Spencer entrou no Dragão, em Baldock, e encontrou seu criado caminhando no hall com expressão ansiosa no rosto.

-Finalmente chegou, Milady!- exclamou o criado, aliviado.  Ficamos preocupados. Mas calculamos que a tempestade a  obrigara a procurar abrigo em algum lugar.

- Estou bem- disse Spencer.

E antes que pudesse formular a pergunta, o criado cochichou:

- Milady, há uma moça aqui dizendo que tem um encontro com a senhora. Ela não quis dar o nome.- diz o empregado

- Sim, eu marquei esse encontro. Onde está ela?- Spencer

- Na saleta que reservei para Milady. Chegou muito cedo, antes mesmo de- tenta dizer o empregado

- Leve-me até lá- cortou Spencer, sem ouvir as explicações.

O criado mostrou o caminho através do hall de vigas de carvalho. Desceu por um corredor e abriu a porta de uma pequena saleta, de frente para um jardim aos fundos da Casa.

Spencer entrou e viu um vulto dar as costas à janela.

- Encontrou o caminho?- Spencer começou a dizer.

Durante a viagem pensava que não fazia muita idéia da aparência de Emily. Na noite anterior, com a pouca luz do quarto lhe dera uma imagem vaga da jovem. Ela pensou, enquanto cavalgava: "Se encontrá-la na rua, duvido que possa reconhecê-la."

Agora, via que Emily era muito diferente do que ele se lembrava. Nem parecia a mocinha enlameada e amedrontada. A única coisa que permaneceu igual foi a voz suave

e melodiosa, quando ela exclamou:

- Você veio! Eu estava com medo de que a sua existência fosse um sonho!- diz Emily

P.V. Spencer On

Os olhos dela eram levemente puxados, combinando com o rosto forte, ainda pálido de cansaço. Tinham um castanhos vivos castanhos vivos, cobertos por pestanas escuras. O Preto e longo. E a pele era morena. E seus lábios eram de um vermelho convidativo. Ela era alta e elegante. Ela estava bem vestida e usava brincos. O cabelo em cachos, emoldurava seu belo rosto. Emily era, na verdade, graciosa.

"Exuberante é a palavra certa..." disse o Spencer a si mesmo.

P.V. Spencer Off

Spencer respondeu: eu também julguei ter sido um sonho o que se passara naquela noite.

- Mas, foi realidade!- disse Emily, vivamente. Então, uma expressão preocupada ofuscou o brilho dos olhos- Milady não mudou de idéia, não é mesmo?

Falava com hesitação. Spencer compreendeu que a pergunta a torturara enquanto o esperava. Ele moveu a cabeça, aproximando-se da lareira para esquentar as mãos.

- Não mudei de idéia. Mas quero falar seriamente com você, antes de irmos adiante.- diz Spencer

-  Então Milady se arrependeu -disse Emily depressa.- Eu compreendo. Não precisa se preocupar comigo. Ajudou-me a fugir. Eu lhe serei grata por toda a vida! Foi muita

bondade sua proteger uma estranha em circunstâncias tão  tristes! Se eu não tornar a vê-la, quero que saiba que pensarei sempre em Milady, agradecendo-lhe de todo o meu coração.

Emily se aproximara ao falar. O Spencer fitou o rosto bonito erguido para ela. Era impossível duvidar da sinceridade daquelas palavras. Ela nunca vira uma mulher, cujos olhos refletissem tão completamente os seus sentimentos. Por isso, acreditou que Emily  nunca poderia lhe mentir.

- Você está se precipitando- disse Spencer, com calma- Está errada, muito errada mesmo.

- Então quer dizer que prosseguirá com o plano?- diz Emily esperançosa

- Se você quiser. Em primeiro lugar desejo falar com você. Sente-se, Emily. Já tomou café?- diz Spencer

- Já respondeu ela. E Milady? Comeu alguma coisa?- diz Emily

- Serviram-me um café mas, estava péssimo. Não quero nem me lembrar dele- diz Emily fazendo cara de nojo e sorrindo.

0 que chamou a atenção de Emily é a primeira vez que ela vê o sorriso brilhante da marquesa.

- Por favor, Milady, peça alguma coisa agora. Eu posso ouvir o que tem para me dizer, enquanto come.- Emily

- Há bem pouco tempo- lembrou Spencer- Seu tutor está procurando por você.

Ela viu o medo surgir nos olhos de Emily.

-  Quando eu saí do meu quarto,  às sete horas da manhã para pedir  água quente ao estalajadeiro Lord Noel estava furioso com o cavalariço. Gritava, mandando que procurassem você. Sem perceber que eu o ouvia do alto da escada, ele dizia que você tinha que estar em algum lugar próximo.- diz Spencer

-  Então ele está  me procurando!- murmurou Emily, em um fio de voz.- Não pensei que pudesse ser encontrada com tanta facilidade!

- Você  ainda não foi encontrada- disse Spencer, animando-a.- E quando ele chegar a Baldock, nós já  teremos partido. O que eu queria lhe dizer é ...

Fez uma pausa, notando que ela torcia as mãos, nervosamente.

- Prometo que vou salvar você de Lord Noel, de qualquer jeito. Posso levá-la para a casa de um parente meu, que cuidará de você até que consigamos derrotá-lo na Justiça- diz Spencer

-  Não, não! Milady não precisa fazer isso- cortou Emily.- Eu não quero ser um peso em sua vida. Se me levar a Londres, encontrarei um amigo de meu pai ou um emprego. Eu vou me esconder de Lord Noel, e ele nunca irá me encontrar!

- Poderá se esconder durante três anos?- diz Spencer

- Vai ser difícil admito mas, eu conseguirei.- diz Emily

- Sem dinheiro?- insistiu Spencer.

Emily deu um profundo suspiro. Falou com terror na voz:

-  Não posso voltar! Ele vai me bater de novo e me obrigar a casar com ele! Não resistirei por muito tempo- diz Emily

- Nós vamos levar o plano adiante.- diz Spencer

Os olhos castanhos erguidos para ela, brilharam, de repente.

- Está falando sério?- Emily

-  Estou. E o que queria lhe dizer  é  que vou lucrar com essa farsa, tanto quanto você. Não precisa ser grata a mim. Eu salvarei você daquele homem, mas você vai livrar-me

de uma situação desagradável da qual preciso sair.- diz Spencer

Perdita juntou as mãos:

- Mesmo assim eu lhe sou grata! Mais do que posso dizer sinto, em meu coração, que Milady foi enviado para me salvar. Estava marcado que eu devia encontrá-la e que Milady seria tão amável, compreensiva e nobre.

Pronunciou as últimas palavras com suavidade.

- Você confia demais em mim- diz Spencer.- Suponha que eu me transforme em uma ameaça pior que Lord Noel.

 -Milady, não!- Emily sorriu.- Eu nunca me engano com as pessoas. Como disse ontem à noite, confio em Milady. E sei que posso confiar. Tudo o que peço é que me permita

ajudá-la, de alguma forma, a sair de suas dificuldades.

- Bem. Agora posso tomar café.- diz Spencer  

Antes que ela tocasse a campainha, Emily  falou depressa:

- Há outra coisa- diz Emily.

- Que é?- diz Spencer

- Os criados falam. Não podemos chegar a Londres e dizer que nos casamos, sem termos certeza de que os criados acreditem nisso. Até agora, não tivemos oportunidade

de realizar o nosso plano.- diz Emily

- Tem razão- disse Spencer, enrugando a testa.

- Enquanto estava à sua espera, eu tive uma ideia. Enquanto viajamos para Londres

paramos em Welwyn. Há dois dias minha ama recebeu carta de uma amiga. Contava as novidades locais, dizendo que o velho vigário morrera.- diz Emily  

- Quer dizer que devemos fingir que nos casamos em Welwyn? – Spencer

- Isso mesmo. Porque o substituto do vigário, ainda não deve ter sido nomeado. Assim, guandu quisermos anular esse falso casamento, será fácil provar que na época, não havia nenhum vigário na cidade. Portanto, quem nos casou foi um impostor! – diz Emily

- Estou vendo - comentou Spencer sorrindo - que você é uma intrigante muito hábil!

- Meu pai costumava dizer que se alguém contar uma mentira, deve contá-la bem.- Emily  

- Eu não diria que você é uma pessoa que mente muito. Ou estou enganada?- Spencer curiosa.

- Está certa, eu sempre digo a verdade. Mas, meu pai me fazia ler livros de aventuras fascinantes. Depois, ele me perguntava onde eu achara a trama fraca, e onde faltara uma explicação convincente sobre o caráter dos personagens. – Emily

- Em outras palavras, ele desenvolvia seu senso crítico. – Spencer

- Acho que sim. Por isso estou tentando tornar nosso plano perfeito. Afinal, sua reputação sofreria mais que a minha, se fôssemos apanhadas nessa farsa.- Emily  

- Você é uma jovem sensata- disse ela, tocando a campainha.

Quando foi atendida, pediu o café e mandou que chamassem seu criado de Caleb.

- Deixe minha carruagem à porta, dentro de meia hora- ordenou quando o Caleb apareceu.

- Pois não, Milady- Caleb sem fazer perguntas.

- Lucas deve montar o cavalo da Lady Fields.- diz Spencer  

- Sim.- diz Caleb- Vai fazer frio na carruagem, e talvez tenhamos outra tempestade de neve acrescentou o Milady.

-A Senhorita Lady Fields precisa de roupas para protegê-la do frio. Compre o melhor casaco que encontrar em Bãldock.- diz Spencer

Caleb ficou surpreso, era muito experiente para demonstrá-lo. Deixou o quarto. Emily deu uma risada curta.

- Ele está louco de curiosidade- disse Emily- Aposto que imagina uma fuga!...

- Ao chegarmos em Londres, explicaremos o que aconteceu.- diz Spencer  

 Antes de se passar uma hora, estavam a caminho. Emily achava-se protegida do frio e do vento por um casaco de lã azul, com capuz de pele. Emoldurando-lhe o belo rosto

Ela subiu para o alto banco ao lado de Spencer. Os quatro cavalos pretos que puxavam a carruagem, descansados depois de uma noite tranquila, estavam irrequietos, balançando as cabeças, ansiosos por partir.

-Podemos ir- diz Spencer para Caleb