Veneno De Rosas escrita por Annabel Lee


Capítulo 24
Primrose Everdeen




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Saio da estufa assim que digo as palavras. Sem nem ver qual foi a reação de minha vítima. Pela grandeza da estufa, posso concluir que Snow morrerá de vez daqui a dois dias. Estarei aqui quando isso acontecer! Oh, se estarei.

Quando saio da mansão os guardas me perguntam se fui bem sucedida com as flores, respondo que sim. Sem hesitação ou tremidez.

Rodo meu olhar pela redondeza, e não vejo Gale.

- Procura alguém? - um guarda pergunta.

- Na verdade sim - eu respondo - um parceiro de entregas meu. Estava com o uniforme igual ao meu.

- Nós o vimos! Ele pediu pra te entregar isto.

O guarda me estende um pedaço de papel. Não é a carta de papai, pois esta jamais saiu de meu sutiã. É um papel novo, parece que escrito recentemente.

Hesitante, pego o papel. Agradeço aos dois, e saio lendo pelas ruas, agora com cheiro de queimado.

Milla, diziam as primeiras palavras, sinto muito se você não me ver quando sair de sua missão.

Mas, acontece que preciso ir ao hospital visitar Katniss. Entenda, ela foi minha única amiga por anos, e simplesmente não posso deixar de ver se algo aconteceu...

E preciso me desculpar com ela.

Por favor, compreenda. Gale.

Eu não sabia muito bem o que fazer com o papel: se eu rasgava ele ou molhava ele com minhas lágrimas.

Depois de tudo isso, ele ainda pensava nela.

Sem ele, minha vida ficava meio desanparada. Sem meu pai, e minha expectativa de sauvá-lo, era a mesma coisa.

No fim eu acabei por perder os dois, mas por jeitos diferentes.

Resolvo andar até alguma lanchonete e comer. Pois minha fome era desesperada.

Talvez seja melhor eu enfiar uma de minhas facas no meu próprio peito.

Então alguém cutuca meu braço. Quando olho para o lado, vejo a irmã de Katniss Everdeen. Mas não sei muito bem o que ela fazia num cenário pós-guerra.

- Prim? - pergunto me recordando de seu nome.

Ela sorri timidamente.

- O que faz aqui? Sua irmã deve estar preocupada...

- Não se preocupe - ela diz alegremente - ela vai entender um dia.

As palavras dela não faziam sentido algum.

- Você também vai precisar entender um dia... - ela diz.

- Entender o quê?

- A vida. A morte. Essas coisas que não conseguimos compreender. Sabe, pelo bem do Darius.

Ouvir o nome dele faz com que um chumbo caia no meu peito. Comprimo o choro, e digo com dificuldade:

- Você deve voltar para sua mãe, Prim.

Mas os olhos da garotinha brilham, mesmo que pareçam tão vazios agora que noto. Ela abre mais seu sorriso.

- Ela também vai ter que entender.

- Você não é muito nova para "entender" essas coisas?

- Um dia, todos nós acabamos por entender - ela olha para o céu, sorrindo melancólicamente - devor ir agora.

- Vai encontrar sua mãe?

- Um dia vou. Bom... adeus! Diga a Gale que não é culpa dele. E não se esqueça que a morte do Darius não é culpa sua... Ele não suporta ver você se culpando.

Franzo o cenho. Muito confusa. Como se eu fosse encontrar Gale depois disso tudo. E como se meu pai estivesse me vendo agora.

A garotinha me dá um último sorriso e vira de costas. Posso vê-la caminhar para longe, mas aos poucos não consigo mais distinguir se ela está mesmo caminhando... nem se ela está mesmo ali.

Até que a perco de visão por completo.

Ainda com a cena que acabei de presenciar em mente, entro numa lanchonete. Estava com várias pessoas que pareciam ter voltado da rebelião.

Um garçom vem.

- Vai querer o que?

- Olha eu não tenho dinheiro.

- Tudo bem, garota. Ninguém aqui tem!

Dou um sorrisinho, e peço dos mistos quentes e um refrigerante. Aquilo pode ser o suficiente.

O garçom chega com o que eu pedi.

- Tem lugar onde dormir? - ele pergunta.

- Não.

- Fique nos quartos aqui de cima. Não há problema.

- Muito obrigada.

Ele sorri e depois de um "de nada", sai para atender outra pessoa.

Passo o dia ajudando feridos do jeito que posso. Também ajudo nas coisas da lanchonete, porque as pessoas parecem loucas para comer. Conheço um soldado ou dois do Distrito 13, mas não vejo Boggs nem Beetee. Muito menos Gale.

Quando anoitece, subo as escadas e divido o quarto com umas duas garotas rebeldes. As duas são do Distrito 10. E são muito amigáveis.

Mas, por mais que eu tente entrar na conversa das duas, minha conversa com Primrose Everdeen não pára de se repetir em minha mente.


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Notas finais do capítulo

Capítulo pequeno...