May - Parte IV escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 3
Cura Rápida


Notas iniciais do capítulo

Aquela garotinha que tinha uma vida triste, parece agora ter encontrado alguém que a fez ter um pedacinho de alegria nesse mundo bagunçado, mas quanto tempo será que sua alegria iria durar?



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Quando fiz onze anos, comecei a frequentar a mesa do jantar e a poder chamar meu pai de pai e minha mãe de mãe, pois até os onze, nunca havia dirigido nenhuma palavra a eles. A razão para isso ter acontecido? Simples, concorri a vários concursos de miss graças ao incentivo de July e acabei ganhando algum dinheiro, o que fez meu pai começar a gostar de mim. Aprendi a me cuidar por causa de July, ela me ensinou a maquiar, a me preocupar com meu cabelo, saber como se comportar com os garotos, enfim, July se tornou minha melhor amiga, éramos inseparáveis, para me encontrar era só procurar por July, e para saber onde July estava, bastava me procurar.

Graças à ajuda de July a respeito de me arrumar, acabei me tornando uma celebridade em minha pequena cidade. July e eu éramos as mais cobiçadas da cidade. Remi morria de ciúmes com as propostas que eu recebia.

Na escola nós éramos super populares, todas as garotas queriam andar com a gente , faziam de tudo, o que era até engraçado. Nós não éramos más, mas também não éramos boazinhas, pois se fossemos muito boazinhas, as outras perderiam o respeito por nós. 

Uma noite, enquanto fazia meus deveres junto com Remi, escutei vidro se partindo na cozinha, corri pelas escadas e fiquei olhando da porta. O pai estava nervoso, ele bateu na mãe e ela caiu sobre a mesa, ele puxou o cabelo dela pra trás, levantou o vestido dela e ela implorava para que ele não fizesse isso, ela chorava. Vendo os olhares sofridos de minha mãe, seus olhos tristes vindo em minha direção, comecei a chorar, não suportava ver minha mãe sofrer. Os olhares dela pareciam se preocupar comigo. Eu queria poder salvá-la.

De repente, mãos taparam meus olhos e fui de encontro ao peito de Remi, eu o abracei e chorei ainda mais.

– Ssssh, calma May. Não chore, vai ficar tudo bem. Vai ficar... tudo bem- ele falava e fazia cafuné em minha cabeça.

Enquanto Remi falava, podia escutar os gritos de minha mãe e meu pai ordenando que ela calasse a boca. Remi me levantou e me dirigiu a caminho do quarto novamente. Não levantei meus olhos em momento algum. Ele se sentou na cama dele junto comigo. Não desgrudei da blusa dele, eu queria ficar ali abraçada com ele e esquecer do mundo. Acabamos pegando no sono juntos.

Não foi só aquela noite, infelizmente eram várias noites em que minha mãe sofria, mas aquela foi a primeira vez que vi o início da ação de meu pai, primeiro eu só ouvia, depois via minha mãe chorando no canto da cozinha.

Aquele olhar da minha mãe, daquela noite em que vi o que o pai fazia, ficou e fica até hoje em minha mente, a tortura, o pânico, o medo de aquilo me traumatizar para todo o sempre, com aquele olhar, senti o verdadeiro amor que minha mãe sentia por mim e assim consegui amá-la sem sentir remorso por não me querer viva. Percebi que não era culpa dela.

...

Aos quinze anos, July e eu nos tornamos líderes de torcida e ficamos mais populares dos que já éramos. E foi aos quinze que consegui meu primeiro namorado, seu nome era Robert, mas todos o chamavam de Bobby. Robert era lindo, seus cabelos eram castanhos escuros e os olhos de um verde acesso, era o garoto mais cobiçado de toda a escola, até July o cobiçava. Para falar a verdade, July o queria mais do que eu. Conversamos com July, Bobby disse que o meu jeito o deixava encantado, o jeito misterioso que eu tinha, ele dizia querer saber mais de mim. July demorou um pouco para aceitar, mas consegui fazer com que nossa amizade continuasse.

Obviamente não apresentei Bobby em minha casa, o apresentei apenas para Remi e ele mesmo me disse para não levar Bobby em casa.

Naquela tarde, eu, July, mais duas garotas líderes de torcida, Bobby, e mais quatro jogadores de futebol, saímos para nos divertir, brincávamos num grande espaço gramado, era quase que uma praça enorme mas podia ser melhor comparado a um campo aberto. Jogávamos um disco vermelho para o outro, eu e as meninas fazíamos dancinhas de líder de torcida e durante o jogo de disco, para que o disco não passasse da área limitada daquele campo, dei um salto gigantesco, o que assustou até a mim mesma e caí em cima da cerca de arame farpado. Graças ao impacto o arame enrolou todo em meu corpo, senti todos os arranhões.

– May! – ouvi July gritar.

Bobby chegou primeiro até mim, comecei a ver o sangue em minhas mãos.

– Me ajudem, por favor, me ajudem - eu suplicava em pânico ao perceber que estava sangrando muito.

Eu tentava me livrar daqueles arames farpados que me machucavam demais. O desespero tomara conta de mim.

– Fique quieta e quem sabe a gente consegue – disse July tentando me ajudar junto com Bobby.

Eu estava em pânico, aquilo estava me machucando demais, podia ver Bobby e July sangrando um pouco as mãos enquanto tentavam me tirar do arame. Assim que uma mão minha estava livre, tirei um arame que estava me incomodando mais, um que havia perfurado meu tórax. Na verdade eram mais de um, eram vários arames que estavam atrapalhando minha respiração. Quando eu tirei, rasgou ainda mais minha pele.

– May! – July disse horrorizada ao ver minha carne exposta, brilhando de tanto sangue.

– May, quer se acalmar? Desse jeito você vai acabar com você mesma – disse Bobby.

Continuei a tirar rapidamente, estava incomodando muito. Bobby também me ajudava e enquanto ele tirava delicadamente para não me machucar, eu puxava a perna assim que via um espaço livre.

– May.

Olhei para July e ela olhava com um pouco de estranhamento para meu rosto, que foi onde tirei rapidamente o arame farpado.

– O que foi? – perguntei meio desesperada.

– Sua... suas cicatrizes...

– O que? O que houve?

Bobby olhou rapidamente, se assustou e se afastou.

– O que houve? – gritei em pânico.

– Elas estão se fechando – disse July levando a mão à boca.

– O quê? – perguntei em pânico.

Olhei rapidamente para minha mão e as cicatrizes presentes nela também estavam se fechando, pareciam estar se curando rapidamente. Me levantei e July e Bobby se afastaram em pânico. Tirei o restante do arame agarrado em minha perna. Todos os outros que estavam com a gente também começaram a se afastar. Eu olhava para minhas mãos e minhas cicatrizes sumiam, viravam uma nova pele rapidamente. Olhei todo aquele sangue em mim e nenhuma cicatriz, até aquele machucado enorme que havia feito perto do meu tórax estava curado, parecia apenas que eu havia rasgado um pedaço da minha roupa de líder de torcida. Olhei para meus amigos e todos eles me olhavam como se eu fosse uma aberração, até mesmo July.

Saí correndo para casa. Naquele momento só Remi me entenderia, ele tinha que me entender. Corri o mais rápido que pude, parecia que todos me olhavam, me condenavam. Eu precisava agora de Remi, precisava dos cuidados dele, não podia confiar nos outros, eles estavam com medo de mim.


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