Eu estava totalmente perdida naquele lugar. Não sabia pra que lado ia. Uma festa com tantas pessoas estranhas, e eu sozinha... Com pessoas bebendo, fumando... Não sabia se ia embora, ou ficava.

“E aí gatinha?” eram as palavras que eu mais ouvia naquela festa. Todos bêbados. É, acho que aquele não era o meu lugar.

Há um tempo atrás, mais ou menos um mês, conheci Edward. Ele era filho de uma amiga da minha mãe. Ela me disse que era amiga dessa tal de Anne fazia muito tempo. Minha mãe morava aqui, em Londres, e Anne também, aí viraram amigas e blá-blá-blá. Só que aí minha mãe teve que voltar pra Nova Iorque porque seus pais estavam doentes, e não foi mais pra Londres. Minha mãe se casou, e teve minha irmã e eu. Quando Alice completou sete anos, ela resolveu voltar para Londres. Minha mãe sempre disse que Alice e eu tínhamos que fingir que éramos brasileiras. Nunca soubemos o porque. Minha irmã é mais nova que eu, mas vive me dando conselhos. Até parece que sou eu a caçula.

Hoje ela até me aconselhou a não ir nessa festa. Disse que esse guri não era “confiável”. Ela nem o conhecia direito, por isso não dei ouvidos à ela. Mas confesso que devia ter escutado.

Já fazia mais ou menos duas horas que eu estava lá, perambulando pela aquela festa. E nada de encontrar Edward.

Mais uma hora se passou. E nem sinal do Edward. Por que não ouvi minha irmã?

Saí logo de lá, sem mesmo tomar ou comer alguma coisa. Peguei um táxi, pois estava muito tarde. Eram exatamente 23h54 quando eu cheguei em casa.

– E aí, como foi a festa? – Alice perguntou.

– Nada legal. Ele não apareceu, como eu já imaginei que faria. - bufei -  Devia ter te escutado. – respondi, pendurando meu casaco, e tirando meus sapatos.

– Eu te avisei.

– Vai dar uma de “mamãe” agora? – me joguei no sofá.

– Eu só queria te ajudar.

– Você deveria ter me prendido aqui! Como me deixou sair?!

– Foi você que não me escutou. Desculpa Rose. – ela fez uma cara de cão abandonado.

– Bom, você tem razão. Agora vai dormir que já é tarde.

– Tarde? Eu já sou bem grandinha, posso dormir a hora que eu quiser. - ela cruzou os braços, uma expressão de brava tomou conta da sua face.

– Não, você só tem dez anos.

– Rose...

– Fala. – me levantei do sofá e fiz um gesto para Alice levantar também.

– Eu tenho sete anos.

– Sete? Tem certeza?

– Você acha que eu não saberia a minha idade?

– Eu estava só brincando. - cutuquei sua barriga, fazendo-a rir. - Agora vai dormir, já é meia-noite. – dei um beijo em sua testa e ela subiu pro seu quarto.

Fui pro meu banheiro, me despi e tomei um longo banho. Fui pra cama, e praticamente desmaiei.

No outro dia fui acordada pela minha mãe.

– Filha. Filha, acorda.

– Ah mãe, tá muito cedo. – me virei pro outro lado.

– Já são onze da manhã!

– Então, ainda é cedo.

– Levanta dessa cama agora Rose! – ela gritou.

– Calma mãe! – me sentei na cama. – O que você quer? - disse, esfregando os olhos.

– A gente vai à casa da Anne almoçar, ela ligou agora nos convidando.

– Não, eu não vou. – não sei se conseguiria olhar na cara do Edward de novo. – Eu preciso ir?

– Precisa. Agora levanta e toma um banho que a gente precisa estar lá uma hora da tarde. – ela me deu um beijo na testa e saiu quarto, fechando a porta. Deitei de novo na cama. Eu não queria ir. O Edward me deixou sozinha naquela festa, não ligou e não mandou nenhuma mensagem. Devia ser mais um dos “brinquedinhos” dele.

Tomei coragem e me levantei da cama. Tomei meu banho, demorando o máximo possível.

Quando desci, minha mãe estava arrumando o cabelo de Alice.

– Já está pronta? – minha mãe perguntou.

– Acho que sim. – respondi.

– Não vai passar maquiagem?

– Mãe, eu não tenho maquiagem.

– Não está afim de sair, não é?

– Não.

– Não tem importância. Agora vamos.

Saímos de casa, e fomos pra casa de Anne.

Não demorou muito, e chegamos na casa dela. Minha irmã parecia animada. Eu sabia que Edward tinha um gatinho chamado Felix, e Alice simplesmente adorava ele.

Normalmente, ela sairia correndo pra dentro da casa, por causa de Felix. Mas dessa vez, ela estava calma. Animada, mas calma.

Minha mãe bateu na porta, e Anne logo apareceu.

– Amy! – as duas se abraçaram. – Que bom que veio!

– Você acha que eu recusaria? – disse minha mãe.

– Sei que não. – ela riu. – Olá Alice! – ela disse, abraçando minha irmã. – E oi pra você também, Rose! – eu dei um sorriso meio tímido e a abracei. – Podem entrar. - ela fez um gesto com os braços para que entrássemos, sempre com um sorriso no rosto.

Eu gostava da casa dela, era aconchegante. E grande. Sempre que íamos lá, podíamos ir onde quiséssemos, pois Anne dizia que era como nossa “tia”, e aquela era como nossa casa.

Entramos, minha mãe foi pra cozinha com Anne, minha irmã foi brincar com Felix, e eu sentei no sofá. Coloquei meus fones, que ganhei de um "anônimo", liguei o MP3, coloquei uma música e ficava vendo Alice brincar.

E foi quando Edward desceu as escadas. A escada dava direto na cozinha, então, ouvi ele cumprimentando minha mãe. Alice, estava correndo atrás do gato, e acabou esbarrando com ele.

– Ah, oi Edward! – ela disse.

– Oi Alice! – ele a abraçou.

– Acho que já pode me soltar! - ela reclamou depois de uns dez segundos.

– É que você é tão fofinha! – ele riu e a soltou. – Desculpe.

E ela voltou a correr atrás do gato. Edward ficou na minha frente, aumentei o volume até o máximo, e percebi que ele estava falando comigo. Não dei atenção e nem tirei os fones. Ele tinha gritado dessa vez, mas eu não tinha entendido. Só então que ele retirou os fones dos meus ouvidos.

– Ei! Eu estava ouvindo música! – reclamei.

– Eu sei, mas eu preciso falar com você.

– Sobre...?

– Sobre ontem. – peguei meus fones e os coloquei novamente. Não queria mais ouvir nada dele. E não, não me senti idiota por isso.