As Faces da Magia escrita por Raissa Muniz


Capítulo 4
Desventuras.




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A manhã se arrastava lenta e calma pela Rua With Fee, onde dois adolescentes repousavam na fleuma das raízes de uma árvore. O garoto lia um livro enquanto a garota observava a rua com os olhos distantes.
— Sabe Seth, eu estive pensando na minha sorte de ter te encontrado e agora tenho medo do meu destino. — Falou Elizabeth, agora voltando o olhar para os pés.
— Acalme-se. Essas coisas acontecem com quem merece. — Falou despreocupadamente Seth.
— Você não faz idéia do que é viver em um orfanato.
— Quem está falando de orfanatos aqui?!
— Ah, desculpe-me. Esqueci como o senhor Seth Campbell fica constrangido quando a pobreza é atirada na sua cara.
— Não seja ridícula. Não sou o dono do mundo...
—... Mas se pudesse, seria. — Completou a garota.
— Nada disso! Está interpretando tudo da maneira errada.
— Não diga o que eu estou ou não interpretando.
— Eu digo o que eu quiser, estou na minha casa.
— Então não farei esforços para sair dela.
— Eu não quis dizer isso... Você entendeu.
— Claro que entendi. Seus empregados também fazem as malas ou isso é por minha conta? — Perguntou, ignorando o rapaz.
— Você não vai embora.
— Você não vai me segurar.
— Ah, eu vou sim.
— Tente. — E dizendo isso se afastou com raiva do jardim dos Campbell, a raiva tomando sua cabeça enquanto pensava em um jeito bem doloroso de fazer Seth perceber que ele era um idiota perto dela.
— Ei me espere! Espere! Lizzie, Lizzie, você não vai fazer isso! — Gritou Seth, tentando correr atrás da garota.
— Cala a boca, filhinho de papai metido à besta!
— Não me chame assim!
— Então não corra atrás de mim como um cachorrinho. Você só me ajudou a fugir porque queria se aproveitar com seu pai e fazer uma boa ação.

— Eu fiz isso porque tive pena de você! — Gritou Seth, agora já na sala de estar, após ter corrido do jardim atrás de Elizabeth. — Imagina só, quem não teria?! Uma menina de rua com fome e sede! — A raiva subia em seu interior e ele não viu quando Elizabeth parou de repente e pegou um vaso coberto de rosas, atirando-o em sua direção.
O vaso o acertou em cheio na testa, onde uma ferida enorme se formou banhada de sangue, muito sangue. As flores caíram em cima da cabeça de Seth e misturaram seus vermelhos com o vermelho do sangue. Ele urrou de dor, levando as mãos à cabeça, tentando fazer o sangue voltar por onde tinha saído.
— Não adianta, não vai voltar. — Falou Elizabeth rindo do sofrimento do outro.
— Ai, ai! Viu o que você fez? Idiota! Idiota!
— Não me chame assim, eu ainda tenho outro vaso mirado no seu olho. — Falou com rispidez. O senhor Campbell de repente adentrou a sala e já ia abrir a boca para perguntar o que havia acontecido quando viu o filho estirado no tapete. Elizabeth continuava onde estava rindo.
— O que fez com meu filho, garota? — Perguntou o homem desesperado.
— Hum, isso não interessa agora. — Falou, andando alguns passos até a escada. Antes de desaparecer nos corredores que levavam aos quartos, ela gritou para Seth: — A propósito, vermelho combina com sua pele.
Seth levantou-se com tudo e mesmo com a dor, correu atrás de Elizabeth, espalhando sangue no tapete branco de sua mãe.
— Por que fez isso? — Perguntou dentro do quarto de hóspedes, após ter corrido um bom pedaço das escadas até ali.
— Não te devo satisfação. — Falou. Por um momento Seth pensou em falar "Claro que deve, a casa é minha e você está nela", mas calou-se com um bom menino.
— Por favor, Lizzie.

— Hunpf. Agora vem com falsidade?
— Lizzie, me desculpe me desculpe!
— Desculpe-me digo eu, acho que meninas de rua não ouvem direito, por isso vou ignorar. — Falou ofendida.
— Não ligue para o que eu disse, por favor. — Suplicou.
— Como eu não ligaria? Você me machucou!
— É, desculpe-me. Eu me sinto um idiota, mas você também me machucou, embora tenha machucado de uma forma mais dolorosa e com contato físico. — Tentou rir, mas não conseguiu. Continuava fitando Elizabeth que teimava em lhe dar as costas.
— A dor verbal é pior, muito pior.
— Claro que não é pio...
— Quem é você pra dizer isso? — Perguntou agora decididamente aos berros. — Nunca precisou ser forte para sobreviver! Nunca precisou!
— Elizabeth, eu te entendo, mas...
— Mas o quê? Mas eu posso superar? Como eu posso superar? Não seja ridículo, Seth. Vou arrumar minhas malas. — Falou por fim, dando um ponto final na conversa.
— Não seja ridícula, Elizabeth Cox! — Urrou Seth pela milésima vez.
Elizabeth por sua vez o ignorou como se o mesmo fosse uma formiga insignificante.
— Olha aqui, você acabou de me ferir gravemente e eu estou te perdoando! O que quer agora?
— Não sei, eu não preciso de perdão. — Falou friamente. — Você precisa. — Completou.
— Agora saia da minha frente porque você querendo ou não eu vou sair.
— Claro, vá com prazer. Agora deixa as roupas que eu comprei! — Gritou Seth.
— Se o seu desejo é esse! — Cuspiu Lizzie em seu rosto, aumentando a voz uma oitava. A raiva novamente tomou sua mente e ela repetiu o que havia feito na sala, só que dessa vez não jogou o vaso e sim a mala tamanha médio, que já estava um tanto pesada das roupas que Seth havia lhe dado.

O garoto caiu indefeso — como no episódio da sala — e urrou de dor.
— Isso é por ser idiota e esnobe. — Sussurrou Elizabeth, com um sorriso malicioso no rosto.
— Você precisa de um médico! — Gritou Seth, tentando conter o sangue que saía por um corte em sua testa.
— Ora, ora! Você ainda não aprendeu que me repreender é errado, Campbell? — Perguntou ela com uma expressão de escárnio.
O quatro se silenciou, até que o gelo invisível foi quebrado pelos passos apressados dos pais de Seth.
— O que você fez com meu filho, sua tolinha? — Falou sua mãe — a Sra. Campbell — com uma estranha calmaria na voz.
— Não fiz nada de errado. — Disse Elizabeth. — Só dei o que o seu filhinho mereceu. — Completou, quando a mulher ergueu as sobrancelhas e lançou um olhar significativo para o corte na testa de seu filho.
— Saia já daqui. — Ordenou o Sr. Campbell, com a expressão horrorizada. — Nunca mais volte aqui! Nunca mais chegue perto da nossa família, seu monstrinho!
— Com muito prazer. — Respondeu Elizabeth, dando ênfase a palavra muito.
A garota afastou os dois adultos com força, sem olhar para o Seth ensangüentado que permanecia calado. Forçou a porta e bateu-a com uma extrema eficácia, correndo pelas escadas até a saída, e de lá se retirando dos terrenos dos Campbell.


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