[HIATUS] Obsidiana e a Irmandade da Serpente escrita por Bellotte


Capítulo 3
A visão de Sibila


Notas iniciais do capítulo

O capítulo não segue a linha normal da história, é um pouco diferente dos demais. Espero que gostem ♥



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A mulher estava velha, e mesmo assim não se desfazia de seus hábitos. O cheiro de velas e incenso barato era tão opressivo que pessoas não acostumadas poderiam ter ânsias fortes de vômito. Jogando algumas ervas variadas numa pequena chama que conservava dentro de um vidro, ela tentava analisar a fumaça que subia, os olhos vidrados por trás dos óculos grossos.

- Ah, sim... Mais um Potter. - sussurrou, assentindo. Não era surpresa para ninguém, porém, que o filho do meio de Harry Potter estivesse vindo para Hogwarts. Não era exatamente uma previsão. - O que mais, o que mais? - perguntou ansiosa, jogando mais um punhado de ervas mal-cheirosas no fogo. Um pequeno gritinho saiu de seus lábios quando uma cobra formou-se na fumaça. - A irmandade! Não é só um boato, então...? - murmurou, pegando uma quantidade grande de folhas secas e jogando nas chamas, o cheiro tornando-se insuportável e levemente venenoso. O nível de consciência da mulher desceu quase até o mínimo, e a imagem a sua frente começou a se modificar. Subitamente estava diante uma cena noturna. Duas pessoas estavam de pé do lado de uma casa alta e torta, parecendo improvisada. A expressão deles era tensa.

- Eu não tenho mais forças para ir atrás delas. Tiago está ferido, e eu estou doente. Desculpe, mas não tive alternativas. Ninguém vivo conhece mais magia negra do que você. - murmurou o homem, que parecia estar beirando os cinquenta anos. Estava levemente curvo e apoiava-se com dificuldade numa bengala, como se tivesse dificuldade de se manter de pé. A pele do rosto estava repuxada sobre os ossos, revelando uma magreza doentia. - Sei que fazem anos... Mas você me deve esse favor.

- Eu sei. - sussurrou a mulher ao seu lado. Ao contrário dele, ela parecia ser muito nova. Vinte, talvez vinte e um anos. E era belíssima: os cabelos negros dançavam até abaixo da cintura, um contraste perfeito com a pele clara como a lua. Os olhos estragavam o ideal de beleza, porém: negros como a noite, tinham ódio e receio presentes. - Mesmo que você não me chamasse, eu iria fazer algo. Apesar de tudo, eu já fiz parte dessa família.

Ficando novamente em silêncio, a mulher morena puxou a manga do longo vestido negro de vestia, revelando uma tatuagem no braço direito. Era uma coroa que contornava toda a circunferência de seu pálido braço, e nela uma cobra se enroscava, como se estivesse viva. O homem sentiu um certo enjoo ao ver a marca. Apesar de diferente, lembrava em muito a Marca Negra de Voldemort. - Venham. - ordenou a mulher, segurando com firmeza a tatuagem. Vultos negros desceram imediatamente, como se a própria escuridão da noite de convertesse em massa e matéria. Mais de uma dúzia de homens e mulheres vestidos com mantos negros rodearam os dois, fazendo profundas reverências. Um homem de aparentes trinta anos adiantou-se, fazendo uma mesura elegante. Seu rosto era coberto por um capuz, mas a boca era visível: um sorriso se esticava nos lábios, como se estivesse realmente feliz em estar na presença da mulher.

- Às suas ordens, mestra.

- Gina Potter e Lily Potter foram sequestradas há algumas horas. Já investiguei a magia negra que ficou como resíduo, e reconheci como dos seguidores dele. Será algo fácil para vocês seguirem, já entraram em contato com eles antes. Contatem todos e estabeleçam alerta máximo. Elas devem ser trazidas aqui o mais rápido possível. E imaculadas. - estabeleceu a mulher, os olhos insondáveis. - Tragam os captores para mim. Autorizo o uso das Maldições Imperdoáveis. Vão.

Os vultos não esperaram uma segunda ordem - confundindo-se com as trevas, desapareceram tão subitamente quanto surgiram, eficientemente. Os olhos negros da mulher voltaram-se para o homem de idade. Parecia nauseado.

- Estás bem, Harry?

- Não consigo deixar de lembrar dos Comensais da Morte quando vejo a Irmandade. - admitiu ele, fazendo uma careta e esfregando involuntariamente a cicatriz.

- Os tempos são outros, velho amigo. Voldemort foi sim uma ameaça, as trevas foram uma ameaça. Não nego. - murmurou ela, girando a varinha rústica nos dedos longos, incomodada com o rumo da conversa. - Mas a Irmandade não é; não mais. Eles jamais machucariam sua família. Eu não permitiria.

- Mas matam sem piedade. - acusou o sr. Potter, franzindo o cenho enojado - Eles não tem escrúpulos para obedecer suas ordens. Os fins justificam os meios, é?

- Você sabe que não tenho escolha. Eles são fiéis. Mesmo sabendo que a missão que assumi é suicida, não hesitam em me acompanhar. - retrucou, os olhos agora brilhando de irritação. Mesmo tão nova, ela tinha ares de uma líder. Uma comandante. - As trevas não devem mais ser temidas. O monstro agora é o vazio.

O homem não respondeu imediatamente. Seus olhos verdes voltaram-se para uma janela da casa, onde ele jurou ter visto a cortina se movendo. Então ele acordara. Provavelmente devia estar louco para descer e ver a noiva - os três anos foram longos demais. Uma tortura.

- Tiago sofre sua ausência. - disse por fim. A frase provocou um pequeno tremor na mulher.

- Não é prudente.

- Você nunca foi prudente. - comentou ele, os olhos tornando-se subitamente paternais. - Não ache que está sozinha. Nós estamos do seu lado, minha filha. Estamos com você.

- Eu não sou sua filha, Harry.

- Não, mas desde que seus pais morreram eu a considero como uma.

- Eu... - hesitou, a expressão dividida. Era por isso que ficou longe durante três anos. Depois de todo esse tempo, achou que estaria imune ao amor. Pensou errado. - Não, eu tenho que fazer isso sozinha. Não posso levar vocês para o abismo também. Eu o libertei e eu vou prendê-lo novamente.

Os olhos dele fixaram-se nos dela.

- Eu não vou perder mais uma filha querida, Obsidiana.

A imagem pareceu se tornar nublada. A mulher de negro respondeu alguma coisa, mas não saiu som nenhum de sua boca. Subitamente, Trelawney estava de volta à sua sala, os olhos enevoados.

- Oh, cochilei. - murmurou, sem lembrar-se realmente da visão que tivera. Levantando-se do pufe com dificuldade, já que seu corpo estava velho e fraco, a professora seguiu até uma prateleira, pegando uma chaleira. - Acho que quero um chá.

Mal sabia ela que vira um alerta da maior ameaça que o mundo bruxo já presenciara.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? *-*