Cuidar de uma plantação de laranjas era uma tarefa bem difícil. Era preciso, antes de tudo, tratar a terra. Depois, escolher as sementes. Regar para que nenhuma praga invadisse e destruísse a plantação recém-brotada.

E após isso tudo, era preciso cuidar mais. Era preciso velar as laranjeiras, cuidando para que os frutos crescessem, madurassem e estivessem prontos para serem vendidos.

E ninguém na Ilha Cocoyashi diria que as laranjeiras de Bellemere não eram bem cuidadas. Se dissessem algo do tipo, era certeza que levaria uns bons cascudos para aprender a não falar demais.

Essa era Bellemere, sempre cuidando do que era seu.

Inclusive de suas duas filhas.

Na ilha toda, não havia ninguém que amasse mais aquelas duas meninas que a própria mãe delas. E ninguém duvidava que pudesse ser o sentimento mais puro e nobre que um ser humano poderia sentir por outros.

Em todos East Blue, não existia mãe que amasse mais suas filhas que Bellemere.

Tanto amava que dera sua vida por elas, mesmo que elas não fossem sangue do seu sangue. A dor, aflição e o destino uniram aquelas três vidas, e não há nada no universo que pudesse contradizer o quanto se amavam.

E isso Nojiko jamais desacreditou. E por isso continuou cuidando do legado que Bellemere deixara: as laranjas.

E, talvez, mais importante que isso fosse suas últimas palavras.

“Enquanto você continuar a viver, bons tempos virão novamente”.

Era impossível, para ela, odiar tudo o que se passou depois da morte de sua mãe, pois estava viva e sabia que, mais cedo ou mais tarde, bons tempos viriam novamente.

Mesmo que demorassem.

Mesmo que esses tempos tirassem a alegria de sua irmã mais nova.

No fundo do seu coração, Nojiko sabia, o vento traria de volta a esperança que não existia mais no coração de sua irmã.

As marcas da traição, da dor e da raiva seriam apagadas de seu ser e ela seria livre novamente, para viver a vida como desejara.

Sabia que a Nami encontraria o caminho, era apenas uma questão de suportar tudo e ter fé.

— Pois tempos bons vieram, finalmente. – Dizia ela, olhando uma fotografia antiga, já amarelando.

Era uma foto sua com a Nami, antes da partida dela para sua nova vida. Estava feliz, sorria como não sorria há muito tempo. Parecia finalmente livre de todas as amarras que a prendia a tristeza e servidão. Era possível ver em seus olhos o brilho da liberdade, conquistada com muita luta.

— Nami, eu sei que você tem passado por muitas situações inesperadas, corre riscos desnecessários e tudo. E você sabe que, sempre, terá um lugar para retornar, quando quiser. A casa da Bellemere, nossa casa, ainda está aqui. As laranjas também, e até o jantar especial que nossa mãe preparou naquele dia fatídico, se você quiser, eu posso fazer pra você.

“Lembre-se sempre que você agora é livre. Pra viver, pra amar e até pra nunca retornar, se esta for a sua vontade. Caso queria, um dia, provar um pato com molho de laranjas, nunca se esqueça do lugar onde a receita é mais saborosa.

Estamos aqui, Gen-san, eu e todo o povo da ilha, esperando seu regresso. Esperamos vê-la desembarcando com um sorriso no rosto, sinal de que tudo que viveu, valeu a pena.”

Nojiko olhou a fotografia uma última vez, colocou-a ao lado da foto da Bellemere, sobre a mesinha que fica próxima a janela. Saiu pra cuidar da herança das duas garotas.

— Quando a Nami voltar, ela vai ficar feliz em ver as laranjeiras em flor.

E sorriu.