Jessica Chloe - Vitoriosa escrita por MidnightDreamer


Capítulo 34
Para sempre




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Acordo com uma dor enorme na minha barriga. Ai meu Deus, que fome! Olho para os lados, mas não há nenhuma enfermeira por perto. Vejo que na minha cama está tipo um controle remoto. Pego-o e noto que ele tem dois botões, um para chamar a enfermeira e outro para emergências - que também serve pra chamar a enfermeira. Aperto o primeiro botão e depois de dois minutos uma senhorinha entra no quarto.

— Quer alguma coisa, senhorita Andersen?

— Comida. Estou morrendo de fome! — Sorrio para ela, que assente e sai rapidamente.

Olho para a janela que fica ao lado da minha cama. Já é noite, e incrivelmente não escuto os barulhos vindos da rua. Ainda bem. Olho para a lua cheia, e vejo que algumas estrelas brilham no céu negro, apesar de todas as luzes artificiais que tentam apagá-las. Elas resistem. E eu resisto também.

Ficar um pouco longe do apartamento de Missi me faz bem, mesmo que seja nesse hospital. Claro, ainda estou preocupada com minha saúde, já que nada nunca é algo simples para mim... Pelo menos não tenho que encarar meu quarto e ficar me lembrando de Hector. Pronto, agora ele vai ficar na minha cabeça.

A enfermeira volta com um prato fumegante de sopa. Apesar de aqui ser climatizado, ainda estou com frio. Pego o prato e, Deus, está incrível! Nem parece ser comida de hospital, sério! A enfermeira não saiu. Olho para ela e ela sorri.

— Você tem visita. — Ela fala. — Um homem. A sua acompanhante falou que ia em casa.

— Oh, deixe-o entrar. — Sorrio.

Jack deve estar se sentindo culpado por eu ter passado mal no meio da neve. Fico olhando para o teto e de repente um buquê de flores com pernas entra em meu quarto. Que estranho...

— Mas o que é isso, Jack?

— Jack? — Ela afasta o ramalhete do rosto, deixando-me reconhecê-lo.

Não. Não, não, não... Como ele me achou?

— Hector. — Olho para o chão. — O que você faz aqui?

— Vim te visitar. — Ele se aproxima e me entrega o buquê, rosas vermelhas. Ele então se senta na poltrona ao meu lado.

— Quem te disse que eu estava aqui? — Como se eu já não soubesse quem era a culpada.

— Missi. — Ele sorri de lado. — O que aconteceu? Eu fiquei nervoso quando soube que você tinha passado mal...

— Nada que te interesse. — Olho para ele com fúria. — Vá embora. Não quero você aqui!

Hector fecha os olhos, e eu faço o mesmo. Tudo o que aconteceu volta na minha mente como um filme. Um filme que tinha tudo para ser ótimo, mas o final é horrendo. Quando abro os olhos, noto que ele já está me encarando. Posso sentir a tristeza na expressão dele.

— Prometo que vou embora, e para sempre. — Ele sussurra. — Mas não antes de eu dizer o que vim confessar.

Fico em silêncio. O que ele quer de mim, senhor?

— Ouça. — Ele se aproxima mais de mim. — Eu sei que não vai adiantar eu ficar pedindo desculpas. Você não vai aceitar.

— Ainda bem que você ainda tem bom senso.

— Mas eu preciso explicar meu lado. Promete que vai me deixar falar tudo, sem me interromper?

Não digo nada, somente concordo com a cabeça.

— Você sabe que eu estava perdido. Sica, eu bebia todo dia, sem  exceção. Me metia em brigas que não eram minhas, parei de me importar com a escola, quase fiquei viciado numa mistura de maconha com outras coisas que nem sei o nome. Eu estava perdido, de verdade.

Mesmo com raiva, ouvir aquilo me deixa muito triste.

— Um dia, fui diagnosticado com hepatite, por causa do álcool. — Ele murmura. Dessa parte, eu não sabia. — Digamos que eu não tinha muitos amigos com quem podia contar, e meus avós já são idosos... A única pessoa que me ajudou a me curar foi Susan.

Susan. Ouvir o nome dela não me deixa com raiva, e sim curiosa. Como será que ela é? Ela realmente se importa com Hector, pelo visto...

— Ela me ajudou na escola também. — Ele sorri. — É claro que eu gostava dela por me ajudar. Afinal, quem ajudaria alguém como eu?

Eu, penso, mas não o ouso interromper.

— Descobri depois de uns meses que ela gostava de mim, de verdade. — Hector olha em meus olhos. — Eu não retribuía, eu ainda pensava em você. Eu sempre falava de você sobre ela. No começo, Susan não se abalava com isso, mas depois... Só em ouvir seu nome, ela ficava com raiva de mim por não te tirar da cabeça. Um dia, ela disse que eu só me esqueceria de você se eu desse chance a um novo amor, um amor de verdade, e não os casos que eu tinha com outras em festas. Era minha única chance de te deixar ir... Então eu aceitei. Nós começamos a namorar.

Olho para o teto, forçando-me a não olhar na cara dele. Não sei o que pensar disso tudo...

— Só fiz tudo piorar. — Ele segura minha mão, apertando-a gentilmente. — Toda vez que eu a beijava, que nos abraçávamos... Eu só pensava em você. Em você e alguém que estaria te acariciando da mesma forma, e eu odiava esse pensamento.

Ele engole em seco.

— Quando eu e ela transamos pela primeira vez, só conseguia pensar em como teria sido a nossa primeira vez que, diga-se de passagem, foi a melhor noite que tive em anos. — Ele diz, e seu rosto fica vermelho. — Quando me deitava ao lado dela, ficava pensando em quem estaria dividindo a sua cama. E eu odiava essa pessoa.

— Essa pessoa nunca existiu. — Quebro minha promessa. Penso em Steven, provavelmente quem estaria mais perto da descrição dessa pessoa. Hoje consigo ver claramente que nós  nunca daríamos certo. — Nunca. Você sabe disso.

Hector assente com a cabeça, sorrindo timidamente.

— Susan sabia dos meus pensamentos. Sempre soube. — Ele faz uma pausa. — Brigávamos constantemente por isso, mas nunca pensávamos em terminar. Acho que eu não conseguia me ver sem ela. Não de um jeito romântico, para ser claro. Mais que qualquer coisa, ela era minha babá. O único motivo real por eu ter vindo para Nova Iorque foi fugir dela. Quem sabe uns anos distante dela me ajudariam...

Desvencilho minha mão da dele.

— Mas então ela me pediu em noivado. Na frente de todos os meus amigos e dos amigos dela. — Ele balança a cabeça em negativa. — Acho que ela queria que eu ficasse constrangido o suficiente para não dizer não.

Então Susan, a pessoa que juro que ama Hector, pôde praticamente forçá-lo a aceitar um casamento que ele nunca iria aceitar. Pelo visto ela não é tão santa assim.

— De qualquer maneira, eu vim. E me encontrei contigo. — Ele olha para o chão e sorri. — Quando eu te vi no Starbucks, eu me senti feliz de novo.  Eu não estava bem mentalmente, nem fisicamente. Vivi com avós que fingiam não enxergar o que eu passava. Vivi com um amor falso que me deteriorava por dentro. Te ver de novo, te abraçar, te beijar, ter você... — Hector volta a me encarar. — Tudo isso me fez acordar para a vida. Ver o que eu havia perdido contigo. Como nossa vida teria seguido se eu não tivesse sido o estúpido que fui?

Volto a olhar para ele, já sem a ferocidade de antes.

— Quando você me expulsou do apartamento, fiquei sem chão. — Qualquer sinal de felicidade que estava em seu rosto sumiu para sempre, e as lágrimas tomaram seus olhos. — Até agora estou sem chão. Eu não queria voltar para Jersey, não queria ir pra nenhum lugar, mas acabei indo para a casa da minha tia de qualquer maneira. Liguei para Susan e terminei tudo, e ainda assim ela fica me ligando quase todo dia desde então. E foi quando terminei com ela que eu entendi o que queria.

Fungo meu nariz, e então percebo que estava chorando também.

— O que você queria?

— Eu quis morrer. Te magoar é a única coisa que eu não quero. Eu fiquei tão arrependido, me sentindo horrível por dentro, um verdadeiro cocô de pessoa, Sica... Eu realmente quis morrer. Eu tentei morrer.

— Como assim? — Pergunto, temendo a resposta.

— Suicídio. Eu tentei. - Ele fica ofegante. — Não mereço viver tendo te machucado de novo, e nem quero voltar para Los Angeles e consequentemente para Susan e viver uma ilusão odiosa. Tomei vários remédios de uma só vez, mas infelizmente eu os vomitei. Aí eu percebi que não era assim que eu devo morrer.

Minha boca está totalmente aberta. Como... o que ele fez?

— Eu devo morrer sofrendo. Nada mais justo para quem já fez tanta gente sofrer. — Ele fecha os olhos e empurra a manga do casaco pra cima. — Foi isso que eu fiz.

A imagem do pulso de Lilian vem na minha mente, como se tivesse sido transportada para ele. Do mesmo jeito... As mesmas cicatrizes, porém mais profundas e avermelhadas. Eram tão recentes... Eu não acredito que ele fez isso por minha causa.

— Hector... Você é maluco?

— Eu sou um lixo, Jessica. Eu não te mereço. Eu não mereço nem viver. — Ele sussurra. — Sei que não vou morrer por causa desses cortes, mas é uma forma de me punir. Punir por ter te magoado, punir por ter destroçado minha vida, punir por enganar alguém que só tentou me ajudar a superar essa fase...

— Para, Hector! Não vê o quão grave é isso? — Meus olhos enchem de lágrimas.

— Como eu pude magoar a pessoa que mais amo na vida?

— Vem cá. — Convido-o para um abraço.

Ele se aproxima e me aperta tão forte, tão desesperado, que meu coração estremece. Eu não suporto isso. Ele fez isso por minha causa... Ele está tão fraco, tão triste... O corpo inteiro dele está tremendo.

— Eu sou um idiota. — Ele funga. —Quando soube que você estava hospitalizada, soube que a culpa era minha, de alguma maneira, e vim quase voando para cá. Pelo menos você está bem. Você me parece feliz. Espero que seja assim para sempre com esse Jack.

— Jack? Ele é namorado da Missi. — Explico. — Quando a enfermeira falou que havia um homem aqui, pensei que fosse ele.

— Isso é verdade? — Ele pergunta e eu assinto. — Mas ainda assim sei que não te mereço. Eu devia morrer.

— Não! — Choro desesperadamente. — Você não pode me deixar... Nunca.

A expressão dele é de confusão, então explico.

— Nada disso apaga o que você fez. Me deixar, beber demais, se drogar, enganar uma mulher que se importa pelo menos um pouco contigo, me enganar. — Solto um suspiro. — Não dá para esquecer, mas eu aprendi com minha mãe a um bom tempo atrás que perdoar não é esquecer.

— Você... Está me perdoando pelo que fiz? Por tudo?

Assinto, e ele sorri levemente pra mim, ainda triste. Abraço-o mais uma vez e ele fica um pouco surpreso. Como ele pôde ter feito isso consigo mesmo? Isso dói em mim. Mesmo quando era com Lil, mesmo eu não sendo a culpada, não doeu tanto quanto essa. Eu não quero vê-lo chorar. Eu não aguentaria vê-lo chorar mais...

— Agora eu que preciso pedir perdão por não escutar seu lado. — Falo, e ele se surpreende. — Me perdoa, por favor.

— Não tenho nada a perdoar de você. — A voz dele está embargada, mas há um sorriso em seus lábios. — Você é a pessoa mais perfeita que eu conheço.

— Claro que não! — Sorrio. — Estou bem longe disso...

— Pra mim, você é perfeita.

Beijo sua testa. Ele ainda está abaladíssimo.

— Eu não quero te ver chorar, ouviu bem? Não chore.

Ele para de chorar e percebo que ele procura algo no bolso da camisa. De lá ele tira uma correntinha. Não, é uma pulseira. Espera aí... Ele guardou...

— Pra sempre, lembra? — Ele sorri deixando uma lágrima cair. — Eu olhava para essa correntinha todo dia antes de dormir.

— Pra sempre. Lembro sim. — Falo e ele me entrega. Aquela pulseira... ele guardou depois de tanto tempo... Não consigo conter a felicidade.

Ele se aproxima de mim e com certeza ele ia me beijar, mas seu telefone toca e ele atende.

— Alô? Susan. — Ele não olha pra mim. Também desvio o olhar. — Eu já falei, não vou repetir de novo. Eu não amo você, não dessa forma.

Hector parecia nervoso. Há um longo silêncio, mas posso escutar gritos e choro vindos do outro lado da linha. Posso não gostar muito dessa mulher, mas sei que um término por telefone deve estar sendo terrível para ela.

— Susan... Não vai haver mais casamento.

Meu coração quase salta do meu peito. Sorrio para ele e ele sorri para mim.

— Eu já lhe expliquei... Por que eu reencontrei o amor da minha vida. — Hector me encara. — Me desculpa, mas eu não posso mais me enganar depois de tanto tempo, nem posso continuar te enganando. Eu amo a Jessica. Não vou mudar de ideia. Eu realmente espero que você seja feliz algum dia.

Ele desliga, suspira e olha pra mim.

— Eu tinha um voo pra Califórnia hoje. Ela estava no aeroporto me esperando, apesar de eu ter avisado para ela naquela mesma noite que eu não iria. — Ele suspira. — Eu tinha um voo para Seattle, contudo. Queria voltar para a casa dos meus pais, queria visitar Gwen. Assim que eu ia ligar para um táxi, Missi me liga. Se não fosse por ela, eu estaria a quilômetros de distância agora.

— Faz quinze dias... — Finalmente processo as informações. — O jantar de noivado...

— Faz. Mas isso não importa mais... — Ele olha no fundo dos meus olhos. — Eu te amo.

— Eu te amo, Hector... — Sorrio e ele novamente se aproxima de mim.

Seus lábios estão tão quentes, tão calmos... Ele me segura pelo pescoço gentilmente, e faço o mesmo com ele. Os bips da máquina ao meu lado que medem minha pulsação aceleram de tal jeito que uma enfermeira entra pra ver se estou passando mal. Quando ela percebe que não está nada mal acontecendo, ela nos deixa sós.

— Promete que nunca mais vai fazer uma besteira dessas? — Digo, pondo minha mão em cima de seu pulso. — Promete que nunca mais vai se cortar?

— Prometo. — Ele sorri. — Quando você sai daqui?

— Tenho que fazer os exames ainda. — Respondo.

O doutor Flinn bate na porta, provavelmente sabia que estávamos sozinhos. Ele sorri e acena para Hector e depois olha para mim.

— Pronta para fazer a tomografia?

— Claro! — Falo, e ele desliga os aparelhos do meu braço. Hector me ajuda a levantar, juntamente com o doutor, e eles me levam para a sala especial.

Aquele aparelho maldito. Não gosto disso... Na primeira vez que fiz exames nela, soube que estava com um tumor. E agora eu não sei o que esperar dos resultados. Faço os mesmo procedimentos que fiz há um ano. Depois de alguns minutos o doutor me chama ao seu consultório. Vejo que Hector está me esperando lá também.

— Bem, senhorita Andersen... Está tudo normal.

— Sério? Que incrível! — Sorrio e olho para Hector.

— Vamos fazer exames de sangue agora. — Ele sorri e me acompanha até onde vão coletar meu material.

Depois de uns minutinhos — sempre fui horrível quando as enfermeiras queriam achar minhas veias — volto para meu quarto. O doutor falou que ia colocar meu caso em prioridade.

Hector se senta novamente na poltrona. Deito-me na cama e ele fica olhando para mim. Pego sua mão e a beijo, depois afasto sua manga. Olho para todas aquelas cicatrizes... Beijo cada uma até adormecer.

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— Sica? O exame está pronto.

Acordo e vejo Hector sorrir para mim. O doutor está olhando para mim com alegria. Pelo visto, não devo ter nada de grave.

— Senhorita Andersen, devo lhe dizer que...

— Que o quê, doutor? Ela está com alguma doença grave, que não seja o tumor? — Hector indaga. Ele está muito nervoso.

— Não diria que é uma doença, mas vai mudar a vida dela com certeza. — Ele sorri, dirigindo-se a mim novamente. — A senhorita está grávida.


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Notas finais do capítulo

E aí, e aí?
Ps.: Thabata, pensei bastante nessa possibilidade, e por que não? :)



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