P.O.V Rose Weasley

–Você está atrasado- eu disse, cruzando os braços sobre meu vestido estampado, que Victorie tinha feito especialmente para hoje. – Vamos lá, Scorp. Você tem um Weasley para matar do coração!- brinquei, empurrando de leve a porta.

Scorpius derrubou alguma coisa lá dentro.

–Já vai, Rose. Só um minuto- ele respondeu, com a voz abafada pela porta pesada de madeira.

Eu suspirei, batendo as costas na porta repetidas vezes, sem nenhum efeito. Entediada, comecei a girar minha varinha nas mãos, piscando em luzes coloridas, tentando me distrair do que eu estava prestes a fazer. Dominique não tinha mentido quando dizia que a vida após Hogwarts era complicada. Tinha pouco mais de dois meses que havíamos nos formado, e eu já estava com um emprego garantido no St. Mungus, enquanto Scorpius havia sido indicado para um cargo no Ministério da Magia. E além de dar um rumo para a minha vida, minha situação amorosa também estava na reta.

Flashback on

Eu encarava a mesa repleta de fotos de Dominique. Ela já estava com o cabelo loiro preso, afastado do rosto naquela tarde quente de verão, virando foto atrás de foto. Nique tinha conseguido um estágio em fotografia no Profeta Diário, trabalhando com a Tia Gina cobrindo partidas de quadribol.

–Não sei como você aguenta- disparei, observando a cena. Podia estar com Lily, sem fazer nada, se ela e meu irmão não estivessem se pegando. Tinha deixado os dois em casa e ido fazer uma visitinha a Dominique.

A loira ergueu o olhar da foto onde o apanhador da Irlanda agarrava o pomo.

–E ela ainda é minha sogra- Dominique reclamou, estreitando os olhos para observar a foto. – Acha essa muito apelativa?

–Não. - respondi, pegando a fotografia dela. – Boa captura do momento.

Dominique sorriu, pegando quase saltitante a foto da minha mão e com um aceno de varinha guardando as demais. Ela se jogou na mesa.

–Tá quente demais pra trabalhar. - bufou, soprando a franja dos olhos.

Eu ri, feliz por minha velha mania de usar rabos de cavalo. James abriu a porta do apartamento de Nique e Victorie com um estrondo. Ele estava suado do treino de quadribol (depois de provar ser realmente bom, tinha conseguido virar reserva do) e se jogou em cima da namorada.

–Eca, seu inútil- Dominique gritou, empurrando James. Ela fez uma careta- Vai tomar o raio de um banho e não me apareça aqui sem ter passado meia hora debaixo do chuveiro.

–Também amo você- James respondeu. –Olá, Rose. Vai morar aqui também?

–James, não seja inconveniente. O apartamento é MEU, não SEU ou do Teddy, como vocês dois gostam de pensar. Posso te expulsar daqui a qualquer momento. - Dominique ergueu um dedo ameaçadoramente, enquanto James seguia pelo corredor e desaparecia. – Não suporto esse garoto. Falando em garotos...

–Ah não.

–Quando você e o Malfoy vão assumir? De novo?

Eu tapei os ouvidos, numa atitude muito infantil.

–Qual é, Rose- ela continuou, puxando minhas mãos. – Já faz o que? Dois meses?

–Quase. - sussurrei em resposta. Dominique assentiu.

–Bem, dá no mesmo. Você não pode esconder isso para sempre. Seu pai vai enfartar, mas olha o meu também quase morreu quando me pegou com o James. Acredite, é muito pior desse jeito. E seu pai aceitou uma vez...

–É diferente. O James... Ele é seu primo. É outro tipo de errado. Eu estou com um Malfoy, Nique, e você sabe muito bem o peso dos sobrenomes, senhorita Delacour Weasley. E o peso desse determinado é dos piores. Além disso, meu pai odeia Draco Malfoy mais do que odiava o próprio Voldemort. Ele queria me proibir de ir para Hogwarts da outra vez.

–Seus pais ainda merecem saber. Quem sabe não é assim tão ruim. Vocês não podem viver para sempre escondidos. Escute a voz da sabedoria. – Dominique colocou a mão no peito, dramatizando a última frase.

Eu bati de leve no seu ombro, conferindo o relógio e fazendo uma careta para o sol de rachar lá fora.

–Tenho que ir. Minha mãe acha que Hugo e Lily não estavam sozinhos, e ela chega do trabalho daqui a pouco.

Enquanto eu saia do apartamento e aparatava para casa, não conseguia parar de pensar que Dominique tinha razão. Eu teria que passar por isso, cedo ou tarde.

Flashback off

E aqui estava eu, uma semana e meia depois, sendo um ponto de cor esperando Scorpius num corredor escuro da Mansão Malfoy. Enquanto eu brincava com a varinha, o Sr. Malfoy passou, franzindo a testa (basicamente, era o que ele fazia, segundo Scorpius).

–Cuidado com isso, menina- ele disse, num tom de voz neutro, como uma criança birrenta que se recusa em ser simpática.

A Sra. Malfoy apareceu logo depois.

–Não ligue para ele, querida. É sempre rabugento desse jeito. Ele ainda vai melhorar, sabe, quando ver que você não é seus pais e que muito menos o odeia.

–Então os Weasleys me odeiam?- o Sr. Malfoy perguntou, parando no meio do corredor e aumentando a cara feia.

–Não, Sr. Malfoy- me apressei em dizer, embora fosse uma meia verdade. A maioria da minha família tinha se tornado indiferente aos Malfoys, mas meu pai mantinha um ódio infantil por ele. Coisas de Ronald Weasley.

–Vamos, Draco- a Sra. Malfoy disse, colocando a mão no ombro do marido.

Segundos depois, enquanto os dois desapareciam no corredor, Scorpius finalmente abria a porta do quarto.

–Finalmente! Você demora mais que uma lady. - tive tempo de reclamar antes que ele me puxasse para um beijo.

–E você reclama demais. Uau. Adorei o vestido. - ele piscou, puxando a saia do meu vestido longo com uma fenda. - Devia usar roupas trouxas mais vezes.

–Eu uso. Toda a minha família usa. Você tem que admitir, eles são muito mais estilosos. – eu dei uma rodadinha, rindo. – Vamos, estamos atrasados.

–Ahan, tem certeza que precisamos fazer isso?- Scorpius perguntou, hesitante- Qual é, Rose, eu... Ah, eu... Droga, sua família é enorme. Como é que eu vou lá dizer que mais uma vez corrompi a menina de ouro deles?

Eu fui obrigada a segurar o riso, o puxando para descer as escadas.

–Você não me corrompeu, Malfoy. Ninguém me obrigaria a fazer nada, e você sabe muito bem disso. Eu estou com você porque eu quero. Porque eu te amo. – repeti, pela milésima vez, segurando o rosto dele, já na sala da Mansão Malfoy. Iriamos pela rede de flu, direto para a Toca.

Scorpius me puxou para mais perto.

–Eu te amo tanto, Rose Weasley, que vou me jogar aos dragões por você. Quer dizer, vou admitir na frente de um exercito de ruivos que estamos juntos.

–Pronto?

–Eu nunca, nem em um milhão de anos, estarei verdadeiramente pronto para esse momento- Scorpius dramatizou.

Sem dizer mais nada, entrei na lareira e gritei “Toca”, sendo seguida pelo loiro. Chegamos quase no mesmo instante, limpando a fuligem.

–Aqui, aqui, querida- Vovó Molly apareceu com um espanador, dando um abraço em cada um de nós enquanto limpava a sujeira. – Oh, Scorpius, finalmente estou te conhecendo dignamente!- ela exclamou, parecendo ansiosa.

–Vamos, vamos, estão todos lá fora. Tirando James e Dominique, é claro, mas eles parecem ter ume estoque infinito de oxigênio para ficarem se beijando tanto pelos cantos... Ah, mais eu encontro esses dois!

Eu entrelacei meu braço no de Scorpius. Se possível, ele parecia mais nervoso do que nunca. Vovó passou de novo, pelo lado de fora dessa vez, resmungando algo sobre “os jovens dessa época” e “sem vergonhices na minha casa”. Scorpius arregalou os olhos.

–Não consigo fazer isso.- ele só soltou, andando de um lado para o outro. – Não dá. Rose, você sabe como eu... Ah, por que você não fala? Eu realmente preciso vir aqui e...

–Deixa de ser covarde!- eu suspirei, depois de ter falado alguns decibéis acima do normal. – Essa situação é absurda. Vai dar tudo certo, pelo amor de Merlin, Scorpius. Chega desse seu drama e essas desculpinhas. Levante daí. Ninguém vai ter um ataque. Ninguém vai morrer por isso. Porque se você não fizer isso, Scorpius, esquece. Não tem mais nós dois, por mais melodramático que isso soe.

Eu bufei, andando até o outro lado do cômodo escondendo o rosto nas mãos. Droga. A gente sempre acabava nessa mesma história. Fiquei encarando a janela enquanto Scorpius não dizia nada.

–Rose- ele começou, segurando meu braço. Eu puxei o mais delicadamente que pude. – Eu faço qualquer coisa por você- ele sussurrou.

Minha respiração falhou, como sempre acontecia. Esse loiro acabava comigo de todas as formas (sem interpretar mal). Antes que eu dissesse alguma coisa, Scorpius enlaçou nossos braços e abriu a porta que dava até o enorme quintal da Toca.

Quase caímos para trás ao encarar a “multidão” ali na frente.

–VOCÊS ESTAVAM ESCUTANDO ATRÁS DA PORTA?- eu gritei.

Molly cruzou os braços.

–Estava melhor que filmes trouxas!

Lily ergueu um pote de pipoca, que dividia com Hugo.

–Não quero nem saber onde arrumou isso, mocinha- vovó Weasley brigou.

Meu pai, logo na frente, parecia irritado.

–Finalmente, hein moleque. Achei que nunca ia se apresentar dignamente. Não que eu espere dignidade de voc...

–Ronald!- minha mãe gritou também, parecendo apavorada com o que mais ele poderia dizer. – Desculpe por isso. Quer dizer alguma coisa, Scorpius?

Eu o cutuquei de leve.

–Hãã- ele gaguejou.

–Não sabe nem o que dizer- meu pai sussurrou, um pouco alto demais.

–Não, Sr. Weasley. – Scorpius finalmente se pronunciou. – Eu sei exatamente o que dizer. Eu posso estar morrendo de medo, mas estou aqui agora para dizer que sua filha é uma pessoa maravilhosa. Não consigo saber o que seria da minha vida sem ela.

–Oh, por Merlin, não a peça em casamento agora- tio Jorge brincou. – Já basta o James e a Dominique.

Eu ri, e Scorpius pareceu confuso enquanto meus parentes se dispersavam.

–Foi... isso?

–Isso.- eu confirmei, e ele balançou a cabeça, rindo também.

–Sua família é louca, Weasley- ele me puxou para um beijo, mas meu pai pigarreou.

Scorpius se afastou, nervoso.

–Olá, Sr. Weasley, Sra. Weasley.

–Oh, sem formalidades, querido- mamãe disse sorrindo. – Estamos felizes por finalmente terem se apresentado.

Scorpius pareceu ainda mais sem graça que antes. Eu peguei sua mão, tentando aliviar qualquer nervosismo que ele estivesse sentindo.

–Mais ou menos, Hermione, mais ou menos- meu pai corrigiu. – Então, Malfoy, eu espero que tudo que tenha dito seja verdade. Você não é o que eu sonhei para minha filha, mas se a faz feliz... Apenas lembre-se que toda a Armada de Dumbledore vai te caçar até os sete infernos se fizer alguma coisa para magoar Rose.

E então ele saiu, com minha mãe se desculpando. A mesa enorme já estava pronta, a família toda reunida ali, com apenas dois lugares vazios.

Peguei Scorpius sorrindo para a paisagem que sempre me fora tão familiar.

–Sua família me dá medo, Rose- ele começou a falar, me abraçando. – Mas no fundo eles são muito legais. Espero que pelo menos aprendam a me suportar.

Eu me virei, abraçando-o.

–Ainda tem muito tempo para ganhar a confiança dele. Mas não se preocupe, a maioria já o adora.

Enquanto eu o beijava, conseguia escutar os gritos e as palmas. Sabia que Tio Jorge, Fred e até Roxanne nunca vão deixar de brincar sobre isso. Que Lily dizia algo como “eles são tão lindos”. Sabia que James tinha aproveitado a deixa e agarrado Dominique, assim como Teddy e Victorie.

–Eu te amo.- eu sussurrei, logo depois do beijo.

–Isso é ser uma quebradora de corações. O meu é seu agora, para sempre.

***

No fim das contas, o manual de Dominique não serviu para quebrar corações. E sim para junta-los.

***

CINCO ANOS DEPOIS

Dominique e James se casaram no Chateau dos Delacour, na França. Ela trabalhava como revisora de fotografia, no Profeta Diário. James é o atual capitão do time campeão de quadribol da Europa. Está até convocado para a Copa Mundial.

Teddy e Victorie esperavam agora seu terceiro filho, enquanto seus casais de gêmeos com a elegância de franceses e cabelos coloridos corriam por aí.

Lily e Hugo seguem felizes com o sobrinho mais lindo do mundo, Aaron.

Alvo finalmente arrumou uma namorada decente, e que o ama, a Juliette. Eles acabaram de ficar noivos, e são um amorzinho juntos.

Molly e Fred continuam enrolados, Roxanne se nega a entrar em relacionamentos e vovó Weasley escreveu um livro de receitas.

Quanto a “Scorose”? Bem, posso dizer que estamos melhores que nunca. E que amanhã é o dia do nosso casamento.