As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 51
A verdade é uma magia...


Notas iniciais do capítulo

Oiii :)
Não vou enrolar vocês, boa leitura:



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THALIA

Bom, tá certo que o centauro disse que era importante e que eu tinha que ir rápido, mas obedecer não é e nunca será meu forte. Fui para meu chalé planejando tomar um banho; dessa vez, levei a troca de roupa comigo. Soltei meus cabelos úmidos tanto de suor quanto de água, me livrei das roupas e me deixei relaxar embaixo da água fria. Depois, vesti um short confortável quadriculado em tons escuros de azul e uma regata cinza. O conjunto poderia e não poderia ser um pijama, mas eu não me importava. Já era tarde e eu estava cansada.

Sai da suíte caminhando descalça pelo chalé. Parei na frente da penteadeira, peguei uma escova e comecei a desembaraçar os fios sem presa até meu olhar voltar para o colar que eu tinha deixado hoje cedo. Tentei, juro por qualquer deus que eu tentei, mas não pude deixá-lo para trás de novo. Coloquei a corrente em volta do pescoço e escondi o pingente com as fotos dentro da blusa. Peguei uma rasteirinha e sai do conforto isolado do meu chalé.

Caminhei pelo acampamento deserto me sentindo em paz; era magnífico não ser alvo de tantos olhares. Era como se eu fosse forçada a ser forte para eles. Eu era o modelo... Será que Zeus se cansava de agir sempre como um ser superior? Acho que não, mas eu queria estar errada. Os campistas estavam todos em suas mesas jantando e quando passei senti quase todos os olhares se voltarem para mim; ignorei todos e, mesmo sem olhar, sabia que o centauro não estava ali. Ele me esperava na casa grande.

Os olhares pareciam me seguir, como se cada um procurasse uma fraqueza minha, algum deslize ou tentavam concluir se os gêmeos estavam certos ou não. Abri a porta da casa grande e caminhei até a sala onde uma musica horrível tocava. Eu confesso que tenho um gosto musical muito bem definido e que posso ser chata em relação a isso, mas aquela musica era de dar dor de cabeça...

–Pedi que viesse rápido e a mocinha me deixa esperando cerca de meia hora. – o centauro, ou melhor, Quíron estava sentado em uma cadeira de rodas e me olhava duramente. Coitado, já vi olhares piores e ele não vai conseguir me deixar mal. Já passei por coisas de mais para dar importância à opinião de um velho.

–Eu concluí que essa conversa iria demorar. E você vai ter que me perdoar se eu não aguentar passar um tempo desnecessário fedendo a suor e com o corpo dolorido. E não exagere; foram no máximo 20 minutos – disse sem realmente me importar com a reação do diretor.

–Acho que esta certa. A conversa talvez demore. Por essa razão, jantaremos aqui. – sentei em uma poltrona confortável e, como se já fosse de casa, puxei meus pés para cima grudando-os ao meu corpo. Eu tinha a impressão de que a conversa não seria tão agradável.

De algum canto, eu não faço idéia de qual, um sátiro saiu carregando uma bandeja com dois pratos: arroz integral, peito de frango e salada de alface e cenoura. É isso mesmo, eles levam alimentação bem a sério por aqui. Eu estaria contente com uma linda barra de chocolate.

O sátiro deixou um prato com Quíron e, sem me dirigir o olhar ou a palavra, veio até mim; deixou o prato na mesinha de centro na minha frente, que me separava de Quíron, e, antes que ele saísse e que eu perdesse a certeza, levantei o rosto do sátiro com um dedo. Senti o corpo dele estremecer de medo; acariciei aquele rosto que havia feito falta.

–Quer dizer que você vai me ignorar? – dei um meio sorriso, indicando que ele podia se acalmar.

–Não deveria ter falhado com você. – o sussurro foi quase inaudível. Grover desviou seus olhos dos meus.

–Não falhou comigo. Nunca falhou com nenhum dos três. Um de nós não iria conseguir chegar.

O diretor de atividades permanecia calado; o queixo apoiado na mão, ele observava com interesse o desenrolar da conversa.

–Eu devia ter me sacrificado... Tinha que ter sido eu!

–Não. Não tinha. Não era o certo... – minha voz era firme, embora eu tentasse manter ainda um tom reconfortante. Continuava sentindo o peso do dom de Atena e não me atrevia a contar a ninguém.

–O que tinha de certo em você dar vida por nós? – ele estava com uma culpa pesada em seu coração; sua voz começou a ficar embargada e os olhos brilhavam. – Eu era o seu protetor, Thalia! – exclamou com angustia.

Entreabri a boca... Aquilo era tão familiar...

–Mas e você? – Luke quase gritou – É justo você dar a vida por todos nós? O que há de certo nisso, Thalia?

–Tudo! Eles querem a mim e não a vocês. Vocês estão feridos por minha culpa, mas deviam estar bem.

Droga! Por que, de repente, agora, tudo me lembrava ele? Respirei fundo e apertei a blusa onde o pingente descansava. Quíron reparou o movimento.

– Certo; você era o protetor. E daí? Isso não quer dizer que tinha que dar a vida por mim. Você cuidou de nós como pode. – ele fungou e tentou contestar – Você se lembra que isso foi escolha minha? Virmos todos nós? Então a culpa de não chegarmos todos é minha.

–Mas...

–Eu não podia perdê-los. – ele baixou a cabeça – Nenhum de vocês. Cada um era uma parte de mim que eu não suportaria viver sem... – ele levantou os olhos – Você é minha coragem, Grover. Não por que você nos trouxe e nem de forma irônica por não conseguir salvar todos.

–Não mereço ouvir essas palavras... – ele balançou a cabeça de forma negativa; Quíron continuava olhando para nós com bastante interesse. A voz de Grover se tornou um sussurro – Você fala como uma deusa... É mesmo filha de seu pai... Não mereço, não mereço...

–Chega de se culpar, Grover. – meu tom foi firme, mas tinha preocupação presente; ele parou de murmurar e realmente fitou meus olhos – Você teve a coragem de tentar. Não desistiu de nós, mesmo tendo que enfrentar desafios que todos os sátiros recusariam. Sabe como pessoas com você são raras?

–Naquele dia...

–Foi escolha minha. Nunca tive pessoas tão maravilhosas junto de mim. Você sempre será um protetor, mas isso não quer dizer que os heróis não possam dar a vida por vocês, sátiros. É tão importante quanto nós...

Levantei da poltrona e fiz algo que deveria ter feito antes: envolvi o sátiro em um abraço apertado e correspondido. Meu amigo precisava se livrar daquele peso morto e incomodo e era eu quem tinha que livrá-lo da culpa.

–Obrigado, Thalia. – ele sussurrou e se afastou. As lágrimas caiam agora. Sequei algumas e sorri. Grover foi embora depois, assim que se sentiu envergonhado. Voltei a me sentar e pude ver o sorriso de Quíron.

–Foi uma atitude muito bela e nobre a que você teve – sua voz era reconfortante, só agora reparei que a musica tinha parado.

–Ele se culpava por uma escolha minha...

–E você teve a gentileza de tirar um grande peso dos ombros do sátiro.

–Eu só disse a verdade.

Ele fez silencio por alguns segundos.

–A verdade é uma magia, Thalia. – meu rosto transparecia dúvida – Essa magia pode curar muitas dores, como as de Grover, ou podem destruir almas, pouco a pouco, como as escolhas feitas por Luke. – prendi a respiração.

–É dessa magia que você vai me falar?

–Sim e não. Todas as perguntas que te perseguiram no caminho para o acampamento, eu responderei. E contarei sobre o tempo em que ficou... Bom, fora de nós.

Mas eram tantas... Ao mesmo tempo, Quíron e eu começamos a comer.

–Por que Hades me queria morta? – perguntei a primeira coisa que lembrei.

–Imaginei que essa seria sua primeira pergunta. Thalia, existe uma lei, um pacto se preferir, entre os Três grandes...

–Zeus, Poseidon, Hades.

–Isso mesmo. Eles não deveriam mais ter filhos com mortais. Os semideuses eram extremamente poderosos e causavam muita destruição. Mas não foi somente por este motivo que o pacto foi feito. O oráculo nos deu uma profecia; e essa profecia nos assombra até os dias de hoje.

–Um meio-sangue, um filho de um dos três grandes faria alguma coisa, não? Algo que irritasse os deuses de alguma forma. – deduzi o que parecia já ser óbvio.

–Quase isso. O herói ou heroína faria uma escolha – senti o sangue gelar e um súbito peso sobre meus ombros – uma escolha importante e que decidiria todo o destino do Monte Olimpo quando chegasse aos 16 anos.

Ele voltou a me observar. Será que Atena tinha me concedido o dom de propósito? Será aquilo apenas uma garantia de que a escolha fosse benéfica aos deuses? Senti-me irritada. Não suportaria ser usada por divindades egoístas.

–Percy e eu somos os únicos que se encaixam nessa profecia? – a pergunta penou em sair dos meus lábios.

–Até onde se sabe, sim.

Eu sentia um leve choque percorrer o corpo me dando a certeza de que aquela resposta estava errada. Eu sentia que ainda descobriríamos algum filho de Hades. O deus nunca era tão inocente assim.

–O que mais tem para me contar? – decidi quebrar meus pensamentos já inquietos.

–Luke foi o causador do envenenamento do seu pinheiro...

–Eu já sei – talvez tenha sido um pouco mais grossa e ríspida, mas soei apenas mal humorada. Quíron pigarreou.

–E de quem soube?

–Percy tentou me contar, mas isso não importa. Eu o vi despejar o veneno, eu senti aquilo me queimar e entrar no mais fundo de mim. Não precisei que ninguém me contasse.

Ele arregalou os olhos, mas disfarçou.

–Ele foi o responsável pela primeira missão de Percy, roubando o elmo de Hades e o Raio-Mestre de seu pai. Ele planeja erguer o Titã Cronos do Tártaro...

Tártaro... A palavra ecoou em meus ouvidos... Cronos... Escutei uma risada gelada que mais se parecia com o som de facas arranhando rochas. Era então isso que assombrava Luke enquanto fugíamos? Mas ele nunca antes tinha cedido...

–... As forças de seu exercito crescem a cada dia. Monstros novos são liberados até mesmo do Tártaro e logo todos os Titãs voltaram a caminhar na terra. Luke comanda todas essas forças...

–Espera!- pedi achando aquilo informação de mais para tempo de menos – Nada contra os deuses e suas causas, mas por que seria ruim ter os Titãs sobre a terra?

Ele me estudou por algum tempo.

–Você nunca estudou isso em história? – ele estava confuso.

–Na verdade, eu nunca fui para escola nenhuma. Sei ler e escrever e aquela chatice que é matemática por que o agente da minha mãe quis me ensinar. Se dependesse dela nem nascido eu teria.

Ele estava estático.

–Mas sua mãe...

–Nunca tive mãe ou pai, nunca tive ninguém para cuidar de mim, então me veja como um indivíduo independente desde os dois anos de idade.

Ele engasgou com a comida, mas continuou.

–Os Titãs não se importam com a humanidade, vivem somente para si. Fora outros aspectos mais detalhistas.

–Seria o fim dos humanos. - conclui

– Seria. Mas ainda é Luke que comanda tudo isso. – por que sempre tínhamos que voltar a esse nome?

–Por que você sempre volta a esse assunto? – coloquei o prato de volta na mesa, com metade da refeição intacta.

–Luke era um bom herói, um guerreiro excelente. Sempre foi mais fechado quando alguém perguntava sobre você ou sobre o passado de vocês dois com Annabeth. Eu espero que talvez ainda haja uma chance de trazê-lo de volta para a nossa causa. – ele olhou fundo em meus olhos – Você é a chance, Thalia.

E você espera que eu faça o que? Ele me envenenou, lembra? – esse era o grito que eu sufoquei.

–Não vai funcionar. – fui firme.

–Por que não? Você disse que eram como irmãos, bem próximos, talvez haja...

–Quíron ele não se importa mais! – ele me olhou espantado. – Se ele se importasse não teria envenenado o pinheiro e não abandonaria Annabeth. Essa idéia não vai funcionar.

–Thalia, eu acredito que envenenar o pinheiro tenha sido idéia do Senhor Titã, traria você de volta e ele talvez tivesse outra chave para controlar a profecia.

[...]

Ele começou a falar sobre a Nevoa e como manipulá-la para enganar mortais. De acordo com o velhinho, por ser filha de Zeus, o senhor dos céus, eu tinha grande domínio sobre o elemento ar. Isso facilitaria minha compreensão sobre como manipular esse véu entre realidade e fantasia.

A verdade sobre manipular a Nevoa? É muito cansativo! Quíron me fez praticar por tantas vezes que essa se tornou a verdade. Eu me concentraria em uma mentira e, estalando os dedos, poderia induzir a “neblina” a mudar a realidade. Fazer isso uma ou duas vezes é algo até divertido, quase normal, mas fazer o véu mudar diversas vezes seguidas era exaustivo demais para continuar em pé.

Senti minhas pernas fraquejarem e voltei a cair sobre a poltrona, arfando buscando ar puro para pulmões desesperados. Meu corpo parecia estar em febre e o ar, antes frio, agora, era tão quente quanto meu corpo. Era tarde da noite já, talvez 11 ou meia noite.

–Acho que você entendeu.

–Concordo – respondi ainda retomando o fôlego.

–Amanhã vou levar você a sua nova escola; um internato para moças. – fiz uma careta; com certeza seria um lugar com menininhas meigas e mimadas. Quíron riu – Talvez te agrade saber que Annabeth estudará com você. – suspirei aliviada. – Eu gostaria de levá-la em um lugar diferente antes de você conhecer a escola também. Então até amanhã.

Saí rápido da casa grande. Andei devagar me dando tempo para pensar sobre este outro lugar, essa surpresa de Quíron. Ótimo! Eu detesto surpresas... Mas não pude pensar mais já que as harpias pensavam que eu era o novo jantar.

Saí correndo até meu chalé e lá, me entreguei ao sono.


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Notas finais do capítulo

Grover, nosso sátiro corajoso, apareceu!
Luke, Luke, Luke... Já começou a atormentar a mente da menina...
Mereço coments? Fantasminhas vão se manifestar?
Bjss