"A vida na Terra não parecia ser tão ruim quanto dizem", pensei eu, enquanto acordava.

Tudo bem que durante esses meus dois primeiros dias eu sofri até entender todo o esquema de dormir, ter uma alimentação saudável e manter higiene. Descobri que tenho que arrumar um emprego se quiser me manter viva, - infelizmente nem tudo pode cair do céu - além de arrumar tempo para estudar e proteger Alex Heath. Ok, ok. Retiro o que disse. A vida na Terra é mais complicada do que parece. Isso porque ainda nem me encontrei com outros humanos.. droga! Admito: já está na hora de parar de fugir da minha responsabilidade. Isso não é um jogo, vidas estão em risco. Tenho que sair do meu alojamento e aprender a viver na prática se quiser ser útil por aqui.

Abri a porta do banheiro e comecei a me arrumar. Por que raios existem tantos produtos para passar pelo rosto, cabelo, corpo? Acho que só não fiquei louca porque havia algumas instruções na embalagem. Arrumei-me de maneira bem simples e casual. Um short escuro, uma regata branca. Resolvi passar um.. como chamam mesmo...? Lápis de olho..?, delineador...?, que seja, nos olhos para destacá-los, e um gloss nos lábios. Gostei do resultado. Tenho a pele pálida, olhos azuis e cabelos negros, as cores combinavam entre si.

Saí do banheiro e fui direto em direção a porta. Abri, e quando já estava me retirando... ploft!

– SERAFINS DOS CÉUS! - gritei eu - COMO EU SOU BURRA. ESQUECI DOS SAPATOS! - continuei dizendo, deixando cair minha chave e batendo a cabeça na porta quando abaixei para pegá-la. Percebi que havia chamado atenção demais, as pessoas ao redor riam de mim sem nenhum ressentimento. Entrei no quarto novamente e pude sentir meu rosto arder. Me olhei no espero e vi que estava com o rosto corado. Eu estava com.. vergonha? Não sei, mas não era nada legal. Os humanos foram cruéis comigo, eu poderia estar machucada, e em vez de me ajudarem, riram de mim. Que horror! Mas isso não importa. Posso superar isso.

Coloquei uma sandália simples e saí novamente. Dessa vez não fiz nada de estranho - eu acho -, e as pessoas pareciam ter esquecido o episódio. Prossegui caminhando até chegar no campus. Aquele lugar era grande. Havia uma praça central, e estava relativamente vazia. Resolvi ir até lá e apreciar o local. Quem sabe até conhecer algumas pessoas... De longe, vi um casal sentado em um dos bancos. Eles estavam com alguns papéis nas mãos e pareciam estar discutindo. De repente, a garota levantou-se e foi embora, entrando em um alojamento próximo do local. Já ele, continuou sentado.

"Aquele é Alex Hearth", disse uma voz em minha cabeça. Não poderia ser. Eu ainda não estava pronta, mas... "Mas nada, Zoey! Você deve cumprir sua missão", disse a voz novamente. Seja lá de onde vinha, devia admitir que ela tinha razão. Fui caminhando lentamente até lá e parei em frente ao rapaz.

– Olá - disse eu, entusiasmada.

– Por acaso eu conheço você? - respondeu ele, sendo um tanto rude.

Achei melhor não responder e apenas sentei-me ao lado dele. Ele me fitou, incrédulo por eu ter feito isso, e eu soltei uma gargalhada. Confuso, perguntou:

– O que você quer aqui? Não vai me dizer que está grávida também não, né?

– Não.. por acaso era pra eu dizer isso? - respondi, chocada. Grávida, eu? Eu não estava grávida, estava?

– Ótimo. Então o que você quer aqui? - disse, novamente rude, mas parecendo aliviado.

– Apenas conversar com você... Posso? - não esperei resposta para prosseguir - Me chamo Zoey Davis Fiore, e vou começar a cursar medicina. E você?

– Alex Hearth, mas eu não estou a fim de conversar. Tchau. - ele disse, saindo rapidamente.

É, os rumores no céu estavam certíssimos. Humanos são estranhos demais. Eu teria um trabalhão com esse tal de Alex.