Dharma Rangers escrita por Kisuki


Capítulo 3
Capítulo 3: Existências Devindas I




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Dharma Rangers

Capítulo 3

Existências Devindas I

 

A escuridão naquela sala era tal que nada se podia enxergar de seus detalhes. Era possível perceber, apenas, que se tratava de um cômodo circular. Não era, de forma alguma, vazio. Pelo contrário, encontrava-se atulhado de objetos, suas formas e funções impossíveis de distinguir dada a obscuridade.

“Ah, vejo que nosso convidado finalmente apareceu.”

A voz repentina fez o recém-chegado pular sobressaltado, o que não era estranho devido a seu estado: A pessoa estava ansiosa, com os nervos a flor da pele.

“Não se assuste. Não farei mal algum a você. Afinal, com já lhe disse, você é muito importante para nós.”

A fala veio do centro da sala, e ao buscar sua origem, o recém-chegado conseguiu distinguir o movimento de um longo pano. O dono da voz vestia um longo capuz que o fundia quase perfeitamente com a escuridão a sua volta. Ele se aproximou, destacando-se das outras sombras, seu rosto sempre inalcançável na escuridão.

“Vamos, vamos, entre. Você já fez sua decisão, não?”

O recém-chegado adentrou no recinto, hesitante. Após colidir com algumas caixas, ele chegou até onde seu anfitrião estava. Um brilho avermelhado se pronunciava dentro do capuz. Seria aquele o olhar da criatura? O pano se moveu e uma mão estendida despontou das vestes negras. Sua pele, apesar de profundamente pálida, que quase recendia naquele ambiente escuro, era totalmente humana. O recém-chegado pareceu pensar duas vezes antes de apertar aquela mão. Era visível que sua mente se enchia de dúvidas.

“Não precisa se preocupar. Sua decisão já foi tomada. Agora não adianta mais olhar para trás.” Os sussurros dele eram extremamente convincentes. Vacilante, o recém-chegado estendeu a própria mão. O anfitrião a tomou em um aperto inesperadamente sólido e um tanto brutal.

“Você está bem? Você está ofegante, porque não se senta um pouco?” Quanto proferiu estas últimas palavras, ele arremessou o recém-chegado contra uma cadeira que o esperava, exatamente no centro da sala. O acento, anormalmente alto e inclinado, parecia com um encontrado em algum consultório de dentista. Amarras apertaram seus pulsos, mas estas eram desnecessárias. Como o encapuzado disse, sua decisão já estava feita. Não podia mais olhar para trás.

Uma dor aguda invadiu seu crânio.

E depois só branco.

~

 

 

Depois de ter demorando tanto para cair no sono, Amanda sentiu-se desapontada quando os raios de sol interromperam seu descanso. Não que ela estivesse tendo uma noite muito boa, já que os acontecimentos recentes continuavam a assombrar-la em seus sonhos. Não eram apenas flashbacks dos dias anteriores, imagens estranhas e sentimentos que não pareciam lhe pertencer a perturbavam desde quando usou o poder do Juzu.

Ela esfregou os olhos, afastando o sono. Eram oito da manhã de sábado, o que queria dizer que ela normalmente ainda estaria dormindo profundamente, mas tinha tido uma idéia desde o dia anterior que queria por em prática. Sacudiu a preguiça e pegou o telefone e encontrou sua agenda em cima de sua escrivaninha desarrumada. Ela discou o número e esperou.

“Bom dia...” Uma voz respondeu após um longo bocejo.

“Bom dia Daniel! Espero não ter tirado você da cama.”

“Não, de modo algum. Eu quase nunca durmo até tarde.”

Sem saber se deveria encarar aquela última fala com ironia ou não, Amanda simplesmente foi direto ao assunto e explicou o que tinha em mente. Daniel gostou da idéia proposta.

“... Então está decidido. Ligue para o resto do pessoal, e veja quem vai poder ir.” Continuou a garota.

“Eu posso até ligar para Penélope e Letícia, mas você mesma se entenda com Lara.”

“Por quê?”

“Bom, você vai ver. Aproveita e liga pro Thomas, não tenho o número dele comigo.” Disse ele, desligando logo depois.

“Tá, vamos logo com isso então...” Murmurou a morena para se mesma, enquanto selecionava o nome de Lara na memória do aparelho. O telefone chamou... chamou... E ninguém atendeu.

Achando estranho, ela tentou mais uma vez, afinal não era possível que não tivesse ninguém em casa a àquela hora da manha. Desta vez o aparelho foi atendido.

“... Você quer morrer?”

“Lara, é você?” Amanda mal reconheceu a voz rouca e furiosa do outro lado da linha.

“Amanda? Você faz idéia de que horas são? Depois de tudo pelo que passamos nesses últimos dias, quando eu finalmente tenho um dia livre para dormir a manhã toda... Você receberá... Punição máxima!”

A morena estremeceu apesar de tal ameaça ter sido proferida a pelo telefone - isto não a tornava menos assustadora.

“Perdão, mas... Eu queria saber se você gostaria ir ao Laser Wars com a gente.”

A resposta demorou alguns segundos.

“Laser Wars? Aquele jogo besta das arminhas? Você me acordou cedo para isso? Amanda, nós acabamos de receber a tarefa de proteger a humanidade! Isso não é hora de relaxar!”

“Foi o próprio Li que mandou a gente se distrair no final de semana! Além disso, um pouco de lazer vai ajudar a desfazer essa tensão que se colocou em todos nós. E essa não foi a única razão por eu ter escolhido o LW: Encare isso como um treino.”

Lara não pode refutar estes argumentos.

“Argh. Tá, eu vou. Que horas?”

“Vamos pra lá uma dez horas, pra não pegarmos fila.”

Ainda murmurando sobre o absurdo que era acordar tão cedo em um sábado, a outra desligou o telefone sem se despedir. Amanda suspirou. As vezes era difícil lidar com a amiga. De qualquer forma, ela telefonou para Thomas, esperando que este não acordasse de mau humor como Lara.

“Thomas, aqui é Amanda. Bom dia.”

“... Bom dia.” Apesar de suas palavras, o garoto não parecia achar o dia bom coisa nenhuma. Parecia estar ocupado, então Amanda tentou ser breve.

“Estou chamando a alero toda pro Laser Wars. Você também está intimado a comparecer!” Disse ela, bincando.

“Que droga!”

A jovem se surpreendeu com a reação do colega.

“Desculpa, se não for uma boa hora, tudo bem, não precisa ir...”

“Não é isso. O problema é que eu realmente não posso ir. Alguns parentes estão de visita e...”

Amanda suspirou. Ótimo.

“...Bom se não tem jeito, tudo bem. Fica pra próxima.”

“Você não entende? Os ‘capitães’, ‘marechais’ ou sei lá o que estão atrás de nós! Daniel já disse que eles estão nos testando! E se vocês forem atacados?”

“Não tem problema, teremos quatro de nós prontos para lutar!”

“Ajudar alguém não significa lutar!” Replicou o garoto. “Quer saber, deixa pra lá. Só tome cuidado.”

Thomas desligou antes que Amanda pudesse dizer para que ele tomasse cuidado. O garoto iria passar o dia sozinho e só se preocupava em ajudá-los... Ele devia cuidar mais de si mesmo. Por outro lado, suas palavras realmente estavam certas. A garota foi retirada de seus devaneios pelo toque do telefone. Era Daniel, que já tinha chamado os outros.

Animada, Amanda começou seus preparativos para o “treino”.

~

Laser Wars era um estabelecimento relativamente novo na cidade. Ocupando um lugar de destaque no maior shopping da cidade, era um grande labirinto onde os jogadores se enfrentavam com armas de brinquedo. Embora a idéia fosse interessante, o local não se tornou muito famoso, sendo mais utilizado para festas de aniversário infantis. Fora isso, quase sempre estava vazio.

Aquele dia não foi diferente e, apesar da pressa de Amanda, nem houve fila. A própria foi a primeira a chegar, se responsabilizando de observar os horários e preços. Penélope e Nádia não demoraram, e ao vê-las se aproximar, a garota não pode deixar de pensar como as irmãs eram diferentes apesar de serem gêmeas idênticas.

Para começar, Penélope era bem mais pálida do que a irmã, já que não saia muito de casa, e usava óculos, tendo estragado os olhos com livros desde a infância. Nana, por sua vez, gostava de atividades ao ar livre, e fazia o tipo esportista. Seu cabelo era mais curto do que o da irmã, cortado na altura dos ombros. Mas não era só isso, o senso de estilo das duas era completamente diferente. As roupas negras e acessórios punks de Pen eram quase inversas dos conjuntos simples e coloridos que Nádia usava. Neste dia a mesma usava uma camisa estampada de alças finas e bermudas, completando com uma boina sobre a cabeça. Já a punk, além das inúmeras pulseiras, vestia uma camisa preta e uma saia curta de mesma cor sobre as calças jeans.

“Penana, que bom que você chegou!” Disse Amanda, sendo imediatamente atingida na cabeça pelas duas garotas.

“Pare de chamar a gente assim!” Gritaram as duas em unissono. O apelido dado pela amiga até tinha certa lógica, uma vez que, apesar das duas possuírem personalidades totalmente diferentes, agiam como uma só pessoa as vezes.

“Meninas, guardem a violência para o campo de batalha” Era Daniel, irônico, que havia acabado de chegar. Lara também apareceu, tendo chegado quase simultaneamente ao garoto.

“Ok, já que estamos todos aqui, vamos comprar nossas entradas...” Começou Amanda, animada, sendo logo interrompida por Dan.

“Espera, ainda falta a Letícia.”

“Como assim você chamou Letícia? Não concordamos em manter essa coisa de ‘guardiões da humanidade’ em segredo?”

“Calma, nós só vamos jogar uma partida amigável de Laser Wars. Ela não precisa saber do seu plano de pseudo-treino. Além disso, cada time tem que ter três integrantes.”

“Ah... Tá, eu sabia disso.” Ela olhou para os lados e mudou de assunto.

“Sei...” Murmurou Daniel, olhando para o relógio. Eram dez e meia, e o local continuava vazio. Além da moça no balcão (que agora fazia as unhas), apenas alguns curiosos andavam pelo local. Ele podia entender o porquê: O lobby do Laser Wars tentava fazer o tipo futurístico. Canos e fios, papel prateado, muito metal... Parecia tanto com um filme B de ficção científica que chegava a ser engraçado. Não era de se espantar que o lugar não fizesse muito sucesso.

Atrás do balcão, haviam duas portas posicionadas lado a lado, uma vermelha e uma azul, por onde os respectivos times provavelmente adentravam no labirinto. Uma terceira porta, esta na  parede do lado direito do balcão, tinha uma placa onde lia-se ‘apenas funcionários’. Provavelmente se tratava da sala de comando.

O grupo conversava trivialidades quando Letícia chegou, o que eu não foi difícil notar - entre as garotas do grupo, ela era a mais alta. Tinha cabelos loiros e curtos, belos olhos castanhos, e um sorriso simpático praticamente estampado no rosto.

A primeira a recebê-la foi Lara. As duas eram melhores amigas mesmo antes de conhecerem Pen, Amanda e os outros.

“Letícia, Você está no meu time, fato! Y

“Mal cheguei e já estamos dividindo os times? E eu ainda nem sei direito como é esse jogo.” Disse a loira, confusa.

“Não se preocupe, eles rodam um filminho informativo antes da partida.” Informou Amanda, transbordando animação. “Aliás, se Lara já escolheu alguém, eu também quero! A Pen fica no meu time!”

“Nossa, calma...” Daniel suspirou. “Tá, vamos fazer dois times com Lara e Amanda como capitãs.”

“Então agora minha vez.” Lara pensou bastante antes de escolher o último integrante. “Eu quero a Nana.”

“Então o Dan fica no meu time.” Concluiu Amanda.

Os seis, tendo confirmado os grupos, estavam prontos. Após uma conversa rápida com a moça do balcão e o pagamento dos ingressos, eles adentraram no labirinto tão aguardado.

~

Os times começaram em lados opostos do labirinto, mas mesmo antes da luz verde que indicava o início do jogo acender, Daniel já começava a analisar a situação... E esta não parecia muito favorável para o time de Lara. A amiga obviamente escolhera suas companheiras de time considerando apenas sua afinidade com as mesmas, e não suas habilidades: Nana não era conhecida por sua pontaria (por isso ela não chegava a praticar esportes, apesar de adorar futebol), e Letícia nem ao menos jogava games de tiro no videogame. A própria Lara não tinha o instinto de um atirador, apesar de ter a melhor pontaria do grupo.

O time de Amanda estava bem mais equilibrado, com a presença de Pen que possuía o tal “instinto de atirador” até demais, construído à base de muitas partidas de jogos de tiro em primeira pessoa. Sem dúvida a baixinha não teria misericórdia nem da própria gêmea no campo de batalha. Amanda não era muito boa nesse tipo de atividade, mas compensava com seu grande entusiasmo. O próprio Daniel era um bom jogador (isso é, quando mantinha a cabeça fria.)

O sinal piscou, verde, e a porta metálica se abriu lentamente, permitindo que uma fumaça leitosa invadisse o pequeno cubículo onde o vídeo instrucional tinha sido passado. Os três jovens entraram no corredor escuro, prontos para o jogo.

Amanda instintivamente tomou a liderança, exibindo seu colete negro e com arma em mãos. O colete possuía vários pontos luminosos, luzes vermelhas que indicavam os “pontos vitais” onde os oponentes tentariam acertar. A arma, que era presa ao colete de forma que não pudesse ser perdida, também possuía um destes alvos.

Daniel e Pen, igualmente equipados, seguiram atrás, olhos dardejando pelo ambiente em busca de luzes azuis que marcariam seus alvos. Não era uma tarefa fácil, pois o labirinto não era chamado assim à toa. O local era escuro, iluminado apenas por lâmpadas piscantes e neons futuristas. A névoa insistente pregava peças, e as paredes formavam caminhos tortuosos, confusos. Os três já haviam passado por dois becos sem saída, antes de chegarem a uma “clareira”, um espaço mais aberto onde acabavam vários corredores, provavelmente o centro do labirinto.

“Ok, se os outros se moverem na mesma velocidade que a gente, e assumindo que este é o centro do campo de jogo, Lara e as outras chegarão a qualquer momento. Sugiro que a gente se espalhe.” Disse Daniel, controlando a voz, para não ser escutado pelos oponentes, se estes estivessem por perto. As duas assentiram e se espalharam pelo recinto, de forma que pudessem ter uma boa visão de toda a área. As luzes azuis chegaram logo depois.

 

As três garotas alcançaram o centro do labirinto e foram recebidas por tiros vindos de todos os lados. Devido a iluminação do local, era difícil ver de onde vinham. Letícia conseguiu distinguir um pequeno amontoado de luzes vermelhas, mas quando foi atirar no alvo, foi acertada por um laser vindo de outro ponto: Quando atingidas, as armas ficavam inúteis por alguns segundos. Nana e Lara se encontravam em situação parecida – Eram “feridas” antes que conseguissem acertar o adversário.

“Recuem, recuem!” Gritava Lara, a própria voltando pelo corredor de onde veio. As três amigas se embrenharam no labirinto, tentando escapar dos perseguidores. As três pararam, depois de muita corrida, em um trecho onde espelhos duplicavam várias vezes suas imagens.

“Puxa, isso é mais difícil do que eu esperava.” Reclamou Letícia, arfando.

“Os outros que são bons de mais...” Nádia já estava abatida. Lara, na posição de líder, não permitiu que a moral do time baixasse.

“Não desanimem! Não é que os outros são bons de mais, o problema é que eles possuem a vantagem de campo.” Explicou a garota. “Mas acho que sei como virar a mesa.”

“Tem certeza? Eu mesma já nem sei mais em que ponto do labirinto estamos.” Disse Nana, suspirando.

“Se tranqüilizem. Podem deixar esta parte comigo. O papel de vocês é seguir minhas ordens Y

Letícia e Nana e entreolharam. Lara ficava um tanto... Assustadora quando aquele lado sádico emergia.

~

Li Shen finalmente largou o teclado e se alongou, estalando os dedos logo depois.

“Acabei por aqui.” Disse o diretor. Ele levantou o copo descartável de café que repousava ao lado do computador, e fez uma cara de desagrado ao ver que este estava vazio.

Um novo copo, recarregado de cafeína, apareceu diante do chinês.

“Oh, muito obrigado, senhorita Milena.” A assistente sempre aparecia com uma xícara fumegante nas horas certas.

“É um prêmio por ter finalizado o software tão rápido.” Disse a mulher, sorrindo. “Sinceramente, isso foi rápido até pra o lendário Tsai. Quer dizer que o Programa de Localização de Seres Extra-Planares está funcionando a cem por cento?”

“Sim, o ‘PL-SEP’ está totalmente funcional. Eu só tive que hackear alguns satélites da Inteligência americana, mas eles nunca vão descobrir.” O homem estava visivelmente orgulhoso.

A tela do computador mostrava Salvador vista por satélite.

“Ok, então, como funciona?” Perguntou Milena, curiosa.

“É bem simples. O programa pega as informações do satélite e as passa por um filtro especial que realça os pontos com intensa atividade extra-planar. Infelizmente, a criatura deve estar usando ativamente seus poderes para que o PL-SEP consiga algum sinal, mas já é um avanço. Qualquer ponto de intensa atividade será marcado com um ponto vermelho.”

“Igual a esse aqui?” Disse a assistente, apontando para o ponto rubro pulsante sobre o Shopping da cidade. O diretor olhou para a tela por longos segundos, com uma expressão em branco, antes de reagir.

“... Ta ma de!”

Milena não quis saber o significado daquelas palavras em chinês.

~

Os celulares de todos estavam desligados para evitar que se distraíssem durante o jogo. E este continuava a todo vapor.

“Vamos atrás deles!” Gritou Amanda, pronta para perseguir os desertores.

“Espere! Estamos em vantagem aqui.” Penélope segurou a amiga pela gola. “Se continuarmos dominando o centro do campo de batalha, a vitória será nossa.”

“... Mas eu não quero ficar esperando.” Reclamou a outra. “Além do mais, isso não parece um pouco desonesto?”

“Amanda, não foi você mesma que disse que escolheu esse jogo como treino? Pois bem, aí está um ponto que você deve treinar. Nossos inimigos reais não vão se importar em tocaiar, emboscar e enganar. Devemos estar prontos para devolver na mesma moeda.”

A garota apenas mirou o chão, chateada.

“Ok...”

Daniel olhou para os lados e levantou a arma.

“Acho que estou ouvindo passos. Em posição, pessoal.” Os três se espalharam imediatamente.

Um agrupamento de luzes azuis passou rápido por uma das saídas que desembocavam no recinto, e desapareceu em outro corredor, deixando para traz uma saraivada de lasers.

“Droga, por pouco. Espera, onde estão as outras?” A pergunta de Penélope foi respondida quando outro integrante do time azul apareceu. Este, porém, não veio de mesmo local que a outra. Na verdade, saiu do ponto oposto.

“Mas o que...” Daniel teve tempo de murmurar entes de tentar mirar no novo alvo, mas esta fugiu antes que ele apertasse o gatilho.

E a terceira finalmente se apresentou, atacando de frente Penélope. Amanda levantou sua arma para defender a amiga, mas uma vibração nas costas a avisou que tinha sida atingida.

“Droga!” Gritou ela, se virando, procurando seu agressor. A mesma era Nana, que havia adentrado o território dos vermelhos primeiramente.

“Devíamos ter pegado ela logo quando ela se infiltrou!” Amanda falava com si mesmo, mas Lara escutou as palavras.

“Sim, vocês confiaram de mais da vantagem de campo. Eu me aproveitei disso para criar uma situação vantajosa para nós.”

Agora Letícia também saiu de seu esconderijo. Horrorizado, Daniel percebeu que as três agora tinham cercado os vermelhos por três direções diferentes.

“Elas nos cercaram! Se separem! Se separem!” Mas era inútil, não tinha mais para onde fugir.

“Como você fez isso?” Questionou Pen, tentando inutilmente esquivar dos lasers apontados para ela.

“Vantagem de campo, é claro. Mas o meu campo é o labirinto inteiro!”

“Não acredito que você desvendou esse ambiente caótico tão rápido!” Daniel falava enquanto seus olhos buscavam uma escapatória.

“Não foi tão difícil. Existe uma lógica até nesse lugar aparentemente aleatório. Só precisei prever onde os corredores saiam e usá-los para entrar no território de vocês.”

Nesse momento todas as luzes se apagaram, incluindo as lâmpadas dos coletes dos seis.

“...Acabou a energia?” A voz de Nana pôde ser ouvida na escuridão.

“Ótimo, só porque eu tava ganhando...” Reclamou Lara.

Os seis resolveram retornar juntos pelo ponto de início do time azul, já que Lara tinha memorizado melhor aquele lado do labirinto. A pressa deles talvez tivesse algo a ver com a sensação assustadora que aquele labirinto escuro produzia...

Próximos da saída, Penélope apanhou o celular.

“Vai ver se ‘uma certa pessoa’ ligou, é?” Lara chateava a amiga, disfarçando o próprio nervosismo.

“Não é nada diss...” A frase foi interrompida por um trecho de música Heavy Metal que servia de toque telefônico para a punk. Todos, incluindo a própria dona do aparelho, pularam de susto.

“A-Alô?”

“Penélope? É você? Aqui fala Milena Vasques, da Sakyamuni! Onde você está?”

O tom emergência era perceptível. A garota pensou em colocar o aparelho em modo ‘viva voz’, mas lembrou-se a tempo da presença de Letícia.

“Errr... Eu ainda to no Shopping da cidade com meus amigos... Mãe.”

A resposta demorou alguns segundos.

“...Têm alguém que não está... envolvido... perto de você?”

“É.”

“...O Diretor Tsai pede para que você não esboce reação. Foi detectada ação de uma criatura de outro mundo no local onde você está. Por favor, se afaste de qualquer pessoa o mais depressa possível e ative o seu Juzu o quanto antes, os danos serão difíceis de ser reparados até por nós.”

“Tudo bem, sairei o mais rápido que puder.” A garota desligou o celular, imediatamente pegando a mão de sua irmã e virando-se para Lara.

“Temos que ir!”

Não foram necessárias mais palavras. As três garotas correram na frente, deixando para trás três pessoas muito confusas.

“Hum... Imagino que... Lara vai de carona com as gêmeas e a mãe delas estava com pressa?” Arriscou Daniel, já imaginando a verdade por trás da correria.

Letícia assentiu.

“É, devia estar com muita pressa mesmo.”

~

Depois das descobertas e medos daquele dia, os cinco amigos, exaustos, rumaram para casa. Lara e Penélope, porém, se detiveram antes de entrarem em seus respectivos carros. A menor se certificou que os pais das duas estavam ocupados conversando antes de se dirigir a amiga.

“Ei, Lara... E se tivermos que escolher alguém de nós para lutar?”

“Vamos revezar, ué. É a melhor maneira de economizar contas, já que elas desaparecem após o uso.”

A outra riu.

“Não foi isso que eu quis dizer, boba... Se tivermos que escolher... Quem lutará primeiro?”

Lara olhou para o horizonte e pôs as mãos nos bolsos.

“Que pergunta, é claro que EU vou lutar primeiro.”

“Mas...”

“Nada de ‘mas’. Eu já me decidi.” Lara deu um sorriso sereno. “Além do mais, eu mesma quero me convencer de que sou capaz de fazer isso.”

“Então a ordem será... Amanda, já que ela lutou primeiro, mesmo sem saber bem o que estava fazendo... Daniel, você, eu e Thomas.”

“Ei, e seu o Thomas quiser lutar primeiro?”

“Aí ele vai ter que se ver comigo.”

As duas garotas riram, e entraram nos automóveis, sem saber que o momento da luta estava bem próximo...

~

O shopping estava deserto. Aparentemente Li Shen conseguiu convencer os administradores do lugar a evacuar as imediações bem a tempo. Assim que deixaram as portas do Laser Wars, as garotas deram de cara com um verdadeiro campo de batalha. O shopping estava completamente destruído: A fachada da maioria das lojas estava acabada, quase não haviam vidraças inteiras, e vergões enormes nas paredes denunciavam o uso de alguma arma cortante.

Tentando ignorar o estrago, as garotas seguiram em frente. Não foi difícil localizar o alvo, uma vez que este não era nada sutil. Seus rastros de destruição convergiam para um lugar bem obvio: A praça de alimentação.

“Fiquem para trás.” Sussurrou Lara, tomando a frente.

“Vamos observar de perto.” Disse Penélope.

“Estaremos aqui para ajudar.” Completou Nádia, apertando com mais força a mão da irmã.

As gêmeas se esconderam atrás do guichê do cinema. Lara se colocou no centro da praça, e olhou para a enorme sombra que atacava a cozinha de uma das lojas. A garota sentiu nojo quando os sons da criatura atravessaram a passagem (que teve a porta arrancada das dobradiças). Ignorando a sensação, ela levantou o braço direito e fechou os olhos e... Desejou.

A luz quente se espalhou a sua volta, e ela não pode evitar sentir-se esperançosa. Como algo poderia dar errado? Ela daria o melhor de si, e isso era suficiente. A luz se intensificou e ela pôde ouvir um urro de irritação vindo da frente. O monstro finalmente havia percebido sua chegada. Lara sorriu e permitiu que a luz a envolvesse e fortalecesse.

Ela percebeu o poder que a rondava se concentrado em sua cabeça, e sentiu-se protegida. Ela percebeu a luz derramar-se por seu pescoço e sentiu-se como se tivesse ganhado asas.

Ela percebeu aquela energia mística se condensando em seu pulso, sentiu-se pronta para lutar.

Ela abriu os olhos. era como se o visor do capacete mostrasse o mundo pela ótica de outra pessoa. Mas, por um momento, a sensação foi mais que uma leve impressão: Por um segundo, Lara achou ter visto o céu e pensou ter escutado um som de passos tão sincronizado e forte que só poderia provir de um exercito treinado. E numeroso. Mas tão logo ela interpretou essa visão, esta desapareceu.

A garota não se permitiu ficar confusa – A criatura, recuperada do choque que a ativação do Juzu causava a todas as criaturas extra planares, já saia da cozinha escura.

A forma desta era ainda maior quando vista de perto. Parecia alcançar quase três metros de altura. Seu corpo era insanamente musculoso, mas só seu tórax se assemelhava ao de um ser humano. Sua cabeça bovina ornada de chifres, suas pernas, cobertas por pelos e equipada com cascos... Lara, familiarizada com a mitologia grega, não pôde negar: Só podia se tratar de um Minotauro.

O ser urrou e, enlouquecido,levantou sua arma – Um machado descomunal. A jovem não se intimidou, e se colocou em posição de combate, ignorando o fato de nunca ter treinado arte marcial alguma na vida.

 

Pen e Nana sentiram quando o selo se expandiu e rodeou toda a praça e até viram, por um momento, o símbolo inscrito nele: Era uma forma estranha, que se assemelhava, de alguma forma, a uma cabeça de dragão muito estilizada, vista de frente. Não foi possível analisar muito a insígnia, já que esta cresceu ainda mais, de forma que deveria estar circundando todo o andar do shopping.

“Funcionou mesmo...” Nádia se referia ao mesmo tempo à transformação de Lara e ao fato dela ter sido trazida para a “zona neutra” que o selo criava. Aparentemente as gêmeas não estavam dando as mãos (só) porque estavam temerosas: o Juzu também afetava qualquer um em contato direto com seu usuário.

Penélope arriscou olhar para onde Lara estava e viu a garota, de costas, com um cachecol azul serpenteante e o monstro colossal que se preparava para atacar. Quando o monstro ergueu o machado gigante, ela apertou a mão da irmã com mais força.

O medo foi desnecessário. Lara, desaparecendo em um flash azul, evitou o ataque e apareceu atrás do minotauro, rapidamente aplicando um chute na altura da cintura do bicho.

“Isso aí!” Pen comemorou, sussurrando.

O monstro nem pareceu sentir o golpe.

“... droga.”

A partir daí, a batalha se tornou uma perseguição de gato e rato. Lara era muito veloz para ser atingida pelos ataques lentos porém destruidores do inimigo. E seus próprios golpes eram inafetivos. Com o fluir da batalha, porém, a garota se cansava cada vez mais, enquanto o monstro, fortalecido pela sua fúria, parecia ficar cada vez mais rápido!

“Temos que fazer alguma coisa...” Como se respondendo as preces da punk, o celular da garota tocou, fazendo as gêmeas se assustarem com a música pesada pela segunda vez naquele dia.

“Acho que vou trocar esse toque...” Murmurou a garota, enquanto atendia. “Alô?”

“É o Daniel.” Pausa. “E a Amanda!” Outra pausa. “...me devolve isso! Penélope?”

A menina não pode deixar de rir, apesar da situação bizarra.

“Ouvindo alto e claro.”

“Então é Lara que está lutando?”

“Como você sabia que tinha um monstro?” Questionou Pen. “Tentei manter em segredo o máximo para que Letícia não percebesse...”

“Espera...” Pausa. “Achei o botão de viva voz, pronto.”

“Sair correndo do meio do nada é o ‘máximo pra manter em segredo’?” Era a voz de Amanda do outro lado da linha.

“Não precisa gritar!... De qualquer forma, sim, nós já tínhamos combinado que ela ia ser a próxima a lutar. Nem reclame, Amanda.”

“...Quem disse que eu ia reclamar?...” Ela era totalmente transparente, mesmo por telefone.

“Não foi por isso que eu liguei!” Dan afastou a amiga do fone. ”Penélope, diga para ela trazer o monstro para o Laser Wars! Temos algumas surpresas preparadas para ele!”

“Ótimo, farei isso.”

Ela desligou e contou o plano à Nana.

“...Mas como falaremos isso para Lara sem nos mostrarmos? Seriamos alvos fáceis para esse bicho gigante...”

“Relaxa, mana, já tive um idéia. Sinceramente, as vezes acho que fui eu quem nasceu com o cérebro.”

“... Só não te bato porque você teve uma idéia.” Disse Pen, fingindo irritação. “E é bom que seja boa.”

~

Lara começou a ofegar. Mesmo com a energia do Juzu fortalecendo-a, aquela luta já estava indo longe demais. Agora mais da metade da praça já não passava de destroços e poeira. Depois de esquivar de um movimento especialmente rápido do inimigo, a garota decidiu parar de atacar insistentemente. Ela precisava era de um plano.

“LARA, VENHA PARA O LASER WARS!”

A mensagem que ecoou pelos interfones do shopping se repetiu várias vezes. Sem dúvida, aquelas duas vozes idênticas só poderiam ser de Pen e Nana. Lara sorriu sob seu capacete.

“Vantagem de campo... É claro.”

Com animo renovado, Lara recuou para o LW. O monstro a perseguia incansavelmente, como ela esperava. Em pouco tempo, ela estava dentro do Laser Wars. Ela teve tempo de pensar em como aquele lugar era ridículo antes de ouvir o estrondo que acompanhou a entrada do minotauro no local (Por ser muito grande, ele arrancou parte da parede.)

“Que bruto. Sua mãe não lhe ensinou a bater antes de entrar?” Instigou Lara, antes de entrar pela porta do time azul.

O labirinto ainda era familiar para a jovem, e ela não demorou muito para desaparecer entre suas paredes.

Ela ouviu quando o monstro arrebentou a passagem, mas ela já estava bem à frente: havia um lugar especifico onde ela queria ir. Lara logo percebeu que as paredes do jogo estavam se movendo, mas também percebeu que estavam mudando ao seu favor. Ela não tinha sido chamada ali por nada.

O minotauro começou a se cansar de andar em círculos e começou a destruir as paredes para chegar ao seu alvo, provavelmente confiando em seu olfato ou algo assim. Amanda e Daniel viam tudo através das telas na sala de comando.

“Nossa, parece um bulldozer. Entendeu? Bulldozer¹!” Amanda sempre tinha tempo para piadinhas infames.

“Já entendi, já entendi. Que sem graça.” Apesar de suas palavras, Daniel ria. “Não importa, Lara já achou o que queria. Agora eu só quero testar uma teoria...”

Ele estava sentado numa cadeira móvel em frente ao painel de controle do labirinto. Quando ele tinha encontrado o lugar, os computadores estavam desligados devido à queda de energia, mas havia um gerador de emergência, para sua sorte. Amanda se encontrava ao seu lado, observando as telas. Já Daniel prestava mais atenção aos botões à sua frente.

“Que frustrante ficar aqui observando, sem poder fazer nada...” Reclamou a garota.

“Fazer nada? Amanda, estamos fazendo mais que o necessário!” Exclamou o garoto, sorrindo. “Saber que você tem amigos apoiando você é o bastante. Para ajudarmos uns aos outros... Sinto que apenas nossa presença será suficiente... Você não?”

Amanda então se lembrou das palavras de Thomas, mais cedo. Sim, às vezes oferecer suporte é mais importante do que lutar propriamente. Aquela situação era o exemplo perfeito.

“... Precisa de ajuda aí?” A garota sentou-se na cadeira ao lado de Daniel.

“Agora você pegou espírito. Me ajuda a procurar o controle das luzes.”

Momentos depois, a porta de acesso se abriu e as gêmeas entraram, ofegantes.

“Ufa, chegamos.” Disse Nádia. “O balcão de informações ficava do outro lado do andar. Falando nisso, acho que o Shopping inteiro está sendo protegido pelo selo.”

“Isso deve significar que eles se adaptam ao local em que são usados. Sejam bem vindas.” Daniel acariciava um gatinho invisível em seu colo, fazendo papel de vilão. “Estive esperando por vocês.”

“Nossa.” Penélope estava impressionada com as telas que mostravam os acontecimentos no labirinto.

“Você ainda não viu nada.” Disse Daniel, apertando um o botão.

No interior do labirinto, o minotauro foi bombardeado por dezenas de luzes coloridas e fortes vindas de todos os lados. Os garotos podiam ouvir seus urros mesmo dentro da sala de comando.

“Como os olhos dele estavam acostumados à escuridão, a mudança repentino vai deixá-lo cego por alguns momentos. E isso também mostra a localização dele para Lara. Eu sei que sou um gênio, não precisam dizer.”

Silêncio.

“...Tá, vocês podem dizer, eu não me importo...”

“De qualquer forma... Cadê ela?” Interrompeu Amanda.

Penélope apontou na tela onde Lara estava.

“Ah... Isso vai ser bom.”

A própria estava bem atrás do monstro, separado dele por apenas uma parede. Daniel diminuiu as luzes para que não a atrapalhassem, mas nem seria necessário: O visor do capacete protegia seu olhar muito bem. Os gritos furiosos do monstro a ajudaram a localizá-lo, e agora estava armada para o combate. Ela chutou o muro, derrubando a criatura do outro lado. O monstro, mais furioso do que nunca, se levantou com seu machado em mãos, apontou seus chifres para Lara e investiu contra a garota exatamente como um touro ensandecido.  

A menina, já prevendo isso, apenas fugiu pelo corredor, até atingir um beco sem saída. Quando o minotauro estava quase a alcançando, ela pulou por cima dele, de forma que a criatura atingiu apenas a parede. Esta, porém, não se quebrou por não se tratar de uma divisória do labirinto, mas de uma verdadeira parede de concreto maciço do shopping.

O monstro apertou a própria cabeça, tonto. Acertado várias vezes, forçado a perseguir a inimiga, cegado e agora isso? Era o limite. Ele levantou o machado e urrou para os céus, mas quando procurou seu alvo, teve uma surpresa. Não havia apenas uma inimiga, e sim dezenas! O monstro estava completamente cercado por figuras de capacete e lenço azul. Ele ainda tentou mostrar sua superioridade estufando o peito e brandindo sua arma, mas as Laras continuaram avançando sem medo, forçando-o a recuar. Que absurdo era aquele? Como um predador invencível em seu mundo de origem poderia ser jogado contra a parede por uma humana como aquela?... Mas quando suas costas tocaram o concreto, mesmo seu cérebro primitivo percebeu: Havia sido derrotado.

Lara concentrou todo seu poder naquele último chute. Para os que assistiam a batalha pela tela da Sala de Comando, pareceu que um raio azul tinha se chocado contra o abdômen do monstro. Aquele golpe foi o suficiente para fazer ruir a parede por trás do minotauro, despedaçada de vez sob o peso do monstro somado ao último chute da jovem. O monstro descobriu da pior maneira que o Laser Wars ficava no canto do quarto piso do Shopping.

Lara observou pelo buraco na parede o corpo despedaçado da criatura se dissolver sobre um carro azarado que estava estacionado lá embaixo. Ela se afastou do buraco e observou o estrago. O labirinto parecia uma verdadeira zona de guerra, o Laser Wars ia ficar um tempo sem fazer negócios se os danos não se apagassem quando as barreiras desapareciam. Os espelhos, as ferramentas que garantiram a sua vitória, estavam intactos em sua maioria, ao menos. A jovem se congratulou mentalmente por ter se lembrado daquele trecho de corredor espelhado (e agradeceu pela sorte de ter tido um oponente com cérebro de ervilha). Ela parou por um momento para mirar seu reflexo no vidro. Seus equipamentos agora desapareciam em uma luz azulada, ao mesmo tempo em que o labirinto a sua volta se regenerava silenciosamente. A luta tinha acabado.

“Lara!”

A garota estremeceu ao ouvir seu nome. Ao virar-se, deu de cara com Letícia. Lara quase se esqueceu da amiga, que ficara congelada na “zona neutra”.

“Você não tinha saído com Pen e Nana? Cadê Amanda e Daniel? Eles sumiram de uma hora pra outra!” A loira parecia um tanto nervosa.

“A gente se perdeu na saída... Essa porcaria de labirinto escuro. Que bom que a energia voltou.” Despistou a amiga. “Olha o resto do povo aí!”

Era verdade – Dan, Penélope, Nádia e Amanda se aproximavam da dupla, grandes sorrisos nos rostos.

“Desculpa Letícia, a gente meio que pegou uma curva errada...” Disse Amanda, coçando a cabeça.

“... Não tem problema. A culpa foi dessa espelunca. Devíamos processar esses malditos.”

Os seis rumaram para a saída, animadamente falando mal do Laser Wars.

~

 

“É só impressão minha ou eles estão ficando mais fortes?” Comentou Daniel.

“Faz sentido... se você ouviu certo o que o monstro que você destruiu ontem disse, quero dizer.” Disse Lara.

“Não, tenho certeza absoluta que ele disse que foi mandado pra testar a gente.”

Os cinco amigos ocupavam os assentos de uma lustrosa limusine com a insígnia da Sakyamuni – A flor de lótus – que agora cortava as ruas de Salvador, surpreendendo os passantes. O Diretor de Desenvolvimento Tsai os acompanhava, laptop em mãos.

“Vocês vão cuidar do estrago no shopping?” Perguntou Amanda ao Diretor.

“Claro. Temos toda uma divisão criada para controle de danos.” Respondeu ele.

Depois de acompanharem Letícia e esperarem que a mãe deste a buscasse, os cinco foram surpreendidos pelo aparecimento da lustrosa limusine que viera buscá-los. Uma regalia mais que merecida depois da batalha vencida, de acordo com Li. O próprio, neste momento, revia os vídeos das câmeras do Laser Wars e do resto do Shopping que ele havia baixado (leia-se hackeado) do computador do jogo.

“... Ei, senhor Diretor...” Começou Lara.

“Pode me chamar só de Li” Disse o homem, sem levantar os olhos da tela do computador.

“...Senhor Li. Os Juzus... O uso deles trás algum efeito colateral?”

 “Porque? Você está sentindo algo?” Novamente, ele nem fez contato visual. O Diretor estava analisando as imagens de quando Lara invocou o selo.

“Bom, não agora. Mas quando eu usei a pulseira eu, sei lá... Vi alguma coisa.”

Li finalmente fechou o laptop. Aquilo tinha chamado sua atenção.

“Então não foi só seu? Que bom, já tava achando que eu era maluco.” Disse Daniel.

“É um alívio. Eu não cheguei a ver algo, foi mais como uma sensação... Mas foi o bastante pra me dar pesadelos.” Amanda pareceu ficar nervosa ao lembrar disso.

“Bom... Havia uma chance disso não acontecer, mas acho que o Dai estava certo de novo no final das contas quanto às imagens.” O Diretor parecia divagar.

“O que essas imagens significam?” Perguntou Penélope, um tanto assustada.

O chinês parecia parou para pôr as idéias em ordem.

“... Eu já expliquei como os Juzus funcionam, mas não cheguei a dizer de onde vêm o seu poder.” O homem cruzou os braços e mostrou uma expressão preocupada. “As contas canalizam toda a energia de suas vidas passadas. Eu achei que esse essa união de poder não afetaria a mente dos usuários, mas meu irmão tinha uma hipótese que dizia que, com o uso constante dos Juzus, os portadores podem acabar ficando cara a cara com seus ‘eus’ passados... E memórias de suas vidas em outros mundos podem vir a tona.”

“Quer dizer que essas memórias... são minhas?” Amanda parecia chocada. Lara estava para perguntar o que ela tinha ‘visto’ quando um som agudo veio do laptop de Li Shen.

“Você só pode estar brincando... Outra limusine não...” Mas suas suspeitas estavam corretas. O alarme era o aviso de proximidade do PL-SEP. Um monstro chegava... E rápido.

“Garotos! Levantem uma barreira! AGORA!” Gritou o cientista. Os quatro usuários se entreolharam e assentiram com a cabeça. Penélope ergueu o braço direito.

Uma luz vermelha invadiu o carro.

E este explodiu. 

 

¹ Bulldozer significa trator em inglês.

                     

 


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