O Maníaco Dos Sorrisos escrita por Little Things


Capítulo 2
Capítulo 2: "Vamos Brincar?"




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Me chamo Jared, tenho dezesseis anos e acabo de receber a notícia de que minha irmã Mandy está morta. Depois de três dias com esperanças de que a encontrassem – ainda viva – recebo esta cruel notícia.

Minha mãe Anna ainda está em estado de choque e meu pai tenta consolá-la. Todo esforço é em vão. Se está sendo difícil para mim lidar com a morte da Mandy, imagine para ela que a teve em sua própria barriga, que a amamentou e cuidou. Deve ser duro ver que todos os esforços levariam até aquele infeliz momento. É, sempre quis ser irmão único, mas só dizia isto quando ficava aborrecido com ela. Às vezes fico pensando, por que alguém a mataria? Ela não era encrenqueira, não usava drogas nem era alcoólatra. Os policiais disseram que ela tinha sido mais uma vítima do Maníaco dos Sorrisos, mas por quê? O que ela fez de tão ruim pra merecer esse fim trágico? A não ser que ele mate pessoas por puro prazer. Não vejo qualquer outro motivo para tê-lo feito.

O funeral será daqui à uma hora, as pessoas estão vindo para cá, dizer para nossa família que ficará tudo bem, que não precisavam se preocupar pois o assassino seria pego, até mesmo os policiais tentaram nos confortar. Mas eu sabia que tudo aquilo era papo furado, eles nunca achavam quaisquer provas sobre o Maníaco; seja lá quem for este desgraçado, é um profissional.

- Ficará tudo bem com você Jared? – Alice perguntou; seus olhos azuis brilhantes hoje estavam opacos.

- Sim, obrigado por ter vindo Alice, é só que... eu não entendo, não consigo entender quem poderia ter feito uma coisa dessa com a Mandy.

- Existem pessoas que fazem maldades por puro prazer Jared e o mundo está cheio delas... – sua voz estava tão suave e calma que quase me confortou. Quase.

Estava caindo uma chuva fraca. Podia ouvir muito bem, mesmo em meio a tantos murmúrios, os pingos batendo fracamente contra o telhado; Era um ruído que sempre me deixava feliz mesmo nos momentos tristes. Mas hoje estava diferente, com uma coisa a mais. Ou talvez a menos. Deveria ser a ausência da Mandy. Ou o choro da minha mãe. Ou a tristeza quase palpável que pairava sob o ambiente. O fato é que hoje a chuva não me acalmou.

A porta se abriu de maneira rápida no mesmo momento em que se ouviu um grande som de um trovão – era o ex-namorado da Mandy – minha mãe o fuzilou com os olhos.

- O que você faz aqui? Sabe que não é bem vindo nesta casa! – ela gritou em meio aos soluços.

- Por favor, deixe-me vê-la uma ultima vez, não sabe o quanto eu sofri quando recebi a notícia!

- Não, você fez isto, você a matou! Saia já desta casa! – Anna parecia ainda mais furiosa.

Dois policiais que estavam tomando café colocaram suas xícaras de volta à mesa e encaminharam-se para perto do garoto. Eles falaram baixo, mas eu e Alice que estávamos perto e ouvimos os policiais pedirem delicadamente para o rapaz se retirar até que tudo se resolvesse.

A sala de estar estava totalmente cheia de velhos senhores e senhoras – amigas da minha mãe e do meu pai – também tinha muitos amigos da Mandy e o restante de nossos familiares. Minha mãe continuou sentada em sua pequena poltrona marrom até que o padre sussurrou algo em seu ouvido e disse:

- Chegou a hora do funeral, por favor, vamos caminhando até o cemitério.

Minha casa não era tão longe assim do cemitério, ficava a apenas alguns metros. Se fosse em outra situação, talvez eu fizesse alguma piada sobre isso. Ou risse de coincidência tão mórbida. Mas simplesmente não consegui. Não com minha irmã morta naquele caixão. Todos estavam de preto, os homens estavam usando paletó e minha mãe um grande chapéu que possuía um véu caindo sobre sua face. Alice estava ao meu lado, sua mão pequena e delicada se perdia em meio a minha, seus dedos entrelaçados aos meus.

- Sinto muito mesmo, mas não se preocupe, sua irmã está em um lugar melhor agora. – tentou me confortar com seu jeito doce, sem êxito. Mas abri um sorriso discreto pra ela e balancei a cabeça concordando. Não queria preocupar ninguém. Principalmente ela.

Chegamos ao tumulo em alguns minutos. Era uma estrutura simples, trabalhada em mármore. Algo estava escrito na lápide, mas não consegui identificar o que era. Toda minha atenção estava voltada para a foto de Mandy emoldurada por flores douradas. Seus cabelos estavam soltos e caiam sobre os ombros. Seus olhos brilhavam e ela estava sorrindo. Sorrindo de verdade.

Minha mãe chorava mais do que antes, o padre havia dito algumas palavras e então desceram o caixão lentamente. Os soluços viraram gemidos e logo depois gritos. Ela se debatia nos braços do meu pai e eu só observava a cena. Absorto em meus pensamentos. Queria saber como confortá-la. Quando percebi já havia acabado, a última pá de terra tinha sido posta e não havia nenhum vestígio de que alguém tinha sido enterrado ali. Peguei o buquê que estava segurando e coloquei encima daquela areia preta molhada e mumurei baixinho, esperando que de alguma forma, ela me ouvisse: “descanse em paz, maninha”.

Todos já haviam saído do cemitério, menos eu e Alice. Queria ficar um pouco sozinho rezando para que Mandy realmente estivesse em um lugar melhor e que de lá tivesse a certeza que sempre seria amada. Pedi também, com toda minha fé, que o bastardo que causou tamanha dor a minha família fosse pego.

- Alice, por que não vai para casa descansar? Foi um dia exaustivo e eu gostaria muito de ficar um momento a sós com minha irmã. – pedi, alisando seus longos cabelos castanhos.

- Tem certeza? Se quiser posso ficar ali do lado de fora esperando. – gesticulou para a saída do cemitério.

- Não precisa, a gente se vê amanhã na escola, muito obrigado pelo apoio. De verdade. Considero você uma grande... amiga.

Nos Despedimos com um abraço e ela se foi, agora estávamos a sós, eu e minha irmã.

- Desculpe-me irmã, por ter passado grande parte do tempo brigando com você. Só quero que saiba que sempre a amei independente do que já te disse de ruim, todos os irmãos brigam às vezes e falam coisas terríveis, certo?  -limpei uma lágrima que insistiu em rolar pelo meu rosto-Não tive a intenção de dizer aquilo, a culpa disso tudo é minha; eu te disse aquelas coisas terríveis e então você saiu no meio da madrugada sozinha e indefesa.  – Disse, outra lágrima caiu de meus olhos e descansou sob uma pétala do buquê de rosas que havia colocado ali, dessa vez não a parei. Outras a seguiram e em pouco tempo meu rosto estava completamente molhada e minha visão embaçada. Deitei no chão, ao lado da lápide, sem me importar com minha roupa, ou com o que achariam se me vissem em tal estado. Deslizei meus dedos pela terra úmida lentamente, como em uma carícia. Lembrei das vezes que repeti o mesmo movimento, mas nos cabelos da Mandy. Fechei meus olhos e deixei as lágrimas rolarem livremente. Precisava disso. Necessitava colocar pra fora. Tinha que aproveitar cada segundo ali, ao lado dela. Sabia que quando me retirasse daquele lugar a realidade me atingiria. Minha irmã estava morta. E eu não podia fazer nada a respeito.

Não sei quanto tempo fiquei deitado no chão frio, mas já estava quase anoitecendo quando me levantei. Limpei meu rosto e passei meus dedos por cima da foto de Mandy uma última vez – Adeus, maninha...

Ao virar-me para o lado vi uma figura sombria em contraste com as sombras das árvores; pessoas normais correriam – ainda mais por se estar sozinho em um cemitério às seis horas da noite – mas eu não, algo me levou até aquela figura. Ao perceber meus passos em sua direção imediatamente correu. Ele pulava e soltava gargalhadas cantarolando: “No meu próximo truque farei você desaparecer, hahahahaha!”. Sua voz ecoava e arrepiava todo meu corpo. Fiquei estático, sem reação alguma. O que aquilo significava? Quem era aquele?! Me recuperei do choque e fui até o lugar onde ele estava vi uma máscara laranja sorridente. Meu coração disparou e senti o sangue fugir do meu rosto; a figura que havia visto era... o Maníaco dos Sorrisos.

Minha vontade era de sair correndo, mas em sua direção. Fazê-lo pagar por cada lágrima que fez minha mãe derramar. Nos observou esse tempo inteiro. Devia estar se deleitando com todo aquele sofrimento. Sua presença além de insultante representava um convite. “Vamos brincar?”


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer a Nami(Lei) minha beta oficial que me ajudou muito a construir este capítulo, bom, era só isso, boa leitura, espero que gostem.
Tchau Tchau o/