Jessica Chloe - Vitoriosa escrita por MidnightDreamer


Capítulo 46
Mas já?!




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– O que você acha do restaurante, Jessica? - Carlie pergunta, assim que sentamos na mesa reservada especialmente para nós.

– Aqui é enorme, Carlie... - Sorrio para ela, que está rindo para mim também. - Não é muito caro?

Hector olha para mim. Sei o que aquela cara significa, que eu devia parar de fazer perguntas sobre preço e de me preocupar com isso. Mas é que isso não é da minha natureza, gastar tanto em um simples jantar.

– Não é tão caro assim. - Ela, que estava sentada ao meu lado, se aproxima do meu ouvido, para logo sussurrar depois. - E o dono é grande amigo de John, então ele nos dá um descontinho!

– Verdade? - Hector pergunta, assim que o garçom chega com o menu. - Não sabia que o dono era amigo de papai.

– De escola. Bem, espero que ele lembre dele. E de mim, é claro!

O garçom nos entrega mais um cardápio para mim e para Carlie. Uau, cada prato mais caro e menor que o outro! Escolho, deixando os nomes frescos à parte, um frango grelhado com uma porção de arroz à grega. Hector escolhe um bife com arroz (e batatas fritas, a cara dele) e sua mãe o mesmo que eu. Depois de anotados os pedidos, o garçom nos deixa.

– E então, Carlie, como vai em Seattle?

– Oh, vai de certa forma bem. - Ela dá um sorriso leve. - Estranho, sem meus filhos por perto, mas bem.

Ela está com aqueles mesmos olhos tristes do dia em que fui visitar Gwen no cemitério, mas sem as lágrimas. Meu Deus, deve ser tão doloroso... Antes eu já achava isso, mas agora eu tenho uma noção melhor. Se eu perdesse um dos meus bebês, mesmo antes de nascer, eu acho que não aguentaria.

– Bem que a gente podia passar um tempo lá, não é, Hector?

– É, talvez depois que os meninos nascerem. Que tal?

Sorrio e Carlie também deixa transparecer a alegria em ouvir isso. Deve estar mutio triste lá mesmo...

O garçom chega com nossos pedidos. Nossa, está maravilhoso! Hector também experimenta e arregala os olhos. Não é exagero, está bom demais!

De repente, sinto um dos bebês chutando minha barriga.

– Au! - Exclamo, e os dois olham para mim.

– O que houve? - Hector é o primeiro a perguntar.

– Algum dos bebês está chutando... Acho que é a meni- Solto mais um urro de dor. Minha nossa, mais parece um jogador de futebol!

– Está doendo muito? - Hector indaga, com um sorriso no rosto. - É a segunda vez que eles chutam, não é?

– É. - Sussurro, tentando não gritar mais uma vez. - Meu Deus...

Oh, não... Sinto um corrimento descer pelas minhas pernas. Não, não, não...

– Jessica? - Carlie percebe minha cara de pânico. - Você está pálida, querida... O que houve?

– Eu... Acho que tive um corrimento.

Ela me olha preocupada e Hector faz uma cara de desentendido.

– O que é? - Ele pergunta. - O que isso significa?

Carlie se levanta e pede para que eu levante também. Assim que o faço, mais corrimento desce. Para um pequeno alívio meu, é transparente, quase como se fosse urina. Mas sei que não é.

– A bolsa estourou, Carlie. - Olho para ela, muito nervosa. - A bolsa estourou!

Hector também se levanta. Olho em volta e a maioria das pessoas olha para mim.

– Vamos, devagar, sem pânico... Tudo vai dar certo. - Ela me apoia e me guia até a saída. - Vamos, Hector, me ajude!

– Mas e a conta? - Ele pergunta, mas mesmo assim vem me acudir.

– Eles têm meu telefone, se quiserem me cobrar, podem fazer isso. Mas agora precisamos levar Sica ao hospital.

Eles me levam até o carro o mais rápido possível. Deito no banco de trás, repousando minha cabeça no colo de minha sogra. Hector, que está mais nervoso que eu, demora para dar a partida. Assim que ele consegue, acelera tão rápido que acabo ficando mais preocupada com a probabilidade de um acidente de carro. Mas assim que chegamos ao hospital, solto a minha maior preocupação.

– Ainda não é a hora... Não tenho nem seis meses de gestação!

– Não se preocupe, querida. - Carlie tenta de tudo para me acalmar. - Às vezes eles se apressam mesmo. Há casos que eles nascem de seis meses... É complicado, mas eles sobreviveram.

Olho para ela. Quer dizer que eles podem morrer?

– Enfermeira! - Hector exclama. - Minha esposa está grávida de gêmeos, e muito provavelmente a bolsa dela estourou!

A enfermeira sai em disparada e volta com uma cadeira de rodas.

– Por favor, precisamos que alguém preencha a ficha dala.

– Eu fico. - Carlie responde.

– Avise pra minha mãe, Carlie... Por favor. - Sussurro.

– Sim. - Ela concorda. - Vá com ela, filho.

Ele assente com a cabeça e me empurra, sendo guiado pela enfermeira. Atravessamos alguns corredores e logo chegamos a uma sala operatória.

– Você teve sorte. Há uma equipe médica de plantão somente para partos. - Ela me ajuda a levantar e me leva até uma salinha.

Ela retira minha roupa e coloca uma bata em mim. O líquido continua a descer, mas ela não se importa. A enfermeira me deita em uma maca e faz uma leve depilação em mim.

– Para prevenir qualquer infecção. - Ela explica.

Assim que termina, empurra a maca até a sala de operações. Cerca de cinco médicos estão lá, e noto Hector bater na porta.

– Eu preciso acompanhá-la! - Ele grita, do outro lado.

– Quem é esse homem? - Um dos médicos pergunta.

– Meu marido! Por favor, deixe-o entrar!

Um dos doutores abre a porta e entrega a Hector uma bata, luvas e uma máscara. Rapidamente ele se veste e fica ao meu lado.

– Vai dar tudo certo, Sica. - Ele beija minha testa suada. - Não se preocupe.

Os médicos colocam uma divisória de tecido entre mim e minha barriga. Hector segura minha mão firmemente, seus belos olhos azuis fixos em mim. Os médicos me deitam de lado e aplicam a anestesia local. Logo deixo de sentir da minha cintura para baixo. Eles me deitam normalmente agora e, provavelmente, começam a operação.

– Sabe o que eu lembrei? - Ele pergunta.

– O quê? - Sorrio.

– A gente não decidiu os nomes deles... - Ele ri.

– Decidimos na hora. - Respondo, e ele assente.

Depois de mais ou menos meia hora, escuto um choro.

– Um menino! - O médico anuncia. - Saudável, apesar de estar muito prematuro. Quantos meses a senhora está?

– Arredondando, seis. - Respondo, com os olhos cheios d'água.

– É... Bem que eu achei que ele está com icterícia. - Outro médico diz. Icterícia?

Mais um choro. Oh, Deus!

– Uma menina! Ela já é mais pesadinha...

– Quero ver meus bebês! - Exclamo.

– Espere, senhora. Temos que lavá-los e pesá-los antes.

Hector está com lágrimas nos olhos. Ele se levanta do banquinho giratório e vai conferir os bebês.

– O menino pesa 985 gramas... Muito pequeno. - Uma doutora afirma. - Mas parece bem.

– Mas e a icterícia que vocês falaram?

– É comum em bebês prematuros. Com algumas sessões de fototerapia estarão bem.

– A menina pesa 1 quilo e meio. Apesar de ser maior que o menino, é um peso abaixo do normal. Mas considerando o parto prematuro, se encaixa.

Um médico leva-os até mim. O menino, pequenininho, está com os olhos fechados e com as mãozinhas cerradas. Os escassos fios de cabelos castanhos estão arrepiados, o que me faz lembrar Hector. A menina, que também está com os olhos fechados, mas as mãos abertas, tem os fios loiro-avermelhados mais recorrentes que os do irmão. Ela é tão linda... Assim como ele.

– A mamãe está aqui, lindinhos... - Sussurro, sem conter o choro. - A mamãe está aqui.

Hector se aproxima de novo, fungando o nariz.

– Eu nunca pensei que me sentiria tão bem assim. - Ele cautelosamente passa a mão nos bracinhos dos dois. - São tão pequenininhos...

Olho para ele. Seus olhos estão intercalando tempos, um pouco em mim e um pouco nos gêmeos. O menino se move e leva sua mãozinha até a boca, chupando-a. Dou uma risadinha.

– Senhora, precisamos levá-los para a incubadora. - A médica avisa.

– Mas já? - Exclamo. - Eu quero ficar mais tempo com meus bebês!

Hector abaixa sua máscara e beija minha testa.

– Deixe ela levar eles, Sica. Eles precisam de cuidados especiais.

Relutante, entrego meus bebês a ela, que antes de sair, pergunta.

– Qual é o nome deles?

Olho para Hector, que me lança um olhar. Acho que sei o que significa. Ele quer que eu escolha os nomes.

– A menina vai se chamar Stephanie. - Olho para ele, que sorri tão feliz que sei que fiz a escolha certa. - Em homenagem à tia deles.

– E o menino?

– Vai se chamar Robert. - Respondo, e Hector me olha, curioso.

– Por quê Robert?

– O irmão da Missi, Robert. Ele morreu de leucemia. - Explico. - Todos o chamavam de Bob. Acho que vai ser uma boa homenagem, também.

Ele sorri. A enfermeira preenche a pulseirinha deles e os leva para a incubadora.

Meu Deus, foi emoção demais em um dia só. Hector beija minha bochecha e diz que vai com a médica. Não nego, já que não confio em ninguém que queira separar eu de meus filhos. Os outros doutores me levam até um quarto, assim que fazem todos os curativos e enfaixes no meu quadril.

E, no meio desse caos maravilhoso, consigo descansar.


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