Todas as nossas memórias escrita por MMs


Capítulo 5
Capítulo 5 - Submersos em memórias


Notas iniciais do capítulo

A ideia era fazer dois capítulos, um só com as interações do Scorpius e outra para o interrogatório, mas achei que assim seria mais dinâmico.
Espero que vocês curtam a edição desse capítulo.



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"É ela, Scorpius! Nem sei como começar a explicar, então eu preciso que você mesmo veja. Vem o mais rápido que puder pro Ministério, vou te esperar na sala de interrogatório principal."

O loiro estava enfiado até o nariz em relatórios quando um cão babão atravessou sua parede, correndo atrás do próprio rabo em uma espiral prateada.

Depois de ouvir a voz ansiosa do melhor amigo, não pensou duas vezes antes de correr até sua lareira. Scorpius não se importou com o susto ou com a bagunça que deixará em seus documentos, mas amaldiçoou Alvo com todas as palavras que conhecia por lhe dar tão poucas informações.

 

"Quem, no inferno, o ensinou a mandar um patrono?", Pensou o loiro.

 

Por sua mente, passavam mil e uma possibilidades. Poderia ser sobre o caso mais recente de ambos, uma jovem nascida-trouxa que desapareceu misteriosamente em um local afastado em Londres. Só mais um dos diversos sumiços que vem preocupando o Ministro trouxa e, consequentemente, a Ministra da Magia também.

 

Mas, pensando bem, também podia ser apenas mais uma das crises existências do Potter. Na verdade, para o loiro, haviam grandes chances de ser exatamente isso.

 

Nesses últimos meses, o auror vinha constatando que o parceiro adquirirá o péssimo abito de surpreende-lo nos piores momentos e, dificilmente, dava maiores explicações até se encontrarem pessoalmente. Geralmente para falar do seu relacionamento com Alice Longbottom.

 

Na verdade, Scorpius já se viu correndo ao encontro do amigo por muitos motivos, nem todos tão importantes quanto Alvo fazia parecer.

 

"Rei do drama", Sentenciou quando finalmente saiu das chamas esverdeadas, direto no Ministério.

 

Em resumo, poderia ser qualquer coisa, inclusive algo que não lhe dizia respeito em um dos seus dias de folga, onde ele preferia se concentrar num caso em especifico. Ainda assim, lá estava ele. Indo tão rápido quanto podia através dos corredores abarrotados de pessoas, que se dividiam entre cochichos e olhares espantados.

 

Isso tudo porque, por um momento, Scorpius teve esperança. Enquanto ouvia a voz do amigo, saindo através do espectro canino, ele pensou nela e sentia como se ainda estivesse prendendo a respiração em expectativa.

 

Uma pista, ele só precisava disso. Qualquer testemunho ou prova de que suas memórias com ela não fossem apenas imaginação.

 

— Ninguém desaparecem sem deixar rastro. - Chegando à porta da sala de interrogatório, o loiro repetiu o que já vinha se tornado um mantra durante esses anos. Soltando a respiração, ele girou a maçaneta e entrou o mais silenciosamente que pode.

 

Scorpius viu o amigo antes que o mesmo percebesse sua presença. Ao se aproximar, seu primeiro instinto foi de ameaçar Alvo com uma azaração de Corpo Preso, como na época de Hogwarts, mas, com um olhar para o vidro enfeitiçado da sala, ele esqueceu tudo.

 

"É ela", A voz do loiro soava na própria mente. "Bem ao alcance dos olhos. Era a Rose, sua Rose! ". Tão rápido quanto esse, um pensamento de recriminação o alcançou, por que ela não era mais sua, mas ele fez questão de afastar a ideia.

 

Scorpius estava tão focado em olha-la e gravar cada detalhe, que seu corpo ganhou vontade própria, alcançando o vidro em poucos passos. Ele ficou parado ali por poucos minutos até ser despertado pelo amigo, mas o loiro poderia jurar que a olhava por mais tempo.

 

— Como você vê, eu não poderia descrever em palavras essa situação num simples patrono. - Comentou Alvo, abrindo um sorriso genuíno, que ia além da fachada de Sonserino despreocupado que ele sempre apresentava.

 

— Eu tenho uma ou duas palavras que você. - Declarou, voltado os olhos pra ruiva a sua frente. - Mas comece me contando como isso aconteceu.

 

... 

 

Do outro lado do vidro enfeitiçado, Rose usava uma das varinhas do Ministério para retirar alguns fios da própria memória, depositando-os em trés pequenos frascos transparentes.

Assim, sem a menor ideia do que se passava na sala adjacente, a ruiva terminou o feitiço de extração e devolveu a varinha ao auror mais velho.

 

Potter. Ele encarava a jovem com um olhar que um pai bondoso dedicaria a qualquer de seus filhos e, angustiada, Rose precisou desviar o rosto.

 

— Vai nos acompanhar, Draco? - A pergunta de Harry cortou seus pensamentos e fez com que o loiro se pronuncia-se pela primeira vez desde que entrará novamente na sala.

 

— Sim. - Malfoy emergiu do canto no qual ficou esperando e se dirigiu ao centro da sala, próximo à penseira. - Além disso, me resguardo ao direito de interromper o depoimento a qualquer momento, se houver qualquer necessidade medica.

 

O chefe dos aurores assentiu. Logo depois, com um movimento fluido da varinha, fez a penseira flutuar no meio da sala e chamou os demais.

 

— Mantenha o olho na pena, quero ter certeza que tudo sera transcrito exatamente como acontecer. Ainda não poderemos distinguir o que é real das imagens criadas pelos traumas mentais. - O Potter entregou uma pena de repetição magica e um bloco de notas ao outro auror e pegou o primeiro frasco. - Estão todos prontos?

 

Com a confirmação dos mesmos, ele se aproximou da penseira e despejou o liquido prateado.

 

— Você primeiro, Senhorita Weasley.

 

E assim ela fez. Respirando fundo, Rose se aproximou daquele objeto magico e se inclinou contra ele. Rapidamente, a ruiva sentiu-se ser sugada e, em um piscar de olhos, estava em uma versão menos colorida da própria sala no Ministério. Prendo o folego, ela olhou para se mesma, três anos mais jovem, e teve dificuldade em reconhecer aquela imagem. A mulher na sua frente estava muito distante de quem ela lembrava ser e, principalmente, de quem ela era agora.

 

— Dia 27 de janeiro de 2030, Ministério da Magia...

 

Desperta pelos sussurros que o auror mais jovem dava à pena de repetição rápida, Rose percebeu que os três homens já haviam mergulhado em suas memórias e estavam ao seu lado, observando e descrevendo cada detalhe.

 

A Weasley apertou as mãos juntas, em visível nervosismo, ao observar seu outro eu sair da sala e caminhar entre um mar de rostos borrados e irreconhecíveis, em direção à saída do Ministério.

 

Ela sabia que dia era aquele. A missão de resgate.

 

Haviam recebido dezenas de informações dos mais diversos cidadãos bruxos e trouxas, desde o dia do sequestro da filha do Ministro e durante toda a semana em que se seguiram as investigações. A maioria delas não levavam a lugar algum, mas um testemunho em especifico indicava o provável lugar do cárcere.

 

A ruiva tinha poucas lembranças da investigação, mas  conseguia descrever, com riqueza de detalhes, o lugar onde mantiveram a pequena Sofie. E, enquanto pensava naquela pequena casa, com flores em canteiros nas janelas e uma cerca branca e recém-pintada, o cenário a sua volta se modificou. De repente, ela encarava o nº 7 da Upper Flagley, no vilarejo de Little Hangleton, outra vez.

 

Não contendo o arrepio que lhe subiu pela coluna, Rose viu um raio verde sair da janela no primeiro andar, seguindo seu trajeto até um  pequeno grupo de aurores que se protegia atrás de um carro estacionado na rua. Sua cabeleira ruiva visível entre os demais. Barreiras eram conjuradas, feitiços eram lançados e suas luzes enchiam a noite escura.

 

— Little Hangleton, cativeiro de Sofie Shekebolt. - Raven McLaggen descrevia a cena, como se contasse uma história de ninar para a pena encantada. - Aurores fora de formação e área sem proteção ou isolamento contra trouxas. É como se nenhum deles tivesse passado pelo treinamento de auror.

 

— Não solicitei suas impressões, McLaggen, apenas uma descrição detalhada do que esta acontecendo. - O tom do Potter foi repreensível, mas Rose sentiu a necessidade de defender seu esquadrão, ainda que eles não passassem de contornos mal definidos em suas lembranças.

 

— Todos eles foram muito bem treinados. - Ela se dirigiu unicamente ao jovem auror, mas não se atreveu a tirar os olhos da batalha ao seu redor. - Não houve tempo pra nada, entretanto. Assim que chegamos, fomos atacados. Deveria ser uma emboscada, mas eles estavam a nossa espera... foi uma armadilha.

 

Novamente a cena se desfez e refez diante de seus olhos, levando os quatro para dentro da casa, que agora era pouco mais que escombros em chamas.

 

— Quanto tempo se passou desde ultima memória? - Indagou Harry.

 

— Eu não sei, não consigo... - As palavras ficaram presas em sua boca quando Rose viu um volto ruivo atravessar um quadro, perseguindo uma figura encapuzada.

 

Não houveram mais palavras ou qualquer tipo de explicação, ela simplesmente seguiu a si mesma, sabendo que os demais estariam em seu encalço.

 

Através do retrato de uma mansão enorme e abandonada, se erguiam grandes estatuas ao longo de um corredor escuro, com diversas portas em seu percurso.  No meio daquela passagem, protegida atrás de uma escultura de cavaleiro medieval, a antiga versão da ruiva duelava com um bruxo que tinha a face oculta pelas sombras. Centelhas coloridas cortavam o ar, verdes e vermelhas, clareando a atmosfera lúgubre.

 

Um grito fino e infantil preencheu o lugar.

 

Rose sabia o que vinha a seguir, mas não pode tirar os olhos de si mesma.

 

A ruiva sentiu o medibruxo se aproximar, cauteloso, enquanto ela via cada momento seguinte em câmera lenta. Observou o feitiço de proteção que conjurou. Assim, como uma luz verde que recocheteou em seu escudo, atingindo o bruxo que a lançou e o atirando contra a estatua mais próxima. Então, vislumbrou o exato momento onde percebeu uma movimentação atrás de si e, ainda que fechasse os olhos, poderia enxergar o clarão verde que se aproximava.

 

Quase não teve tempo de se proteger, mas ser pega de surpresa teve um custo e o feitiço seguinte a acertou em cheio. Rose suspirou aliviada quando a imagem se desfez novamente pouco depois que seu eu antigo foi estuporado pelo bruxo desconhecido.

 

Sugada novamente, desta vez para fora da penseira, a ruiva se sentiu momentaneamente instável. Aceitando de bom grado o apoio silencioso oferecido pela mão de Draco em seu ombro, Rose olhou em volta, tentando se readaptar a claridade da sala de interrogatório.

 

— Não há nada de novo em qualquer dessas memórias. - Riven comentou despreocupadamente, enquanto pegava a pena de repetição e o bloco que ainda flutuavam no ar. - É uma perda de tempo, se quer saber. Nem é como se houvessem indivíduos desconhecidos para investigar, você simplesmente não lembra de ninguém. Tem qualquer pista daquele dia na sua mente, que não sejam sombras ou vultos indeterminados?

 

— McLaggen! - Potter interviu mais uma vez, percebendo a visível frustração no semblante da ruiva. - Posso aparentar ser um homem paciente, mas asseguro a você que é apenas isso, aparência. Vou lembra-lo mais uma vez que você é um escrivão no caso e agradeceria se me deixasse conduzir o depoimento, sem mais interrupções.

 

— Sim, senhor. - A resposta foi ligeira, acompanhada de um sorriso amarelo e atrapalhado de quem tentava, mas não conseguia evitar meter os pés pelas mãos.

 

— É como um sonho, não posso distinguir seus rostos, porque nem sei se já os vi antes. - A jovem iniciou em um tom suave e, jogando uma rápida olhada para a criança ainda adormecida, ela continuou. - Mas sei que estava atrás de Sofie. Podia ouvi-la, cada vez mais perto. E, sei também, que nem todos com quem duelei eram os mesmos partidários de Voldmort que mantiveram Sofie em cativeiro.

 

— S-se me pe-permite, senhor? - Perguntou o jovem auror, com um olhar cauteloso para Harry antes de se dirigir a Rose, sem esperar a resposta do superior. - Como pode ter tanta certeza?

 

— Não estou dizendo que ele não trabalhou para armar todo aquele circo. - Ela respondeu, mesmo achando que o chefe dos aurores fosse ignorar a pergunta e refaze-la aos seus moldes. - Mas o único detalhe que vi com clareza foi o braço que controlava a varinha. Então, eu sei que ele era canhoto e não tinha a marca negra.

 

— Talvez isso restrinja mais a procura pelos responsáveis. - Apontou Harry, indicando ao outro auror que mantivesse a pena trabalhando. - Poucos são os grupos que não se submetem a marca negra, creio que devemos fazer uma visita a Azkaban e conversar com alguns seguidores de Tom Riddle.

 

— Não sei porque ele me atacou ou o motivo de não ter a marca, mas não vai adiantar falar com membros desses grupos. Esse bruxo não fazia parte daquele covil, não sem uma marca. Pode acreditar em mim... - E, na intenção de provar o que dizia, Rose puxou a manga da roupa que estava vestindo, revelando o antebraço esquerdo. - Sei bem do que estou falando.

 

...

 

De volta a sala além do vidro enfeitiçado, o silencio cresceu entre Scorpius e Alvo. Tenso e palpável, ao ponto do loiro sentir dificuldade em respirar. Preso num torpor ministrado pela angustia. Mas, vendo a marca naquela pele pálida e suave, ele voltou a si com uma descarga de adrenalina.

 

O loiro sentiu o corpo inteiro formigar de raiva. Algo parecido com a sensação que experimentou ao saber que haviam anunciado o fim das buscas pela jovem. Porem, diferente daquele dia, Rose estava bem na sua frente e o extinto de proteção foi maior que a sua fúria.

 

— Scorpius, eu não acho... - O Malfoy bloqueou as palavras do amigo e se esquivou quando o mesmo tentou impedi-lo de invadir a sala de interrogatório.

 

Foi um impulso impossível de controlar. Scorpius se sentiu impelido a estar mais perto dela. Apenas isso.

 

Quando entrou na sala, não sabia o que falar para o pai, que o encarava espantado, ou para o chefe, que, por mais compreensivo que fosse, certamente estava a um passo de repreende-lo. Não devia uma unica explicação ao McLaggen, mas não seria capaz de dizer qualquer coisa que fechasse aquela boca absurdamente grande e inconveniente, que estava a passos de falar mais alguma besteira.

 

De qualquer forma, tudo se apagou da sua mente em questão de segundos depois que ele entrou. Os olhos do loiro correram a sala, passando por cada um dos ocupantes e quando se encontraram com os dela, foi como reviver seu primeiro jogo de quadribol. Emocionante, aterrorizando e emocionante outra vez, tudo em micro instantes.

 

— Scorpius! - Ela se aproximou como um raio, enquanto ele ficou tão rígido quanto uma estatua. - Não acredito que vou falar isso, mas é muito bom ver alguém conhecido. Ainda que esse alguém seja você, Malfoy.

 

Emocionante! Esse, com certeza, era um desses momentos.

 

O tom de provocação na voz dela o instigou, como sempre acontecia nos tempos de Hogwarts. Então, ele tocou seu rosto, garantindo que não eram mais uma das suas alucinações se misturando à memorias do passado.

 

Era ela!

 

De repente, poucas coisas importavam. A marca ou qualquer pessoa os observando, tornando-se rapidamente insignificante.

 

Só o lhe que interessava era o sorriso dela e a forma como seu corpo se moldava ao dele quando a ruiva se jogou em seus braços, em um abraço de puro reconhecimento. "Exatamente isso", Scorpius pensou com certo alivio. "Era reconhecimento".

 

Porque Rose Weasley lembrada dele. E isso era muito importante.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Me conta o que achou.
Vou te esperar nos comentários.



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