Da janela do seu apartamento solitário, Mello observava os pingos de chuva caindo tão rápidos quanto raio, e não se assustou com o trovão que veio em seguida.

Diferentemente do que ele faria.

Near sempre teve medo da maldosa chuva e de seus brutos trovões barulhentos, Mello sempre esteve ao seu lado para acalma-lo quanto isso.

Na época da Waamys.

Mas já fazia muito tempo desde então...

Será que albino ainda se encolhia por dentro das cobertas como costumava fazer?

O germânico realmente gostaria de saber algo como isto.

Ou será que havia conseguido outra pessoa que o acalmasse como ele fazia?

Seu coração se contorceu por dentro do peito agonizante, não sabia ao certo porque, entretanto, tinha a certeza, de que ideia não o agradava.

Ingrato seria Near se o fizesse, deixasse que outro o abraçasse enquanto podia ouvir as batidas do seu coração, que lhe afagasse os alvos cachos até que ele dormisse...

–Tsc, pensamentos de um bêbado Mihael, abandone esse sentimentalismo barato, isso não significou nada, nem pra bolinha de algodão, e principalmente pra você. - Mello murmurou sozinho com esperança de ouvir seu próprio conselho.

Não o fez.

Levantou-se cambaleante devido aos cinco doses de absinto, contrabandeados secretamente da gaveta de Matt, vestiu a jaqueta de couro, apanhou as chaves da moto, calçou os coturnos desgastados e antes que pudesse perceber dirigia a toda velocidade pelas ruas desertas.

Do que se lembrava, daquilo que o contaram, Near morava por ali.

Alugara um apartamento tão pequeno quanto o seu, após vim para o Japão e pelo visto ficaria ali até que o caso Kira chegasse ao fim.

Ou que ele morresse tentando resolve-lo.

Como havia acontecido com L.

Mas sinceramente, Mello jamais deixaria isso acontecer.

Por isso estava ali, a história de ser o número um foi apenas uma desculpa.

Que todos engoliram muito bem.

Com exceção de Matt.

Gamers sempre são atentos a detalhes, e o gamer em questão o conhecia melhor do que a si mesmo.

Não havia como Matt não perceber, e consequentemente como não caçoar dele por isso.

Mas mesmo assim, veio.

Não havia no mundo um amigo melhor do que ele.

Por mais que ele soubesse, que suas motivações eram iguais, proteger a aquele a quem amavam.

Mello sempre soube, haviam nascido pra morrer.

Todos eram assim.

O diferencial era o quanto e como, essa pessoa vivia.

E se dependesse dele, Near jamais acabaria como L.