A Beautiful Mess escrita por Danendy


Capítulo 14
Capítulo XIV - Monotonia


Notas iniciais do capítulo

Ok. Eu sei que não posto a quase um mês, mas deixem eu dar minhas desculpas esfarrapadas.
Ando tão, mas tão ocupada, que quase tudo me cansa. Passo os dias de domingo quase sempre dormindo e os sábados a tarde tento sair para não pirar de vez.
Além do mais, de tão cansada que ando, não encontro inspiração alguma. Nem mesmo a costumeira que vinha quando estava prestes a dormir.
Mas de qualquer forma, quero mesmo não abandonar essa história e já cheguei até aqui, então vou até o fim (só não prometo que vai ser coisa boa).

Mas enfim, eis o capítulo. Desculpem a demora.

P.S.: Mais de cem comentários?! Vocês são lindos. ♥



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— Como vai sua vida, Katniss?

Aquela voz doce parecia vir de todo lugar. Eu não tinha total consciência de onde estava, mas havia um gramado e uma luz ofuscante. E eu me sentia tão aliviada, como jamais estive antes. Por isso, nem mesmo titubeei ao responder:

—  Acho que bem… mas eu sinto sua falta. Demais.

— Eu também…

E naquele momento eu a visualizei sentada, ao meu lado, no gramado. Seu cabelo, tão dourado e macio, reluzia, e ela sorria. Ainda uma menina. Eternamente uma garotinha de seis anos. Prim olhava para mim com a expressão curiosa de sempre. Resisti ao impulso de abraçá-la temendo que ela se desfizesse em meus braços.

— Ele não virá mais — ela disse, percebendo meu receio.

— Ele quem? — perguntei.

— Papai. Ele não virá, não precisa ter medo, somos só nós duas — explicou. — Como nos velhos tempos.

Eu não respondi. Só conseguia encará-la, agora que ela apaziguara meus medos. Eu não me cansaria jamais de observá-la. Minha irmãzinha era a personificação da pureza. A coisa mais bonita que eu já vira.

De repente sua figura desapareceu, e eu me arrependi de não tê-la tomado em meus braços. Mas então sua risada invadiu meus ouvidos e estava em toda parte. E eu a vi rodopiar em seu vestido azul a poucos metros de mim. Percebi, um pouco mais tarde, que o coelhinho, aquele que eu guardava na caixa de lembranças, estava em suas mãos.

Levantei e segui seus passos. Dançando, rodopiando e rindo com ela. Eu tinha novamente dez anos e nada de ruim aconteceria. Prim largou o coelho de pelúcia no chão e agarrou minhas duas mãos para girarmos juntas. Tudo estava em ordem. Tudo estava bem novamente.

Porém, a risada de Prim cessou abruptamente. Eu me voltei para a mesma direção em que ela mirava e soube por que.

O coelho de pelúcia estava em chamas.

   

-*-

Depois de três semanas ajudando Cinna no Orquidário, eu só queria ficar jogada no sofá até que a semana e meia que me separava da minha partida passasse. Uma parte de mim ficava mal por estar se afastando de Johanna e (até mesmo) de Haymitch, porém a maior parte estava morrendo de ansiedade.

Mas enquanto eu aproveitava o ócio, Johanna, quando podia, estava sempre limpando. Chegava do trabalho com Haymitch e tratava de tirar poeira das coisas e esfregar tudo quanto era canto da casa, mesmo sabendo que eu já me prestara a isso antes. Eu sabia que isso não tinha relação alguma com a sujeira.

Finnick e ela pararam de se ver desde a noite no bar, no entanto Johanna não chorou como fez ao descobrir sobre a gravidez de Annie. De algum modo, ela já sabia, naquele momento, que o perdera de vez. Ela apenas começou essa fixação por limpeza. Como se quisesse enxotar cada resquício da presença dele de sua vida. Como se cada suspiro que ela já dera por ele tivesse ficado impregnado em todos os cantos e ela tivesse que eliminá-los.

Porém, essa mania de limpeza não a impediu de começar a ver Cinna mais e mais. Eles saíam para jantar, para ver algum filme… Ele sempre tinha algo em mente para os dois. E não perguntava sobre o que havia acontecido naquela noite no bar, como ela me contou. Ele gostava de ouvi-la falar sobre sua vida antes de chegar a Panem; uma vez eu os surpreendi na varanda falando sobre a doença da mãe de Johanna. Ela odiava contar essa história, porém parecia muito a vontade conversando com ele.

Haymitch parecia gostar de Cinna também e isso me deixou contente por Johanna. Não que ela esperasse alguma aprovação dele, foi o que ela me disse uma noite, mas isso a aliviava.

Naquela manhã de quinta-feira, com Johanna e Haymitch na loja, tudo parecia tranquilo demais, então, depois de dar um jeito na casa, eu resolvi sair da frente da TV e ir até a varanda. Sentei ao pé da escada e pela primeira vez em muito tempo me permiti observar minha vizinhança. Percebi que sentiria falta daquele lugar, mesmo depois de anos tentando sair dali. Tentando deixar Ohio e tudo nele para trás. Mas aquela vizinhança fazia parte de mim.

A algumas quadras dali eu conhecera Gale, e era aquela rua a minha primeira lembrança pós-incêndio. E ali, bem naquele ponto do gramado, que toda a minha turma preparada para o baile posara para as últimas fotos antes de Johanna nos deixar ir. Onde Marvel me deixara em casa depois que passamos a noite em sua caminhonete, numa das únicas vezes em que não fugi dele. Eu podia me lembrar claramente do beijo que ele me dera, ainda que isso tivesse acontecido a tanto, tanto tempo.

E se eu olhasse mais além, para a esquina, eu podia ver a mim mesma voltando da escola. Virando-me rapidamente na direção oposta para poder ver Peeta ainda me observando e abrir um sorriso bobo. A brisa do verão tocando minhas bochechas.

Os cantos dos meus lábios se ergueram com a recordação, ao mesmo tempo em que meus olhos deram com uma figura familiar dobrando a esquina e andando na direção em que eu me encontrava. O brilho dos cabelos louros dele foi a primeira coisa que eu notei.

Peeta parou no meio do caminho quando notou que eu estava sentada na varanda. Ele fez menção de voltar, mas então prosseguiu entre as poucas pessoas que passavam por ali e atravessou a rua. Meu coração palpitou e meu cérebro finalmente voltou a funcionar. O que ele faz aqui? O que ele quer?

— Oi…

E foi tudo o que ele disse ao parar a alguns metros de distância de mim. Suas mãos estavam em seus bolsos e ele parecia nervoso. Era o meu colega de biologia de novo, tímido e sem jeito, e eu já não sabia mais como lidar com ele.

— Você… você veio me ver? — perguntei sem rodeios.

Ele hesitou por um instante parecendo chocado. Então olhou para baixo, não para mim, mas para o chão, e disse:

— Eu venho aqui todos os dias e fico olhando a sua casa, esperando que você saia, mesmo não sabendo o que dizer se você sair. E… eu não sei o que dizer agora.

— Talvez porque não nos reste mais nada a dizer… — falei olhando para o meu colo.

Eu sabia que estava sendo dura novamente com ele, mas estava ficando cansada, muito cansada daquilo. Seria mais fácil não ter que vê-lo, mesmo que às vezes eu me pegasse pensando demais nele. Pois Peeta e eu nunca daríamos certo, porque ele queria de mim algo que eu temia muito entregar.

— É… talvez não nos reste mesmo — concluiu.

Imaginei que fosse embora depois de dizer isso, mas ele se aproximou e se sentou ao meu lado. Em choque, eu me voltei em sua direção. Minha expressão confusa não pareceu incitá-lo a iniciar qualquer conversa. Na verdade, seu semblante era sóbrio e ele esperava que eu dissesse alguma coisa.

Suspirei, vencida enfim.

 — Então você vem todo dia nesse horário e fica observando minha casa?

Ele assentiu.

— Isso parece o começo de um filme de terror — brinquei.

— E essa é a parte em que eu finalmente a encontro, abuso de você e a esquartejo logo depois… — ele respondeu no mesmo tom.

— Abusar? — eu perguntei para provocá-lo.

— Claro, sou desse tipo de psicopata. Não vou ficar matando os outros sem nenhum benefício.

Segurei um riso e me voltei para ele. Ele sorria também, mas o sorriso não chegava aos olhos. Peeta parecia desconfortável com a nossa proximidade e notar isso me deixou confusa novamente sobre a situação.

— Como vai sua mãe? Ela já está encarando melhor o fato de estar se mudando agora que isso está tão próximo?

— Bem… ela está lidando com isso da melhor maneira possível, eu acho. Até parou de dizer que eu poderia me sair melhor em Nova Iorque. Acho que ela aceitou — Peeta olhou o relógio em seu braço, mas não com o intuito de saber à hora. Só para evitar olhar para mim.

Eu assenti e olhei de novo para a rua. A tarde já avançava e o dia estava mais fresco. A minha rua era tranqüila, com poucas pessoas fora de casa e com árvores demais entre as calçadas, olhar para ela me acalmava. E eu precisava de calma com Peeta ao meu lado.

— Eu senti sua falta… — ele falou abruptamente. — eu senti falta de conversar com você, de ver você… e eu sei… eu sei, e eu não vou ser o cara que vai forçar nada. Mas eu só, eu passei tanto tempo admirando você quando deveria ter tentado conhecer você melhor. Eu só… eu sinto muito.

Minha pulsação e meus batimentos aceleraram quando notei seus olhos em mim. Minha pele ardia e Peeta parecia próximo demais agora. Ele tomara meu ar, meu chão e minha voz. E eu me forçava a não olhar para ele. Eu sabia que iria me afogar no azul dos seus olhos se ousasse.

— Eu sinto muito também… Mas acho que dizer isso virou rotina para mim — admiti.

— É… — ele concordou.

Um breve silêncio se fez entre nós. Eu podia ouvir sua respiração, calma e contínua enquanto a brisa suave nos atingia na minha varanda.

— O que você fez esse verão? Digo, além de sair com a Glimmer… — eu esperava que a pergunta soasse amistosa, mas não tinha certeza disso.

— Bem… eu ajudei meu pai com uma reforma lá em casa durante os fins de semana e minha mãe me fez de assistente durante os dias úteis. E, às vezes, Glimmer me chamava para sair com ela… você sabe como ela é, bem enérgica, está o tempo todo procurando algo para fazer…

— É… eu sei — concordei.

— Mas e você? Seu trabalho no Orquidário já acabou? — ele me perguntou.

O mais estranho da conversa, é que mesmo parecendo descontraída, era óbvio que não estávamos de fato confortáveis um com o outro, pois Peeta e eu ainda não havíamos nos olhado.

— Já… — confirmei. — Tudo o que tenho feito agora é responder aos emails dos meus amigos e assistir reprises com Haymitch.

Não era interessante, mas era a verdade. Eu vivia respondendo os emails que Clove me mandava da Austrália, os de Gale em Nova Iorque, e os de Darius e Cato que vinham sempre com um vídeo em anexo, mostrando em que parte do país eles estavam. Marvel quase nunca aparecia nos vídeos que eles me enviavam, mas era citado nos emails frequentemente. Todos os meus amigos pareciam estar se divertindo com seu último verão antes da universidade. E eu estava feliz por eles.

— Parece emocionante — Peeta brincou.

— Tanto quanto ser assistente da sua mãe, suponho — provoquei e olhei para ele finalmente.

— Touché — Peeta respondeu e virou o rosto em minha direção.

Silêncio novamente. Ficamos os dois apenas nos encarando. De repente eu fiquei ciente de que meu vestido não cobria quase nada das minhas coxas. O calor também pareceu se instalar de vez, mesmo com a brisa, que nesse momento se tornara morna.

— Eu tenho que ir — Peeta avisou, mas não fez menção de se levantar.

Assenti com a cabeça, porque de súbito, já não conseguia dizer mais nada. Assisti enquanto Peeta se levantava ao meu lado. Ele se voltou para mim e olhou para baixo, pois eu ainda estava sentada.

— Ok. Nos vemos por aí — falei enquanto tentava não desviar o olhar.

Ele voltou a sorrir tímido.

— É… a gente se vê.

E então traçou seu caminho de volta. Eu o observei, por algum tempo, enquanto avaliava o que acontecera ali. Tive quase certeza de que não nos veríamos mais. Que aquele era só um modo esperançoso de nos despedirmos. Fiquei um pouco triste imaginando isso, mas sabia que era o melhor.

-*-

— Você deveria ter vergonha! — sussurrei para Haymitch.

— Olha só quem fala… — ele respondeu no mesmo tom.

Estávamos ambos agachados na janela com vista para a varanda observando Johanna e Cinna, que haviam acabado de chegar de um encontro. Eles não eram de fato namorados, por isso eu e Haymitch queríamos nos certificar de quando essa situação mudaria.

— Shh! — adverti. — Escute.

Espiando pelas frestas da persiana, nós dois os víamos sentados na varanda e podíamos escutar parte de sua conversa se nos esforçássemos. Johanna estava com a cabeça apoiada no ombro de Cinna e ele passava seu braço em volta dela e eles conversavam.

— [...] no começo, eu esperava que ele a deixasse, de verdade. Por mim… — Johanna falou para Cinna. — Mas agora eu percebo que ele nunca faria isso. E ele não a ama, sabe? Nem amava a mim, ao que parece… Ele só tem medo. Medo de mudanças. Acho que eu também tinha, e foi por isso que durou tanto tempo, mas agora estou pronto para mudar. Na verdade, eu quero sabe. Se o Haymitch conseguiu não ficar mais bêbado feito um gambá, acho que eu consigo me livrar disso…

Não levei muito tempo para perceber que ela se referia a Finnick. Minha atenção dobrou, mesmo com Haymitch fazendo caretas estranhas ao meu lado.

Cinna suspirou.

— Sabe, eu acho que só vou terminar o contrato e vou para Washington. Por mais que eu tenha gostado daqui, acho que meu lugar é nos grandes centros… — Cinna falou. — E você disse que quer ir para a faculdade lá… A gente podia ir junto. Eu já recebi algumas propostas até…

Haymitch e eu nos encaramos chocados.

— Você está sugerindo que eu me mude com você? — Johanna perguntou, e havia incredulidade no som da sua voz. — Sério?!

— Bem… eu gosto de você, Johanna. Muito, pelo que já deve ter percebido. E eu não quero ficar longe. Eu sei que nós não… bem, nós não temos nada sério, mas eu gostaria que tivéssemos.

— Eu só tenho vinte anos, Cinna. Não quero morar com outra pessoa assim tão cedo.

— Não precisamos viver juntos, Johanna. Não estou pedindo você em casamento, só estou dizendo que quero ir com você, para onde você for. Eu soube que queria isso da primeira vez que a vi naquela loja de ferramentas.

— Eu não sei. — eu pude ouvi-la murmurar. — Eu gosto de você também, Cinna, mas não sei se estou pront…

Ela não terminou o que estava dizendo, e assustados com o silêncio, Haymitch e eu espiamos novamente pelas persianas. A cena que vimos era inesperada: Cinna e Johanna se beijavam sofregamente. Eu ergui os lábios em um sorriso, mas Haymitch permaneceu austero.  

O beijo não durou muito e Johanna os separou, empurrando Cinna. Ele a fitou confuso, mas ela sorriu e apontou em direção a janela:

— Temos platéia — explicou.

Ele enrubesceu no momento em que se virou e deu comigo e com Haymitch observando por entre as persianas. Meu tio e eu ficamos em choque, mas Johanna pôs as mãos na cintura e nos olhou com uma expressão de “que vergonha, hein?”.

— Por que não vêm aqui fora, seus curiosos? — Johanna gritou para nós.

— Cinna não vai nos beijar também, vai? — Haymitch perguntou bem humorado.

— Depende, você está usando aquele perfume? — Cinna perguntou, depois de se recuperar do choque.

— Droga… estou em perigo! — Haymitch respondeu, mas já estava me empurrando em direção a porta da rua.

— Privacidade. Vocês reconhecem essa palavra? — Johanna inquiriu assim que Haymitch e eu saímos na varanda. Ela havia se levantado e Cinna estava também em pé ao seu lado.

— Vagamente — respondi.

Ela me lançou um olhar duvidoso. Parecia estar dividida entre ficar muito chateada ou aliviada.

— Eu acho que já está na minha hora — Cinna disse arrumando os óculos sobre o nariz.

— A gente se fala depois — Johanna disse, se voltando para ele e apertando sua mão suavemente.

Ele assentiu e ainda um tanto sem graça se despediu de mim e de Haymitch. Então desceu os degraus da escada, pegou seu carro e deixou nós três sozinhos na varanda.

— Você não está realmente pensando em ir morar com ele, não é? — Haymitch questionou assim que pôde. — Ele é um ótimo rapaz, mas como você mesma disse, tem vinte anos, não tem idade para isso. Já basta o seu último erro!

— Pelo amor de Deus, Haymitch, é claro que eu não pensei em algo assim… — ela retrucou um pouco irritada. — É nisso que dá ficar escutando as conversas alheias. Fica especulando…

— É, na boa, Haymitch… — eu tomei parte por Johanna.

— E você também, hein, Katniss? Você também não pode dizer nada, porque estava fazendo a mesma coisa.

Eu fiquei sem resposta. Johanna não parecia de fato muito chateada, mas estava frustrada e queria descontar em Haymitch e em mim.

— Quer saber? Cansei, boa noite para vocês. — e entrou em casa, deixando nós dois na varanda sozinhos.

— Ela está pensando na possibilidade — declarou Haymitch.

— Bem, é a vida dela, não?

— É… — ele falou.

O olhar de Haymitch se tornou distante e apreensivo, como se ele estivesse se lembrando do passado ou imaginando um futuro. Aquilo me assustou, de alguma forma, e eu entrei em casa sem que ele percebesse.

Voltei a contar: dez dias até que eu deixasse a cidade.


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Notas finais do capítulo

Ok... eu não gostei muito desse capítulo, mas foi só o que eu consegui extrair da minha mente. Espero que não seja tão decepcionante para vocês.
Um beijo imenso.