As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 12
Não somos os únicos a invadir um hotel




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AFRODITE

Que menina mais inteligente!

Aquele plano era genial. Não existia a menor possibilidade de falhar. Até Atena sabia disso e estava totalmente chocada ao meu lado.

Sem comentários!

Thalia estava simplesmente andando quando o garoto notou que estava sendo observado. Quando ele cravou seus olhos castanhos nos dela... Coitadinho! Ele nunca teria aquela menina. O coração dela já pertencia a outro.

Ele se aproximou lentamente de Thalia com um sorriso no rosto.

- Oi.

-Oi – Thalia responde timidamente colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Esse truque nunca falha!

-O que aconteceu com você? – ele pergunta com tristeza, mas com muita curiosidade.

- Fugi de casa há alguns dias. Tenho vivido nas ruas desde então... Até eu me deparar com este hotel. – Thalia responde com a voz fraca.

Pelo rio Estinge... Aquela menina era uma atriz P-E-R-F-E-I-T-A. Não cometia um misero erro. Cada detalhe, desde sua voz até o seu olhar, não havia falhas. Claro, sua mãe era uma excelente atriz e... Bom, como dizer? Zeus também tem seu lado dramático.

-Nossa você deve estar exausta! E com muita fome, eu suponho. - seus olhos tinham um brilho diferente agora. Um sorriso brincava em seu rosto. – Ricardo – ele gritou

- Sim, senhor? - Um homem alto respondeu.

- Quero que compre roupas novas para essa bela garota.

 - Sim, senhor.

- Ótimo. Agora pode ir.

O homem alto foi em direção às ruas e desapareceu em uma esquina.

- Você tem um mordomo? – Thalia perguntou incrédula.

- Tenho sim. Basicamente é ele quem cuida de mim. – O garoto nem conseguia tirar os olhos de Thalia.

-Mas e os seus pais? – Pronto. Thalia havia tocado em um ponto particularmente doloroso tanto para ela, tanto para ele.

- Bom, eles não estão muito presentes na minha vida... Acho que na verdade nunca tive pais. – Ele tirou os olhos de Thalia e olhou para cima tentando conter as lagrimas.

Thalia viu sua chance de se aproximar ainda mais. Ela segurou delicadamente uma das mãos do rapaz e se aproximou devagar. Ele olhou para ela surpreso, mas não a afastou.

- Eu sei exatamente o que você sente. – Thalia falou em voz baixa enquanto acariciava o rosto do rapaz. Ela estava aproximando o seu rosto muito lentamente do mesmo jeito que ele também se aproximava.

Thalia “percebeu” o que estava fazendo e se afastou timidamente do rapaz que por sua vez sorriu ainda mais com a timidez da garota a sua frente. Outro truque que também funciona M-U-I-T-O bem.

- Vem. Vou levar você para o meu quarto. La você vai poder tomar um banho enquanto eu peço a comida. – Ele estendia a mão para Thalia pegar.

-Não! Eu não quero te incomodar. – Thalia começou, mas parou ao ver o sorriso dele. – Alem do mais, eu nem sei o seu nome?

- Pablo. E você se chama...

- Thalia.

- Ótimo agora que sabe o meu nome não tem desculpa para recusar.

Ela pegou na mão de Pablo que a guiou para dentro do hotel.

Thalia e o rapaz foram para dentro do hotel deixando para trás um olhar triste escondido em um beco.

THALIA

O interior do hotel era incrível, mas não vou me prender em detalhes.

Ele pegou a chave do quarto e me guiou até o terceiro andar. Entramos no quarto 101.

Ele era E-N-O-R-M-E. Uma cama de casal, uma suíte, um guarda roupa enorme, um sofá... A decoração era feita por quadros espalhados pelas paredes. E tinha uma linda sacada, para a qual me dirigi (enquanto Pablo guardava suas roupas no armário), com vista para toda a cidade, mas o que me atraiu a atenção foi uma rua sem saída, um beco escuro. Olhei atentamente durante vários instantes para aquela direção procurando por um rapaz (o único) que fazia meu coração disparar.

- Procurando por mim? – Escuto a voz que mais amo nesse mundo.

O que vejo ao me virar é surpreendente.

Luke voava com seus sapatos iguais aos do pai. Ele estava a apenas alguns centímetros acima da sacada e sorria para mim. Ele pousou ao meu lado, e eu o encostei na parede, longe das portas de vidro.

- Não devia estar aqui. - eu sussurrei de frente para ele.

- Não me queria aqui? Se quiser eu posso ir embora. – Ele disse com os olhos tristes e um sorriso travesso nos lábios.

- Você entendeu perfeitamente bem o que eu quis dizer. E se o Pablo ou qualquer outra pessoa te visse?

- Ei! Calma. Eu não vou sair daqui e ele não vai me ver. – Ele sorria, mas eu percebia o ciúmes crescendo cada vez mais nele. E eu adorava isso porque eu via que ele se importava muito comigo e também pelo fato de que minha atuação estava perfeita.

-Ótimo. Eu vou entrar. – Beijei-lhe a bochecha e acariciei seu rosto – Eu volto para te chamar.

Ele segurou minha mão como na tentativa de me fazer ficar. E foi soltando-a aos poucos enquanto eu me afastava devagar.

Quando ele a soltou, me virei para as portas de vidro. Ao atravessar, não fechei as portas, mas sim as cortinas. Luke entendeu a dica. Ele poderia escutar todas as palavras ditas tanto por Pablo, tanto por mim. E se fosse cuidadoso ainda poderia ver tudo o que aconteceria.

Pablo já havia cuidado das suas roupas e segurava em suas mãos um conjunto de calcinha e sutiã listrados em preto e branco e uma toalha.

- Bom por enquanto isso é o que posso te oferecer. – disse ele me entregando o conjunto e a toalha – As lojas de roupas aqui perto estavam fechadas então Ricardo teve de ir mais para o centro da cidade o que pode demorar um pouco. Ricardo também comprou xampu e condicionador próprios para o seu tipo de cabelo que já estão na suíte.

-Tudo bem. Obrigada. - Respondi docemente com um sorriso enquanto me dirigia ao banheiro.

 Tomei um banho longo e demorado.  Removendo toda a sujeira do meu corpo e da minha alma.

Eu me sentia revigorada, minhas forças renovadas pelo simples fato de estar limpa de novo.

Sequei-me não apenas com a toalha, mas com a ajuda dos meus poderes ou talentos com o vento. O que fez com que eu me sentisse ainda melhor. Então me vesti com o conjunto listrado e sai do banheiro ainda passado a toalha em meus cabelos praticamente secos.

- Nossa... Você se seca rápido! - Ele disse sorrindo, sentado na cama.

- É. Eu me seco rápido!

Eu estava pensando em como continuar com o meu show, em como fazer tudo o que tinha planejado sem magoar ao menino que estava atrás da cortina e cheguei à conclusão de que ele se chatearia com tudo.

- Ricardo ainda não chegou? – perguntei de forma misteriosa.

Eu podia ver o rosto de Luke por trás das cortinas e vi que ele entendeu o que aconteceria a seguir. Ele não gostou nem um pouquinho.

- Não. Ele ainda vai demorar um pouco. – Pablo respondeu ainda tentando adivinhar onde tudo aquilo ia parar.

- O que você acha de... Brincarmos um pouco? – perguntei com uma voz levemente sedutora.

Eu já havia me aproximado de Pablo o suficiente para ele entender o que eu “queria”. Agarrei seu pescoço e desci as mãos até o seu peito e o joguei na cama comigo em cima impedindo-o de levantar.

- Você realmente sabe como encantar um cara. – ele disse fascinado com fato de ter uma garota em cima dele. Meus cabelos cacheados faziam uma cortina a nossa volta.

- Ah eu sei sim. Acredite você não é o primeiro que se derrete por mim. – ao dizer isso virei apenas os olhos na direção das portas de vidro, onde um garoto escondido sorria para mim.

-É claro que acredito. Afinal, quem não se derreteria por esses lindos olhos azuis?

Sorri para Pablo como se apreciasse cada palavra que ele dizia.

A verdade?

Eu não me importava nem um pouco com a opinião dele.

No fundo eu me sentia mal por estar explorando aquele ruivinho que estava sendo tão gentil comigo. Ele passava por uma situação parecida com a minha: Era órfão de pais vivos. Mas por mais que eu tivesse esses pensamentos à expressão em meu rosto continuou intacta; minha atuação perfeita.

- Então... O que você acha se eu continuar brincando? – perguntei enquanto conduzia meus dedos suavemente até seu pescoço; ele estava arrepiado.

- Adoraria. – ele disse com a voz tremula.

Fui aproximando o meu rosto do dele devagar. Quando faltavam milímetros para nossos lábios se tocarem, dei um choque leve em sua nuca de modo que ele ficasse inconsciente e o joguei no chão.

Levantei-me rapidamente e fui à direção da porta de vidro que dava para a sacada. Abri as cortinas e encontrei um rapaz totalmente chocado. Puxei-o para dentro porque, até onde eu podia ver, ele não conseguiria dar nem um passo.

- Você... Ele não... Como... Uau! – Ele não conseguia nem terminar uma frase direito. Essa ultima exclamação foi em relação a minha roupa, ou a ausência da maior parte dela.

Não pude deixar de sorrir da expressão boba que surgiu em seu rosto.

Depois ele disse totalmente chocado:

- Thalia, você matou ele?

- É claro que não! Dei um choque leve, bem fraquinho de modo que ele apenas desmaiasse.

- Você é um gênio!

- Eu sei disso. – respondi sorrindo enquanto examinava as minhas unhas de forma convencida.

-Ah é? Você sabia? – ele tentou me desafiar.

-Sim eu sabia. – disse jogando uma mecha de cabelo para trás.

Depois de um instante em silencio Luke resolve falar.

-Temos que coloca-lo no sofá. – Luke disse se dirigindo até a cama. Depois se virou para mim, que continuava no mesmo lugar, e sorriu- Então... Tá esperando o que? Vem me ajudar bonitinha.

Não pude deixar de sorrir.

Levamos Pablo para o sofá e o depositamos com calma. Bom... Pelo menos eu estava calma. Não pude deixar essa oportunidade passar. Afinal não era sempre que eu via Luke com ciúmes. Pelo menos não com um ciúme assim tão forte.

- Não precisa descontar sua raiva nele, Luke. – Disse sorrindo para irrita-lo ainda mais.

- Preciso sim. Como ele teve a ousadia de encostar-se a você...? – Ele estava começando a ficar vermelho, mas eu fui mais rápida. Joguei em sua cara uma toalha.

- Vai tomar um banho e vê se relaxa, ok? – Perguntei com a voz calma o que ajudou ele a se acalmar.

Ele respirou fundo e se dirigiu na direção do guarda-roupa e pegou uma peça jeans, provavelmente uma calça, e seguiu para o banheiro.

Como eu, ele também havia demorado.

Quando ele saiu, eu observava a vista da sacada através de uma pequena, mas não tão pequena fresta na cortina entreaberta.

 Eu não havia notado que ele tinha saído.

 Ele caminhou na minha direção e me abraçou por trás. Eu levei um susto e me virei para ele enquanto ele se divertia com a minha reação. Ele usava apenas uma calça jeans e seus cabelos estavam bagunçados, mas ainda úmidos. Virei-me levemente para o lado e soprei seus cabelos. Graças ao meu dom, agora seus cabelos estavam secos.

- Não achou nenhuma camiseta do seu tamanho? – Perguntei depois de me recuperar do susto e voltar meu olhar para a vista da sacada. Ele ainda me abraçava por trás e seguia meu olhar.

-Não. Camiseta não. Só um bando de camisas sociais, o que não faz muito o meu estilo.

Ficamos em silencio durante algum tempo, apenas pensando.

Quando avistamos algo ao longe. Muito longe. Com assas coriáceas escuras. Seu corpo todo feito de aparentemente couro. E não era apenas um. Eram três.  Elas lembravam a noite: escuras e misteriosas. Procuravam sem parar por algo, por alguém.

Eram as três Fúrias. Os mascotes favoritos do meu tio, Hades.

 Luke percebeu mais rápido do que eu e me empurrou contra a parede. Elas estavam longe demais, portanto não nos viram. Por precaução, Luke fechou as portas e as cortinas, mas sem desgrudar um só instante de mim.

Não nos demos conta do quanto estávamos próximos até nossa respiração se normalizar e Luke sorrir maliciosamente para mim. Não vou mentir para vocês, eu retribui o sorriso da mesma maneira.

- O que acha de brincarmos um pouco?- Ele sussurrou em meu ouvido com a voz rouca pelo desejo quase não contido.

Luke beijava meu ombro e ia subindo os beijos até o pescoço.

-O que você acha?- Perguntei a ele com a voz baixa, tentando ao máximo fazer as palavras não soarem tremulas.

Ele percebeu o meu esforço e prensou-me entre a parede e seu corpo. Minhas costas encostadas na parede e o corpo de Luke colado ao meu. Se ele queria me provocar estava fazendo um ótimo trabalho.

- Por favor, nunca mais faça esse tipo de encenação ou eu vou morrer de ciúmes. – ele suplicou a mim enquanto brincava com os cachos das pontas do meu cabelo.

- Se é tão importante para você... – sussurrei olhando em seus olhos levemente tristes enquanto acariciava seus cabelos.

  Luke aproximou seu rosto do meu até nossos lábios se tocarem de uma forma totalmente possessiva. Não foi como antes. O beijo não era suave, nem doce dessa vez. Foi algo profundo e passional. Cheio de desejo, o beijo era regido apenas pela paixão, como se nenhum de nós dois realmente tivesse o controle.

Fui arrebatada por ele imediatamente. Querendo mais, exigindo mais de Luke. Permiti-me embarcar na emoção do momento e aproveitar cada instante como se fosse o ultimo. Aproveitar cada caricia da língua dele na minha.

Nossas mãos eram incansáveis!

Minhas mãos percorriam todo o seu peitoral até chegarem à nuca, onde eu o puxava para ainda mais perto. Luke explorava minha cintura de um modo mais ousado, provocando diversos arrepios em meu corpo, até suas mãos descerem para as minhas coxas onde ele acariciava e explorava cada pedaço de pele exposta.

Ele segurou minhas coxas com mais firmeza, me erguendo do chão de modo que tive de prender minhas pernas ao redor de sua cintura. Ele subiu suas mãos até minha cintura de modo que eu ficasse ainda mais presa a ele.

 Depois de um tempo percebi levemente que nos movíamos. Luke me levava em direção à cama, onde se sentou comigo ainda em seu colo.

Quebramos o beijo na busca de ar. Luke respirava pesadamente. Eu estava totalmente ofegante. Pelo visto Luke conseguiu se recuperar melhor que eu. Ele passou a beijar meu pescoço mais suavemente.

Suas mãos antes mais soltas, agora seguravam minha cintura com força. Ele me tirou do seu colo, me colocando deitada na cama. Luke acariciava meus cabelos espalhados pelo colchão.

Ele deitou ao meu lado apenas descansando. Nossas mãos se encontraram e isso foi o bastante para Luke ganhar forças e me puxar para ainda mais perto. Ele agora estava deitado em cima de mim. E tirava vantagem dessa posição.  Luke moveu os lábios sobre os meus de um jeito nada inocente, em mais um beijo faminto.

- Devíamos fazer isso mais vezes. – ele disse sorrindo para mim.

Resolvi provoca-lo.

 O que posso fazer? Adoro provoca-lo!

- Invadir hotéis ou ficar aqui, nessa posição?- provoquei também sorrindo.

- Qual você acha?- Ele pergunta com uma leve nota de irritação na voz.

Não pude deixar de rir. Minha provocação estava sendo aceita e eu não podia parar por ai.

- Bom eu adorei invadir o hotel. Principalmente porque pude atuar com um lindo ruivinho. Algo que eu considerei fantástico.

A menção da palavra “ruivinho” ele já estava irritado até de mais e dizer que ele era lindo então... Ele estava levemente distraído e isso foi o bastante para mim. Eu empurrei Luke de cima de mim de modo que ele caísse ao meu lado totalmente surpreso. Agora eu é que estava em cima. Nossas pernas entrelaçadas.

Eu podia ver que Luke ainda pensava no que eu havia dito sobre Pablo. Ele estava levemente magoado com as minhas palavras, mas também estava encantado com o fato de me ter tão perto.

O silencio parecia fazer com que estivéssemos a quilômetros de distancia um do outro embora eu estivesse colada a ele. E eu detestava isso. Não aguentaria tê-lo tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

Selei essa distancia deixando meus lábios percorrerem preguiçosamente os dele enquanto ele possuía minha boca com um prazer enorme, esquecendo-se de todas as duvidas em relação a Pablo.

Estava tudo ótimo até ouvirmos as batidas suaves na porta. O susto fez com que nos separássemos. Luke e eu já estávamos sentados quando ouvimos o barulho novamente.

- Senhor Pablo, trago o que pediu. – Pude ouvir a voz calma de Ricardo, o mordomo, do outro lado da porta.

Luke e eu nos levantamos.

Luke me puxou para mais perto, para um beijo infinitamente mais profundo, com uma doçura, uma calma que nunca tinha experimentado antes. Era como se ele me memorizasse, como se aprendêssemos a sensação um do outro.

Sem quebrar o beijo fui empurrando Luke até o guarda-roupa. Quebramos o beijo e Luke se escondeu La dentro.

Ainda um pouco atordoada com o que havia acontecido dirigi-me até a porta. Abri apenas uma fresta, envergonhada com o fato de estar apenas de calcinha e sutiã.

- Ola Ricardo. – cumprimentei um pouco sem graça. O corredor estava vazio, então eu saí do quarto 101, fechando a porta atrás de mim, ficando em um corredor deserto apenas com o mordomo.

- Ola senhorita!- me cumprimentou gentilmente- Aqui estão suas roupas. E onde esta o senhor Pablo?

- Obrigada pelas roupas. Pablo esta dormindo. Ele estava exausto. Conversamos um pouco e eu o convenci a tirar um cochilo.

- Muito bem senhorita. Tenha uma boa tarde. O lanche chagará daqui a pouco.

-Obrigada.

Observei ele se distanciar até virar em um corredor e sumir.

Tirei as roupas da primeira sacola e me vesti ali mesmo. Eu usava um jeans surrado, botas de cano curto com salto (não era fino) e uma linda regata preta com o decote cheio de detalhes brilhantes que destacava os meus olhos.

Voltei para dentro do quarto 101 e corri na direção do guarda-roupa, mas antes deixando as outras sacolas com minhas roupas em cima da cama.  Se eu tivesse olhado em direção à sacada...

 Abri a porta e o chamei com a voz baixa, mas não em um sussurro.

 Luke colocou apenas a cabeça para fora. Olhou para os dois lados e... Tapou minha boca e me puxou para dentro e fechou a porta.

Meu único impulso teria sido gritar, mas isso não era muito inteligente. Luke estava colado a mim e retirou sua mão da minha boca lentamente.

Finalmente Luke havia achado uma camiseta branca e que se moldava perfeitamente bem ao seu corpo. Ele também já estava de tênis.

- O que foi? – perguntei a ele apenas movendo os lábios, mas sem emitir nenhum som.

Em seus olhos a preocupação era mais que evidente.

- Tem um deles aqui. – Luke, como eu, apenas moveu os lábios.

-O que? – de novo, eu apenas movia os lábios.

 Não precisei de palavras.

O guarda-roupa havia sido derrubado e quebrado... Por um monstro terrível.

Da cintura para cima era uma mulher. E da cintura para baixo o corpo de um dragão com pelo menos seis metros de comprimento, preto e coberto por escamas, com garras enormes e cauda serrilhada. Suas pernas pareciam estar enroladas em ramos de parreira, mas então percebi que eram cobras que germinavam centenas de víboras dando botes numa constante procura de algo para picar. O cabelo da mulher também era feito de cobras, como o da Medusa, o que me deu calafrios. O mais estranho de tudo é que, na altura da cintura, onde a parte encontrava a parte dragão, a pele borbulhava e se transformava produzindo ocasionalmente cabeças de animais- um lobo feroz, um urso, um leão, como se ela usasse um cinto de criaturas mutáveis. Tive a sensação de que estava olhando para algo feito pela metade, um monstro tão antigo que era do começo dos tempos.

Ela segurava duas espadas, longas cimitarras (lamina curva) de bronze que brilhavam com uma estranha aura esverdeada. Delas escapavam um vapor que tinha um cheiro azedo e quente que seria perceptível a quilômetros de distancia.

Ela gritou em uma linguagem antiga, mais antiga até do que o grego. Eu não precisava de tradução para saber que ela me queria morta.

Mas por uma razão que eu desconhecia, ela me queria morta mais até do que Hades. O que me deixou incrivelmente nervosa.

Você deve estar se perguntando como eu sabia disso, não é?

Não era o que ela dizia, ou o que fazia. Era a sensação que vinha junto dela.

Ela atacou. Luke me puxou para o seu lado antes que a espada pudesse encostar-se a mim. Levantamos-nos rapidamente e começamos um incrível e mortal jogo de pega-pega.

Saltávamos de um canto para o outro enquanto aquele monstro terrível destruía todos os moveis possíveis.

Percebi, aos poucos, que ela não queria me matar rapidamente para acabar logo com o serviço. Ela queria me causar uma morte lenta e dolorosa. Mas não para ferir apenas a mim... Mas alguém mais.

Mas quem seria?

Foi então que aconteceu.

Ele chegou empurrando um carrinho de sobremesas. Mas ele não se vestia como um garçom. Estava vestido com uma armadura dourada brilhante como o sol. Ele tinha uma aljava cheia de flechas presa nas costas.

Ele empurrou o carrinho com a comida e sacou o arco.  Ele nem precisava ter feito isso. Sua simples presença já havia enfraquecido o monstro. Ele atirou cinco flechas de uma só vez. E a mira foi perfeita. O monstro virou cinzas e voltou para o local de onde viera: o Tártaro.

Luke estava com o corpo na minha frente para me proteger do estranho. Mas eu conhecia aquele rosto.

- Vocês estão bem? – ele perguntou preocupado.

-O que faz aqui? – rebati um pouco grossa de mais. Luke agora estava ao meu lado. Ele sabia que eu detestava viver caçada e sabia muito bem que eu tinha um temperamento explosivo. Também percebeu que aquilo já estava indo para o lado pessoal.

- Vim salvar vocês dois. Achei que isso fosse óbvio. - ele respondeu com um sorriso, mas era evidente que era forçado. A preocupação ainda era visível em seus olhos.

- Já enfrentamos muitos monstros antes. Por que você veio agora? – perguntei de novo, com a voz um pouco mais controlada, mas cheia de fúria. Eu cuspia as palavras antes que ficasse engasgada com elas.

- Aquele monstro não devia perseguir nenhum semideus... – Ele começou, mas eu interrompi. Sinceramente, eu não estava com muita paciência.

-Então, o que era aquilo e por que estava atrás de mim? Por que ela queria me torturar até mais que Hades? Por que... – não consegui terminar minhas varias perguntas. Ele me cortou com a voz doce e cheia de compaixão.

- Thalia, sei que tem muitas perguntas, mas não sei se poderei responder a todas.

- Então responda á quantas puder. – pedi a ele com a voz calma, calma até demais. Eu o surpreendi com a rápida mudança no tom de voz.

- Sugiro que vocês se sentem. É uma longa história. – nos sentamos lentamente enquanto aquele estranho conhecido trazia o carrinho com comida para perto. Luke e eu nos servimos - Campe era a carcereira dos ciclopes e centímanos. Ela trabalhava para Cronos. Mantinham-os trancafiados no Tártaro, até Zeus chegar. – a menção desse nome ele olhou profundamente em meus olhos. – Ele matou Campe e libertou todos os ciclopes e centímanos para que estes ajudassem na grande guerra a combater nosso avô, Thalia.

Eu tentava processar tudo o que ele dizia o mais rápido possível... Mas nosso avô?

- Eu já o vi antes. Mas não lembro onde. E não sei quem você é!

- Tem certeza que não sabe? Puxa estou decepcionado. Mas tudo bem. Não faz mal algum. Eu sou seu meio-irmão, Apolo, o deus do sol, da medicina e de mais um bando de coisas. Nos vimos naquela tarde no parque, quando você gastou muita energia pulverizando aqueles cães infernais. Próxima pergunta. – ele pediu animado.

- Certo. Então se você é meu irmão deve saber o porquê de Hades me querer morta. Pode me contar isso?

- Não sei se sou o deus certo para isso – ele falou um pouco nervoso, agitando os cabelos, como se temesse essa pergunta.

- Se você não pode me dizer isso então quem pode?- minha raiva estava crescendo de novo.

- Olhe, eu queria, queria muito, que não fosse eu a ter que te explicar tudo...

- Ótimo. Então pode ir embora. Estou mais do que acostumada a ter varias perguntas sem respostas. – retruquei com raiva na voz e no olhar.

- Thalia... – Ele começou, mas eu já estava sem paciência alguma.

- Sério Apolo, ou você me explica tudo o que eu preciso saber ou vai embora.  – Minha voz agora já não tinha nenhuma nota de raiva. Mas estava carregada de magoa.

- Eu não posso responder essa pergunta ainda. - ele me responde impotente.

- Então acho que você já pode ir. – Finalmente Luke diz alguma coisa. Nós dois já estávamos de pé, frente á frente com o deus do sol.

- Sinto muito por não poder fazer mais que isso. Mas tenho um presente para vocês. – Ele tirou um potinho com o mesmo bolo que me dera no hospital e um cantil com alguma bebida com um cheiro muito bom. – Isso é néctar – ele disse mostrando o cantil- e ambrosia- disse mostrando o potinho com vários pedaços de bolo – juntos são a comida dos deuses. Elas servem para curar as feridas dos semideuses. Mas não podem consumir demais ou o seus corpos se transformariam em cinzas. Nenhum mortal pode consumir esse tipo de alimento.

Eu peguei os dois presentes e os guardei em uma bolsa que Ricardo havia comprado para mim.

- E mais uma coisa... Posso responder a uma pergunta sua, Thalia. Uma que você nem chegou a dizer em voz alta, mas que indagava por dentro e a muitas outras para qual essa resposta também serve. – Ele disse olhando em meus olhos e isso me deixou levemente desconcertada - Zeus.

- O que? – obviamente essa não era a resposta que eu estava esperando.

- Você percebeu, não me pergunte como percebeu porque nem mesmo eu entendi como. Você percebeu que Campe não queria mata-la rapidamente, mas sim de forma lenta e dolorosa, para ferir você e mais alguém.  Bom essa pessoa, no caso é um deus, era Zeus. Zeus também deveria te contar tudo pessoalmente. Eu queria que fosse ele a te explicar tudo. Mas Hera não permitiria tal feito.

- Por que não?

- Hera é sua madrasta Thalia. Ela não quer que seu pai se aproxime de você... E digamos... Ela não gosta muito da sua semelhança com Zeus... E do fato de você estar viva... E...

-Ótimo! Mais um na lista dos que me querem morta. Que legal!- falei com a voz carregada de ironia.

- Thalia, eu sinto muito... - Apolo começou com a voz triste, mas eu o cortei de novo.

- Relaxa Apolo. Você não é o primeiro a me decepcionar. – minha voz continha uma magoa muito grande que foi percebida por ele. – Acho que você já pode ir. – respondi desviando os meus olhos dos dele.

Fui em direção ao que restou do guarda roupa e me ajoelhei procurando por agasalhos de frio. Enquanto isso Apolo e Luke me observavam.

- Ela é impressionante e muito imprevisível. – Apolo comentou com Luke

- Ela é sim. Como uma tempestade. –Luke comentou vidrado em mim.

Apolo sorriu e saiu do seu transe recobrando a consciência.

- Seu pai mandou dizer que sua mãe sente muito a sua falta.

Ao dizer essas palavras Luke simplesmente gelou no lugar.

Eu já havia achado o que procurava e quando me levantei Apolo começou a se despedir.

- Bom foi um prazer estar aqui com vocês.  E só mais um conselho. A policia esta chegando e vocês deviam fugir rápido. Adeus!

Desviamos os olhos enquanto meu irmão assumia sua forma divina e ia embora.

Ao longe pude ouvir sirenes chegando cada vez mais rápido.

Luke e eu nos entre olhamos e seguimos para a sacada. Luke subiu na mureta e estendeu a mão para mim. Recuei alguns passos assustada.

- Vamos Thalia. Você consegue!- Ele disse me encorajando.

- Luke eu não consigo. - respondo com a voz falhando

- Claro que consegue!- ele disse não acreditando na minha insegurança.

- Luke, eu tenho medo de altura. – Ao dizer essas palavras ele subitamente entendeu o que se passava na minha cabeça.

Mas eu imagino que vocês não saibam o porquê do meu medo de altura, certo?

Sabe quando você é apenas uma criancinha? Pequena demais para fazer certas coisas? Seus pais sempre estão La para não permitirem que caísse e se machucasse. São como o seu porto seguro. Seus protetores particulares que sempre estariam La para você até quando crescesse e não precisasse tanto de apoio. Mas eu nunca tive isso. Sempre fui largada em um canto por toda a minha família. Sempre me virei sozinha. Nunca tive apoio de ninguém. E o fato de pular de um prédio esperando que meu pai, que Zeus, me protegeria durante a queda era demais para mim.

 Sirenes sovam cada vez mais próximas...

Luke desceu da mureta e se aproximou de mim. Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e segurou meus ombros.

- Zeus pode te deixar cair. Mas eu nunca permitiria isso. - Ele disse olhando em meus olhos.

Passos ecoavam pelos corredores...

Subimos na mureta e Luke me puxou para ainda mais perto. Ele me colocou encima de seus pés. Ele me abraçou pela cintura e eu segurei em seu pescoço.

 Ao contrario do que vocês devem estar pensando eu não o segurei com força. Muito pelo contrario. Eu o segurei com delicadeza e apoiei minha cabeça em seu peito em busca de segurança.

Luke não pulou. Ele simplesmente começou a flutuar com os seus tênis.

Pousamos rapidamente e eu desci dos seus pés. Lentamente fui tirando as mãos de seu pescoço.

Luke olhou em meus olhos, supresso, mas sorrindo.

- Você não segurou com força. Mas por quê?

- Porque eu confio em você.

Ele sorriu ainda mais. Demos as mãos e saímos correndo e rindo de tudo o que havia acontecido naquele primeiro, e mais quente, dia de primavera.


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