Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 48
Capítulo 44 - Ruby


Notas iniciais do capítulo

Hey pirates! Este capítulo foi baseado nos episódios Dreamy e Red-Handed. Se acharem que estou indo muito depressa, me digam, mas é bom saber que estão gostando. Estou louca para a season finale, vocês viram a promo? E Emma e Hook vão dançar!!! E a Ruby e outros personagens desaparecidos vão voltar. E o episódio de domingo? Quase morri quando o Hook começou a se afogar. Vou bater na Emma se ela não ficar com ele no fim. Bom, enfim, espero que gostem deste.



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Dezembro chegou e o inverno chegou junto com ele. Pelas ruas de Storybrooke só se via pessoas encolhidas dentro de seus casacos. A neve ainda não começara a cair, mas a venda de aquecedores e bebidas quentes aumentara e com isso Ruby estava tendo trabalho em dobro.

A pobre garçonete só sabia se queixar de tudo e brigar com a avó. Ruby estava tão irritada e mal humorada que assustou os clientes e a avó mandou que ela botasse um sorriso no rosto e fingisse que estava bem.

– Bom dia, Ruby! – Killian cumprimentou alegremente numa manhã mais fria e nublada do que de costume.

– Bom dia? – ela arqueou uma sobrancelha, irritada – É sério, Killian?

– Você tá bem? Qual é o problema?

– Você ainda pergunta? Olhe só pra isso – ela fez um gesto abrangendo as pessoas que tomavam café. A lanchonete estava mais lotada do que de costume – Este é meu problema! Essas pessoas... por que elas não ficam em casa?

– Já entendi! – ele riu – Você está estressada...

– Eu não estou estressada! – ela praticamente gritou, depois respirou fundo e tentou se acalmar – Bem, talvez só um pouco. Eu simplesmente odeio o inverno em Storybrooke. O mundo inteiro resolve que precisa de um café quente e sou eu quem trabalha feito louca enquanto todos apreciam seu chocolate com canela. E a vovó não faz nada além de dar ordens: “Ruby, vá atender os clientes!”, “Ruby, limpe o banheiro”, “Ruby, faça isso”, “Ruby, faça aquilo”... Estou cansada dessa vida...

– Pelo menos não é você quem vai aparecer num comercial de peixaria – ele esfregou as mãos para se aquecer.

– Nem vem tá? Sei que você ganhou uma grana só pra fazer aquele comercial. E não se esqueça de que eu também já fiz uma propaganda aqui para o Granny’s. Enfim... O que vai querer?

– Um chocolate quente. Sem canela, por favor.

Ruby se afastou para dar conta de todos os pedidos e a porta da lanchonete se abriu permitindo que um vento frio entrasse. Mary Margaret entrou carregando uma prancheta. Algumas pessoas olharam a mulher e houve cochichos e sussurros. Ela olhou em todas as direções e falou:

– Posso ter a atenção de vocês por um minuto? – todos se calaram e alguns se viraram para olhá-la. Outros apenas se concentraram em sua comida – Não quero interromper o café da manhã de vocês, mas devo lembrá-los de que hoje comemoramos o Dia do Minerador. E como em todo ano, as freiras venderão maravilhosas velas para arrecadar dinheiro. Será que há algum voluntário que queira se juntar a mim na venda das velas?

Seguiu-se um silêncio constrangedor e então todos simplesmente ignoraram Mary Margaret. Até mesmo Ruby, que era muito amiga de Mary, não fez muita questão de apoiá-la. A intenção de Mary era realmente admirável, mas ninguém pareceu achar isso. E havia uma explicação para o fato de a cidade inteira estar ignorando a professora.

A senhorita Blanchard e David Nolan acabaram ultrapassando os limites entre o certo e o errado. Desde que estavam tendo um caso, Mary e David estavam sempre se esgueirando por aí para se encontrarem escondido. E a pobre Kathryn, coitada, não sabia de nada.

Um dia Mary e Kathryn se encontraram na farmácia Dark Star e Mary viu quando Kathryn comprou um teste de gravidez. A professora sentiu-se culpada, infeliz e irritada ao mesmo tempo. Culpada por estar tendo um caso com David, quando aparentemente a mulher dele estava grávida e eles iam ser uma família de verdade; infeliz por sua vida amorosa ser tão complicada e por ela ter se apaixonado por um homem casado; e irritada com David por ele não ter se divorciado ainda e por não ter dito a Kathryn que amava outra. Regina também estava na farmácia e fez questão de lembrar a Mary que a vida pessoal de Kathryn não lhe dizia respeito e que ela devia se afastar de David. Já que Regina e Kathryn eram amigas, era óbvio que a prefeita faria de tudo para manter Mary afastada de David.

Foi um alívio e tanto para Mary e David quando souberam que Kathryn não estava grávida. E já que não haveria nenhuma criança no meio daquela história, os dois continuaram com seu affair. Mas Mary foi bem clara quando disse a David que Kathryn devia saber a verdade. David prometeu que terminaria tudo com a esposa, mas não era corajoso o bastante para contar a ela sobre ele e Mary e foi assim que Kathryn descobriu tudo da pior maneira possível. Foi Regina quem contou a ela sobre o caso dos dois e ainda lhe mostrou fotos tiradas por Sidney. A coisa não acabou bem para Mary, que acabou levando um tapa de Kathryn na frente da escola toda.

A reputação da pobre Mary estava no chão e ela agora era conhecida como a vadia da cidade. Emma estava na lanchonete e ficou com pena da amiga e companheira de apartamento, mas não havia nada que ela pudesse fazer. A xerife alertara Mary dizendo que aquele amor entre ela e David era proibido e Mary simplesmente ignorara as palavras de Emma. A professora fez suas escolhas e agora tinha que arcar com as conseqüências. Ninguém quis ajudar a coitada na venda das velas e ela foi embora com o rabo entre as pernas.

– Pensei que ela fosse sua amiga – Killian disse a Ruby quando ela trouxe seu chocolate quente – Achei que pelo menos você fosse se voluntariar na venda das velas.

– Eu pareço estar com vontade de vender velas? – ela disse irritada, depois notou seu tom mal educado e se desculpou – Desculpe, não devia ter falado assim. Ando muito irritada ultimamente.

– Você não parece muito bem. Está um tanto pálida...

– Deve ser o cansaço – ela suspirou e deslizou para o assento de frente para Killian – Estou tão cansada! Minhas pernas doem e eu mal consigo respirar com tanta coisa pra fazer...

– Por que não pede a sua avó que lhe dê uma folga? – ele bebericou seu chocolate, apreciando o calor que a bebida fez subir por seu corpo.

– Já temos um acordo para os sábados e ela não me daria folga no meio da semana. Há muito serviço para se fazer... Preciso ir!

Ela se levantou e voltou às suas tarefas enquanto Killian ficava preocupado. Eles não tinham saído de novo desde aquele encontro porque Ruby estava sempre se sentindo mal. Há alguns dias fora Ação de Graças e a Vovó fizera um almoço especial para os amigos mais próximos e ele fora convidado. Desde aquele dia Killian estava achando Ruby estranha. Ela estava sempre se queixando de dores no corpo, falta de apetite e cansaço. O peixeiro a aconselhou a se consultar com Dr. Whale e ela prometeu que faria isso, mas aparentemente nem passara na porta do hospital.

Ele terminou o chocolate e antes que fosse embora, Ruby perguntou se ele estaria na comemoração de Dia do Minerador. Os dois combinaram de se encontrar lá e Killian foi dar uma volta pela cidade. Aquele era um feriado anual e todos se animavam com a chegada do Dia do Minerador. Ele passou por Mary Margaret e ela lutava para limpar a janela de seu carro, na qual a palavra “vadia” havia sido pichada. Ele não sabia se tinha pena dela. Há uns dias Mary era uma professorinha simpática e hoje era uma destruidora de lares. É, talvez ninguém tivesse que ter pena.

Killian virou numa esquina e acabou dando um encontrão em alguém que vinha do lado oposto. O homem que se chocara com ele deixou todas as sacolas de compra caírem e Killian se desculpou e ajudou o homem a apanhar tudo.

– Desculpe por isso – disse o rapaz – Não tinha visto você.

– Tudo bem, rapaz. Feliz Dia do Minerador para você.

Aquele homem parecia estranhamente familiar para Killian. Tinha uns olhos muito azuis, cabelos rebeldes e muito negros e barba por fazer. Era estranho como algumas pessoas pareciam estar conectadas a Killian, mesmo quando ele mal as conhecia. Ele observou enquanto o homem se afastava e achou que provavelmente já o vira uma ou duas vezes e por isso estava pensando que o conhecia de algum lugar.

Na praça principal de Storybrooke, os preparativos para a festa do minerador já tinham começado. Barraquinhas estavam sendo montadas e luzes penduradas. As pessoas realmente estavam dando tudo de si para fazer aquela festa acontecer. Killian não estava com muita vontade de ajudar, por isso foi pra casa.

Foi uma surpresa e tanto quando Mary Margaret e Leroy, o bêbado da cidade, bateram à sua porta. Os dois estavam vendendo velas.

– Uma vela para iluminar sua noite? – Mary ofereceu estendendo uma vela amarela para Killian. Ela e Leroy faziam uma bela dupla: a vadia e o bêbado – Por favor, para ajudar as freiras.

– As pobrezinhas vão ser despejadas se não tiverem o dinheiro das velas para pagar o aluguel – falou Leroy, tentando parecer convincente.

– E o Sr. Gold vai jogá-las na rua. – disse Mary.

– E você sendo um bom cristão, não pode permitir que isso aconteça.

– Ah está bem... – Killian não era um freqüentador assíduo da igreja, mas achou que devia ajudar as freiras, que eram pessoas tão boas. Ele comprou umas três velas e já ia enxotar Mary e Leroy quando Leroy apontou a televisão:

– Ei, aquele não é você?

Na TV, Killian, vestido num terno chique e exalando boa aparência, estava de pé diante de um fundo branco, enquanto falava diretamente para a câmera:

Será que você já pensou na qualidade de vida de sua família? E já pensou que uma família especial merece uma refeição especial? – ele sorriu e a imagem seguinte mostrou Killian de pé em frente à Peixaria Hilkes - Então você merece o melhor! Venha conhecer a Peixaria Hilkes – a imagem seguinte mostrou funcionários trabalhando, clientes satisfeitos e inúmeras vitrines de peixes - Referência em atendimento e excelência em qualidade de salmões, sardinhas, atuns, camarões e muito mais. Especialidade em lagostas, ostras e peixes exóticos. – fotos de peixes passaram pela tela e entãoa imagem voltou para Killian que abriu um sorriso – Peixaria Hilkes, peixe de qualidade tem nome! – e para finalizar, o logotipo da peixaria apareceu no fundo da tela.

Leroy começou a rir:

– Depois dessa é melhor você nem sair de casa mais.

– Leroy! – Mary ralhou e se voltou para Killian – Não ligue para ele, você estava ótimo na propaganda.

– Hum, obrigado, eu acho... – Killian falou meio envergonhado.

– Bem, vamos indo, ainda temos um monte de velas para vender. – Mary puxou Leroy para fora do apartamento – Feliz Dia do Minerador! Espero que vá à festa.

***

Orlando, é claro, não deixou de comentar o quanto Killian fora bem na propaganda. Embora o rapaz tivesse feito piadinhas, estava orgulhoso de seu amigo. Esmeralda já estava pensando nos “rios de dinheiro” que iria ganhar quando todo mundo fosse à peixaria no dia seguinte. Ela ligou para Killian para perguntar se ele tinha visto a propaganda e o parabenizou dizendo que ele conseguira sua promoção à gerente. Killian ficou exultante, mas é claro que ela só o promovera em troca de que a propaganda fosse ao ar.

Enquanto isso, na estrada que levava para fora de Storybrooke, a Xerife Swan e Sidney Glass investigavam um desaparecimento. Sidney tinha sido demitido do Storybrooke Daily Mirror por Regina e agora procurava pela ajuda de Emma para se vingar da prefeita. Uns dias antes, os dois tentaram provar a todos que Regina estava utilizando dinheiro público para uso particular. Os dois descobriram que ela comprara um terreno na floresta e que iria construir uma casa lá. Posteriormente acabaram descobrindo que na verdade se tratava de um playground para as crianças da cidade e Regina mais uma vez sorriu vitoriosa por ter vencido Emma. Mas a Xerife não era de desistir fácil e sabia que havia algo de errado com aquela prefeita. Ela ainda ia descobrir o que era.

Mas hoje os dois estavam ali para investigar o desaparecimento de Kathryn. Um professor de ginástica vira o carro dela na estrada e ligara para a Xerife. As malas e o celular de Kathryn tinham sido deixados no carro, de modo que ela não poderia ter saído da cidade sem eles. Sidney se ofereceu a descobrir quais tinham sido as últimas ligações do celular, assim eles saberiam com quem Kathryn falara por último. Eles sabiam que a mulher estava se mudando para Boston para estudar numa faculdade de direito, mas as coisas tinham sido realmente difíceis para Kathryn nos últimos dias, o que os levou a pensar que talvez ela não tivesse sumido a toa.

A Xerife continuou a investigar enquanto que no centro de Storybrooke as pessoas terminavam os preparativos para a festa do minerador. A movimentação no Granny’s diminuíra e Ruby finalmente pôde descansar um pouco. Ela praticamente se jogou num dos assentos estofados do canto e Vovó ralhou com ela por ser tão preguiçosa.

– Eu já servi os clientes e estou cansada – a garçonete reclamou – Por favor, me dê ao menos dez minutos de descanso, ou eu juro que vou desmaiar...

– Ora, mas você é muito mole! – a avó resmungou – Na sua idade eu já tomava conta de minhas irmãs mais novas e ainda lavava e passava roupa. Se fosse na minha época, uma jovem mimada e desobediente que nem você já teria levado uma boa sova dos pais.

– É, só que eu não tenho pais, tenho? E estou certa de que se tivesse uma mãe ela me entenderia e não me forçaria ao trabalho escravo.

– Trabalho escravo? – a avó guinchou completamente pasma – É isso que você pensa? Pois você ganha um salário todo mês e ainda tem folga aos sábados. Se fosse na minha época...

A avó saiu resmungando e Kate foi falar com Ruby.

– Por que você é assim, Ruby? Devia ter mais respeito com a sua avó.

– Olha, não me venha com suas lições de moral agora, Kate. Estou farta de tudo e todos.

– Devia agradecer por ter amigos que se preocupam com você e acima de tudo, devia ser grata por ter uma avó tão boa que lhe criou com tanto amor e carinho.

– Ela pode ter me criado, mas não tem direito de destruir minha vida ou me privar de minha liberdade. Eu sei o que ela está fazendo, quer me manter aqui pra sempre, pra que eu nunca saia de Storybrooke. Assim eu vou ter a mesma vidinha insignificante que ela teve. Vou me casar com qualquer um, ter filhos e depois vou envelhecer e me tornar uma velha rabugenta que não sabe fazer mais nada a não ser implicar com os netos e regrar suas vidas...

– Credo, Ruby! – Kate foi conversar com o cozinheiro e Ruby se arrastou de volta ao balcão.

Mary Margaret chegou cabisbaixa e pediu por uma bebida.

– Escuta, por que você não quis se voluntariar? – a professora perguntou a Ruby – Também está me ignorando por causa da coisa com o David?

– Olha, Mary, não me leve a mal, mas o que você fez foi muito errado – disse a garçonete, enquanto afastava os cabelos do rosto – E desculpe se eu te ignorei aquela hora. Não queria que as pessoas pensassem que eu apoio o que você fez.

– Tudo bem. Todos têm razão de me ignorar... É só que esse amor parecia tão verdadeiro e puro... eu não sabia bem o que estava fazendo.

– Eu entendo... Mas vocês terminaram, não é?

– Sim, terminamos. Não era para ser... Vou ficar sozinha para o resto da minha vida...

– Ah, não diga isso. Vai passar e todos vão esquecer essa história. Depois você arruma alguém melhor.

Leroy chegou e se sentou ao lado de Mary, pedindo uma bebida. Os dois estavam desanimados por terem vendido apenas cinco velas. Sem o dinheiro das velas, as freiras não poderiam pagar pelo aluguel e teriam de ir embora da cidade. Eles bem que tentaram, mas ninguém queria comprar velas vendidas por uma vadia destruidora de lares.

Mais tarde, todos foram à festa de Dia do Minerador. Havia várias barraquinhas e a praça estava toda iluminada. Killian e Ruby se encontraram na frente da igreja e ela não deixou de elogiá-lo pela propaganda. Ele agradeceu e eles deram uma volta pela praça. Havia uma barraquinha de doces, a barraquinha de mel e a barraca das velas. Também tinha um carrinho de algodão doce e Killian se ofereceu a comprar um para a moça.

– Eu adoro algodão doce! – ela exclamou feliz enquanto o açúcar derretia em sua língua.

– Eu nunca tinha vindo à festa do minerador – Killian confessou – Não sei como perdi isso por tanto tempo...

– Agora sim você está aproveitando o que há de melhor nesta cidade. Mas ainda não experimentou aqueles cachorros quentes – ela apontou a barraca de cachorros quentes – Eles têm um molho picante que é de arrepiar o cérebro.

Os dois se divertiram muito juntos. Primeiro se deliciaram com algodão doce, depois queimaram suas línguas com o cachorro quente picante e ainda compraram doces e tomaram limonada. Havia barracas de jogos e Killian, que era bom em tiro ao alvo, acabou por ganhar um ursinho para Ruby.

– Oh, ele é tão fofo! – ela abraçou o ursinho – Obrigada, Killian.

– Por nada! Você merece.

Não se podia negar que havia algo especial acontecendo entre os dois. Depois do quase beijo, Ruby achou que as coisas ficariam estranhas entre ela e Killian, mas a amizade deles não mudara nada. Killian era compreensivo, simpático e romântico. Os sentimentos por ele cresceram no coração de Ruby e ela não sabia dizer se estava apaixonada ou não.

Eles se sentaram num banco e Ruby ficou muito quieta. Killian sabia que quando ela se calava assim, significava que estava pensando em algo. O rapaz apenas a observou por uns instantes e resolveu quebrar o silêncio.

– Você vai me contar o que está te incomodando? – perguntou.

– O que? Mas não tem nada me incomodando... eu só estava estressada por causa do trabalho.

– Ruby... você acha que me engana, mas eu sei que tem algo acontecendo. Você pode se abrir comigo se quiser.

– Não é nada. Eu estou bem. É só que... às vezes eu penso que minha vida seria totalmente diferente se meus pais estivessem vivos. Talvez eu não estivesse presa em Storybrooke para o resto da minha vida, mas também não teria conhecido você.

Ele sorriu.

– E me conhecer mudou algo na sua vida?

– É claro que mudou. Eu era completamente insegura antes, bem, ainda sou, mas depois de você me mostrar que eu não sou o que eu pensava, bem, aí eu fiquei mais confiante.

– Que bom que eu ajudei em alguma coisa. Mas você também me ajudou me mostrando que eu podia ser eu mesmo e que as pessoas iam me aceitar do jeito que eu sou.

Eles sorriram uma para o outro. Ouviu-se um estouro e todas as luzes se apagaram. Houve um rebuliço e as pessoas tentavam entender o que acontecera. A cidade inteira estava às escuras e ninguém tinha uma vela. Killian sorriu e olhou para as estrelas que brilhavam acima de suas cabeças.

– Olhe – ele apontou para o céu – Dá pra ver as constelações.

Killian era um amante de astrologia e conhecia todas as constelações e sabia reconhecê-las no céu. Ele começou a falar de estrelas e Ruby ficou realmente impressionada com os conhecimentos que ele tinha.

– Você por acaso já foi astrônomo? – ela perguntou.

– Não, mas eu sempre gostei das estrelas. Não sei por que, mas são especiais pra mim.

Há 28 anos, quando ainda era o Capitão Gancho, Killian usava as estrelas como orientação para navegar. E ele podia não se lembrar, mas muitas foram as vezes em que ele e Ruby observaram o céu e falaram sobre estrelas.

Dali a pouco as pessoas começaram a comprar velas na barraca de Leroy e Mary. Quem olhasse de certa distância, veria pontinhos de luz que se deslocavam pela praça. Aquilo só deixou tudo mais bonito e Ruby correu para comprar duas velas. Mary e Leroy venderam tudo e as freiras agora tinham o dinheiro que precisavam para o aluguel.

Depois de um tempo a Xerife chegou procurando por David (que parecia não se importar muito com o fato de sua mulher estar desaparecida) e todos pararam para olhar quando ele entrou na viatura e foi com Emma para o Departamento do Xerife.

Ruby e Killian deram mais uma volta pela praça e a garçonete fez questão de comprar mais um cachorro-quente. Vovó viu Ruby de longe e sorriu ao perceber que ela estava com Killian.

– Parece que a vovó gosta de você – Ruby comentou quando a avó acenou para Killian – O que é uma surpresa, já que ela critica todos os homens desta cidade.

– Talvez eu seja diferente dos outros.

– Você é.

Killian estava criando coragem para dizer a Ruby o que ele sentia por ela. Em uma consulta com Archie, Killian contou ao psicólogo que estava apaixonado e que não tinha ideia do que fazer. A voz do psicólogo lhe veio a cabeça:

“Tem que dizer a ela o que você sente. Expresse seus sentimentos para que ela saiba o quanto é especial para você.”

Ruby era muito especial para Killian e ele não parava de pensar nela desde que eles tinham se conhecido. Mas o sentimento que ele tinha por ela ficou mais forte depois que eles se tornaram amigos e aquele quase beijo mostrara a Killian que talvez Ruby também gostasse dele. “Mas talvez ela só quisesse me beijar porque estava se sentindo carente”, ele pensou. Mas de um jeito ou de outro, ele tinha que dizer a ela. A pior coisa que poderia acontecer era ele levar um tabefe na cara ou Ruby lhe dizer que só o queria como amigo.

Eles pararam um pouco afastados das barracas e Killian não conseguiu pensar direito no que ia dizer. Ruby não parava de falar.

– ...se fosse eu estaria muito envergonhada, nem teria saído de casa – ela falava sobre Mary Margaret – Imagine só alguém pichar seu carro e a cidade inteira te ignorar e te chamar de vadia e vagabunda pelas costas. Sei que não sou nenhuma santa, mas a Mary devia se envergonhar pelo o que fez. Por que está tão calado? Ah já sei, já sei, estou te aborrecendo com meu falatório.

– Não, não está. Eu só estava pensativo.

– É, eu percebi – ela sorriu – Parece que você pensa demais enquanto eu só fico falando e expressando minha opinião.

Ele riu e ela ficou curiosa por saber o que ele estava pensando.

– Eu estava pensando... – ele começou meio hesitante – que você é a única coisa que faz sentido nesta cidade...

– Eu estava pensando o mesmo de você...

Eles se olharam e se aproximaram mais um do outro. Desta vez não houve nada e nem ninguém que os interrompesse. Ruby sorriu e Killian se curvou para beijá-la. Os lábios se tocaram carinhosamente e ela colocou uma das mãos no ombro de Killian. Eles eram como dois adolescentes se beijando pela primeira vez, sem saber como agir. Nenhum dos dois soube quanto tempo durou. Separaram-se por falta de ar e sorriram envergonhados.

Não muito longe dali, Regina viu o beijo e decidiu que precisava tomar providências.

***

Ruby acordou bem humorada na manhã seguinte. O beijo da noite anterior lhe causara borboletas no estômago e ela agora sorria e ria de tudo.

– Bom dia, Kate! Bom dia, Vovó! Bom dia, povo de Storybrooke! – ela chegou cumprimentando a todos e a avó estranhou.

– Viu passarinho verde? – ela perguntou sem desviar os olhos das anotações que fazia.

– Quê? Que passarinho?

A avó revirou os olhos.

– É um modo de falar. Posso saber por que essa felicidade toda?

– Eu simplesmente acordei feliz – Ruby deu de ombros e foi fazer seu trabalho.

Na cozinha, Kate quis saber se a felicidade de Ruby tinha a ver com Killian.

– Eu vi vocês juntos na festa – disse a garçonete dos cabelos ruivos – E a julgar pelo tamanho do seu sorriso, acredito que algo aconteceu entre vocês.

– Bem... nós nos beijamos – Ruby confessou falando baixinho e soltou uma risadinha.

– Sério? - a boca de Kate se abriu em espanto – Mas foi você quem o beijou primeiro ou ele quem beijou você? Porque o Killian parece um pouco tímido pra essas coisas.

– Bem, simplesmente aconteceu. Eu percebi o que ele queria fazer e aí apenas me aproximei dando permissão. E aí nos beijamos... Foi tão lindo! – Ruby suspirou. – E ele disse que eu sou a única coisa que faz sentido pra ele em Storybrooke.

– Que fofo! – Kate sorriu – Ele deve gostar muito de você. Ainda bem que existe um homem que preste nesta cidade. O Orlando não é nada como o Killian. Acredita que ele me deu o bolo no sábado? Parece até que está fugindo de mim. Melhor eu arrumar coisa melhor.

– O Orlando não gosta de compromisso sério, mas se está atrás de um gato, acho que o August é a melhor opção que você tem.

– Ah é mesmo! Ele não está aí, está? Eu não sei você, mas eu acho que ele é o escritor mais gato que já existiu.

Elas riram e Vovó mandou que as duas fossem trabalhar.

O dia foi normal como os outros. A movimentação na lanchonete ainda era grande, mas Ruby nem chegava a reclamar. Mary Margaret ainda era vista como vadia, mesmo depois de ter conseguido arrecadar uma boa quantia em dinheiro para as freiras. As pessoas diziam que ela só fizera isso para se livrar da má reputação. Já David foi liberado depois de Emma constatar que ele não tinha nada a ver com o desaparecimento de Kathryn. As buscas continuavam, mas sem sucesso.

À noite August apareceu no Granny’s e pediu por um pedaço de torta de maçã e suco de laranja. Ruby foi servi-lo, já que Kate ficava tímida demais diante do homem, e engatou numa conversa com o escritor. August contou a ela como era sua vida. Ele nunca ficava muito tempo no mesmo lugar, sempre se movendo de cidade para cidade e passando a noite em hotéis de beira de estrada ou pensões como a da Vovó.

– Está falando sério? Um ano inteiro sem um teto sobre a cabeça? – ela perguntou, interessada pela vida dele.

– Uhum! – ele disse enquanto comia um pedaço da torta – Você se acostuma. Eu tinha a moto, então se não gostasse de um lugar, ia para outro.

– Eu nunca saí de Storybrooke – ela suspirou. A avó a chamou ao perceber que a garçonete estava batendo papo ao invés de trabalhar. – Qual foi seu lugar favorito?

– Nepal! O melhor povo. Eles têm mosteiros cavados nas montanhas que são cheios de lêmures.

– O que são lêmures? – ela franziu a testa.

– Ruby! – a avó chamou.

– Uns animaizinhos engraçados – August respondeu sorrindo. Parecia estar apreciando a conversa – E os olhos deles refletem a luz, então à noite parece que eles brilham.

Ruby sorriu extasiada, imaginando a si mesma numa moto com Killian, procurando aventuras, conhecendo lugares e vendo lêmures (apesar de ela não saber realmente como eram esses tais lêmures).

– Ruby! – a avó guinchou – Para de paquerar e vem aqui agora!

Ruby bufou e marchou até onde a avó estava. A idosa mexia nuns papeis sobre o balcão e encarou a neta. August e todos que estavam por perto apuraram os ouvidos para ouvir a discussão que eles sabiam que ia acontecer ali.

– Não acredito que fez aquilo – Ruby disse à avó – Foi muito humilhante! Não podia esperar até que eu terminasse de falar com ele?

– Escute, quero que volte a trabalhar nos sábados – a avó foi logo dizendo e ignorando o que a neta dissera.

– Mas temos um acordo para os sábados.

– Eu sei, mas quero te ensinar a fazer a contabilidade e os pedidos.

Ruby encarou os papeis sobre a mesa, imaginando o quanto seria entediante fazer a contabilidade, o que quer que isso fosse.

– Nosso negócio está crescendo – a avó continuou – e com o dinheiro vem a burocracia

– Nada disso parece bom – Ruby bufou irritada. Não bastasse o quanto ela trabalhava durante a semana, ainda teria que abrir mão dos sábados?

– Precisa ser feito – afirmou a avó.

– Isso é um castigo? Por eu falar com aquele cara?

E embora Ruby já tivesse vinte e dois anos e fosse bem grandinha, ela achava mesmo que a avó seria bem capaz de castigá-la, obrigando-a a trabalhar mais ainda.

– Se eu quisesse te castigar teria motivos melhores. Pra começar, está sempre chegando atrasada e outra coisa: você se veste como uma drag queen.

Ruby se surpreendeu com o fato de sua avó saber o que era uma drag queen. Embora a garçonete não usasse mais suas roupas indecentes, ainda exagerava um bocado na maquiagem. Neste dia os olhos de Ruby estavam delineados e ela usava cílios postiços, além de uma sombra rosa, e seus lábios tinham sido pintados com um batom vermelho chocante. Ruby não gostou de ser chamada de drag queen e respondeu:

– E você se veste como Norman Bates quando ele se veste como a mãe dele.

August, que ouvia a conversa, segurou o riso e fingiu estar concentrado em sua torta. A avó parecia estar desconcertada pelas palavras de Ruby, mas continuou:

– Ruby, você é uma mulher adulta, não pode continuar agindo como criança.

– Você quer que eu aja como você até virar você. Ainda não sou um fóssil, Vovó! Eu devia estar tendo aventuras com lêmures.

A avó balançou a cabeça:

– Enquanto viver sob meu teto e trabalhar aqui, vai ter que me obedecer. – e se afastou carregando os papeis.

– Eu não pedi pra trabalhar aqui! – a outra reclamou irritada.

– O que está te segurando?

– Nada! Eu me demito!

Ruby arrancou o avental que usava e o atirou a um canto, depois saiu apressada e bateu a porta quando passou. Kate e Vovó ficaram boquiabertas pela decisão de Ruby. Embora Ruby e a avó vivessem brigando, as duas sempre voltavam a conversar depois. Mas dessa vez parecia sério e da forma como Ruby estava zangada, Kate podia apostar que a amiga não ia mais fazer as pazes com a avó.

Na rua, Ruby caminhava sem rumo. Acabou virando a esquina e deu de cara com Killian.

– Aonde é que você vai tão apressada? – ele perguntou e notou que a garçonete estava muito irritada.

– Eu não sei! Só sei que não volto mais pra aquela lanchonete. Eu me demiti!

– Você o quê? Ficou louca?

– Eu não agüento mais a vovó! – ela desabafou – Ela quer me transformar nela e quer que eu fique o tempo todo enfurnada naquela lanchonete. Nenhum ser humano normal agüenta isso, Killian. Eu já me decidi, vou seguir minha vida e fazer o que eu bem entender.

– Mas pra onde você vai?

– Eu não faço ideia – ela suspirou.

Seguiu-se um silêncio. Depois Ruby encarou o homem e enrubesceu ao se lembrar do beijo da noite anterior. Killian caminhara com ela até em casa e Ruby nem conseguira dormir de tão feliz que estava. Agora, estando frente a frente com ele, ela mal sabia o que dizer.

– É melhor você ir pra casa e pensar melhor no que está fazendo – ele aconselhou e ela assentiu – Você tem meu número, pode me ligar se precisar.

– Tudo bem.

Ele a acompanhou até a entrada da Pensão da Vovó, que era ligada à lanchonete pelos fundos, e Ruby entrou dizendo que precisava descansar a cabeça. Ela subiu a escada e foi se refugiar em seu quarto, onde se trancou. Jogou-se na cama e ficou encarando o teto. O ursinho que Killian lhe dera estava ali sobre a cama.

– Ah meu Deus, o que é que eu faço?

Havia coisas vermelhas por todo o quarto. As cortinas eram de seda vermelha. Rosas vermelhas se destacavam sobre um fundo branco nas paredes. A roupa de cama era de um tom rosa com leves toques de branco e vermelho. Havia pôsteres de bandas pregados a uma parede e fotos de uma Ruby sorridente. O tapete era vermelho escuro e até o armário de roupas ganhara adesivos de corações bem vermelhos.

Houve uma batida na porta e Ruby bufou ao ouvir a voz de Kate.

– Ruby, sei que está aí! Abra a porta!

– Me deixe em paz!

– Escute, está fazendo uma burrada...

Kate não iria embora e Ruby foi abrir a porta para enxotá-la, mas Kate empurrou Ruby para o lado e entrou no quarto.

– Você ficou louca? – a ruiva perguntou – O que está fazendo? Demitir-se do Granny’s não vai mudar sua vida.

– É claro que vai. A partir de agora, sou uma mulher livre. E eu já me decidi, Kate, vou embora da cidade.

– O quê?! Mas pra onde você vai?

– Pra Boston, o “Berço da Liberdade”. – Ruby respondeu com uma expressão sonhadora, já imaginando a infinidade de coisas que ela faria quando estivesse em Boston.

– Você ficou maluca! – Kate exclamou completamente pasma – Eu sei desse seu desejo de sair da cidade, mas assim, sem planejar nada?

– Eu não estou nem aí para o que você acha, Kate. Eu vou fazer o que eu quero e eu quero ir embora de Storybrooke – Ruby foi até o armário e começou a procurar por sua mala de viagem (que ela comprara na esperança de poder usá-la um dia) – Então é melhor você e a vovó procurarem logo alguém pra me substituir e espero que percebam que vão perder uma ótima garçonete. Também aposto que muitos clientes vão deixar de freqüentar o Granny’s quando souberem que não estou lá, então boa sorte com os baixos lucros.

Kate estava parada no meio do quarto e boquiaberta. Ruby estava mesmo falando sério. A garçonete encontrou a mala e a depositou sobre a cama. Kate não sabia o que fazer ou dizer, apenas observou enquanto Ruby enfiava várias roupas na mala.

– Está certa disso? Escute, Ruby, não é fácil viver na cidade grande. A gente escuta as notícias ruins nos jornais e você pode ser muito madura, mas não sabe se defender sozinha. E se algum mendigo louco tentar te atacar?

– Ora, por favor, Kate – Ruby riu – Sei me defender. Em todo caso, vou sempre andar com spray de pimenta na bolsa.

Depois de uns minutos Ruby terminou a arrumação da bolsa e trocou de roupa, mudando o uniforme de garçonete para uma roupa mais quente e confortável.

– E todas as suas coisas? – Kate perguntou, recostada contra a parede – As coisas que você adora, vai deixar tudo aqui?

– Depois que eu me instalar em Boston volto pra buscar tudo.

– E o Killian? Pensei que estivesse a fim dele.

– Eu vou ligar pra ele quando estiver a caminho de Boston e vou tentar convencê-lo a deixar a cidade. Ele sempre sonhou em ter um barco, talvez esta seja a oportunidade certa. Se algum dia eu velejar até o Alasca, mando um cartão postal para você.

Ruby saiu do quarto arrastando a mala e encontrou a avó no andar de baixo.

– Aonde é que você vai? – a idosa perguntou e só depois notou a mala – Está indo embora?

– Você disse que enquanto eu vivesse sob este teto teria que obedecer a você, então sim, estou indo embora.

– Parece que tomou sua decisão – a senhora disse sem emoção e ajeitou os óculos – Espero que saiba o que está fazendo.

– Sei bem o que estou fazendo. Ligo pra você quando estiver em Boston – e dizendo isso Ruby saiu arrastando a mala.

Eram pouco mais de dez e meia da noite e a garçonete foi para o ponto do ônibus com a esperança de que algum ônibus passasse por ali e a levasse para longe de Storybrooke. O prédio da Biblioteca Municipal estava ali perto e Ruby ficou pensando que Regina não estava cumprindo com seu dever de prefeita. A mulher anunciara a todos que a Biblioteca seria reformada, mas não havia nada além de tapumes fechando as janelas e a porta.

– Ruby? – Dr. Whale atravessou a rua ao ver a garçonete – O que está fazendo aqui a esta hora?

– Ah, oi doutor! – ela cumprimentou – Estou indo embora.

Dr. Whale parecia chocado quando a encarou. Ele era um homem alto e bonito, dono de uns olhos azuis e cabelos loiro-escuros. Algumas mulheres suspiravam por ele e Whale era realmente um bom médico, mas muito mulherengo.

– Mas pra onde você vai? Eu posso te dar uma carona.

– Obrigada, mas estou saindo da cidade.

– Mas pra onde você vai? - ele insistia – Você está bem? Posso levar sua mala se quiser...

– Estou bem. Não precisa, posso me virar sozinha.

Antes que Whale pudesse dizer qualquer coisa, Mary e Emma vieram caminhando até eles.

– Emma, Mary Margaret – Whale cumprimentou – Eu estava conversando com a Ruby, mas já vou indo.

Emma olhou desconfiada para Whale e perguntou se ele estava aborrecendo a moça.

– Quando eu não puder lidar com um tarado eu saio da cidade – Ruby riu – Que é o que estou fazendo agora, eu acho...

– Tá indo embora? – perguntou Emma e Ruby assentiu.

– Briguei com a vovó e pedi demissão.

– Demissão? – Mary perguntou surpresa. Por que é que todos se surpreendiam quando descobriam que ela estava indo embora? – Mas pra onde vai?

– Eu... bem, eu estava pensando em ir pra Boston, mas...

– Não tem ônibus saindo da cidade, Ruby – Emma informou.

Ruby ficou desapontada e achou que o melhor jeito seria ir embora dirigindo seu Camaro vermelho. Mas já estava tarde e tão frio... Talvez não fosse a coisa certa a se fazer e ainda tinha Killian. O que ele ia pensar quando descobrisse que ela fora embora? Iria pensar que ela era uma covarde e que fugira para se livrar das responsabilidades impostas pela avó.

– Olhe, se precisar de um lugar para refletir pode vir com a gente – disse Mary e Emma a olhou como se estivesse pensando que não era uma boa ideia – Meu apartamento é pequeno, mas tem espaço suficiente para nós três. Podemos até fazer a noite das garotas.

Emma arqueou a sobrancelha e Ruby abriu um sorriso. As três caminharam até o apartamento de Mary e Ruby não parava de agradecer a bondade da amiga. Ruby acabou perguntando sobre Kathryn e Emma informou que a mesma ainda estava desaparecida.

– Mas estou cuidando disso, vou encontrá-la!

As três subiram a escada que levava ao apartamento e agradeceram mentalmente quando entraram para o calor e conforto de casa.

– Faz tanto tempo que não venho aqui – disse Ruby, deixando a mala a um canto – Vocês não precisam se preocupar, eu posso dormir no sofá.

– Não seja boba, podemos dividir a cama de casal – Mary foi preparar chocolates quentes – A Emma dorme no andar de cima e eu não me importo em dividir minha cama com você.

– Ah obrigada, Mary. Vocês são ótimas amigas!

– E agora a pergunta que não quer calar – disse Emma com um sorriso maroto – O que é que está acontecendo entre você e Killian Jones?

Ruby enrubesceu.

– Ah, mas até você já notou?

– Eu sou a xerife, sei bem o que acontece nesta cidade – Emma sorriu e foi sentar-se à mesa.

– Desembucha, Ruby – pediu Mary – Queremos saber tudo! Eu vi vocês juntos na festa ontem.

– Somos só amigos, mas o Killian é uma gracinha e é diferente de todos os homens desta cidade.

– Hum, parece que tem alguém apaixonada! – Mary cantarolou fazendo Emma rir e Ruby enrubescer.

– Eu não estou... – a garçonete ia dizendo, mas a professora a interrompeu.

– É claro que está. Veja só como os olhos dela brilham, Emma. Eu não conheço bem o Killian, mas depois que ele salvou o Henry na mina, só podemos ter certeza de que ele é um homem muito bom.

– O Henry cismou que ele é o Capitão Gancho – Emma mordeu um cupcake que comprara mais cedo – E vocês não acreditam, mas o garoto diz que Ruby é minha tia e é casada com Gancho.

– Eu sou casada com Killian? – Ruby gargalhou – Mas se sou sua tia, então Mary é minha irmã...

– Isso mesmo! – Emma deu outra mordida no bolinho – Na cabeça do Henry, somos uma grande família. É compreensível que o garoto pense essas coisas, já que deve ser um saco morar com a Regina.

– Nem me fale!

– Mas por que brigou com a Vovó, Ruby? – Mary depositou três xícaras de chocolate quente sobre a mesa e Ruby se sentou.

– Ela quer controlar minha vida e ainda quer que eu trabalhe aos sábados. Eu já estou cansada de tanto trabalho. E tudo que eu faço ela critica. Se não sou boa o bastante, o melhor que faço é ir embora.

– Não acho que seja uma boa ideia – Mary também se sentou – Você sozinha em Boston? Como iria sobreviver? Eu quero dizer, é uma cidade grande e você já conhece todos em Storybrooke, sabe com quem contar. Se for para Boston estará por conta própria e quem sabe o que pode acontecer?

Naquela noite, Ruby se deitou, mas não conseguiu dormir. Ela ficou pensando em tudo o que Mary, Emma e Kate lhe disseram e achou que talvez fosse tolice sair assim da cidade. Por mais que ela quisesse conhecer o mundo, deveria planejar as coisas antes.

***

Ruby acabou por desistir da ideia maluca de sair da cidade e no dia seguinte, ela e Henry foram para a delegacia e Henry a ajudou a procurar por empregos na internet. Havia muito pouco emprego em Storybrooke e nenhum deles agradou Ruby.

– Que tal caixa de supermercado? – sugeriu o garoto, clicando com o mouse.

– Não, não é uma boa ideia. – ela brincava com uma caneta.

– E vendedora?

– Não sou boa em convencer as pessoas a comprar.

– Quer ser mensageira de bicicleta?

– Mensageira? – ela franziu a testa.

– É, pra levar as coisas pras pessoas em uma cestinha.

– Não, não sou boa ciclista.

– E que tal levar as coisas numa cestinha, só que a pé?

Ruby olhou para Henry e arqueou a sobrancelha.

– Não acho que isso seja um emprego – e a ideia de andar por aí carregando uma cesta parecia horrível para Ruby. Será que não havia nada que ela soubesse fazer?

O telefone tocou uma vez e desligou. Ruby perguntou ao garoto por que aquilo acontecia e ele explicou que ligações que não eram emergência caíam na secretária eletrônica quando Emma estava ocupada. O telefone tocou mais uma vez e Ruby resolveu atender. Era uma moradora amedrontada, achando que um ladrão queria entrar em sua casa. Ruby disse que ela não precisava ter medo, que era apenas o Pongo, cachorro do Archie. Emma chegou e perguntou se eles já tinham encontrado um emprego pra Ruby.

– É, há muitas opções, mas eu não sei fazer nada – a moça respondeu desanimada.

– Não é verdade – replicou Emma – Te vi no telefone e você foi ótima.

– Não foi nada – Ruby deu de ombros.

– É sério, você foi bem. Na verdade, há um dinheiro no orçamento e seria bom ter alguém pra ajudar por aqui.

Ruby se levantou de um pulo, super animada.

– Sim! Sim! Eu faço qualquer coisa! Posso atender ao telefone, limpar, lavar o banheiro, qualquer coisa! Só não me faça voltar pra aquela lanchonete.

Emma riu com a animação de Ruby e disse que seria bom se ela pudesse comprar um lanche para eles. A moça concordou e foi correndo até o Granny’s. Ruby fez questão de contar a avó que agora trabalhava ajudando Emma e que ajudava a resolver crimes (o que não era bem verdade). A avó apenas disse que esperava que Ruby estivesse encontrando o que queria. A idosa parecia meio indiferente, mas na verdade estava sentindo falta da neta. É claro que Vovó nunca ia admitir, mas Ruby fazia uma falta danada naquela lanchonete.

– Voltou? – Kate veio carregando uma bandeja – Você não ia embora?

– Mudei de ideia. Agora trabalho com a Emma, sou assistente dela – Ruby respondeu toda orgulhosa.

– Que bom que não foi embora, eu ia sentir sua falta. – ela e Kate se abraçaram – Espero que você fique bem.

– Eu vou ficar na casa da Mary, por enquanto. Sei o que você pensa dela, mas ela ainda é nossa amiga. Não podemos viras as costas para ela.

– Eu sei, mas sabe o que andam dizendo? – Kate se aproximou para cochichar no ouvido da outra – Que Mary planejou o desaparecimento de Kathryn, para tirá-la do caminho.

– Ah não vai dizer que acredita nisso – Ruby riu – Mary não faria uma coisa dessas e ela mal consegue arrumar um namorado, acha mesmo que ela saberia dar sumiço em alguém?

Ruby voltou levando os lanches que Emma pedira e a Xerife pediu a ajuda da ex-garçonete.

– Vou fazer uma busca na floresta e preciso de ajuda – disse Emma.

Ruby não achava que pudesse ajudar, iria atrapalhar tudo e Emma ficaria zangada. Mas Henry acreditava que Ruby era capaz de fazer mais do que achava que podia fazer e que só se esquecera de quem ela era. E segundo o garoto, Chapeuzinho Vermelho jamais desistira de alguma coisa. Emma resolveu dar uma chance à garota e as duas foram até a floresta procurar por David, já que Mary dissera que o encontrara lá e ele estava muito estranho.

Ruby não parecia muito confiante, mas acabou por encontrar o homem caído no chão. David não sabia como fora parar lá. Desde que acordara do coma, ela andara tendo perdas de memória e parecia que tinha acontecido de novo. Emma o levou ao hospital e Dr. Whale assegurou que David estava bem, mas que talvez fosse bom que visse o Dr. Hopper, para uma avaliação psicológica.

Já de volta à delegacia, Ruby recebeu uma ligação de Emma, que pediu que a moça fosse até uma ponte na floresta para descobrir se David estivera lá. O homem era um suspeito, embora Emma não achasse que ele pudesse ter feito algo. Mas desde que ele tivera perdas de memória, talvez pudesse ter falado com Kathryn antes de ela ter desaparecido. Ruby não achou que fosse conseguir encontrar algo na tal ponte, embora Emma insistisse que ela devia pegar seu carro e ir pra lá antes que escurecesse.

– Eu posso fazer isso – Ruby disse a si mesma e pegou o fusca amarelo de Emma.

No caminho até a ponte, Ruby passou por Killian. Ele saía do trabalho e estava vestido de maneira informal agora que era o gerente.

– Killian! – ela acenou para ele – Vem! Você tem que me ajudar.

– O que está fazendo com o carro da Xerife? – ele se aproximou.

– Estou trabalhando com a Emma na delegacia e ela me mandou ir até a ponte pra procurar por pistas. E adivinhe só: você vai comigo.

– Mas não sou bom em encontrar pistas.

– Nem eu! Entre logo!

Killian concordou e Ruby dirigiu loucamente até a ponte. Eles não sabiam bem o que procurar, mas Emma orientava Ruby pelo celular.

Procure por qualquer coisa fora do comum – a voz da xerife veio do outro lado – Algo que não pertença ao lugar.

Ruby e Killian desceram para as margens do rio. A ponte se elevava acima dele. Eles pisaram nos cascalhos escorregadios que havia por ali e Emma disse que Ruby devia seguir a intuição dela para encontrar pistas.

– Olha, tem um pedaço de madeira – ela disse a Killian e os dois levantaram a placa de madeira do chão.

Por baixo da placa havia areia, o que era estranho já que o chão ali era cheio de cascalhos. Era como se alguém tivesse cavado um buraco ali e coberto com areia. Ruby e Killian se entreolharam e Ruby começou a cavar o buraco com um graveto. O graveto bateu em algo duro e Ruby descobriu uma caixa de madeira.

– O que é isso? – Killian perguntou.

– Vamos descobrir! – ela abriu a caixa e soltou um grito. Do outro lado da linha, Emma se assustou. Killian se aproximou para ver o que havia dentro da caixa.

– Isso é... – ele começou.

– Eu acho que sim – foi tudo o que Ruby conseguiu dizer. Ela tapou a boca, enojada, e entregou a caixa a Killian antes que vomitasse.

***

De volta à delegacia, Emma analisou o conteúdo da caixa.

– É o que eu penso que é? – perguntou Ruby.

– É! – confirmou Emma.

Dentro da caixa havia nada menos do que um coração humano. Emma tinha certeza de que era de Kathryn e agora estava praticamente confirmado de que não se tratava mais de sumiço, mas de assassinato.

– Acho que vou vomitar – Ruby correu para o banheiro e Killian e Emma se entreolharam.

– Fizeram um bom trabalho – disse Emma.

– Eu não fiz nada, o mérito é todo da Ruby, foi ela quem encontrou a caixa.

Emma mandou o coração para análise e Killian encontrou Ruby na porta do banheiro. Ela estava muito assustada.

– Você tá bem? – ele perguntou de forma carinhosa. Ela balançou a cabeça.

– Eu não sei o que eu sou...

– Mas você ajudou tanto a Emma. E é isso que você é: prestativa, compreensiva, amiga...

Ela sorriu e uma lágrima escorreu por seu rosto.

– Mas esse emprego não é bom pra mim. Não quero ter que fazer essas coisas, estragar a vida de alguém... e agora David vai ser culpado por ter matado a mulher... é horrível!

– Eu sei! – ele a abraçou, antes que tivesse tempo de pensar no que estava fazendo. – Mas você foi incrível! Você pode não saber quem você é, mas eu sei que você pode fazer o que quiser. Basta acreditar!

– Obrigada, Killian. – ela enxugou outra lágrima, estava mesmo assustada – Bem, é melhor eu arrumar minhas coisas. Vou voltar pra casa.

Ruby passou mais uma noite no apartamento de Mary e precisou refletir muito para pensar na decisão certa. Ela gostava das pessoas de Storybrooke, apesar de se cansar delas algumas vezes. E estava sentindo falta da avó e de todos os funcionários do Granny’s. Ela gostava de ser uma garçonete, só não gostava mesmo quando a avó implicava com ela ou exigia muito.

– Uau! Quem é você e o que fez com Ruby Lucas? – Mary se surpreendeu ao notar a mudança no visual de Ruby.

– Resolvi mudar um pouco – a outra riu.

Emma preparava o café da manhã e Mary assistia TV antes de ir para a escola.

– Vou voltar à minha antiga vida, só que estou mudada. Em todo caso, a vovó não vai mais ter uma garçonete que se veste como drag queen.

Emma e Mary riram e Ruby voltou à pensão, onde deixou sua mala. Depois foi até o Granny’s e a avó elogiou sua aparência. Ruby não usava maquiagem pesada, apenas passara um gloss transparente na boca e deixara os cabelos soltos. Ela usava calça jeans e blusa xadrez. Se Killian a tivesse visto, se apaixonaria pela segunda vez.

– Está bonita! – a avó elogiou quando a viu – A Xerife quer alguma coisa?

– Não. – Ruby pendurou o casaco no cabideiro perto da porta.

– Então por que está aqui?

– Eu quero voltar!

– Por quê? – a avó estranhou – Estava tão brava...

– Não estava brava. É que você queria que eu fizesse várias coisas e tivesse várias obrigações. Sei que disse que não queria me transformar em você, mas eu queria dizer: não consigo ser você. A senhora é difícil de imitar – Ruby sorriu e a avó parecia feliz por ela ter voltado, embora não exprimisse essa felicidade. – Você queria que eu tivesse todas as responsabilidades e acho que me assustei.

– Não fique! Não precisa ficar!

– Mas eu estou. Mas tudo bem... Eu descobri que eu posso ser mais do que eu esperava.

A avó a encarava parecendo meio confusa e meio orgulhosa ao mesmo tempo. Talvez a neta só precisasse de um empurrãozinho para que conseguisse se olhar no espelho e enxergar a menina incrível que ela era.

– E as aventuras com os lêmures? – a avó perguntou.

– A Emma era meu lêmure – Ruby riu – E acabei por descobrir que não quero um emprego em que um dia bom é estragar uma vida. Quero fazer algo que eu goste, que me faça feliz, num lugar que eu ame.

E esse lugar era o Granny’s, com todos aqueles clientes e comidas e reclamações da avó. É, Ruby amava aquele lugar.

– Só pra você saber: queria que fizesse a contabilidade para assumir quando eu me aposentar – disse a avó e Ruby a encarou surpresa – Vai ser dona do lugar.

– D-dona? – a moça estava realmente surpresa. Ela nunca considerara o fato de que a avó se importava mesmo com ela.

– É claro! Pra quem mais eu vou deixar se não for pra alguém que me ame? – a idosa sorriu e Ruby a sufocou num abraçou. – Estou orgulhosa!

– Que foi isso? – Ruby riu, quase não acreditando no que acabara de ouvir.

– Ah, você me ouviu. – e a senhora se afastou.

***

Não havia dúvidas de que Kathryn estava morta. Não havia outras pessoas desaparecidas na cidade e embora o coração encontrado por Ruby ainda estivesse na análise, Emma encontrara impressões digitais na caixa em que o mesmo estava. Apesar de não amar Kathryn, David chorara quando soube que ela estava morta. Emma não queria jogar tudo de uma vez sobre o homem, David estava atordoado demais. Mas Emma era a Xerife e tinha que fazer aquilo. Ela informou a David e Mary que as impressões digitais tinham sido compatíveis com os registros e quando David pensou que poderiam ser as digitais dele, Emma negou com a cabeça:

– David, as digitais não eram suas. Eram de Mary Margaret!

Mary foi presa.

***

Naquele mesmo dia, quando Killian saiu do trabalho e foi pra casa, ouviu um choro que vinha da praia. Era Ruby. Ela estava sentada na areia, toda encolhida e abraçada aos joelhos. E chorava muito.

– Ruby? – ele se aproximou – O que foi? Por que está chorando? Pensei que tivesse feito as pazes com a sua avó.

Ela evitou olhar para ele, apenas continuou sentada como estava e ainda chorava.

– Ruby, o que foi? – Killian se sentou ao lado dela, tentando confortá-la – Que aconteceu?

– Não é nada – ela murmurou com a voz embargada e enxugou os olhos – Por favor, preciso ficar sozinha.

– Você sabe que pode me contar o que quiser. Eu guardo os segredos de todos os meus amigos e posso te ajudar se estiver com algum problema.

– Ninguém pode me ajudar – ela balbuciou e voltou a chorar.

– Por que não? O que aconteceu? É a sua avó? Vocês brigaram de novo?

Ela negou com cabeça, mas não disse nada.

– Alguém te chateou? Dr. Whale? Billy? Ou foi o August?

Ela novamente negou.

– Então o que é, Ruby? Fique tranqüila, eu posso te ajudar.

– Eu não sei o que fazer...

– Está tudo bem, você pode desabafar comigo. Qual é o problema?

Ela o olhou com o rosto banhado por lágrimas. Ele ficou com pena e só queria colocá-la no colo e abraçá-la.

– Eu estou grávida, Killian...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Beijos e até a próxima