As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 100
Adeus ao Passado


Notas iniciais do capítulo

Oie......... hehehehe, esclareci algumas dividas neste cap, vamos ver se ficou bom além de grande:



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LUKE

Era o mesmo campo, aquelas mesmas flores lilases que eu havia sonhado alguns anos atrás, quando Thalia finalmente retornara a seu estado humano. A maior diferença era o céu: antes ele estava completamente nublado, agora a luz do sol iluminava as flores e o céu azul dava ainda mais vida aquele cenário deslumbrante. Como daquela vez algo me puxava com insistência e eu sabia que era ela. Encontrei Thalia na metade do caminho, o mesmo vestido longo dessa vez branco, leve e longo; parecia um anjo. O meu anjo. Entrelacei nossos dedos e continuamos andando até avistarmos o circulo de espelhos. Não era apenas Thalia quem me chamava, ela também estava sendo chamada para o círculo.

No centro dele uma mulher bonita, de aparência cansada e tristonha, ela por inteiro era translúcida, um fantasma, um espírito. Usava um vestido igualmente longo e cinza, ele esvoaçava junto com um vento forte que rondava apenas a ela. Paramos lado a lado, abraçando Thalia pela cintura. Eu não conhecia a mulher, mas minha menina sim, pois sorriu com doçura e tristeza.

–Olá mãe – sua voz era música; tentei não me surpreender com o fato de não serem parecidas, ou com o fato de que aquela mulher havia transformado a infância do meu amor em tristeza, dor e medo.

–Filha, é bom vê-la sorrindo de novo. Vejo que conseguiram vencer, que o amor de vocês foi muito mais forte. – ela sorria, os cabelos escuros como breu voaram com um vento que não atingia nem a mim nem a Thalia – Trouxe-os aqui para se despedirem – fiquem tenso.

–Nos despedirmos de quem?

–Não é um adeus; um até logo – de trás da saia do vestido saíram os dois, mas pareciam diferentes... De qual quer forma eles eram os mesmo eu sabia. Thalia sentou-se no chão e os dois correram para seus braços aos gritos “mãe, mãe! Você voltou! Sentimos sua falta! Mãe!” inacreditavelmente eles não eram “fantasmas”, não ainda pelo menos. Ficamos os quatro em um abraço apertado até que o sol ameaçou desaparecer.

Não demorou a fisionomia das crianças começarem a mudar: eles estavam rejuvenescendo, era visível, era inegável.

–O que está acontecendo? – perguntei com medo; ainda no chão abraçado a minha Lia, as crianças correram de volta para a avó.

–Eles ainda não nasceram. Não deveriam estar aqui.

–Mas... – Thalia começou, mas a mãe interrompeu-a com um sorriso.

–Não há porque se preocupar, meu bem. Até que seja o momento certo, eles estarão perto de mim e então... – ela sorriu deixando a frase no ar – Vocês precisam recuperar o tempo perdido além de tudo.

Os três sumiram antes que pudéssemos sequer pronunciar um “até logo”.

Abri os olhos e encontrei-a ali nos meus braços, sua respiração tranquila e regular batendo em meu peito... Logo seus olhos se abriram e neles vi o reflexo de que o sonho havia sido real. Havia a dureza de saber que não os veríamos nem em sonhos durante algum tempo, um tempo indeterminado. Não havia palavras que descrevessem a emoção e melancolia que nos abateu, não era exatamente uma tristeza, mas também não era uma alegria. Abraçamo-nos e ficamos ali, cada um ouvindo o coração acelerado do outro, nos separando apenas quando os mesmos se acalmaram.

Vestimo-nos rapidamente, e saímos juntos de seu chalé sem nos importarmos com o fato de eu ter dormido com ela, a essa altura muitos já sabiam. Dormimos por três longos dias como se houvesse sido apenas uma noite, não importava tanto assim: a grande maioria dos campistas dormiu por dois dias, havia outros que ainda estavam dormindo. De qualquer forma o café da manhã ainda era o mesmo: sempre separando os campistas. Fiquei junto de meus irmãos apenas observando-a de longe, claro que Thalia gozava da rebeldia: ela, Percy e Nico se sentaram todos juntos na mesa de Zeus ignorando todos os olhares que recebiam de Quíron e Senhor D.

–E o grande leão foi domado.

–Não existe nada mais triste do que isso. Mas, nada mau garanhão – os gêmeos me cercavam rindo e seguindo meu olhar até Thalia – Ela é muito gostosa.

Lembrei do que Thalia dissera antes de dormirmos e apenas sorri para o último deles.

–É, mas ela é minha.

–Não vamos dividir? Quanto egoísmo Luke...

–Podemos arrumar mais umas meninas e fazer uma boa...

–Deuses! – exclamou uma das nossas irmãs, uma gracinha de menina com um sorriso tão sacana quanto os nossos – Isso não é conversa para esse horário!

–E de qualquer forma, eu não quero nenhuma outra, Travies – naquele instante seus olhos cruzaram com os meus e me peguei sorrindo – Ninguém além dela.

–Domado! – disseram com tristeza e dramaticidade os dois juntos. A mesa inteira e eu posso me incluir nela riram.

A semana seguinte foi apenas trabalho duro: estávamos reconstruindo o que fora destruído e construindo novos chalés para os semideuses menores. Eu quase não tinha tempo para vê-la, abraçá-la e claro que depois daquela primeira e única noite eu não pude mais dormir lá. A maior diversão que tivemos foi a pegadinha que todo o acampamento decidiu fazer com os gêmeos; não foi uma só é verdade, foram várias: cebolas cobertas por chocolates,convites para uma noite no chalé de Afrodite (voltaram com mini vestidos, saltos de 18 centímetros e quilos de maquiagem), pasta de dente de mostarda, bombons de alho, ovos de lagartixa em envelopes e uma infinidade de outras.

–Qual é o problema de vocês? – Connor gritou depois de uma caixa de suco encharcá-lo com uma bexiga cheia de água; quase todo o Acampamento gargalhava, eu inclusive precisei conter uma escandalosa gargalhada.

–Digamos que isso é uma pequena dose vingança – Thalia respondeu com um sorriso sacana.

–É o que? – agora era Travies.

–Eu disse que teria volta depois daquela invasão.

–Você não... Não poderia ser... Ele te ajudou? – apontou para mim que me acabei de rir ainda mais.

–Fiz um acordo com cada um dos campistas que já sofreram com vocês.

–Isso não é justo!

–Foi armação!

–Isso é obvio! – ela riu; um som tão melodioso e belo que parei para admirá-la, eles continuaram discutindo, o restante dos campistas rindo e eu perdido no sorriso dela enquanto falava. Fazia tanto tempo que eu não a via sorrir, e que não a via bem que agora era tão gratificante... Mas eu gargalhei quando ela fez duas nuvens pairarem sobre os dois encharcando-os, e quando reclamaram um raio caiu. Ficaram assim o restante do dia e durante a noite não puderam entrar no chalé. Ficaram até uma da manhã do lado de fora até Quíron chamar Thalia para desfazer aquele truque e mandar os dois para a cama; o chalé explodiu em risadas quando entraram.

Agora era fim de tarde, o sol sumia no horizonte dando ao céu uma tonalidade alaranjada manchada por tons de rosa e branco. Mesmo assim ainda estava quente a brisa que vinha era morna e nem a sombra do Pinheiro era reconfortante. Estávamos os dois sentados lado a lado olhando para a avenida do outro lado das barreiras de proteção, não posso falar por Thalia, mas eu ainda podia ver aquele dia em que ela fora cruelmente tirada de mim, meu corpo estremeceu pensando na possibilidade de perdê-la de novo.

–Não vai me perder – ela olhava para frente, a luz dourada do sol iluminando seu rosto e fazendo seus cabelos parecerem em chamas, o destaque incomum dos olhos...

–Como sabe?

–Eu pensei o mesmo. E te conheço o suficiente.

–Só a possibilidade de... – ela me beijou, foi profundo e rápido, mas era um beijo dela. Sua mão me acariciou o rosto.

–Essa possibilidade não existe.

–Thalia – puxei-a para meu colo, permiti que meus dedos desenhassem na pele exposta pelo short, senti-a estremecer e puxar meu ombro de encontro com o seu até tomar minha boca na sua. O clima ao redor ainda era quente, ao nosso redor era pior; podia sentir minha pele ardendo em contato com a sua, seus lábios doces e macios nos meus, sua mão em minha nuca, seus dedos entrelaçados em meus cabelos e o mundo sumia. Seu cheiro me inebriava e o único som que eu ouvia era o dos nossos corações batendo em compasso como se fosse um só. Afastamos apenas os lábios dando tempo suficiente para respirarmos. Ficamos abraçados curtindo o calor que tínhamos para oferecer até que quebrei o silencio – Eu costumava vir aqui sempre que me sentia só. Ficar mais perto de você... – ela me apertou mais contra si; eu sentia seu coração pulsar rapidamente.

–Eu tinha uma leve noção disso.

–O que vamos fazer agora? – minha pergunta se referia a ficar ou não no Acampamento. Era uma das coisas que o pessoal lá embaixo discutia, uns aproveitando os últimos dois dias “de folga” antes de a maioria ir embora e poucos ficarem.

–Tenho duas promessas que preciso cumprir... E não posso cumpri-las aqui. – ela falou lentamente. De um modo gentil e delicado, deitei-a na grama e me coloquei sobre ela. Seus olhos reluziram.

–Que promessas seriam essas?

–Você está incluído em uma delas – ela sorriu.

–Ah é?

–É. – voltei a beijá-la dessa vez com mais urgência, seus dedos desciam por meus braços trazendo ondas de eletricidade e...

–Por que eu sempre pego vocês desse jeito? Largue ela, Luke! – enterrei o rosto na curva do pescoço dela respirando fundo, enquanto eu a sentia rir.

–Grover, você é muito inconveniente! – disse sem soltá-la, selei meus lábios em seu pescoço e Thalia suspirou.

–Luke!

Sentei na grama e logo minha menina fez o mesmo depois do balido exasperado do menino-bode.

–De novo Grover? – ela perguntou com um sorriso – Onde está a Júniper para te beijar agora? – o sátiro ficou vermelho.

Ele gaguejava sem parar até conseguir dizer:

–O Quíron e o Senhor D... Eles querem saber se vão ficar aqui ou não e...

–Já deu, Grover.

Ajudei-a se levantar e tasquei um beijo provocativo apenas para irritar nosso amigo sátiro. Grover puxou Thalia para trás e desceu a colina me estapeando e falando algo sobre explorá-la; Thalia vinha gargalhando logo atrás.

THALIA

[...]

Sua mão tremia mesmo contra a minha.

–Eu não posso – disse tentando voltar pelo caminho pelo qual viemos.

–Claro que pode.

–Você não... Lia, eu não posso machucá-la mais!

Segurei seu rosto entre minhas mãos. Seus olhos azuis claros reluziam em dor.

–Luke... Você faz ideia do quanto eu chorei por você? E eu nunca chorava! Você me machucou de todas as formas que alguém pode se machucar. – ele pareceu receber isso como um tapa na cara, mas me mantive firme, não mentiria para ele; estava farta de mentiras – Mas você concertou isso. Curou cada machucado com um beijo, um carinho, uma palavra. Fez valer cada lágrima que rolou. Você me destruiu. E você me concertou. – seus olhos se fecharam quando as primeiras lágrimas caíram – Agora vai concertá-la como concertou a mim. Deve isso a ela.

Luke mal teve tempo de se recuperar. May já havia aberto a porta e ria e chorava a volta do filho.

–... Vamos, Estou fazendo biscoitos... – incentivei-o a conversar com a mãe enquanto eles comiam os biscoitos que não queimaram, deixei-os na cozinha e subi para ver a situação atual do quarto de May; não estava tão organizado, mas ainda havia traços da minha limpeza. Comecei de novo: troquei os lençóis, tirei o pó dos móveis e varri o chão, deixei a janela aberta para que circulasse um vento fresco e puro. Na suíte ainda havia os produtos que Hermes deixara. Não havia muito que arrumar ali.

Desci as escadas e os encontrei ali, achei que poderia haver desconforto no ar, mas não havia. Estavam bem; Luke conseguia ignorar perfeitamente os biscoitos mofados do outro lado da mesa e as jarras de suco esverdeadas, May por outro lado estava encantada com tudo o que o filho dizia, parecia maravilhada apenas por ouvir a voz dele; e nisso eu a compreendia muito bem.

–May – chamei com a voz suave, aveludada – Vamos tomar um banho? – alguma parte dela deve ter se lembrado da minha última visita, pois seus olhos desceram sobre seu corpo e seus olhos se arregalaram, passou a murmurar que o filho não devia vê-la daquele modo. Segurou minha mão e fomos juntas para o andar de cima, não sem que eu murmurasse para que ele limpasse a sala.

–Você o trouxe de volta – ela sussurrava enquanto escovava seus cabelos úmidos – Trouxe meu menino de volta para mim.

–Claro que eu trouxe, eu prometi. E você estava certa, May: Luke colaborou docemente – eu sorria e eu sabia que ela podia sentir meu sorriso.

–Como estão as minhas mulheres? – ele apareceu escorado na porta. May levantou-se e foi recebida com um abraço e um beijo na testa.

–Por que não a leva para fora, Luke? Um pouco de ar fresco será ótimo – ele entendeu e foi com a mãe para o lado de fora. Prendi meu cabelo e desci as escadas indo para cozinha: joguei todos os biscoitos e sanduíches em sacos de lixo, lavei a louça, limpei os armários por dentro e por fora jogando fora alimentos vencidos, fiz o mesmo com a geladeira, a mesa, tirei a gordura do fogão e ainda faltava o chão.

Quase não notei que a tarde ia embora devagar, quase preguiçosamente. Como da última vez percebi o tempo em que eu não limpava uma casa, lembrei dos meus dias em casa como gata borralheira, vi minha mãe, Hugo e meu sangue manchando as paredes e o chão... E surpreendentemente não me senti mal. Também não notei quando Luke entrou sozinho, envolvendo meu corpo por trás, me prendendo em seus braços, um abraço acolhedor.

–Como eu posso te agradecer por isso? – sussurrou roçando os lábios em minha orelha, meu corpo estremeceu automaticamente. – Como posso te agradecer por cuidar dela? Por me trazer aqui? – suspirei. – Diga, Thalia. Como posso agradecer por cuidar dela e da casa quando eu nunca me incomodei em fazer?

–Não tem que me agradecer. – virei meu corpo ficando de frente para ele, que me apertou contra si.

–Tenho sim – e me roubou um beijo leve e doce; afastei-me sorrindo.

–Então pode levar esse lixo para fora.

Ele riu resmungando pelo caminho, mas foi. O básico estava feito, então o restante ou a faxina pesada poderíamos fazer na manhã seguinte. Ficamos os três no jardim (que também precisava de cuidados) rindo, deixando que May falasse, que agradecesse a mim, que elogiasse o filho, que sorrisse. Os vizinhos apareciam alguns discretamente outros nem tanto observando a mulher esquisitona e ouvindo-a rir, vendo sua felicidade com o filho, seu amor para com ele.

Quando a noite caiu e a mulher começou a demonstrar seus indícios de cansaço, Luke acompanhou-a até o quarto e ficou com ela até que adormecesse. Continuei deitada na grama, observando o brilho intenso da Lua, as constelações ao redor... Muito obrigada... Por tudo! Não pude deixar de murmurar, os olhos ameaçando lacrimejar. Minha irmã havia feito muito por mim, muito mais do que algum dia eu teria esperado, foi minha família quando pensei estar só e largada. Não posso jamais dizer que nunca a detestei; odiava as caçadoras depois de nosso primeiro encontro, não suportava pensar numa vida com elas, como elas. E foram maravilhosas! Acolheram-me, respeitaram, protegeram e não me julgaram por ainda amar. Se antes eu me sentia só de todas as maneiras possíveis, agora mais do que nunca, minha família crescera e se tornara real, quase nível Disney. Fechei meus olhos respirando fundo...

Não estava mais na grama. Podia sentir seus braços me envolvendo me carregando para dentro de casa sem qualquer esforço. Abri os olhos apenas para encontrar os dele que reluziam, o azul parecia ainda mais claro e infinitamente mais profundo. Percebi que ele caminhava para seu antigo quarto. As paredes eram azuis de um tom clarinho, a cama e os outros móveis brancos, havia adesivos nas paredes, brinquedos nos chãos e estantes, mas não muitos. A cama ficava encostada na parede, a escrivaninha com poucos livros de frente a janela, com um olhar rápido percebi que ele havia “arrumado” o quarto, trocado os lençóis, juntado os brinquedos em um cantinho... Deixou-me na cama, deitando sobre mim.

–No que pensava, meu anjo? – sussurrou contra meus lábios; seu hálito fresco me fez suspirar, quase nem me lembrava da pergunta.

–Pensava em você. – talvez ele fosse responder, mas não quis outra resposta que não fosse seus lábios nos meus, suas mãos passeando pelo meu corpo, as minhas percorrendo até onde alcançavam... Sua mão em minhas costas já dentro da camiseta soltou o fecho do sutiã, afastei meus lábios dos seus – Luke?

–Não vá dizer que não está excitada. Sei que está. Posso sentir seu corpo chamando pelo meu – o sussurro e mordida em meu pescoço me deixaram sem ar. Ele não havia mentido nem se enganado: eu o queria, chegava a estranhar o quanto eu o queria, queria aponto de me esquecer de tudo, mas...

–Foi nesse quarto que você cresceu, um quarto de criança, quase puro. Pensei que quisesse mantê-lo assim – deu-me um selinho e sorriu.

–É justamente o contrário: este quarto é muito inocente. Além disso, preciso de uma recordação sua aqui. – beijou meu ombro, a clavícula, o queixo e os lábios, meu corpo tremia pedindo pelo dele – Me quer ou não?

Não respondi com palavras: arranquei sua camiseta e ouvi seu riso baixinho.

–Eu sei que sou irresistível.

–Totalmente – eu sorria entre os beijos ardentes. Os sapatos já estavam caídos no chão e minha camiseta junto da dele.

–Será que você sabe o quanto você é irresistível? – olhou em meus olhos, azul contra azul, uma explosão de calor na pele colada a minha; como já estava solto foi fácil tirar aquela peça pequena, os olhos dele presos nos meus esperando uma resposta, a mão em minhas costas me ergueu até que meus seios estivessem pressionados contra seu peito, gemi baixinho enquanto ele ofegava em meu pescoço – Você não faz ideia do quanto eu preciso de você, do seu corpo no meu...

Mas eu fazia.

Durante o que poderiam ter sido horas, minutos ou segundos, só havia nossas mãos, nossos lábios, nossos corpos em uma dança somente nossa, em um ritmo ditado pelo desejo. Só havia amor transbordando de cada poro, meu e dele.

–Não sei se vou resistir ficar longe de você – sussurrou em meu ouvido; ainda estava ofegante, as mãos firmes em minha cintura.

–Não é tanto tempo assim...

–É sim. Você sabe disso – seus olhos transbordavam carência; puxei seu rosto para meu peito deixando que deitasse ali, enquanto eu acariciava seus cabelos e seus ombros prendendo a mim.

–Vou ter os fins de semana...

–E o restante da semana? Vai ser ainda pior do que ter o titã no meu corpo – me senti tensa, o corpo enrijecendo em tensão, medo pelo o que já havia passado. Luke se ergueu para olhar em meus olhos – Desculpe. Não devia ter dito isso. – sua mão parou em minha bochecha.

–Eu sei... E entendo. Não vai ser fácil para mim – sorri – Mas aceito o consolo de que vou vê-lo. Vivi esses anos com a ilusão de que nunca te teria assim... – suspirei – Não posso reclamar do que tenho. É muito mais do que esperava ter. Mas não pretendo te deixar livre de mim.

–Não?

–Nunca – tirei a corrente do camafeu do meu pescoço prendendo-o no dele – Você sabe como ele funciona, sei que sabe. Enquanto eu estiver fora, você vai cuidar de May, mas sempre me terá consigo.

–Você sabe que eu te amo? – ele sussurrou de encontro a minha pele.



Era um alvoroço. Risos escandalosos, gritos e travesseiros sobre mim. Não queria de maneira alguma levantar.

–Acorda logo, vadia! – Pâmela pulava no meu colchão, eu não compreendia como ainda não havia caído.

–Me deixa!

–Annabeth! Faça um milagre! – pediu Celine dramaticamente. Só ouvi o riso da loira.

–Lia, é a reunião de pais. Você esteve esperando todo esse tempo... – um peso no colchão e eu soube que ela estava deitada ao meu lado para sussurrar em meu ouvido – Luke vai vir.

Abri os olhos encarando aquele olhar cinzento. Eles reluziam em felicidade; Percy viria vê-la, para me ver também é claro, mas principalmente a loira. E o meu loiro... Havia passado dois meses sem vê-lo e era complicado usarmos o telefone. Dois meses de intensa saudade. Sentei-me devagar e ou vi os gritos de Pam e risos de Celine.

–Só a Annie mesmo. Eu sabia.

–Aposto que ela mencionou o nome do namoradinho...

–Deuses! – praguejei em um murmúrio, mas elas ouviram e gargalharam – Qual é o problema de eu estar apaixonada?

–Problema não é... Só é bacana ficar te perturbando. É uma gracinha de ver com as bochechas vermelhas e os olhos brilhando... Ai! Sua puta! – havia jogado o travesseiro em sua cara e derrubado-a na cama.

–De qualquer modo, não estamos liberadas. – Celine comentou com um suspiro; estava com a cintura bem mais definida, as coxas grossas, os cabelos alaranjados brilhavam e os olhos negros ainda mais profundos; havia amadurecido e se “soltado” um pouco mais. Estava ainda mais bela – Teremos metade das aulas e veremos depois nossos pais chegarem. – isso queria dizer apenas uma coisa: uniforme.

–Os seus vão vir, Lia? Afinal, você voltou, não? Deve ter resolvido aquele seu problema familiar... – Pam era bem direta. Ainda recordo sua alegria e a de Felipe quando falei que voltaria a estudar no internato; eu e a loira.

–Acho muito difícil, mas impossível não é uma palavra que me agrade.

Depois de nos revezarmos no chuveiro vestimos as saias e as camisas de botão, não havíamos mudado o estilo: Pam ainda era adepta a mechas coloridas, maquiagem e coturnos; Celine ainda era angelical embora nem tanto, os cabelos soltos em ondas e sapatilhas vermelhas nos pés; Annie era Annie: sempre no básico, mas Afrodite mexera no guarda-roupa dela também então em vez dos costumeiros tênis, lindos oxford com pequenos saltos. Já a mim era a mesma coisa de antes: nenhum sapato baixo. Era complicado. Peguei uma open boot preta, ignorei a gravata e fiz a minha maquiagem básica: os olhos carregados de mistério.

–Vamos!

Depois de assistir quatro aulas estávamos naquele salão onde nos reuníamos com a escola dos meninos ou sabe-se lá o que mais. E falando nos garotos, muitos deles estavam ali, eu não sabia bem porque e nem me importava. A pequena Sophia havia sido matriculada naquele internato para ficar perto de mim, nesse instante ela brincava com outra menininhas de sua idade não tão longe do alcance dos meus olhos. Nayla e Lion estavam agarrados tentando se engolir... Não demorou muito para virem encher meu saco.

–Thalia – ela disse com a voz nojentinha; pronunciou meu nome com desprezo – Tolinha. Vê o quanto foi estúpida ao tentar roubá-lo de mim?

–Querida, ele praticamente correu para os meus braços – desdenhei – Se voltou foi apenas porque eu dispensei-o. – a menina não havia mudado em nada ainda era um nojo.

–Você me perdeu Thalia – ele dizia tentando me deixar mal; eu já não me sentia bem: queria tanto vê-lo, senti-lo... Apagar de vez aquele maldito fogo da saudade que ardia em meu coração e corria por minhas veias...

–... Meu homem... – Ela pronunciou e eu gargalhei sem me importar se chamava ou não a atenção. As meninas prestaram atenção e riram também, provavelmente da cara de trouxa dos dois.

–Isso não é um homem. É um bichinho de pelúcia! – as gargalhadas vieram de todos os cantos possíveis aos quais minha voz alcançou. Já havia parado de rir e observava o casalzinho patético na minha frente; primeiro ouvi as exclamações e suspiros e sussurros, depois via a surpresa e o desejo oculto nos olhos da vagabunda a minha frente e depois senti braços me envolvendo pela cintura. Braços musculosos, um tronco firme e definido nas costas e seu rosto enterrado em meus cabelos. Sabia que estava respirando fundo, assimilando o perfume, guardando-o na memória. Fechei os olhos e suspirei.

–Eu senti tanto a sua falta – ele murmurou me apertando contra si. Segundos depois senti o camafeu em meu pescoço – Ele foi de grande ajuda, mas a realidade é bem melhor – a dor era clara e intensa na voz e eu sabia que se virasse seria visível nos olhos e a tentação de beijá-lo seria forte e quase impossível de refrear. Ao contrario de Nayla eu sabia que a boa educação era não sair se agarrando onde qualquer um poderia nos ver.

–E May? – perguntei; a voz quase derretendo. Eu mesma estava me sentindo mole nos braços dele. Virei para encontrar seus olhos, envolvia seu pescoço em meus braços.

–Está melhor, não teve mais nenhuma crise. – seu sorriso brilhou – Tem perguntado muito por você. – tive que sorrir também. Ficamos abraçados, um abraço comum, mas infinitamente mais prazeroso, matando a saudade com o mais ingênuo dos apertos.

–Quem é seu amigo, Thalia? Podia ter a decência de ser educada...

Olhei para Nayla me recordando de que ela ainda estava ali. Deixei meu dedo percorrer a cicatriz que o deixava ainda mais misterioso e perigoso do que eu...

–Vão se engolir em outro lugar e deixem Thalia em paz – era a voz de Annabeth soando bem irritada; ela mais do que qualquer um sabia o quanto eu precisava dos carinhos de Luke e do quanto ele precisava dos meus.

–Tudo bem Annie – não desviei dos olhos de Luke – Como foi que você disse, Nayla? Ah, claro. Este é o meu homem – o sorriso e o olhar dele transbordavam carinho e malicia; foram dias difíceis sem ele – Viu agora a diferença entre um homem de verdade e essa coisa do seu lado? – perguntei sorrindo de forma venenosa para os dois, não sei dizer qual dos dois estava mais chocado.

–A confusão já começou? O que eu perdi? – era Percy já beijando a bochecha de Annabeth. Reunimo-nos para conversar, rir e simplesmente ficar a vontade. Os dois chatos ainda queriam nos importunar, mas não foi possível, não éramos acessíveis.

Pais entravam e pelas portas, encontravam as filhas e seguiam para as salas de reunião, conversar sobre o comportamento, notas e sabe-se lá o que mais. O pai da menina mimada entrou e foi abraçá-la; tinha um sorriso frio no rosto como se só estivesse abraçando-a por abraçar, chamar atenção para ser um bom pai.

–Não acredito – disse pasma olhando para a porta. Nos grupinho seguiu o olhar também. Luke, Percy e Annie se surpreenderam, não mais do que eu. Na porta, caminhando até nós estava ele com seu terno risca-giz, os cabelos escuros e barba por fazer, os olhos eletricamente iguais aos meus faiscavam.

–Filha – esboçou o que só eu identifiquei como um sorriso.

–Oi pai – sorri sem tentar esconder o carinho e respeito que eu tinha com ele – Não pensei que fosse aparecer aqui – disse olhando ao redor; muita gente olhava para nós.

–Decidi que poderíamos tentar agir mais como uma família. Para alguns pode ser mais difícil do que para outros – olhou para a porta onde uma mulher bonita se aproximava, os cachos negros presos cuidadosamente em um rabo bonito, os olhos acinzentados brilhavam; Atena. Logo atrás desta Afrodite entrou, piscou para mim e foi abraçar a filhinha que se jogou em seus braços.

–Minha filha – Annie sorriu.

[...]

Depois daquele encontro nada esperado, as meninas voltaram para os quartos, nos livramos dos uniformes e encontramos o pessoal nos esperando no andar de baixo. Seguíamos para o Central Park; o lugar carecia de arvores e plantas desde a batalha e todos se comprometeram junto a Grover a ajudar no replantio. Muitos meio-sangues saíram do Acampamento para ajudar, muitos mortais incluindo Pam, Celine e Felipe, os deuses auxiliaram com “magia”, mas não podiam ficar por tanto tempo: a paz ainda não estava exatamente estável.

Mas minha vida ainda não era só sorrisos: Hugo ainda me perseguia... E me encontrou. Estava surpresa, quase imóvel, mas eu não era a mesma Thalia. Quando tentou me bater segurei seu pulso... Luke apareceu segundos depois já aparentando querer socá-lo.

–Menininha imunda! Aberração! Quem você pensa que é? – o rosto estava tão vermelho quanto os cabelos; ele parecia mais magro e muito mais bêbado. Ocorreu-me que talvez ele sentisse falta de minha mãe, afastei o pensamento. Eu não amava aquela mulher, mas nunca mais iria querer os dois juntos. – Sou o único pai que você tem? – seus gritos estavam atraindo muita atenção.

Sorri; era um sorriso tristonho, ainda que gentil. Eu não compreendia a necessidade que aquele homem tinha em me ver sofrer, e ainda assim sentia pena.

– Eu tenho um pai, Hugo. E eu o amo.

Soltei seu pulso enquanto ele parecia ter convulsões. Foi muito rápido, ele tentou me agredir, e no segundo seguinte estava caído no chão: Luke o derrubara com um soco e um trovão ecoou por tempo suficiente para assustar a muitos. Não me afetei.

–Eu não tenho mais medo de você, Hugo. – me inclinei, me apoiando nos joelhos – Você é meu passado, a pior parte dele, a parte da qual nunca vou sentir falta... Apenas pena.

Ele não me incomodou mais.

Luke me puxou de encontro ao seu corpo, analisou meus braços, meu pescoço, as pernas...

–Não está machucada, está? Lia, se ele te machucou juro que vou... – selei meus lábios nos seus, calando as palavras, agradecendo assim por ter me defendido.

–Não, não aconteceu nada. Eu tinha mesmo que enfrentar meu passado... E você ajudou. Obrigada.

–Então nós já demos adeus ao passado. O que nos aguarda?

–O melhor dos presentes – ele riu.

–E um sonhado futuro – era sim, minha vida havia ganhado luz, cores, sentido. Eu finalmente tinha pelo que lutar, o que defender, alguém que me protegeria... Naquele instante, mais do que qualquer outro, um marco se fez na minha alma. Eu nunca mais estive só. E ele também não.


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Notas finais do capítulo

Ainda vão querer um epílogo?
De qualquer forma, este é o último cap =')