O Mundo Dá Voltas escrita por duda_bouvier


Capítulo 12
Capítulo 12 - Duda




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11 - Duda

Estava quase anoitecendo, quando decidimos voltar pra casa. Seb me levou lá e meu irmão estava na varanda, no telefone. Ele me viu chegando e foi abrir o portão pra mim. Subi e ele parecia estar bem preocupado. Depois que ele desligou, perguntei com quem ele estava falando.

            - as coisas complicaram Duddy.

            - como assim?

            - Recebi duas ligações. Todas eram pro David. Uma dizia que o pai dele deu um tapa no rosto da mãe dele e que ela havia apelado e que o melhor amigo dele, lá de onde ele morava morreu num acidente de carro.

            - Jesus amado! – gelei. Caraca! Coitado do David! Nunca senti tão preocupada com ele do que dessa vez.

            - e agora eu não sei como que eu vou contar pra ele... to na corda bamba.

            - calma Pie! E cadê ele?

            - No quarto. Já tava chorando antes, diz ele que ta estralando de dor de cabeça e que ia tentar dormir. – Pierre foi interrompido por um barulho vindo da janela do quarto dele. – O que foi isso?

            - Não sei. 

Fomos até o meu quarto. Achávamos que era o Moostha fazendo travessuras. Mas não, ele tava dormindo. Fomos até o quarto dele.

            - David, o que aconteceu? – perguntou Pie. Porem, só havia silencio. – Uai,cadê ele?

            - Deve que foi no banheiro ali.

            - Meu quarto não tem banheiro e ele teria passado pelo corredor e veríamos ele se tivesse ido no banheiro de fora.

            - Será que ele pulou a janela?

            - Será?

Quando Pierre olhou pra cama, viu o travesseiro molhado e o telefone jogado em cima da cama. Marcas de tênis em cima dos lençóis brancos também. Com uma cara assustada, olhou pra mim e disse:

            - ele escutou a conversa pela extensão! Duda, ele fugiu!

Sem direito de resposta, ele me puxou pelo pulso e me colocou dentro do carro.

            - Pra onde você vai?- consegui finalmente perguntar.

            - vou procurar ele.

            - você acha que ele deve ter fugido? Pra onde?

            - Se ele fugiu, eu não sei. Mas ele não ta bem e eu não vou deixar ele correr riscos. Sem ele eu não vivo. Toma – disse me entregando o celular – liga pro Chuck, pro Seb, Pat e até pro Jeff. Nós vamos achar o David. – ele disse, com ar de super-herói. *-*

            - nós... Vamos?

            - sim!

- nós?

- é, você também.

Ele foi dirigindo e olhando ruas a fora. Logo, Pat e Seb num carro e Chuck de carona no carro do Jeff também.

            - O que aconteceu?- perguntou Chuck.

            - O David sumiu. - respondeu Pierre.

            - Que horas?

            - Agora.

Todos nós descemos do carro. Pierre estava desesperando-se.

            - Pie calma. Ele não deve ter ido tão longe. – disse.

            - Mas mesmo assim, ele conhece a cidade. Ele não é tão ingênuo. – disse Jeff.

            - Tem só quatro anos que ele mora aqui em Montreal. E outra, quando você está em desespero, não pensa duas vezes em fazer besteira. – respondeu Pierre.

            - Vamos nos separar. Alguns vão a pé e outros de carro. – disse Seb.

Foram Pierre e Jeff de carro, Pat e Seb pro lado esquerdo, indo pro centro e eu e Chuck pro outro lado.

            - Não se esqueçam de ligar! – disse Pierre, passando por nós.

Eu olhava pros lados, tentando ajudar. Chuck parecia cão farejador. Onde esse menino se meteu?

            - e ai Duda? Algum sinal dele?

            - Nenhum.

            - Você ta procurando?

            - To!

Demos a volta praticamente na cidade inteira e nada do David. Logo voltamos todos ao ponto de partida.

            - Já gastei quase 5 litros de gasolina rodando essa cidade e nada do Dave. – disse Pierre.

            - Mas não desiste! – encorajou Jeff.

            - Mas é lógico que não.

Ficamos pensando aonde ele poderia ir. Não fazíamos mais idéia de onde ele estivesse.

            - eu vou ligar pra policia! – disse Pat, pegando o celular.

            - Não Pat, é só depois de 48 horas de sumiço. E num tem nem 15 minutos que ele desapareceu. – disse.

            - É, eles esperam acontecer alguma tragédia. Até ai, o desaparecido já suicidou, pulou da ponte... – dizia Seb, até que lembrei do que ele havia me dito quando me contou o que havia acontecido.

[Flashback on]

            -... eu sou uma pessoa frágil. Acho que se tudo piorar de uma só vez, eu perco a cabeça.

            - Mas não pode ser assim não, David.

            - Mas eu não consigo!! – gritou ele.

            -...

            - Desculpa! Você não tem culpa. Quando eu tiver oportunidade, me jogou no lago de Montreal e acabo com essa vida imprestável!

            - Credo! Vira essa boca pra lá. Por mais que eu não goste de você, não quero que você faça uma coisa dessas, David.

            - Quando o desespero toma conta de você, você perde a noção de tudo. Ninguém vai nem dar falta.

[flashback off]

            - ai meu Deus! – gritei e sai correndo pro lado do lago.

            - Duda! Onde você vai? – gritou Pierre atrás de mim.

Fui correndo sem dar explicações. Já estava ficando cansada, o lago nunca chegava. Eis que finalmente eu vi o lago lá. Na ponte tinha algumas pessoas, algumas crianças brincavam naqueles brinquedos de lá. Até que eu vejo um cabelo preto cortado em moicano, bem familiar. Era o Nick, meu ex-namorado. Bom, não tinha tempo pra isso. Fui andando até que na parte alta da ponte, eu vejo David lá, sentado no corrimão, virado pra água. Decidi não gritar. Ou ele se assustaria ou ele me xingaria e cairia na água do mesmo jeito. Cheguei perto dele e ele chorava, de toda altura.

            - “é agora que eu faço a minha boa ação. Espero não me arrepender jamais.” – pensei e fiquei do lado dele. – David...

Ele se assustou, mas não a ponto de cair. Ufa!

            - sai daqui...

            - David, pelo amor de Deus, sai daí. Você quer morrer afogado?

            - quero! Quero fazer companhia pro Rick, onde quer que ele esteja agora.

            - Calma! Não faça besteiras!

            - ME DEIXA EM PAZ!!

Me senti triste. Eu tentando ajudar e ele gritando comigo. Oh vontade de empurrar ele daquele corrimão.

            - David, pode ser que você não acredite, mas olha, não pula não. Não acabe com sua vida por causa disso. Você tem que ser forte!

            - Quem é você pra me dizer isso? Porque você está se preocupando comigo? – disse ele, chorando de dar dó.

            - Posso não ser sua melhor amiga, mas você sabe que eu não gosto de você, mas eu sou sincera. Por não gostar de você, poderia te empurrar dessa ponte, mas o que eu estou fazendo? Te convencendo a não fazer besteira. E outra to me preocupando com você, porque você sempre esteve do lado do meu irmão, quando ele mais precisava.

            - e cadê ele?

            - Ta rodando Montreal inteira atrás de você. Não só ele como o Seb, Pat, Chuck, Jeff... Até eu. Vamos, desce dai.

            - Não. Vai embora!

            - Não vou não.

            - Para Duda! A minha vida ta toda perdida! Eu já to de recuperação em todas as matérias, meus pais vão se separar, meu melhor amigo morreu e nem a garota que dizia que gostava de mim sequer se importou em saber o que se passava comigo.

Respirei fundo e olhei pro lado. Os meninos estavam chegando. Graças a Deus!

            - David, se acalme! É só você passar a estudar um pouco mais que você não fica de recuperação, seus pais, você ainda vai ver eles, seu melhor amigo, eu não sei e a garota que você achou que gostava de você, sinto muito, mas até eu imaginei que ela só queria mesmo beijar você.

            - CALA BOCA! – e ficou em pé em cima do corrimão.

            - David, você vai cair daí!

            - David! – gritou Pierre.

Enquanto os meninos corriam, David pulou no lago. Aquilo é fundo feito só Jesus sabe. Não pensei duas vezes e pulei atrás dele.

            - Duda! David! – gritou Pierre e Cia.

Eu não sabia nadar direito. Primeiro afundei até lá no fundo e depois consegui voltar à superfície. Peguei David pela blusa e fui levando. Ele tava começando a ficar desacordado. Comecei a puxar ele pro lado da margem e Pierre veio e pegou ele, agora já desmaiado. Saímos da água e Chuck me abraçou, me dando um beijo na testa.

            - David! Fala comigo! Pelo amor de Deus!- dizia insistentemente Pierre, totalmente desesperado.

            - Vamos levar ele pro hospital! É mais seguro. –disse Pat.

Ele mesmo pegou David e foi levando pro carro. Pierre chegou perto de mim e me abraçou.

            - Obrigado maninha! Acho que se você não tivesse feito o que fez, ele teria morrido. Muito obrigado mesmo!

Não respondi nada. Fiz por impulso e por medo de ver alguém morrer bem na minha frente, ainda mais se for alguém conhecido.

Bom, depois que chegamos no hospital, ele acordou de novo e estava muito assustado.

            - O que eu fiz? Não era pra eu pular! – dizia ele.

            - Por que você fez isso? Quer matar todo mundo de susto? Ficou doido? – disse Seb. – Mesmo você não indo muito com a minha cara, mas eu fiquei preocupado.

            - Mudei de opinião. Eu gosto muito de você. De todos vocês.

Todos deram um abraço coletivo nele, menos eu. Estava num canto, vendo eles. Eu já ia saindo do quarto, quando ele me chamou. Olhei pra trás assustada.

            - Eduarda...

            - que?

            - Obrigada...

            - De nada. Pelo o que?

            - você ao invés de me empurrar, me ajudou a não fazer besteira. Acabei fazendo e você ajudou a me salvar. Não esperava isso de você, sinceramente, estou surpreso. Obrigada mesmo.

            - Nada... Fiz uma obrigação, apenas.

            - Seria pedir demais um abraço?

Parei na porta, respirei fundo e fui até ele.

            - Não, que isso...

E ele me deu um abraço não muito forte. E ele lá tinha força pra isso?

            - Muito obrigada mesmo. – sussurrou ele.

            - por nada. – nos soltamos e fui novamente pra porta pra sair, mas antes disse: - Mas ainda não gosto de você.

            - Tambem não. Mas não te odeio tanto mais.

Sorri e sai. Eu não era tão intima assim e tava me sentindo estranha no meio deles. Fiquei na recepção. Depois Seb veio atrás de mim.

            - o que ta fazendo aqui, Catty? Vamos pra lá.

            - Não...

            - fico feliz que você tenha arriscado sua vida pelo David. Você também não sabe nadar.

            - Mais ou menos. Sei só boiar na água. Nadar que é bom, nada. Mas eu agi por impulso.

            - você também conversou com ele por impulso?

            - Não.

            - sei lá, mas gostei do que você fez. Só tenho medo de você não fazer por mim.

            - se eu fiz pelo David, o cara que eu mais odeio quanto mais você, que eu amo né Sebby?

Os meninos vinham no corredor a fora, conversando alto. Fomos todos pra fora do hospital. Andávamos em direção ao carro, quando o bobo do Pierre disse:

            - e outro dia, a gente brinda pela Duda, por ter salvado seu inimigo e pelo David, por ele ter sobrevivido! Hoje não que eles estão molhados e podem gripar.

Todos riram e nos abraçamos em um longo abraço coletivo. Depois fomos pra casa e podemos trocar de roupa e tomar algo quente.

 


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