Capítulo 37

Cassandra não estava acreditando no que acabara de ouvir. “Alyss está dentro das muralhas deste castelo”. Ela olhou para Duncan em busca de qualquer tipo de brincadeira, mas o rosto honesto de seu pai estava mais sério do que nunca.

-Como assim? – perguntou a princesa. Ela sabia que era uma pergunta estúpida, mas era a única coisa que vinha a sua mente.

-Você ouviu – disse ele sério -, Alyss está viva e é a esposa de Will.

-Mas... ela tinha morrido! – disse ela com uma nota de ressentimento na voz.

-Ela não morreu – Duncan afirmou pacientemente.

-Mas... – a cabeça de tão confusa quanto um cão perdido.

-Filha – o rei começou -, Alyss está viva e ninguém pode mudar isso.

-Mas como fica o meu casamento? – ela perguntou ansiosa.

-Vamos ter de arranjar outro marido para você – ele respondeu. “Só não sei onde”, - pensou divertido.

-O senhor é o rei e como tal, pode obrigá-lo a se casar – ela tinha começado a apelar para todos os lados.

-Eu posso – Duncan afirmou -, mas não vou fazer isso.

O silêncio pairou entre pai e filha por longos minutos. Cassandra não estava gostando do rumo que essa conversa havia tomado. “O meu próprio pai não vai me ajudar?”, - pensou enquanto remexia nas brasas da lareira. A madeira estralou e a língua de fogo subiu e o silêncio continuou, até a princesa quebrá-lo.

-Porquê? – perguntou em um fio de voz. –Porquê não vai fazer nada?

Duncan olhou no fundo dos olhos da filha e o que encontrou o deixou perplexo. Aqueles olhos verdes, que sempre demonstraram alegria e travessura, agora mostravam raiva e rancor. “Essa é a Cassandra que eu conheço?”.

-Porquê o senhor não vai obrigá-lo a se casar? – ela repetiu.

-Pense em como será esse casamento – ele pediu.

-Feliz – ela respondeu com toda a certeza que pôde reunir.

-Não! – exclamou Duncan. –Esse casamento vai ser o maior erro da sua vida!

-Não vai! – retrucou a princesa.

-Vai. Você vai prendê-lo nas suas mãos! Will não é um cavalo para que você coloque rédeas em seu pescoço. Se esse casamento acontecer, teremos dois problemas; primeiro: ele nunca vai te perdoar por tê-lo afastado da esposa e do filho. Segundo: eu não dou 3 dias para que ele saia em uma missão.

-Mas não estamos com problemas em nenhum dos feudos – Cassandra interrompeu.

-Mas temos que ter enviados viajando para ver se nossos tratados estão sendo cumpridos – ele explicou -, e só basta um minuto para que ele fale com Crowley e leve Halt para alguma viagem sem previsão de volta. Filha – ele estendeu o braço e tocou em sua mão -, não quero que você sofra.

-Mas não é justo – ela disse com tristeza. “Eu não estava querendo me casar, mas Alyss tinha morrido e Will assumiu um noivado comigo”.

-E é justo você deixar uma mulher sem marido e uma criança sem pai por causa de um capricho estúpido? – Duncan perguntou com aspereza. Sua filha ia fazer muitas pessoas sofrerem: Halt, que iria sofrer por Will, Pauline também iria sofrer por ele, que considerava como um filho e por seu marido, que não ia deixar Will viajando por vários meses sozinho; também iria sofrer por Alyss, sua antiga aprendiz e também considerada como filha, que por sua vez estaria sofrendo pelo abandono obrigatório de Will e por seu filho, que iria ficar sem pai; Horace, que amava Cassandra com todas as forças , iria sofrer ao ver a própria Cassandra sofrendo pelo o abandono e o desprezo do marido. Sua amizade com Will poderia até terminar por isso. E por último aquele que seria o mais atingido: Will. Ele iria sofrer por ter que abandonar Alyss, abrir mão de seu filho, o considerando bastardo, iria sentir raiva de Cassandra e do próprio Duncan, por o ter obrigado a tomar as atitudes indignas que ele havia tomado, e por isso iria viver mais viajando do que no castelo, e por isso iria sentir saudade das pessoas que ele deixaria para trás. Não. Iria ser muitas pessoas que iriam sofrer.

-Várias pessoas vão sofrer, e você é uma delas – ele disse com paciência. –Você sabe que Will aceitou esse casamento sob pressão, porque não tinha outra saída; Assim como sabe que não o ama, e sim Horace. Ele sim fará você feliz.

-Eu o amo... – sussurrou Cassandra.

-Então porquê tanta relutância em aceitar o retorno de Alyss? – Duncan perguntou.

-É que... – ela hesitou.

-É que...? – pressionou o rei.

-É que eu não gosto de perder! – explodiu a princesa.

-Ah! – falou o pai. -Então era isso? Will não é um premio para você o perder!

-Eu sei – admitiu ela.

-E Horace? – ele quis saber.

-O que tem ele?

-Ele não está comprometido – o rei comentou.

-Ele mentiu – comentou Cassandra.

-Porquê? – pressionou. Até hoje ele desconhecia o motivo do cancelamento do casamento de Horace e Cassandra. Sempre que tocava no assunto a filha o distraía com outra coisa. Mas agora era a hora da verdade. -O quê aconteceu entre vocês?

-Nós brigamos – respondeu.

-Porquê?

Cassandra hesitou. Ela sabia que era uma coisa boba, mas assim com Horace, ela tinha vergonha do motivo da briga.

-E então? – Duncan perguntou arrancando a princesa de seus pensamentos.

Quando a jovem abriu a boca para responder, ouve uma súbita batida na porta e Lorde Anthony entrou correndo.

-Senhor! – disse sem fôlego.

-O que aconteceu, lorde Anthony? O castelo foi invadido? – perguntou irônico.

-Não, senhor!

-Está pegando fogo?

-Não, senhor!

-Um dos meus arqueiros ou cavaleiros está em perigo?

-Não, não, senhor!

-Então porquê essa pressa    toda? – o rei quis saber.

-Problemas na capital de Hibernia – respondeu, após parar para tomar fôlego.