Aquilo que Cody tinha me contado... Sobre o Mateus ter... estuprado a namorada dele, e sair impune por ser filho de dono de estaleiro, tinha me deixado perplexa. Ainda mais o fato de Mateus ter beijado Cody, e depois o humilhado... Eu não acreditava mais nele, mas Cody tinha me avisado do Kenny, como Mateus tinha dito... Mas antes, eu teria uma conversa séria com ele, apesar de estar com medo.

Cheguei em casa e Ian viu que eu havia usado sua moto, ele ia começar uma aporrinhação, mas deve ter notado algo de estranho em mim, porque engoliu suas sentenças:

-Tudo bem? - perguntou ele.

-Não. - respondi seca. Ele não perguntou o porque.

Eu vi a porta do quarto de Mateus semi aberta e fui logo entrando, com muita raiva:

-Ei! - ele disse.

-Preciso falar com você... - depois de fechar a porta e me virar, vi que ele estava só de cuecas box, mas ignorei esse fato.

-O que? - disse ele confuso.

-Você mentiu.

-No que?

-Quando disse que a namorada de Cody estava bêbada e tinha ficado contigo. Era mentira, você a estuprou.

-Quem te disse isso? - disse ele raivoso.

-Cody. E todos aqueles que você humilhou naquela noite. E você o beijou.

-Eu... estava bêbado! 

-Isso não justifica! Já fiquei bêbada e não fiz metade dessas coisas! Você estuprou aquela menina! 

-Já perguntou a ela?! Talvez ela tenha gostado, porque foi isso que ela me disse depois. Ela estava sóbria, e lembro-me muito bem dela ter me conduzido para um lugar estranho. Ela me tocou, e pediu, esse viado diz essas coisas para ficarem com peninha dele! É um viado corno!

-Você disse que se arrependia daquela noite! - eu não sei porque, não me pergunte, mas aquela frase, saiu chorosa, como se ele tivesse me magoado de verdade. Eu não estava magoada, eu esperava que ele mentisse, mas... A única coisa que consegui fazer, foi sair as pressas, me perguntando o porque do choramingo e sentar no piano do meu quarto depois de trancar a porta.

Toquei uma música que começava alegre, depois ia entristecendo... Como flores de primavera, que mudam de estação, murchando. Não quis anotar, mas já tinha um nome para aquela valsa: A morte das Flores.

Fui tomar um banho, quente, ouvindo Kenny G. Eu ia lavando os pensamentos, e o meu corpo, e quando me dei conta, meu rosto estava vermelho, e eu estava confusa, e me sentindo estranha, e mal, muito mal. Mateus tinha mentido pra mim, e talvez estivesse mentindo de novo, Cody tinha uma namorada possivelmente estuprada ou, fora traído pelo melhor amigo! Eu não sabia porque estava me envolvendo tanto naquilo, mas resolvi falar com a menina. 

Pus uma roupa para ficar em casa e deitei-me na cama, mas fiquei tão inquieta, que resolvi mexer um pouco no computador, nas minhas redes sociais, e resolvi procurar a tal garota, e por incrível que pareça, achei. Estava em umas fotos muito antigas do Cody, eles se beijando. DEpois que cliquei no nome dela, apareceu uma foto bem antiga também, de uma festa, onde ela estava abraçada com o Mateus que estava visivelmente bêbado. Palpite meu que fosse ela. Era normal de rosto, de corpo, só tinha mãos muito pequenas. Branca, loira de mechas californianas. Uma típica menininha de balada de vestidinho curto e cabelo grande liso ou ondulado, de sapatos altos. Resolvi adicioná-la, e meu pedido de amizade foi aceito quase que instantaneamente. Resolvi puxar papo pelo chat:

oi, td bem? eu sou a aluna nova, carla

ooooi, eu sei, t vi no intervalo

então, há qnt tempo vc ta na escola??

bastante... desde do 6...

noossa, a gnt podia sla, sair um dia desses p vc me falar disso...

pode ser, vai ser mt boom

ok

a gnt pode flar na saída

bora p barzinho

ah, okay!

vc e mt maneira, mas eu tenho q iir

haha, tá, vai la, 

xoxoxo

bj...

É, ela é meio estranha, mas estava marcado.

Fiquei pensando... Pensando... E de repente, ouço baterem na minha porta:

-Quem é?! - gritei.

-Ralph! - corri pra destrancar a porta, e abri:

-Oioi!

-Oi, então, eu vim me desculpar do... incidente na escada.... - e riu.

-Que isso! Eu que saí na afobação, eu sou meio desastrada...

-É, eu vi. - e riu de novo, mas mais descontraído.

-Mas pode deixar, eu não vi nada!

-Ah, é... Foi mal também nisso, eu ia usar a minha suíte, mas o Aden tinha usado pra brincar com os dinossauros dele, então... Resolvi usar o de hóspedes.

-Não tudo bem, a casa é sua...

-Então, como foi na escola?

-Sério?

-Sério! - e sentou-se no sofá e deu tapinhas indicando para eu sentar-me ao seu lado, e estava meio perto demais, mas eu sentei mesmo assim.

-Bom, foi... Interessante.

-Você parece incomodada.

-Como pode saber?

-Faço faculdade de artes cênicas e teatro há séculos, reconheço sua linguagem corporal.

-Uau! Como isso funciona?!

-Não desconversa! O que te aborreces princesa...?

Princesa?

-Ah, uma parada aí do Mateus, só isso.

-Olha, o meu irmão é um adolescente difícil, mas um menino fácil.

-Ajudou muito, valeu!

-Haha, vou te explicar melhor, ele é meio cabeça de vento, mas determinado. Meio mulherengo, é verdade, mas quando o conhece bem, ele fica muito mais legal. 

-Deve ser mesmo...

-Meu irmão tem muitas histórias, é um menino... Eu não diria problemático, mas ele é...

-Complicado - falamos juntos.

-É...- ele tinha ficado assustado com aquela fala.

Estávamos bem perto, e eu sentia seu hálito de... laranja? Tic Tac. Tic Tac de laranja. Ele olhava bem fundo no meu olho, e eu no dele, e eu me perdi... Eram muito azuis, mais do que os de Mateus, eram mais claros... Os de Mateus eram azuis Royal, pera, como eu sabia disso??