As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 76
A força de um anjo


Notas iniciais do capítulo

Oi!!
Viu como vocês me motivaram a voltar rapidinho??? Rsrsrsrs, bom, não achei grande coisa, mas o final contem uma dica importante do que acontecerá logo, logo...
Boa leitura:



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THALIA

Não suportei vê-lo. E como poderia? O único em que eu havia confiado usara meu medo contra mim, usara minha família contra mim. Levantei da cama em um pulo e assim que meus pés tocaram o chão pensei pisar em fogo; foi como se jogassem sal sobre a ferida ainda um pouco aberta. Luke me barrava a todo o instante o caminho, me confinando aquele cômodo com um garoto... Ele pegou minhas mãos em um movimento rápido e me prendeu contra a parede com as mãos para cima. Por dois segundos não senti dor, não senti frio, eu só... Só via aqueles olhos penetrantes que assombravam meus sonhos, mas não fiquei com medo, mas sim encantada. Cheguei a esquecer Ártemis e pensar que poderia sentir seu beijo de novo enquanto nossos dedos começavam a se entrelaçar... Então veio a pontada de dor no ombro. Achei que tinha sido esmurrada e jogada ao fogo, talvez até um castigo da deusa por me deixar levar. Meus pés ardiam e deslizei pela parede com os olhos apertados de dor e de medo; eu não suportaria vê-lo sem ver passado e presente colidirem com força em mais uma dor indescritível.

Ele me puxou para seu colo, ajeitou meu braço para que eu não sentisse tanta dor e me apertou contra seu corpo. Só pensei em respirar aquele ar, aquele cheiro dele enquanto descansava a cabeça em seu ombro. Busquei apoio com a outra mão, torcendo para que ele não sentisse o quanto estava tremula.

[...]

Minha cabeça girava e meu peito pesava. Fiquei acordada por mais duas horas sentindo apenas o calor da mão dele contra a minha. Por mais inocente que aquilo fosse, não consegui disciplinar meu coração. Doía demais saber que Luke havia usado meu medo contra mim; doía demais saber que todas aquelas palavras bonitas não eram sinceras. Afinal, só três pessoas conheciam meu medo de altura e uma delas era uma deusa.

Houve algum movimento na cabine e Luke soltou minha mão.

–O que...? – a voz era estranha.

–Como estão as outras duas? – sua voz foi ríspida.

–Estão bem eu acho. Nenhum homem se atreveu a descer no porão depois daquela sua cena... – ele engoliu em seco – Hum, quer dizer, depois da sua clara ordem. As víboras as alimentam duas vezes ao dia, mas ficam sozinhas no restante do tempo.

–Bom. O que te trouxe aqui?

–Parece que houve algum problema na cabine de controle onde necessitam de você. E... Bom, a empousa anda muito sentimental e...

–Não quero saber. – sua voz soou quase bruta; tive de evitar um sorriso sorrateiro – Bom, vá na frente; irei logo em seguida. A porta se fechou e escutei seus passos vindos até mim. Seus dedos traçando um caminho singelo pelo meu rosto – Não queria que as coisas fossem assim, Lia – senti que ele se aproximava, senti o calor de seu corpo separado do meu por milímetros, mas não me atrevi a abrir os olhos; ele recuou sem realmente encostar em mim – Prometi não tocá-la. Se você soubesse o quanto isso ainda doí... – sua voz se afastou e novamente ouvi a porta se abrir e fechar.

Abri os olhos e me sentei devagar. Dei uma olhada em meus pés: estavam bem aparentemente, mas ainda formigavam como se precisassem de mais um tempo de descanso. Eu ainda não conseguia movimentar o braço esquerdo. Levantei e dei uma olhada naquele quarto tão dele. Seu cheiro impregnava toda a cabine de uma forma que me deixava quase sem ar. Abri seu guarda roupa e rasguei uma camisa, trincando os dentes, consegui fazer uma tipoia improvisada. Antes de colocá-la, vesti uma blusa de frio preta que encontrei no armário. Peguei outras duas para as meninas. Involuntariamente, estremeci pensando que meu corpo estava tocando a mesma blusa que sua pele já havia tocado... Deuses! Desde quando eu me pareço com uma sonsa apaixonada? Sou uma Caçadora! Eu... Eu só fiquei presa em um momento de nostalgia. É. Foi só isso.

Na ponto dos pés saí da cabine e andei lentamente por entre os corredores. Fiz o possível para me parecer com os tripulantes, pelo menos no porte. Sei que Luke havia dito que não me impediria de fugir, mas eu duvidava de suas palavras do mesmo modo que duvidava do seu exército. Comecei a me sentir exausta quando enfim encontrei a porta para o porão. A escada era longa e escura, o ar vindo de lá era “quente” de uma maneira incomoda e não natural, entretanto, isso não impedia as paredes e o chão de serem frios. O cheiro forte de sujeira me deu ânsia; sei que não vomitei porque meu corpo não tinha nada para por para fora. Continuei andando ignorando os calafrios.

Parei em frente a cela. As duas meninas me olhavam aliviadas, mas expressavam dor. Corri para a parede do fundo e localizei a chave. Fui logo lhes dando as blusas de frio e ajudando-as a vestirem.

–Venham. Temos que ir embora de um jeito ou de outro.

–Isso é uma ideia suicida! – a voz de Sophia soou abafada.

–Mas é melhor morrer lutando pela vida do que simplesmente entregá-la. Venham!

Saímos do porão com facilidade e agradeci pelas blusas de Luke serem grandes o bastante para esconderem o prateado das roupas delas. Conseguimos chegar a proa. Um vento forte pareceu querer me erguer do chão e me jogar de encontro as ondas. Raios caiam do céu e as ondas estavam muito agitadas para o meu gosto.

–Ouvi os traidores disserem que faz muitas noites que não tem luar. – Sophia murmurou – Acham que Lady Ártemis sente nossa falta?

–Clara que sim, pequena! – lhe respondi – Ela não nos abandonaria... – eu já não tinha certeza sobre isso – Hei, têm alguns botes ali.

Discretamente andamos até lá. Haviam três botes, cada um com dois remos. Olhei para a grade que impedia a minha queda até as ondas. Não havia quase ninguém na proa, então não foi problema para a pequena Sophia cortar as cordas e empurras o grande bote amarelo para o mar cinza-esverdeado. Uma de cada vez, Baheera e eu com dificuldade, subimos na grade e pulamos. A menina, pegou um remo e, sozinha, remou por cinco minutos. Virei para o navio e soprei todo o ar que ainda existia nos meus pulmões; um vento forte nos empurrou para a frente e nos levou para quase uma milha de distância do Princesa Andrômeda. Sophia comemorou... Não por muito tempo.

Ouvi gritos já distantes e vi dois demônios marinhos – Telquines – se lançarem ao mar vindo em uma velocidade assombrosa. Baheera estava impossibilidade de remar ou de atirar, eu também, por mais que me irritasse admitir. Só sobrava a pequena Sophia.

–Sosô, você vai ter que atirar.

–Mas e o barco?

–Eu me viro. Vai logo!

Soprei outra vez desta vez muito mais forte. Senti um puxão forte no abdome e os pulmões arderam; nos movemos mais rápido. Três flechas seguidas voaram pelo céu e caíram na água. Tentei me lembrar de qualquer coisa útil, qualquer informação que eu precisasse analisar da maneira certa. Soprei tudo o que havia nos meus pulmões. Quíron havia dito que o o Princesa Andrômeda era protegido por uma magia que não permitia a sua localização. Enchi os pulmões. Então isso quer dizer que agora, talvez, algum deus nos ajude!

Soprei.

Claro! E logo em seguida, os Titãs vão cancelar a guerra e apertar a mão dos deuses em um pedido de desculpas, Zeus se tornaria um pai perfeito e Luke... Sacudi a cabeça e voltei soprar. Isso era um pensamento tão ingênuo que me senti realmente sonsa. Ou isso era efeito da minha falta de oxigênio.

Sosô acertou um dos Telquine no olho e logo outra flecha transpassou a cabeça do mesmo. O outro eu perdi de vista. Enchi os pulmões de ar... E gritei. A cabeça do Telquine a centímetros de mim, as garras rasgando o bote. Sophia tentou golpeá-lo com uma faca, mas não conseguiu. Logo estávamos afundando, sendo que a única que tinha grandes chances de sobreviver era Sosô. Elas conseguiram nadar seguindo em frente, sabe deus para onde, mas eu... Minha sorte é bem escassa. O Telquine me agarrou pelo tornozelo e me puxava para baixo. Me debati o tanto que me atrevi, mas eu estava sem ar, com o lado esquerdo do corpo queimando em dor e aquele claramente não era o meu elemento.

Já muito mais baixo do que eu conseguiria ou me atreveria a chegar, eu não via as meninas, mas senti um movimento na água, um tremor e uma luz forte divina. Um "garfo" dourado transpassou o demônio como se ele fosse feito de ar... E meu corpo começou a ceder... Senti uma mão forte me apoiar o corpo e logo eu me via dentro de uma enorme bolha de ar. De olhos fechados, me senti ofegar e a minha bolha exclusiva se mover. Sei que fui levada até a superfície pelas mãos grandes e fortes, mas principalmente por sentir o ar puro e frio acompanhado pelo cheiro de maresia. Assim que senti algo sólido contra o meu corpo, cuspi toda a água salgada que se instalara em meu corpo.

–Nossa! Vocês têm noção do quanto o sumiço de vocês têm afetado Ártemis?

A voz só podia ser de Poseidon. Voltei a me engasgar. Parecia haver meio quilo de sal na minha garganta.

–Por que me salvou? – mal perguntei e já tive outro ataque de tosse.

–Sou um deus generoso...

–Claro, e eu sou filha de Afrodite. Não consegue ver minhas roupas cor de rosa? – perguntei com escárnio – Ártemis te ameaçou? – perguntei mais baixo esfregando a garganta com a mão livre.

O deus me enrolou em uma toalha.

–Ah, ela ficou louca quando eu senti três intrusos no meu mar. – revirei os olhos – Seu pai também pediu que eu a poupasse – eu sentia a profundidade do seu olhar – Mas, acho que devo confessar algo a você, menina: andei pensando no que me disse no solstício.

Estávamos em navio pequeno, mas luxuoso e confortável.

–Vamos para dentro – Poseidon me ajudou a ficar de pé e me guiou para o interior onde Baheera chorava em silêncio e Sophia dormia. Soltei minha toalha e tentei tirar a blusa para me secar direito, mas a dor na clavícula foi o bastante para eu pensar em desistir; o deus me ajudou com uma gentileza que eu não esperaria dele. Logo eu estava encolhida sobre uma poltrona e meu tio me oferecia uma caneca com um liquido doce quente.

–Você não pode ir atrás do Princesa Andrômeda e... Sei lá! Destruí-lo com um onda gigante? - perguntei depois de um generoso gole; ele se sentou a minha frente.

–É o que eu mais quero fazer, mas existem demônios antigos protegendo o navio dos meus olhos, como você bem sabe.

–O que aconteceu de interessante nesses dias? - perguntei por perguntar, já que o silencio de um deus não era muito agradável.

–A resposta não vai te agradar: o sumiço de vocês é o assunto mais falado do momento. Afrodite insiste em dizer que houve, ah, algo especial nesses dias embora nenhum ser divino tenha visto. - ele me observou atentamente como que esperando eu compreender o óbvio. Como eu detestava o fato dos deuses conhecerem o meu passado...

–É claro que ela disse.

[...]

Poseidon nos deixou numa pequena praia isolada, nos disse para seguir ao norte e sumiu com o seu barquinho luxuoso. Primeiro corremos, depois andamos. Já embrenhadas no mato eu senti os pés latejarem. Paramos por alguns minutos e Baheera começou a realmente chorar, com direito a soluços violentos e um nariz melecado.

–Ártemis nunca vai me aceitar de volta! - ela exclamou com uma tristeza que tocaria a alma de qualquer um.

–Mas é claro que ela vai...

–Eu sou inútil, Thalia! Eu não tenho mais uma mão. Não posso atirar com o arco, sou horrível com a faca e... Eu sou tão inútil... - os soluços faziam com que ela sacudisse os ombros de uma forma que não me permitia fazer. Com a mão boa, eu a puxei para um abraço; não forte, já que nenhuma de nós aguentaria um aperto.

–Hei... Eu sei Ártemis vai ajudá-la... de alguma forma - minha voz falhou embargada; eu não sabia o que a deusa faria, mas não podia se livrar da garota - Se você sair da caçada - enxuguei minha lágrima ainda no canto do olho - eu saio junto.

–Não! Você...

–Vou fazer o que tiver de fazer.

Voltamos a andar, as duas na frente e eu com os pés em brasa para trás. Não demorou para encontrarmos a deusa e as outras meninas, todas agitadas. Se aglomeraram em torno de Baheera para ver os danos e Clara se apressou a cuidar de Sophia. Demorei um minuto a mais sentindo os pés descalços formigarem; consegui chegar a tempo de ouvir a deusa e a menina mutilada.

–... Sei que não poderei mais ser útil e... – ela desatou a chorar.

–Minha querida, você agora mais do que nunca é uma Caçadora. Lutou, sobreviveu – minha irmã enxugou as lágrimas e olhou para o céu, o sol sendo apenas uma última linha no horizonte; ela fez um gesto indescritível e lindo com as mãos e no mesmo instante em que o sol sumiu e a lua pode brilhar sozinha, uma mão de prata surgiu para Baheera. Tão igual a que perdera, mas feita de luz, feita de prata divina – Sua mão aparecerá a cada noite no momento de nossas caçadas, mas não posso fazer nada durante o dia...

Não entrei no meio do grupo, mas fui para a minha tenda já arma. Moonbean me esperava pacientemente; assim que me viu não parou de saltitar até me derrubar ao chão as gargalhadas e lambendo minhas bochechas. Me levantei e entrei de baixo do chuveiro. Sai vestindo um pijama quentinho e com os cabelos úmidos ainda usava a tipoia improvisada. Ártemis me esperava sentada na cama; sorriu ao me ver e me convidou a sentar em sua frente. Ainda em silêncio, ela escovou meus cabelos sem presa e com cuidado.

–Minha menina corajosa – sua voz me embalava, me fazia acreditar – Sei o que fez.

–Sabe? – não tinha medo ou receio em minha voz, apenas confusão; tinha acontecido tantas coisas.

–Zeus me contou como enfrentou seu medo. Thalia, não sabe o quanto estou radiante. A cada dia me orgulho mais de ter como tenente.

[...]

Depois de duas semanas da nossa volta Baheera se acostumou com a nova mão, depois com a proximidade da chegada do verão ganhamos um “dia de folga”: as meninas iriam passear livremente por NY. Mas eu havia aceitado o convite da deusa; iria com ela para o Olimpo para outra reunião, tendo a promessa de depois curtir o resto do meu dia como uma adolescente normal.

Já estávamos na sala dos tronos e eu fiquei deitada no canto em um sofá conjurada só para mim. Com os fones de ouvido, fiquei horas ouvindo músicas deprimentes e ignorando os olhares atravessados que muitos deuses me lançavam.

LUKE

Deitado na minha cama, eu deveria estar dormindo, compensando as noites que passei em claro olhando para aquele lindo anjo machucado, mas não. Eu estava lá, deitado sentindo o cheiro que, mesmo depois de semanas, ainda estava lá me lembrando do que poderia ter sido.

Sei que havia prometido deixá-la ir, mas... Mas... Bom, ainda doía ver ela deixando minha vida. Talvez a verdadeira força não seja a física, e sim o fato de suportar a única pessoa importante e especial sair da sua vida lentamente, gradativamente e no decorrer de um respirar não estar mais lá.

–Senhor – Caio entrou no quarto com o semblante sério – Está na hora de irmos ao Mundo Inferior. O senhor Cronos ordenou que antes você colocasse em prática o plano de distração...

–Sim, é claro.

Minha indiferença o chocou, mas ele saiu do quarto.

Minha cabeça pesava; eu não sabia mais se queria tudo aquilo. Eu realmente queria uma guerra? Querendo ou não querendo os deuses a mereciam... Mas e ela?


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Notas finais do capítulo

Até logo, meus amores...