Veneno De Rosas escrita por Annabel Lee


Capítulo 25
A Assassina


Notas iniciais do capítulo

Tentei fazer o mais fiel possível a A Esperança! Espero que gostem



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No meu segundo dia na lanchonete, assisto ao noticiário.

        Estava eu, minhas companheiras de quarto do Distrito 10 e o garçom (cujo nome é Fred) assistindo a televisão no balcão da lanchonete.

        Quem estava lá era Coin. Vestindo uma roupa social cinza, que deduzi ser sua cor preferida depois de tanto tempo no Distrito 13. Ela começou a falar:

        – Hoje, exatamente ao meio dia, teremos a execução do EX-presidente Coriolanus Snow em praça pública. Por cortesia do Tordo.

        Snow ainda não morreu. Mas provavelmente morrerá hoje, e não será por “cortesia do Tordo”.

        Só espero que essa execução atrase.

        Olho para o relógio. 11h e 35min. A mansão não fica tão longe daqui, mas também não fica tão perto.

        – Gente – eu falo para meus novos amigos – vou indo.

        – Vai para a execução? – pergunta Fred – nós também vamos, podemos te acompanhar.

        – Não, tudo bem. Vocês têm seus assuntos e eu tenho os meus. Não precisam se preocupar.

        Dou um sorriso confiante. Porém, falso.

        – Tem certeza, Camilla? – pergunta uma das garotas.

        – Sim, eu tenho. Vou pegar minhas coisas.

        Subo as escadas até meu quarto temporário. Ainda penso naquela conversa estranha com Primrose. A garota tem apenas 12 anos e já fica filosofando com pessoas que só viu uma vez.

        Se bem que eu a salvei nessa “uma vez”.

        Talvez eu devesse ajuda-la. E se ela não encontrou a mãe?

        Pego meu cinto de facas e prendo na cintura. Máquina Mortífera ainda estava lá. Intacta. Bem como eu esperava. A carta de papai também se salvou depois de tudo isso.

        Mas eu daria tudo para poder salvar meu pai e não a carta.

        Saio do quarto e dou um abraço em todos meus outros amigos da lanchonete. Estranho chama-los de “amigos   “, se eu nem sequer sei o nome de maioria deles... Mas, talvez seja algo mais que saber tudo sobre tal pessoa. Eles me ajudaram e eu os ajudei. Isso vale alguma coisa.

        E eu estou novamente pensando em Gale.

        Vou andando nas ruas da Capital pensando naquela maldito bilhete sem sentido que ele mandou. Aposto que ele e o Tordo já estão aos beijos agora. E ele deve estar lhe dando um sussurro de “Boa sorte” no ouvido dela, confiante.  E ela deve estar sorrindo para ele, feliz por ele estar finalmente com ela.

        Não aguento mais pensar nisso. Quando tudo isso acabar, escreverei uma carta para minha mãe. E quem sabe eu volte a morar com ela. Mas creio que não conseguirei agora. Sem Gale, sem esperança. Sem nada.

        Quando chego na praça faltam ainda 15min para começar a execução. Snow não está no palco. Mas há várias pessoas aqui. Todas ansiosas por morte de quem tanto lhes fez mal.

        Rodeio os olhos pelo lugar e gelo quando vejo Gale. Ele parecia mal. E olhava o palco fixamente. Há alguns metros dele está o outro “namoradinho” da Katniss, o tal do garoto que ela fingiu gostar na 74ª Edição dos Jogos Vorazes.

        Ele é outro que parecia arrasado.

        Passo os olhos e vejo Beetee no palco, junto de Coin e umas outras pessoas. Mas acho estranho, porque não vejo Boggs em lugar nenhum.

        Ele deveria estar lá, pois é braço direito da Coin.

        E se ele estiver morto?

        Mas um amigo morto. Não posso acreditar. Agora percebo que também não vejo Finnick Odair, cujo casamento foi um dos melhores momentos da minha vida.

        Estaria ele morto também?

        Vejo Katniss Everdeen subindo o palco. A aljava em suas costas carregava apenas uma flecha, e seu arco estava em suas mãos. Não pude muito bem identificar sua expressão: tristeza, ódio, dúvida, ansiedade. As coisas que eu sentia exatamente agora. E pensar por esse lado, por mais que eu odeie, eu pareço muito com essa garota. Perdemos o pai por culpa da Capital, odiamos o mesmo homem. Estamos com dúvidas e tristezas, mesmo que por coisas diferentes.

        Coin vai falar com ela. Snow está lá. Há alguns pequenos metros do Tordo. Ele tossia. Tossia sangue. Estava funcionando. O veneno estava funcionando.

        Katniss dá uma rosa para Coin e fala uma última coisa com ela. Então, Coin se afasta e coloca a rosa no bolso do Snow, e posso vê-la dar uma piscadela para ele.

        Katniss posiciona a flecha e mira no alvo. Mas não atira. Snow tosse ainda mais. Sangue escorre de seus lábios e posso ver hematomas em seu queixo. O Tordo olha fixamente para ele, e ele para ela. Quase sorria. Mas eu sei muito bem que havia sofrimento ali, bem escondido. Mas havia. Posso ver a esperança de Snow escorrer junto do sangue que sai de sua boca.

        Katniss aponta o arco para cima. Começo a ficar confusa. E ao invés de atirar em Snow, a flecha voa em direção à Presidenta Coin. E esta, cai morta no palco.

        A multidão está em perpétuo silêncio. Inclusive Katniss, como se não acreditasse no que havia feito. Então olho para Snow e ele está gargalhando. Mas há uma diferença agora, ele está olhando para mim.

        Seus lábios ficam silenciosos para formar uma palavra: Parabéns!

        Então ele ri mais ainda, e sai mais sangue dos seus lábios. E agora é ele quem cai morto. Morto por mim. Pelo meu próprio veneno de rosas.


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