O Mundo Secreto De Ágatha. escrita por Koda Kill


Capítulo 29
Confissões e pães mofados.


Notas iniciais do capítulo

Só eu que chorei? kkk Sou manteiga derretida então provavelmente.



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É claro que naquela noite, após os beijos de Dante e sua saída repentina eu não consegui dormir. Alias não consegui fazer mais nada. Me refugiei no meu diário tentando não pensar, tentado ignorar o que tinha acontecido. As pequenas poças de água na entrada provavam o contrario. Apenas não fazia sentido nenhum. E mesmo assim eu não cansava de reviver aquele momento na minha cabeça. Tentei ignorar meus sentimentos por tempo demais. Mas agora era apenas uma afirmação irrefutável pairando sobre a minha cabeça. Eu realmente sou apaixonada por Dante.

É um pouco libertador simplesmente assumir. Mas na verdade apenas fiquei apavorada. Meu cérebro pareceu travar. Tentei parecer normal. Tentei fazer as coisas que eu normalmente faço, mas não deu. Quer dizer, na minha mente eu parecia normal, mas bastou meu irmão e o amigo dele que eu não me lembro o nome saírem do quarto para eu perceber o quão fajuto aquele disfarce era.

— Rubi, você tá bem? - Falou ele rindo meio confuso. O amigo tentava disfarçar um sorrisinho, mas não conseguia. Demorei alguns segundo para capturar o significado da frase. Então tentei parecer casual.

— Claro, porque eu não estaria? - Falei forcando um sorriso. Eu tinha deixado um pedaço de pão em um prato na minha frente para o caso de eles saírem eu poder fingir que estava apenas comendo e não encarando o nada e desejando que um certo idiota pelo qual eu sou apaixonada volte, então peguei o pão sorrindo para comer.

— Ah, nada não. Só talvez o fato de que você está prestes a comer um pão mofado. - Disse ele tossindo para disfarçar o sorriso. Foi tarde demais Quer saber? Eu não faço ideia de porque as pessoas deixam o queijo mofar propositalmente e depois o comem. Eu tenho algumas palavras pra essas pessoas. Mofo tem gosto de caca de unicórnio pisoteada por uma multidão de barangas. Cuspi o pedaço do pão pra bem longe.

— Ai meu deus! Que gosto horrível! - Falei cuspindo no prato e tentando controlar a ânsia de vomito. Meu irmão e seu amigo gargalhavam efusivamente. Meu rosto esquentou e eu corri para a cozinha. Coloquei um monte de água na boca e cuspi varias vezes, mas parecia que o gosto tinha se impregnado pra valer. Para sempre. Adeus gosto de açúcar e donuts gostosos. Vou sentir falta de vocês. - Porque diabos nos guardamos pão mofado ?! - Gritei furiosa. Os dois não responderam, estavam muito ocupados rindo da minha desgraça. Corri para o banheiro e coloquei pasta na minha escova. Comecei a esfregar com muita força tentando ignorar a imagem do pão mofado.

Escutei aos poucos os dois saindo e rindo. Escutei-os no corredor e ate entrarem no elevador e as portas se fecharem. Meus olhos ficaram molhados. Tão molhados que eu não enxergava mais, eu apenas escovava os dentes com força. Eu nem sei porque eu ainda tento. Será se vale mesmo a pena lutar contra tudo isso? Porque as vezes parece que ser constantemente humilhada é simplesmente o meu destino.

Não pode ser isso, certo? Ninguém merece isso, certo? Tem que ter alguma parte boa na vida. certo? CERTO? A imagem no espelho me desanimava. Apenas uma doida chorando com a boca branca e espumando. Mas Dante gostava de mim, não é? Afinal ele me beijou. Ninguém beija alguém daquela maneira se não tiver algum tipo de sentimento envolvido. E a mariana? Ela também gostava de mim ou eu sou apenas uma substituta?

Não aguento mais essas mesmas perguntas sem resposta zanzando pela minha cabeça. Minha cabeça estava me matando de dor. Meu coração estava pequenininho. E já fazia algum tempo que ele estava assim. Será que foi por isso que a mamãe abandonou a gente? Será que o coração dela estava pequeno desse jeito? Ou simplesmente não eramos bons o suficiente pra ela? Porque ela foi embora? Não era para as mães supostamente cuidarem e amarem seus filhos acima de tudo?

Chorei tanto que uma hora as lagrimas simplesmente pararam de cair. E fiquei encarando o nada, cansada. Meu peito doía do esforço de chorar continuamente por tantas horas. Eu escutava passos e barulhos na casa, mas ignorava. Bem tarde, meu pai entrou no quarto, sorrateiro. Não me movi, não olhei. Eu apenas sabia.

— Ei... - Disse ele chegando perto e sentando na ponta da minha cama. Ele segurou meu tornozelo e o balançou de leve tentando chamar minha atenção.

— Pai, porque a mamãe foi embora? - Perguntei na lata. Em todos esses anos ignorava essa pergunta. Tinha medo da resposta. Mas agora eu simplesmente precisava saber. Não importava o que fosse, eu precisava saber.

— Eu não sei. - Falou ele cabisbaixo.

— Para de me poupar pai. Eu preciso saber!Por favor. - Implorei olhando em seus olhos. Eles estavam tristes. Estavam sempre tristes.

— Eu não sei... Um dia ela estava aqui, no outro não estava mais. Até que foi embora e deixou apenas um bilhete dizendo: Não posso mais fazer isso. Assim, do nada...

—Por que? Porque?! Eu não era boa o suficiente? Nos não eramos bons o suficientes? Nos eramos tão ruins assim? - Perguntei com raiva e magoa.

— Claro que não. - Falou ele com carinho e me abraçando. Estava difícil segurar as lagrimas. Eu só queria chorar mais algumas horas em seus braços e que tudo desaparecesse. - Não é só isso, é? - Perguntou ele.

— Como assim?

— Jules me contou sobre a escola. - Uma raiva angustiante e sufocante tomou conta de mim. Eu não sabia nem o que pensar, o que falar.

— Ele não tinha o direito de contar! - Falei me afastando. Levantei da cama. - Ele não tinha nada a ver com isso!!! Eu não quero falar sobre isso.

— Ágatha... Por favor.

— Não!

— Só fale comigo. Eu não sou um monstro! Sou o seu pai, eu estou do seu lado! Eu te amo. - Eu não aguento mais, eu não aguento mais. Pensei freneticamente.

— Eu não entendo... Eu não entendo pai. Porque eles me odeiam tanto? Porque as pessoas não gostam de mim? Por que eles tem tanto prazer em me ver sofrer?

— Eu não sei filha... Como vou dizer para o meu bebê, a minha princesa que o mundo é cruel? Como vou dizer pra ela o quanto ela é especial e linda e o quanto essas crianças são uns idiotas? Como vou dizer pra ela o quanto eu me sinto culpado pela mãe dela ter ido embora? Como vou dizer pra ela o quanto eu fui imbecil e idiota brigando com ela quando eu que deveria protege-la nem sabia que ela estava sendo humilhada pelos colegas? Como eu vou pedir desculpas para ela? Como eu vou pedir desculpas por toda a ausência, todas as noites de trabalho e esse maldito cigarro?

A essa altura eu não tinha mais forças, não tinha coração, não tinha sangue. Eu era apenas uma ferida ambulante. Cai no chão aos prantos. Eu apenas chorava e chorava e gemia. Papai veio ate mim e me abraçou enquanto também chorava.

— Me desculpa. - Ele repetia. - Me perdoa querida.

— Eu odeio minha vida pai. Eu me odeio. - Falei. Era tão bom finalmente dizer essas palavras para alguém. Eu as sentia nas minhas entranhas lutando para sair ha muito tempo.

— Não filha, por favor. não. Me desculpa. É tudo culpa minha. Eu vou consertar. - Era apenas devastador ver meu pai chorando daquela maneira. - Eu vou consertar. Me perdoa.

Chorei em seus braços ate ficar exausta e dormir. Não me lembro de mais nada daquela noite. Mas lembro de sentir um grande peso sair das minhas costas.


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Notas finais do capítulo

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