The Ascent escrita por Thaina Fernandes


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Esse tá grandinho, e eu também to insegura sobre ele... (eu sou muito insegura sobre tudo que eu faço, não estranhem)
Aproveitem a leitura!



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Eu tinha me vestido com jeans pretos, camiseta cinza e com botas de combate, pronta para enfrentar a ira de James quando eu voltasse da minha escapada. Ele me mataria, eu sabia.

Klaus me encontrou no jardim, sorridente. Eu me sentia culpada de sair com ele, já que eu gosto de James, e estamos tão enrolados. Entrei no carro rapidamente, e saímos de lá.

Klaus era legal, divertido. Parecia comigo, na verdade. Ele fazia comentários sarcásticos parecidos com os meus. Mas ele não era James. Depois de uma hora sentada no pub local com os amigos dele, que estavam começando a me encher o saco com todo aquele puxa-saquismo para o meu lado, meu celular tocou. Era Lizbete, executando outra parte de seu plano. Eu fingi falar com ela, dizendo James de vez em quando. Voltei para a mesa e todos me encaravam.

–James está lá fora, acho melhor eu ir. - Klaus pareceu aborrecido com isso, mas se levantou e me deu um abraço que me pegou de surpresa. Murmurei um adeus para seus amigos e segui para fora.

Rapidamente, andei alguns quarteirões antes de ligar para Jordan. Disse onde estava e me sentei na calçada, esperando-o. James estava ocupado fazendo trabalho burocrático a noite inteira, já que Lizbete conhecia um guardião que o obrigou a fazer isso. Com sorte, ele nem saberia que eu tinha saído. Enquanto eu esperava Jordan chegar, eu me lembrei dos beijos trocados ontem, Dele dizendo que sentia algo por mim. Mas não podíamos ficar juntos. Toquei meus lábios levemente, sentindo-o ali. Fechei meus olhos, lembrando de como eu o desejava. Eu ainda estava confusa, é claro.

Uma moto parou em minha frente. Jordan tirou o capacete e pude ver seu rosto pela primeira vez depois de dois meses. Pulei em meus pés e o abracei. Eu sentia falta dele me irritando, me fazendo cafuné e tirando sarro do meu gosto musical. Ele se assustou no começo, mas depois me abraçou com mais força.

–Sophia, sobe ai.

Eu subi e coloquei o capacete extra que ele me entregou.

Rodamos até o outro lado da cidade, e paramos em frente a um bar que se chamava “Clube da Lua.” . Quase ri, mas lembrei que lá dentro provavelmente só havia seres dentuços (não que nem eu) e peludos. Isso me fez ficar atenta.

Depois que descemos da moto, ele me guiou para dentro. O lugar era escuro, decorado com muito vermelho e preto. Nas paredes, onde não havia rachaduras, tinham cabeças de bichos empalhadas. Me perguntei se eles todos foram mortos por licantropes. Provavelmente sim. Jordan colocou uma mão nas minhas costas, e enquanto andávamos até uma mesa afastada, no final do cômodo, as cabeças das pessoas giravam para nos encarar. Alguns me olhavam com muita hostilidade. Não sabia se era por eu ser uma vampira, ou por ser eu mesma. Quando finalmente sentamos, ele pediu sorvete para mim, sem nem ao menos me perguntar, aquele metido. Para ele, ele pediu uma cerveja.

–Como sabia que eu não queria uma cerveja?

Ele levantou uma sobrancelha em minha direção.

–Você é menor de idade.

Bufei e comecei a destruir um guardanapo.

–Então, - disse, querendo quebrar o silencio que se formou. - veio para cá apenas para me ver? Ou tem outro motivo?

Os pedidos chegaram, e ele tomou um longo gole do copo da cerveja romena.

–Onde está James?

Franzi o cenho. James? O que diabos ele queria com James?

–No castelo, ele não sabe que eu estou aqui. Jordan, para de mudar de assunto e responda logo minha pergunta.

O filho da mãe ainda teve a audácia de me dar um meio sorriso.

–Você continua impaciente como sempre. Não, eu não vim aqui especialmente por você, apesar de ter sido uma alavanca para eu aceitar vir. Minha matilha está aqui a pedido dos anciões, iremos renovar nosso acordo de paz.

Enquanto eu deixava o sorvete derreter na minha boca, eu o encarei. Na cara dura mesmo. Sua barba estava por fazer, seu rosto estava cansado. Ele parecia mais velho, diferente da ultima vez que eu o vi. Ele estava com uma camiseta azul escura, uma que eu tinha dito uma vez que eu gostava. Com isso eu tive que sorrir.

–O que? - ele perguntou incomodado.

–Nada, eu só me lembro dessa camiseta.

Ele sorriu e abriu a boca para dizer algo, mas meu telefone começou a tocar insistentemente. A marcha fúnebre. Mordi meu lábio e ignorei a chamada. Esse toque era especialmente para James, o que significava que ele sabia que eu tinha sumido.

–Não vai atender?

–Não, é só James querendo brigar comigo por ter escapado sem nenhum guardião. Então, o que queria falar comigo?

Ele tomou a cerveja inteira em um gole.

–Eu queria me desculpar pelo incidente loiro na sua cama.

Engoli uma bola de sorvete inteira, de tanto susto. Meu cérebro começou a congelar e eu coloquei meu dedão no céu da minha boca. Quando a dor passou, eu disse:

–Eu já me esqueci disso, Jordan. - desviei meus olhos, já que eu estava mentindo. Eu ainda estava ressentida, já que eu praticamente amava o garoto.

Ele tocou minha mão, me lançando uma pequena onda de choque. Não igual a que acontecia com James, obviamente. O encarei, desconcertada.

–Eu sei que não esqueceu. Dragões são rancorosos, sabia? Minha mãe sempre me dizia isso quando eu te irritava, dizia que um dia você ia me queimar vivo. - Ele riu sacudindo a cabeça. Sua mão ainda estava na minha.

–Tá, mas eu já não quero te matar toda vez que te vejo. Isso é um começo, certo?

Ele limpou um pouco de sorvete que estava na minha boca. Porque meu corpo estava reagindo assim a ele?

–Vamos sair daqui, o que acha? Ouvidos demais.

Ele pagou a conta, e quando subimos na moto, o cheiro dele me atingiu. Amadeirado, sem ser muito forte, ele também cheirava a grama. Lutei contra o impulso de enfiar meu nariz em seu pescoço. Ele parou em frente a um hotel, e fomos para seu quarto.

Hesitei antes de entrar. James iria me esfolar quando eu voltasse para Hugin. Dei de ombros e entrei no quarto espaçoso. Jordan se sentou na cama, e eu me sentei do lado dele. Ele ligou a TV e deixou-a um pouco alta. Meu celular apitou, eu apostava minha vida que a mensagem de texto era de James. E eu estava certa, “Onde diabos você está? E trate de me responder, ou vou mandar a tropa de choque para revirar a cidade inteira em busca de você.“

Eu bufei; ele sumia o tempo todo, porque eu não podia fazer isso também?

–Qual o problema?

–James, como sempre. Está ameaçando mandar o exército para me procurar.

“Você sabe exatamente onde estou, já que temos a Ligação de Sangue. Deus, eu estou com Jordan, relaxa a calcinha. Ninguém me matou até agora.”

Guardei o celular na minha bolsa e a joguei no chão, encostando-me nos travesseiros macios da cama dele. Tinha o cheiro dele neles também.

–Você parece cansada. - ele observou, apontando para meu rosto. Espreguicei-me para concordar com ele.

–Eu estou cansada, fuso horário, sabe como é. Mas enfim, o que você queria me falar que não podia ser ouvido pelos seus amigos peludos do bar?

Agora ele parecia envergonhado, o que eu não entendi.

–Eu fui comandado a te afastar de mim. A me afastar de você. Por isso eu agi daquele jeito. Eu não queria Soph, você tem que acreditar em mim.

–Eu acredito. Linne me disse isso. Eu só não entendo o motivo de te ordenarem a fazer isso.

Ele desviou o olhar.

–Eu gostava de você, mas você sabe a rixa que nossas espécies têm.

Eu ri com isso. Ele gostava de mim? Isso era tão impossível. Eu era uma adolescente boba, ingênua. E naquela época, até pouco antes de ele engolir os peitos da oxigenada, éramos praticamente melhores amigos.

–Eu não consigo acreditar nisso. Jordan, eu tinha um tombo por você, e agora você me fala que gostava de mim?

–Você tinha? - ele parecia mais confuso do que nunca.

Bufei. -É claro que tinha.

Estávamos ambos sentados na cama, meio virados um em direção ao outro. Ele tocou meu rosto, e eu sabia o que ia se seguir. Mas eu não conseguia me afastar. Eu queria aquele beijo. Não tanto quanto eu queria os de James.

James, você gosta de James, Sophia. É errado beijar Jordan gostando de outra pessoa.

Eu não me afastei, os lábios dele encontraram os meus. Meus braços se enrolaram no pescoço dele, puxando-o mais para perto. Eu havia esperado três anos por aquele beijo. O cheiro dele me envolveu novamente, ele colocou seus braços ao redor da minha cintura, me fazendo cair deitada na cama. Ele ficou por cima de mim, entre minhas pernas. O puxei mais para perto, seu cheiro me inebriando. Havia algo a mais no cheiro dele. Terra, madeira, grama. Seus lábios estavam famintos sobre os meus. Assim como ontem, com James, meu corpo também estava fervendo. Ele se pressionou mais contra mim, e eu tive que suprimir um suspiro de prazer. Ao contrario de James, Jordan não iria parar até que eu parasse. E eu não queria parar. Sua mão entrou por baixo da minha camiseta, tocando minha cintura, me fazendo ficar arrepiada. Sua mão subiu para a barra do meu sutiã, me fazendo prender a respiração. As coisas estavam indo rápido demais? Eu não faço a mínima idéia, mas eu não queria que ele parasse. James, Sophia, lembre-se de James.

Que se dane o James, a única coisa que ele faz é me confundir.

–Jordan, - murmurei, minha boca sobre a dele ainda. - acho melhor você parar antes de irmos longe demais.

Sua mão parou de se mover, mas não saiu de lá. Ele afastou seu rosto do meu um pouco, apenas o suficiente para me olhar.

–Certo, desculpe.

Ele rolou de cima de mim, mas manteve um braço na minha cintura. Eu fiquei lá, já que eu não tinha mais nada para fazer. E era confortável ter ele perto de mim. Era normal. Me lembrava de casa.

Ao contrário de James, que me fazia tão desconfortável, que me fazia ficar confusa sobre o que ele iria fazer em seguida.

Pensar em James me fez sentir culpada. Mas nós não estávamos juntos, então era bobo eu me sentir culpada. Lizbete disse que James vivia desvirtuando as meninas da cidade.

Levantei-me e Jordan me encarou. Acho que ele entendeu que eu estava tendo um ataque de culpa.

–Você e James estão juntos, não é? - ele sacudiu a cabeça, olhos fechados.

Desviei os olhos.

–Não sei Jordan. As coisas são sempre estranhas entre nós. Mas não é justo fazer isso com você.

Ele não disse nada, apenas me levou até a portaria do castelo. Enquanto eu tirava meu capacete, ele tirou o dele também. O abracei, e ele me deu um leve beijo.

Eu entrei rapidamente pela portaria, sem ninguém notar. Subi as escadas que levavam a porta lateral, e entrei no escuro corredor dos empregados. As escadas espiralavam para cima, e eu contei 30 degraus até achar a porta que levava para o corredor do meu quarto. Parei no meio do caminho. Eu não queria enfrentar James agora. Dei meia volta e segui até o ultimo andar.

Assim que eu abri a porta, a rajada de vento atingiu meu rosto. Eu estava no topo da torre, com vista para Munin inteira. Essa parte de Hugin (que significa mente e é o nome do castelo, Lizbete me contou) ficava na beira da montanha. Mas essa não era a montanha mais alta, havia outra, um pouco afastada daqui, com uma cachoeira. Fui até a beirada da torre, que tinha um muro grosso que ia até metade da minha coxa. Encostei minhas costas nele, o vento forte demais para ficar de pé ali. Escorreguei até o chão gelado, relaxando. Minha cama podia muito bem ser ali, de tão confortável que eu estava. Meu celular começou a tocar novamente, e com um suspiro cansado eu o atendi.

–Eu estou no castelo, - eu comecei, nem ao menos dizer oi para James. - não há necessidade nenhuma da você berrar comigo.

–Ah. Está em seu quarto?

Mordi meu lábio. Ele soava estranhamente calmo. Como a calmaria antes da tempestade.

–No topo da torre.

A porta se abriu. Era ele. Ele vestia uma camiseta de mangas compridas, azul escura, e seu jeans sempre preto. Ele estava lindo. E furioso. Seus olhos azuis me encaravam friamente, me fazendo desviar os olhos.

–Só queria ver se ia mentir para mim.

Ele se sentou ao meu lado, afastado. Eu ainda estava olhando para as minhas mãos. Lembrei do beijo com Jordan e culpa borbulhou dentro de mim.

–Eu nunca minto para você.

Ele me encarou por alguns segundos e suspirou. Eu nunca o havia ouvido suspirar antes.

–Como foi a conversa com Jordan?

Corei violentamente. Tomara que a escuridão da noite tenha escondido isso.

–Fizemos as pazes, ele vai ficar na cidade por alguns dias.

–Tem planos de ir para o quarto dele novamente?

Senti o sangue ser drenado do meu rosto. Como diabos ele sabia disso? Só se ele...

–Você me seguiu. - eu disse acusatoriamente.

–É claro que sim, você saiu sem nem me avisar!

Senti minha expressão fechar. Eu achava que ele confiava em mim.

–Eu achei que você confiasse em mim, mas claramente não confia.

Ele me encarou.

–Não quando você vai para a cama de cachorros imundos logo depois de ter admitido sentir algo por mim.

–Eu não fui para a cama com ele, se tivesse feito seu serviço de espião direito saberia disso. Ele me beijou, mas não foi como quando você me beija. E além do mais, eu não te devo explicação alguma.

Me levantei, furiosa com suas acusações. Ele se levantou também. Cruzei meus braços e encarei a paisagem. Eu estava prestes a chorar de raiva. Acho que eu ainda estou com TPM vampiresca, afinal de contas. Eu entrei e ele não tentou me impedir.

Nas semanas que se passaram, mantive minha distancia dos dois. Dos dois J’s. Eu sabia que Jordan ainda estava na cidade, e James continuava bravo comigo. Eu já o peguei falando com algumas empregadas daqui, e sério, aquilo era uma baita invasão de espaço pessoal.

Eu estava na sala do Conselho, ouvindo Robert dizer algo sobre os Giovannis. O vestido apertava minha cintura nas laterais, machucando. Eu não estava prestando a mínima atenção ao que eles estavam discutindo, e pelo tom de voz deles, não era coisa boa.

Klaus estava do outro lado da mesa, debatendo furiosamente. Ele apontou para mim enquanto falava com Pyotr. Me forcei a sintonizar meus ouvidos no presente.

–Não, ela não irá. E pare de querer forçar sua vontade a todos aqui, sabemos muito bem que sua mente deixou de ser sã há muito tempo.

Senti meu cenho franzir. Eu não irei o que? Tive a impressão de que eles estavam discutindo novamente o assunto sobre o meu Poder. Eu queria me esquecer dele, parcialmente por ele me assustar, mas a maior parte do motivo era pura preguiça de saber se ele era de verdade ou não.

Guardião-Chefe Robert se levantou, ele era o cara com quem eu sempre ouvia James conversando ao telefone, o superior dele. Eu sabia que James algum dia ocuparia a posição dele. Robert olhou em volta e encontrou meus olhos. Ele era alto e musculoso sem ser bombado, como todos os guardiões que eu já conheci. Seu cabelo loiro escuro era cortado rente a sua cabeça, estilo militar. Seus olhos encararam os meus, friamente, mas quando eu não desviei o olhar eles ficaram normais. Orgulhosos, até.

–Iremos treinar a Princesa Dragomir, para fortalecer sua mente e corpo. Assim seremos capazes de definir se seu Poder é o de conjurar o poder dos Antigos. Com o treinamento ela será completamente capaz de se defender, tanto fisicamente quando utilizando o Poder, então não há motivo para alarde, Ancião Miusov.

Isso definitivamente me pegou de surpresa. Eu iria aprender a lutar? Não que eu não quisesse aprender, mas essa decisão parecia ser desnecessária. Afinal, brigada com James ou não, eu ainda o tinha para me proteger. E pelo menos isso ele fazia.

Assim que a reunião acabou, Klaus me guiou até meu quarto. Isso era completamente desnecessário, eu já havia aprendido o caminho, mas mesmo assim ele me acompanhava.

–Então, você já ficou sabendo do baile?

Baile? Ah, não. Mais um motivo para Lizbete me enfiar em um espartilho esmagador.

–Nops, não sabia que o povo desse castelo macabro sabia que existe diversão - eu sorri ironicamente para ele. - além, é claro, da diversão de me torturar com a presença esmagadora dos velhotes. Mas não acho que isso conte muito.

–Bem, eu certamente não sou um velhote. - ele fez uma careta então e sorriu. - é, esquece isso. Correção: não sou tão velhote. 150 anos é o novo 21, sabia?

Rolei os olhos. Ele era legal de manter por perto, me divertia. Era a única pessoa com quem eu conversava aqui além de Lizbete, ou de quando eu falava minha agenda do dia para James, para que ele possa saber se pode ficar o mais longe o possível de mim ou não.

–Klaus, foco. O baile, não sua idade super minúscula.

–Ah certo, esqueci que eu estou com um bebezinho aqui. Enfim, o baile. Certo. - Ele olhou para a pintura do meu pai, que ficava no corredor do meu quarto. Eu parei na frente da porta enfeitada e a abri, esperando ele entrar atrás de mim e seguir direto para minha cama. Deixei a porta aberta e fui direto para o banheiro, arrancar esse vestido apertado do meu corpo.

–Continua falando. - Berrei lá de dentro, porta um pouco aberta para sua voz não ficar abafada.

–O baile, ele acontece todo ano. Acho que foi quando os Dragomir derrotaram sei lá quem, ou algo assim. Não que alguém ligue para isso hoje em dia, as pessoas só vão pela comida. Ou eu só vou pela comida. - ele riu então, e eu pude ouvir seus passos pelo meu quarto gigante. Enfiei uma camiseta pela minha cabeça e braços e sai, vestida em meus confortáveis jeans e meias.

Ele estava cutucando um ursinho de pingüim pirata, o Capitão Von Hummermark. Eu o tirei da mão dele e o coloquei carinhosamente na prateleira.

–Foco. - Eu o lembrei. Klaus podia ser muito facilmente distraído. Mas eu não posso falar nada, sou mais do que ele.

–Ah, certo. Então, eu estou te convidando formalmente para ir comigo.

Arqueei minha sobrancelha para ele.

–Vai ter uma festa escondida não é?

Ele sorriu para mim. Eu sorri para ele.

–Óbvio.

Meu sorriso aumentou mais ainda.

–Tô dentro.

–Ótimo! Se eu conheço a Lizzie, ela vai te enfiar num vestido verde, por que você fica linda de verde, então eu vou com um verde mais escuro. Maneiro.

Eu me joguei na minha cama de dossel, e ele começou a cutucar minha barriga quando minha camiseta subiu com meu movimento. O que foi uma coisa estúpida de se fazer. Eu reagi, rindo histericamente.

Então eu escutei um pigarreio na porta. O rosto de Klaus se endureceu. James me encarava, e eu reprimi um grunhido.

–Desculpe interromper, mas a Princesa precisa ir treinar comigo.

Ele parecia frustrado. O que eu obviamente não entendi. Sou eu que estou sendo forçada a fazer exercícios aqui, eu, a garota que matou todas as aulas de E.F. no ultimo ano.

–Certo então Sophia. Te vejo no baile, chute alguns guardiões por mim. E não deixe ninguém marcar esse seu rostinho lindo permanentemente.

Assim que ele saiu do quarto, enfiei minha mão de baixo da minha cama, procurando meu All Star. Quando eu finalmente o achei e enfiei nos meus pés, James estava me encarando.

–Vamos lá, to pronta pra minha aula de ninja.

Então eu levantei e tropecei em cima dele.

–Ninja. - eu sussurrei. Mas ele não riu, ele apenas me ajudou a levantar bruscamente.

Tentei não me mostrar abalada pela sua mudança de atitude comigo. Agarrei um casaco e corri atrás dele, que tinha saído sem nem ao menos se certificar de que eu estava o seguindo.

Acontece que ele não me levou para a área de treinamento normal, no subsolo. Ele me levou para o penhasco do outro lado da montanha que Hugin ficava.

Ele me ensinou alguns golpes que eu já sabia, falando seus nomes. Eu não prestei a mínima atenção, era a primeira vez em séculos que eu estava perto dele. Quando ele me golpeava eu sentia a eletricidade de sempre.

Eu sentia falta dele mais do que eu gostava de admitir, e isso me irritou profundamente. Eu parei de lutar, exausta, e me sentei no chão. O rio fazia um leve barulho, e eu me deitei. Ele se sentou ao meu lado, olhando duramente para frente.

Eu estava com os olhos fechados quando ele falou.

–Você e o Klaus tem andado muito juntos.

Algo na voz dele me fez abrir os olhos.

–Ele é legal. - minha voz era desprovida de qualquer emoção. Eu estava ficando boa nisso, eu a chamava de minha voz diplomática. Klaus havia me ensinado, para usar quando eu tivesse que falar com alguma pessoa que eu não gostava.

–E você irá ao baile com ele.

–Uhum.

Eu estava me divertindo. Ele estava bravo. Rolei para cima de minha barriga, e encostei meu rosto na grama. O inverno havia quase acabado aqui, e o sol batia em meu cabelo. James me observava com seus olhos de gelo.

–Você gosta dele?

Me sentei e o encarei. Eu não o entendo. Até ontem ele estava flertando com qualquer garota que conseguia achar.

–Isso não é da sua conta, James. Não depois de... - eu me parei. Comecei a enterrar minha mão na terra macia debaixo da grama. Eletricidade percorreu minha mão. Estranho. No sonho eu senti a mesma sensação. Retirei minha mão da terra, com medo de que eu pudesse, sei lá, invocar espíritos para estrangular James. - Eu não te devo explicações. Você certamente não me dá nenhuma.

–Apenas mais um mês... - ele murmurou para si mesmo, olhando para cima.

–Um mês para o que?

Ele apenas se levantou e saiu. Eu não o segui. Me levantei e segui para a cidade. Eu precisava ficar longe de Hugin. Eu precisava de Linne, ela entende James melhor que eu.

A descida para a cidade era rápida, e logo cheguei lá. Crianças vieram me cumprimentar, falando em um rápido romeno. Eu apenas sorri. Não havia nada para fazer na cidade, então subi de volta. Era noite quando eu cheguei ao castelo, mas não fui me arrumar para o jantar. Eu rondei o subsolo, vi alguns guardiões lutando, e fui para o sub-subsolo. E para o andar depois desse. No subsolo haviam incontáveis andares, com celas, e todas essas coisas. Entrei em uma, e quase tomei um susto. Havia um esqueleto ali. Um esqueleto Gigante, enrolado como uma cobra. Mas não era uma cobra, cobras não têm asas.

Era um dragão.

As historias de como minha família descende dos dragões, comandava os dragões voltaram a minha mente. Foi assim que conquistamos a coroa, Nicholas havia me contado. Mas eu não havia acreditado. Afinal, quem acredita em dragões?

Ouvi passos atrás de mim e me virei. Era um cara alto. Mas eu nunca havia visto ele na minha vida. Seu cabelo castanho era comprido, na altura dos ombros, e estava preso com um cordão de couro. Ele usava um sobretudo por cima de jeans e camiseta. Seus olhos eram de um azul violáceo, sua pele tão branca quanto a minha.

Ele me encarou por um segundo, atônito.

–Tereza?

–Hm, não. Quer dizer, sim. É meu segundo nome. Mas... espera, você ta achando que eu sou minha mãe?

Ele deu um passo para frente.

–Sophia.

Ele disse meu nome com um leve sotaque italiano. Enrolei meus braços ao meu redor. Eu tinha a leve impressão de que eu o conhecia.

–Sim. Escuta, eu preciso voltar para meu quarto, devem estar me procurando.

Ele não pareceu me ouvir. Ele encarou minha proximidade com o dragão e sorriu.

–Esse era Sarion. Era de seu trisavô. Verde como os olhos da família Dragomir.

Tentei imaginar o cara com olhar raivoso do quadro do meu corredor montado em cima de um dragão, mas era estranho demais.

–Legal. - eu disse forçando minha voz a ficar animada. - Escuta, cara, sai da frente.

–Meu nome não é cara.

–Tá certo. Agora licença.

Tentei passar por ele, mas ele se colocou em minha frente.

–É Caspian.

–Como o príncipe de Narnia?

Ele apenas me encarou. Depois sorriu.

–Você é tudo o que dizem, Sophia Tereza Dragomir. Bela, engraçada e poderosa. Seu poder ainda precisa ser trabalhado, é verdade, mas você será a mais poderosa de todos os reinos.

–Como você sabe do meu poder?

Ele me deu outro sorriso galanteador.

–Eu vim te treinar.

–James está me treinando. - Senti meu cenho franzir. - Não preciso de mais ninguém além dele pegando no meu pé.

–Não esse tipo de treinamento, eu tenho certeza que James está fazendo um trabalho excelente no seu treinamento físico. Mas, não. Princesa, eu vim cuidar de seu treinamento psíquico. Eu vim te ajudar a descobrir seu Poder, pois a lição de mais importância de defesa que qualquer pessoa pode lhe ensinar é meu mantra pessoal. Nunca confie em ninguém além de você mesma. Chegará uma hora que ninguém irá te ajudar, ficará a mercê da vontade dos outros, pois você é uma mulher, e nesta sociedade você não tem muito poder de escolha. Ou James falhará com você, e acredite em mim, ele irá, em algum momento. Só restará você para se defender.

Ele estava perto de mim agora. A sensação de que eu o conhecia ainda coçava em minha mente, mas eu não podia me lembrar de onde eu o conhecia. Eu tive que olhar para cima, já que ele era tão alto. Senti inveja de seus olhos, com aquela cor legal. Ele parecia um elfo, com suas maçãs do rosto angulosas, boca fina.

–James não falhará comigo. Mas ia ser legal poder usar meu poder.

–Eu não estava pedindo para te treinar. - Ele tocou a cabeça do dragão com a palma de sua mão, centímetros longe de mim. - Sabe, Sophia, se o seu Poder for o que eu penso que é você poderá ressuscitar este dragão, os Giovannis não terão chance contra você.

Me movi para o lado dele, e toquei o crânio também. A onda elétrica percorreu minha mão, assim como aconteceu com a terra, como no meu sonho. Ele me observava com aqueles olhos arroxeados.

–O que você acha que ele é? Meu poder, não o dragão. Dá pra ver que é um dragão.

Ele hesitou.

–Necromancia.

Necromancia era o poder de ressuscitar os mortos, de usar o poder das almas que partiram, a essência que nunca saia da terra. Fazia sentido, se o meu sonho estivesse certo.

–Como você me treinará?

–Todo Poder - ele começou a me explicar, acariciando distraidamente o crânio, como se estivesse fazendo carinho em um cachorro. - é parecido. Todos derivam de alguma coisa, geralmente uma aura antiga. Não sei como te explicar direito, mas já tenho uma noção de como seu treinamento deve ser feito. E a guerra se aproxima, eu ouvi sobre seu sonho. É melhor lhe preparar o quanto antes.

Mordi meu lábio. Eu tinha a sensação de que a guerra estava terrivelmente perto. Lembrei-me de Pyotr querendo me usar como uma arma nela. Até agora eu nem cogitei esse pensamento. Mas, depois de ver como as crianças falavam meu nome, gostavam de mim... eu não podia suportar a idéia de alguém matando elas, não quando eu posso evitar isso.

–Licans e feiticeiros, fadas, todos os seres que não estão ao lado dos Giovannis precisam ser alertados. No meu sonho eles ajudavam a lutar contra eles.

–Cuidarei para que isso aconteça. James, Klaus, até mesmo Robert, estão agindo como se a guerra fosse uma coisa improvável. Mas não é. Você será a chave, para nossa salvação ou destruição. Vai querer ser treinada por mim?

Eu nem ao menos parei para pensar. - Sim.

Ele sorriu.

–Então vamos, gafanhota. Te levarei ao seu quarto, acho que precisa de um tempo para processar tudo isso.

–Não preciso de escolta.

–Se você diz... Não é bom para uma necromante andar por um lugar onde tantas pessoas morreram. Fantasmas, você sabe.

–Pensando bem...

Ele riu e me acompanhou pelos corredores. Quando chegamos ao andar de treinamento, James estava lá, conversando com um Guardião. Ele me encarou e eu retribui. Caspian pareceu perceber isso, pois sorriu e colocou uma mão na minha cintura, me empurrando para frente.

–Eles nunca vão permitir. - Ele disse assim que saímos de lá. O encarei confusa.

–Permitir o que?

–Ora, Sophia, não se faça de tonta. Eu vi o jeito que vocês se olham. Nunca irão te permitir, nem a família dele nem os anciões. Nicholas quer que você se case com Klaus, e geralmente quando ele quer alguma coisa, ele consegue.

–Não sei do que você está falando. - eu disse rapidamente, tentando tirar o choque de minha expressão. Me casar com Klaus? E como esse cara sabe de mim e James? E como assim -a família dele-? - E eu não vou me casar com Klaus, nem com ninguém.

Ele apenas sorriu e continuou a andar. Eu sabia que se alguém soubesse que James havia me beijado ele seria despedido. Ou seja lá o que fazem com Guardiões desobedientes. Ele não falou mais nada, apenas me acompanhou. Quando chegamos até a porta do meu quarto, meu pânico já havia passado.

Paramos na porta do meu quarto, e ele esticou a mão para limpar algo do meu rosto, fuligem, sei lá.

–Me encontre amanhã no jardim traseiro, perto do carvalho, às oito horas. Sem atraso.

Então ele apenas girou e foi embora. Entrei no meu quarto e me joguei na cama, querendo estar de volta em minha casa, no meu quarto com as luzinhas de natal piscando. Certo, lá eu estava deprimida, sem entender nada que estava acontecendo comigo, e aqui eu conseguia as respostas. Mas lá eu não estava apaixonada por um cara bipolar, que não conseguia decidir se gostava de mim ou não. Ninguém estava tentando me fazer casar com ninguém, ou me manipular só por que eu vou herdar - ou a herdei - um reino. Eu queria que Carolinne estivesse aqui, ela que era a especialista em garotos. Não que ela fosse aprovar James, já que ela diz que ele mente para mim. Caspian também não parecia gostar muito de James.

Massageei minhas têmporas. Caspian era uma coisa com que eu não precisava lidar. Mas eu preciso saber como controlar meu Poder, já que eu odeio depender dos outros para qualquer coisa. E ia a ser muito divertido ter um dragão. Arrastei-me para fora da cama, e tomei banho. Antes de dormir, eu me lembrei do olhar furioso que James me deu. Sacudi a cabeça, tentando fazer a imagem sumir. Lembrei-me do sorriso de Caspian e de seus olhos extraordinários.

Cai no sono sem nem ao menos perceber.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Tá muito ruim? Os olhos de vocês sangraram?