May - Parte IV escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 9
Road Restaurant


Notas iniciais do capítulo

Uma bela noite, quando May decide parar para descansar na estrada, um carro aparece e dentro dele tem um rapaz, o que esperar desse rapaz? seria ele perigoso ou benéfica à May?



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Eu estava dirigindo pela estrada novamente, cabelos ao vento, jaqueta de couro voando, uma calça de couro por dentro das minhas botas de cano longo e a cada vez que eu acelerava o barulho do moto me fazia sentir cada vez melhor. Era uma sensação enorme de liberdade.

Decidi fazer uma parada para beber um pouco de água num pequeno rio que consegui enxergar da estrada. Levei Haley - sim, apelidei minha moto - comigo, não podia me dar ao luxo de perdê-la. Estacionei a um canto e fui beber um pouco d'água. Isso era muito bom. 

Assim que terminei voltei à estrada e decidi descansar por ali, afinal, eu tinha uma longa viagem pela frente e meus ouvidos eram sensíveis. Sentei com as pernas cruzadas no mato e depois deitei, fiquei olhando as estrelas e infelizmente comecei a pensar.

Pensei em como seria tudo mais simples se eu tivesse ido embora com Remi aquele dia. O pai estaria vivo e maltratando a mãe do jeitinho que ela gostava. Como ela podia gostar daqueles mal tratos? Como ela podia chorar por ele daquela maneira e me chamar de monstro? Senti lágrimas brotarem em meus olhos e decidi sentar, algo que fez com que mais lágrimas saíssem dos meus olhos, pois por mais que me minha mãe me odiasse eu não conseguia odiá-la. Eu juro que tentei.

De repente apareceu uma luz muito forte na estrada, olhei em direção à luz, era um carro se aproximando. Continuei olhando para baixo, esperando o carro passar, mas para minha surpresa o carro parou alguns poucos metros antes de mim. Droga. Seria Stryker? Algum mutante estúpido que trabalha pra ele? Algum policial? Um tarado idiota? Fiquei parada aguardando o que sairia do carro. Os faróis ficaram mais fracos e de lá saiu um rapaz de cabelos castanhos, com uma blusa azul com uma listra no peito azul clara. Ele fechou a porta, colocou a chave no bolso e veio em minha direção.

- Olá, tudo bem com você senhorita? - ele ainda andava em minha direção.

Enxuguei minhas lágrimas rapidamente.

- Sim - respondi.

- Mesmo?

- Sim!

- Sua moto não acabou a gasolina?

Olhei para Haley e depois pra ele.

- Não.

- Então... o que está fazendo parada sentada na beirada da estrada? Perdida?

- Não. Só estou... descansando.

- No meio do mato?

- Sim.

- Posso te fazer companhia?

Ele se sentou ao meu lado antes que eu respondesse e cruzou as pernas.

- Meu nome é Tomas, mas pode me chamar de Tom.

Ele esticou a mão para mim e eu correspondi pegando a dele.

- May.

- Desculpe, o que?

- May! Meu nome é May.

- May... que nome interessante.

- Meu irmão que me deu.

- Ah.. sim..

Ele deu uma risadinha e eu o acompanhei, parecia que tudo se explicou quando expliquei a origem do meu nome. 

- Então Tom... você costuma fazer essas loucuras?

- Que loucuras? - ele brincava com a chave na mão.

- Parar na estrada e falar com as pessoas.

- Não vi mal algum em parar para ajudar uma garota e...

- E se eu for uma maníaca psicopata? 

- O quê? - ele deu uma risadinha não acreditando.

- Se eu te disser que pra ter essa moto eu matei um homem? Você não tem medo do que eu possa fazer com você?

- Você não vai fazer nada comigo. Eu não tenho nada que lhe interesse - ele sorriu pra mim.

- E se eu for canibal e te disser que eu estou morrendo de fome?

- Eu não acreditaria em você, porque se fosse mesmo já teria me matado.

- Hunf! Espertinho você hem!

Ele deu uma risadinha.

- Obrigado. Então May, qual a verdadeira razão de você estar na estrada sozinha?

- Eu... eu tenho um problema - ele me olhava, esperando que eu dissesse mais alguma coisa. - Um problema que faz com que todo mundo queira ficar longe de mim - dei uma risadinha.

- E qual seria esse problema?

Eu o olhei nos olhos, será que eu devia contar a ele? Bom, deve ser melhor porque assim não me decepciono com ele mais tarde.

- Eu sou imortal.

Ele me olhou surpreso.

- O quê? - ele perguntou espantado. Revirei os olhos e olhei pra grama. - Isso é... INCRÍVEL!

Eu o olhei assustada.

- Você... você acha incrível? 

- Claro! Quem nesse mundo não quer imortalidade?

- Mas não é só isso.

Deixei meus instintos felinos fluírem e minhas unhas cresceram, meus dentes caninos aumentaram e meus olhos provavelmente estavam âmbar e com pupila igual as de um felino.

- Você.... você...?

- Eu tenho instintos felinos também.

- Uau - ele disse. - Você é realmente incrível!

- Qual o seu problema? - respondi.

- Por que? Você quer que eu te chame de aberração? Que eu fique com medo e saia correndo? Porque eu não quero fazer isso, eu não tenho medo de você. Acho você realmente incrível.

- Você... acha?

- Sim. E para ser honesto, essas pessoas que te rejeitaram estavam com inveja de você.

Dei uma risadinha meio tímida e voltei ao normal.

- Obrigada.

- Então, que tal dormirmos em um lugar digno?

- Como?

Ele se levantou e apontou pra continuação da estrada.

- Mais a frente tem um restaurante. Que tal me acompanhar?

- Não sei. Eu não tenho dinheiro.

- Isso é o de menos May. Vem comigo, você me segue com a sua moto. Que tal?

Ele esticou a mão para mim, pensei por alguns segundos. Bom, ele sabia o mal que estava atrás dele então, não vi porque não segui-lo, afinal, ele não me faria mal algum que eu não quisesse deixar. Segurei a mão dele, ele me levantou, fui em direção a Haley, a liguei e segui o carro velho e azul de Tom.

Andamos por mais um longo tempinho na estrada até que chegamos em um restaurante cheio de luzes de neon na porta, era vermelho e estava escrito em neon: Road Restaurant. Estava bem cheio, muitos carros estacionados na porta. Pareci restaurante de família. Tom saiu do carro e eu desci da moto assim que estacionamos.

Ele se aproximou e esticou o braço pra mim. Dei uma risadinha e peguei o braço dele. Assim que entramos um sininho tocou anunciando nossa chegada. Algumas pessoas olharam e cumprimentaram Tom. Parecia que muitas pessoas ali o conheciam. Então uma senhora meio gordinha e baixinha saiu de trás do balcão.

- Tom querido! 

Soltei o braço dele e eles se abraçaram rindo.

- Vejo que trouxe companhia hoje - disse a baixinha olhando pra mim com um sorriso.

- Sim. Mãe, essa é May. May, essa é minha mãe, Mary.

- Olhe só! Temos quase o mesmo nome querida - ela riu e correspondi o riso em pensar que era verdade.

Ela me abraçou e eu correspondi ao abraço meio sem jeito, afinal nunca fui abraçada com tanto carinho em toda a minha vida. O abraço dela transmitia um amor tão grande que me deu vontade de chorar. Era um abraço de mãe e eu nunca havia sentido isso em toda a minha vida. A única coisa que ganhei da minha mãe foi um xingamento por tê-la salvo de meu pai.

- Oh querida, está chorando? - perguntou Mary olhando meu rosto.

- Não - respondi e limpei rapidamente as lágrimas que surgiam.

Ela deu uma risadinha e eu tentei fazer com que aquelas lágrimas estúpidas parassem.

- May estava na estrada, ela não tem lugar pra dormir nem dinheiro pra comprar comida - disse Tom para Mary.

- Oh não! - Mary olhou para mim espantada. - Você deve estar morrendo de fome pobrezinha. Sente-se, sente-se, vou trazer algo pra você comer.

- Obrigada - disse honestamente.

Tom me guiou até uma mesa e se sentou de frente pra mim.

- Então May. Por que chorou ao abraçar minha mãe?

- Eu não... - era inútil esconder. - Ok. É porque eu nunca recebi um abraço de mãe em toda a minha vida.

- O quê? Sua mãe nunca te abraçou?

- Minha mãe nunca tocou em mim.

- Nem quando você nasceu? - fiz um sinal negativo com a cabeça. - Que absurdo! Isso não é uma mãe! Então você nunca teve mãe.

- Nunca. Nem mãe, nem pai, só meu irmão.

- Seu irmão? É verdade, você falou que ele que te deu seu nome. Você vai encontrar com ele?

- Não. Não sei onde ele está. Ele me abandonou há alguns anos, disse que voltaria pra me buscar mas acabei indo embora de casa sozinha.

- E agora anda por aí de moto.

- Mais ou menos isso.

Rimos. Poucos minutos depois Mary chegou com um super almoço, um almoço que nunca sonhei em comer em toda a minha vida, tinha até batata frita. Quando coloquei um pedaço de bife em minha boca, era como comer a coisa mais saborosa do mundo.

- Nossa, isso é muito bom!

- Obrigada querida - disse Mary.

- Não sério! É muito bom mesmo, eu nunca comi bife antes.

- O quê? - eles me olharam surpresos.

- Meu pai falava que pra fazer bife gastava muita carne.

- Que ridículo! - gritou Mary e depois tapou a boca. - Desculpe querida.

- Tudo bem, meu pai era ridículo mesmo. Ele já morreu e está no inferno agora, espero que esteja sofrendo.

Eles não falaram nada e eu continuei a comer a melhor refeição da minha vida.


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