas logo saberemos se está grávida ou não. E lhe asseguro, viúva Lucas, não sou o pai dessa criança.

– Melhor pra você – disse a avó – Ou teria que assumir a criança. Agora, se nos der licença, preciso conversar com minha neta.

Whale saiu e Vovó e Ruby ficaram sozinhas. A avó tinha obrigado a garçonete a fazer um exame de sangue, assim eles saberiam se ela estava realmente grávida. Ruby não gostara nada e amarrou a cara. Além de sentir-se culpada pelo o que acontecera a Billy, a moça estava frustrada por não ter conseguido sair de Storybrooke.

– Se for me passar um sermão, melhor falar logo – Ruby disse, depois que a avó ficou um tempo em silêncio.

– Não vou dar sermão. – a mulher disse calmamente - Só peço que reconsidere suas escolhas. O que achou que estava fazendo? Deixar Storybrooke? Essa era a melhor escolha?

– Eu sei... fui uma idiota... Mas eu não estava pensando direito e achei que esse seria o melhor caminho, o melhor jeito de fugir dessas pessoas...

– Um dia elas irão esquecer isso. Isso me lembra que Mary Margaret foi julgada e acusada injustamente, mas nem por isso ela tentou fugir.

– Não me compare a Mary! – Ruby se irritou – Por que a senhora sempre faz isso? Eu sou a Ruby! Não tem que me comparar com os outros – ela suspirou – A culpa é minha por Billy estar daquele jeito, mas nós achamos que teríamos mais oportunidades se fossemos pra Boston.

– Eu entendo, já fui jovem e inconseqüente, mas em momento nenhum você pensou em mim. Achou mesmo que eu fosse deixá-la ir assim? Eu teria ido atrás de vocês em Boston. E imagina o susto que tomei quando o hospital ligou pra pensão? Achei que poderia estar gravemente ferida ou pior, morta. Não faça isso nunca mais.

Ruby sorriu e pediu desculpas. Ela realmente devia ter pensado na avó. Elas se abraçaram e uma enfermeira trouxe comida pra moça. Kate estivera ali, mas voltara ao Granny’s. Graças a Kate, Killian fora capaz de impedir a fuga de Ruby. Algo pior poderia ter acontecido se ele não tivesse enfiado na frente do carro.

– Vovó... – Ruby começou, enquanto remexia na gelatina verde em sua bandeja. A garçonete estava louca de curiosidade pra saber o que acontecera a Killian.

– Hum? – fez a avó. Ela fazia tricô, sentada numa cadeira dura perto da janela.

– Ele... ele está bem?

– O Billy? Ainda não sabem afirmar com certeza.

– Não... o Killian...

Há dias ela não mencionava esse nome. Estava com ódio do homem. E ficara com mais ódio ainda quando ele a impedira de deixar a cidade. Como ele se atrevia? E ela não entendia por que estava se sentindo preocupada. Sim, porque ela não estava curiosa, era preocupação o que ela sentia.

– Quebrou umas costelas – a avó a encarou por cima dos óculos – Mas vai ficar bem.

Ruby assentiu e ficou muito tempo encarando sua bandeja de comida. A avó suspirou.

– O que foi? Está preocupada? Não fique, porque ele vai te perdoar por isso.

– Não preciso de perdão. Foi ele quem enfiou na frente do carro.

– É claro, pra te impedir de fazer uma burrada. Agradeço a Deus por ele ter feito isso. Você e Billy sozinhos em Boston? Garanto que não durariam um dia.

– Vovó! – Ruby indignou-se.

– Só estou dizendo a verdade. – a avó deu de ombros – E detesto ter que admitir, mas parece que Killian realmente se importa com você. Kate disse que ele ficou preocupado quando soube que você ia fugir.

– É claro que ele ficou. – ela engoliu um pouco da gelatina – Se algo me acontecesse, ele não ia suportar a culpa e o fato de a cidade inteira ficar contra ele, o que de certa forma já aconteceu.

A avó não disse mais nada e Ruby voltou a cutucar sua comida, sem vontade nenhuma de engolir aquilo.

***

Killian estava vestido numa camisola de papel. Orlando lhe trouxera umas roupas, enquanto ele dormia, e Killian apenas jogou um roupão azul por cima da camisola. A enfermeira dissera que ele devia ficar em repouso, depois receberia alta e teria que ficar um tempo em casa, sem se esforçar. Mas o homem não lhe deu ouvidos. Ele se levantou com dificuldade – e poderia ter se partido ao meio com a dor que veio de seu peito – e caminhou a passos trôpegos pelo corredor. Felizmente, não havia nenhuma enfermeira à vista.

Ele queria ver Ruby e sabia que o quarto dela ficava no mesmo corredor, já que perguntara à enfermeira. O homem caminhou pra lá e a cada passo que dava, parecia que uma faca era fincada em seu peito. Por sorte, a avó saíra e Ruby estava sozinha. Ela assistia televisão e também usava uma camisola de papel. Parecia realmente entediada.

Quando ela o viu parado na porta, sua primeira reação foi suspirar aliviada por ele estar bem, e a segunda reação foi lhe lançar um olhar zangado.

– Que está fazendo aqui? – ela perguntou enraivecida.

– Precisava saber se você está bem... e o bebê.

– Estamos muito bem, obrigada – ela respondeu – Já pode ir!

– Ruby... – ele caminhou pra dentro do quarto – Eu quero conversar, preciso explicar tudo.

– Eu não quero ouvir. Não tem que explicar nada, as coisas já se explicam por si mesmas.

Ignorando as palavras dela, ele fechou a porta. Achou que seria difícil se levantar se sentasse, por isso ficou de pé, com uma mão apoiada na cadeira ali perto.

– Eu e Regina não temos nada. Tudo não passou de um mal entendido. Emma ainda está atrás da pessoa que publicou as revistas.

– E vai negar que beijou a prefeita? Me poupe! Todo mundo viu a foto.

– Não, não vou negar. Mas foi ela quem me beijou. Naquela noite no Granny’s, Regina começou a se abrir comigo e eu realmente achei aquilo estranho, mas achei que talvez ela só não tivesse com quem falar. Depois ela me deu uma carona até meu prédio. Eu não queria, mas ela insistiu. E então, antes que eu pudesse sair do carro, ela me beijou. Foi isso que aconteceu, acredita em mim. Nós não temos um caso e eu não a convidei para subir para meu apartamento. Você não percebe? Alguém fez isso pra nos separar... Ruby?

Ruby voltara sua atenção para o programa de TV que estivera assistindo. Killian sinceramente preferia que ela gritasse com ele e o mandasse sair, mas o silêncio da garota lhe cortou o coração. Ela o ignorara...

Ele mancou de volta para seu quarto, deprimido demais pra pensar em qualquer coisa. Orlando viera para vê-lo e desesperou-se quando não encontrou Killian no quarto. Os dois se encontraram no corredor e Orlando ralhou com o amigo.

– Em que está pensando? – ele ajudou Killian a chegar até o quarto – Andando de camisolinha por aí...

– Fui ver a Ruby... – Killian se deitou com dificuldade, gemendo de dor.

– Hum. Sabe de uma coisa, Killian, você devia esquecer essa garota, ela já não te fez sofrer o bastante? Em todo caso, trouxe esse jornal pra você. – ele atirou um jornal pra Killian. Na capa, a reportagem sobre o acidente. Havia a foto do carro de Ruby, com um lado amassado por bater na árvore, e fotos do momento em que a emergência fora socorrê-los. – A cada dia que passa, você fica mais famoso nessa cidade.

– Como se eu quisesse isso. Ei! Isso era meu!

Orlando comia a gelatina que era de Killian e se desculpou dizendo que estava faminto.

– A Esmeralda perguntou de você – ele disse de boca cheia – Queria saber como você estava. Ela está é com medo de os lucros da peixaria diminuírem, agora que você vai ficar de licença.

Com certeza, Esmeralda estava adorando o fato de Killian ter virado a fofoca da cidade. Algumas pessoas vinham à peixaria só pra ver se ele parecia abalado com tudo aquilo e recentemente os lucros tinham aumentado.

– E ela me perguntou se a prefeita tinha mesmo te oferecido um cargo na prefeitura.

– Queria saber quem escreveu essa matéria – Killian estava mal humorado – Como é que pode uma pessoa escrever tanta mentira?

– Isso é o que se chama de jornalista sem caráter...

Orlando ficou por um tempo, depois foi embora dizendo que voltaria na manhã seguinte. Killian ficou sozinho com seus pensamentos. Ele poderia estar enlouquecendo, mas estivera pensando naquela história de Henry. O gancho com as iniciais. A teoria de Henry sobre a gravidez de Ruby. E o fato de ninguém conseguir sair daquela cidade. Por que nada fazia sentido em Storybrooke? Por que Killian sentia que estivera fazendo a mesma coisa todos os dias, até ter vontade de fazer algo diferente? Ele poderia estar louco, mas a história do garoto fazia sentido.

O livro estava ali, convidando-o a lê-lo. Sua história, Henry dissera, estava naquele livro. A história do Capitão Gancho. Killian folheou as páginas. Encontrou uma gravura de um homem parado em frente à um navio. É claro que o homem não poderia ser ele, mas Killian não deixou de notar as semelhanças: os cabelos negros bagunçados, os olhos azuis e a barba por fazer. Exceto que o homem estava inteiramente vestido de preto e segurava um gancho na mão.

Que loucura! Ele estava mesmo pensando na teoria de um garoto de dez anos...

O rapaz acabou dormindo, tão cansado que estava. Nos últimos dias Killian tivera muitos pesadelos, a maioria deles com Ruby. Geralmente ele sonhava que ela perdia o bebê. Era quase como se os sonhos fossem reais. Os gritos de Ruby eram quase reais e a poça de sangue que encharcava sua roupa também. Ele acordava suando, achando que aquilo realmente acontecera. Bem poderia ser um sinal de que algo ruim estava pra acontecer.

Mas nesse dia o homem teve um sonho diferente. Começou com uma bela paisagem, um mar incrivelmente azul que refletia a luz do sol. Havia um navio. E piratas, muitos piratas. O navio estava atracado numa espécie de doca, mas não uma doca grande como a que eles tinham em Storybrooke, era mais como um pequeno porto. Depois a imagem mudou. Havia uma cabine num navio, o navio que ele vira antes. E havia um homem nesta cabine, um homem que se parecia muito com a ilustração do livro de Henry. O homem estava de costas. Seus cabelos eram muito negros e os fios nunca ficavam no lugar. O homem usava um pesado sobretudo preto e examinava algo sobre uma mesa, um mapa talvez. Aí houve uma voz.

“Capitão, elas estão aqui. As princesas”, disse a voz de um homem.

O homem de sobretudo se virou. Era Killian. E ele tinha duas mãos. Mas era um Killian diferente. Ele usava delineador e também tinha um pequeno brinco azul na orelha direita. O Killian do sonhou arqueou uma sobrancelha.

“As princesas?”, ele perguntou.

Aí foi possível ver o outro homem que estava na cabine. Um homem baixo e gordinho, que usava um gorro vermelho na cabeça. Christopher? O dono da peixaria Hilkes...

“Não foi possível trazer só a Ruby”, ele se explicou “A irmã estava com ela e tivemos que trazer as duas, pra que o plano não fosse descoberto”.

Killian não disse nada, apenas saiu pela porta da cabine, acompanhado pelo homem gordinho. No convés do navio, os piratas faziam suas tarefas, enquanto lançavam olhares a duas garotas ajoelhadas ali perto. As duas estavam amarradas e pareciam bastante assustadas. Mas espere aí, aquelas eram Ruby e Mary Margaret!

“O que temos aqui? Duas princesas!”, a voz de Killian soou satisfeita, enquanto ele examinava as duas garotas. “Desamarrem-nas”, ele ordenou e dois homens cortaram as cordas que prendiam os pulsos das princesas. Em seguida Killian ordenou que elas ficassem de pé e ficou um tempo examinando-as, olhando-as dos pés a cabeça como se nunca tivesse visto uma princesa. Mary Margaret o encarava um tanto desafiadora, enquanto que Ruby parecia muito amedrontada. “Como é seu nome, benzinho?”, ele se dirigiu a Mary.

“Mary Margaret”

“Então, Mary Margaret, vá e diga ao seu papaizinho que se ele não nos der o que queremos, esta aqui sofrerá as conseqüências.”, ele indicou Ruby com a cabeça “Diga a ele que venha sozinho e então iremos combinar o preço de sua liberdade...”

Mary Margaret desceu pela rampa do navio, logo depois sumindo de vista ao entrar na floresta. Ruby pareceu alarmada e olhou de um lado para o outro, como se pensasse numa forma de fugir. Killian a olhou por uns instantes, como que encantado pela moça. Depois começou a gritar ordens para os outros homens.

“Içar âncora! Soltar velas! Preparem-se para zarpar!”, ele pegou Ruby pelo braço e a arrastou pelo convés, levando-a até sua cabine. Uma vez na cabine, Killian começou a pegar as jóias que a moça usava, admirando as mesmas e guardando-as numa pequena caixa. “As regras daqui são as mesmas para todos. Eu sou o Capitão e você me trata como tal. Tente roubar ou fugir e será abandonada numa ilha deserta. Cumpra as tarefas que eu lhe der. Respeite os outros e faça tudo o que eu disser. Estamos entendidos?”

“S-sim”, ela gaguejou e em seguida Killian a empurrou para a cama. Os olhos de Ruby se arregalaram e ela pareceu desesperada. Mas o Killian do sonho não fez nenhum mal a ela, apenas tirou os sapatos que ela usava.

“Olhe só isso”, ele riu satisfeito examinando os sapatos da moça “Devem ter custado mais caro do que esse navio.”. Aí ele percebeu a expressão da moça e como ela parecia estar entendendo o que acontecia ali. Tratava-se de um seqüestro. Ele piscou para ela. “Não se preocupe, amorzinho... Isto é apenas o começo...”.

Killian acordou sobressaltado. Ainda estava no hospital, com suas costelas quebradas. O livro de Henry ainda estava ali do lado. E ele ainda estava em Storybrooke, no Maine. Como era possível? Aquele sonho...

O Killian do sonho era um pirata e Christopher, seu patrão na peixaria, também era um pirata. E Ruby e Mary Margaret eram princesas. O que Henry dissera? Killian um dia fora Capitão Gancho e seqüestrara Ruby, que era uma princesa e irmã de Mary. E Christopher, ele supôs, devia ser o senhor Smee, o braço direito do Capitão Gancho.

Ele colocou a mão na cabeça. O sonho fora tão real! Tão real quanto o pesadelo em que Ruby perdia o bebê.

– Está tudo bem, querido? – uma enfermeira entrou no quarto, lhe trazendo uma bandeja de comida.

– Eu... ahn... minha cabeça dói – ele disse, o que não deixava de ser verdade.

Ela lhe deu um analgésico e disse que ele devia se alimentar. Em seguida saiu, deixando-o só. Talvez ele tivesse pensado demais nas teorias de Henry. Talvez o sonho tivesse sido resultado das baboseiras que Henry dizia. Ele suspirou, dando uma colherada na sopa que a enfermeira trouxera.

Depois tentou se distrair com a TV. Precisava esquecer os problemas e aquela história de maldição. Killian realmente esperava que Emma encontrasse logo a pessoa que publicara a revista. Ele precisava que Ruby acreditasse nele, que descobrisse que tudo não passara de uma mentira inventada para separá-los. Ela estava tão perto, mas ainda assim tão distante...

O homem só conseguiu dormir quando já era muito tarde. Dr. Whale vinha de vez em quando, para ver como ele estava, e uma enfermeira boazinha ficou por ali batendo papo com ele. O hospital geralmente se acalmava à noite. Estar preso àquela cama o lembrava de quando ele perdera os pais no acidente e acabara tendo a mão amputada. O cheiro de remédios e doença o enojava, mas não havia nada que ele pudesse fazer.

Quando finalmente dormiu, Killian mais uma vez sonhou que era um Killian diferente, o pirata. No sonho ele brigava com Ruby, ralhando com ela por quase ter botado fogo na cozinha do navio. O mais estranho é que os sonhos pareciam lembranças. Quase como se realmente tivessem acontecido, mas há muito tempo. Como que lembranças guardadas no canto mais profundo de sua mente.

“Será que não há nada que você saiba fazer sem causar confusão? Você é um desastre ambulante...”, o Killian do sonho dizia à Ruby.

“Na verdade há sim, Capitão. Sou uma princesa muitíssimo educada; sei escrever cartas formais, sou fluente em três línguas e, além disso, sei costurar.”

Killian mais uma vez acordou sobressaltado. Aquilo era real! Era real, ele tinha certeza!

Ele se lembrou do que Henry lhe dissera há umas semanas. No começo, na história do Capitão Gancho, o pirata e a princesa Ruby não se davam muito bem. Killian era um pirata arrogante que fazia de tudo para infernizar a vida de Ruby. Ele comprara Ruby para se vingar do pai dela, depois que o Rei acabou causando a morte do pai de Killian. E de acordo com o que Henry dissera, a princesa e o pirata acabaram por se apaixonar e encontraram diversos obstáculos em seu caminho, obstáculos que eles tiveram que vencer para ficar juntos. Era tudo loucura! Mas fazia sentido.

Killian encarou o livro. Once Upon A Time, estava escrito na capa.

“É só uma história, Killian”, ele pensou consigo mesmo. Mas não era apenas uma história. Era sua história. A história do pirata sem coração que encontrou o amor.

Ele apanhou o livro, abrindo na página da história de Capitão Gancho. A ilustração do homem em frente ao navio o encarava. Talvez ele estivesse encarando a si mesmo. Percorreu o primeiro parágrafo, atento às palavras. O livro estava convidando-o a lê-lo. E por que não ler? Ele não tinha mesmo muito o que fazer, estando preso àquela cama.

“Estou enlouquecendo...”. Ele balançou a cabeça e começou a ler a história, que começava assim: Era uma vez um menino corajoso que sonhava em um dia navegar pelos sete mares...


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Notas finais do capítulo

http://fanfiction.com.br/historia/505808/A_Loba_O_Pirata/
Devo postar o próximo só no fim de semana porque estou estudando para o Enem. Beijos e até a próxima