Vida De Uma Flor escrita por Karina Foletto


Capítulo 1
Capítulo 1




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 “Um dia quando crescer, você se arrependerá de não ter aproveitado... Seja criança enquanto pode” dizia minha mãe...

É... Ela tinha razão, como queria que ela estivesse aqui comigo para ver o quanto me arrependo de não ter seguido seu conselho.

 “Ouça sua mãe sempre hein” penso novamente e sorrio.

 Só que não tenho mais ela do meu lado para ouvir. Essa dor eu vou levar para sempre, infelizmente ninguém pode fazer nada para mudar os fatos.

Meu pai um louco que se suicidou, minha mãe... Bem... Ela teve uns problemas ai que a levou aos poucos a morte, não gosto muito de relembrar... Eu sinto tanto por ela não estar mais aqui e por não ter tido a chance de ser feliz como queria.

Aqui, sozinha no meu apartamento revendo as fotos de quando era pequena. Tantas lembranças, tempos bons se misturam com os maus me trazendo lágrimas aos olhos, hoje me sinto tão sozinha e sei que não há ninguém a quem possa contar todas as minhas dúvidas nem para quem pedir conselho porque ninguém é tão confiável assim. Meus amigos? Ahhh... Eles seguiram cada um seu sonho e eu aqui me preocupando em esconder todas as dores e fingir que estava tudo bem. Mas não há nada que algumas lembranças para fazerem doer e amanhã eu estar bem de novo. Quem iria dizer que eu, logo eu... Seria uma pessoa sentimental ao extremo, isso me irrita... Muito bem, nunca resiste aos meus impulsos.

Enfim parece que não me importo com meu pai, mas na verdade meu sentimento por ele foi morrendo com o tempo. Lembro-me bem de quando tinha meus 16 anos e que aos poucos fui percebendo o quão idiota ele era, como que ele sempre se escorava na mãe e isso me irritava porque ele não fazia nada e ainda se achava no direito de me cobrar algo. Ele nunca me dava dinheiro ou muito dificilmente me pagava algo, nunca tinha dinheiro. É, antes disso eu amava ele sim, adorava e tinha orgulho dele, mas eu sempre achava que ele comprava os presentes de natal para mim sendo que na verdade era a mãe, me chateei um tanto quando percebi isso e ao ver que aos poucos ele foi se tornando uma pessoa que só cobrava, mas que não dava nada em troca, não fazia mais as coisas para agradar minha mãe e tão pouco notava como ela ficava mais triste por ele não ligar para ela, sabe que isso me faz lembrar que uma vez eu disse para minha mãe “o maior erro de um homem é deixar outro homem fazer sua mulher sorrir”.

Meu pai era idiota. Era.

Eu não vou dizer que não sinto falta dele, daquelas idiotices dele, mas a vida se tornou mais tranquila sem ele aqui, já sem a minha mãe. Tornou-se vazio.

Minha mãe era a típica mãe perfeita. A mãe que te dava tudo, te ensinava, era amiga, não te julgava e nem escolhia as coisas por ti. Minha mãe, como ela era linda. Aquele sorriso encantador, mas o que mais me entristece é perceber que com os anos ela foi perdendo aquela alegria que ela tinha. As dores se transformaram em algo maior nela do que qualquer sorriso, confesso que ajudei um pouco para isso, me culpo até hoje. Mamãe, nunca a chamei assim, mas ela era tudo o que eu tinha, sabe ela queria que eu terminasse o colégio e entrasse na faculdade, claro que fiz isso, mas anos mais tarde o que a machucou muito e eu naquela época nem me importei porque estava tão vazia que nem mesmo o fato de respirar era importante.

Bom, acho que tive ótimos pais, não reclamo, apesar de cada um se transformar no oposto do outro. É triste lembrar que meu pai nunca me conheceu completamente e já minha mãe via minha alma.

É irritante lembrar-se daqueles que a magoaram, até hoje os odeio por isso. Mas felizmente eles sofreram tudo que causaram a ela e eu não deixo de sentir-me vingada por ela. Na dor ou na alegria eu só quero teu sorriso mãe e não me importo se os outros choram sangue. Nunca soube disso, mas sei que por minha mãe faria qualquer coisa, eu devia ter feito na época.

Hoje vivo sozinha ainda. Namorei por alguns anos, mas depois que perdi meus alicerces, me deixei vagar por ai. Trabalho numa empresa como advogada e nos tempos livres faço sites, amo o que faço, mas mesmo assim a rotina tomou conta de tudo e então passei a cumprir um horário e nada mais. Pode parecer vazio, e é. Mas agora eu entendo melhor o medo que eu tinha, tanto que desejei vivermos sozinhas, tanto quis vê-la sorrir.

Relembrar-me de que quantas vezes eu preferi ficar no computador a sair com meus pais, quantas vezes preferi a solidão a simplesmente ficar ouvindo-os conversar, de tomar chimarrão.

Sabe que a história dos meus pais tinham tudo para ser perfeita.

Minha mãe o odiava, é engraçado isso, ainda mais saber que anos depois eles se casariam. Enfrentaram muitos problemas como o meu avô que não queria que minha mãe se casasse e minha avó que de inicio não gostava muito da ideia, chegaram até a terminar, o que levou a minha mãe a escrever uma carta para ele. Meus pais namoraram quatro anos antes de casar, um tempo razoável creio eu. Minha mãe queria muito engravidar, mas os médicos lhe disseram que ela tinha problemas para tal, então quando ela finalmente desistiu de engravidar e convenceu meu pai a adotar ela descobre que tem um cisto no ovário que viria, a saber, mais tarde que era eu e não um cisto, como diziam, ela descobriu isso com três meses de gestação e passado dois meses eu nasci, com 850 gramas. Muito pequena por sinal e julgada incapacitada de sobreviver por muitos, mas assim que nasci fui preparada para ser levada a Porto Alegre, no caminho quase matei meu pai de susto porque o oxigênio acabou e eu começei a ficar sem ar, mas eles chegaram em um hospital em Canoas onde não queriam me fornecer o oxigênio e a enfermeira teve que intervir, fiquei dois meses na incubadora em Porto Alegre e minha mãe comigo mesmo os médicos não querendo, senti falta do meu pai logo na primeira semana, eu chorava muito e ninguém sabia o motivo, corria riscos com isso porque estava perdendo peso... Cresci tão rápido e me tornei uma criança inteligente, diga-se de passagem, a minha adolescência foi um tanto conturbada por dúvidas de tudo a minha volta, incluindo a sexualidade, sobre isso eu resolvi ficar no meio termo, odeio ter que definir algo que eu não sei se continuará assim amanhã.

Fiz muitas burradas, mas acertei muito também. Aconselhei meus amigos e nunca “passei a mão na cabeça”, isso me faz sorrir porque me lembro muito de minha mãe, realmente me acho parecida com ela e adoro esse fato, mas claro tenho partes do meu pai e que digamos não são lá as melhores.

Ficar relembrando o passado é bom e é ruim, me faz sentir saudades de tantas coisas, mas há outras que me machucam. Até hoje eu tenho isso de relembrar e doer, vai entender essa mania.

Eu procuro entender tudo o que aconteceu comigo e lembro que antigamente eu tinha momentos de depressão, bom, hoje eu tomo remédios para não ficar mal. Ninguém entende o valor de uma família até você não ter mais uma, não é a família de não ter namorado e sim a família de não ter nem namorado, nem marido, nem filha ou filho, nem pais, nem avós, ninguém. Aí sim você percebe como tudo se torna difícil, o mais simples ato de levantar da cama vira um transtorno, sair de casa aos finais de semana  não é nada incentivante, depois de tudo.

Tudo bem que meus pais já tinham me criado quando tudo ocorreu e é até meio injusto dizer isso mas ao menos a minha mãe não podia ter ficado comigo? Ou todo mundo acha que porque eu não falo o que sinto é porque não amo, eu amo e muito só que já me machuquei tanto que não consigo falar. Choro a noite porque sinto muita falta deles aqui comigo, sei que tudo deu errado, mas não podiam ter me deixado aqui sozinha !

É eu tenho consciência que hoje estou parecendo uma pessoa depressiva, isso se deve ao fato de eu estar numa solidão total, e também porque esse fato me machuca muito.

Tanto amor, tanta entrega de que vale se um dia tudo se vai? De que adianta tu amar alguém se um dia ela te deixa? Poxaa, eu não aguento maais ! Por mais que eu saiba que amar não vale a pena e que se entregar muito menos, eu sempre faço exatamente isso. Amo, como se fosse eterno, me entrego como se fosse o último. Mas até hoje tem um relacionamento meu de quando eu era adolescente que eu não esqueço: que namorei um menino que durou 4 meses e eu o amei tanto e tão intensamente que levei 3 anos para tirá-lo de mim, para esquecê-lo totalmente e não sentir nada quando o via.

Uma das coisas que mais me orgulho é saber que tanto eu como a minha mãe, nós tínhamos uma facilidade enorme para a escrita, um gosto pela leitura, um hobbie por vôlei e algumas ideias e conceitos parecidos. Já com papai, era tão bom quando não brigávamos e pelo  simples fato de rirmos por nos olharmos, tenho muito dele também no bom e no mau sentido. Mas não consigo dizer que meu sentimento por ele seja algo tão forte quanto foi um dia, é louco tudo isso...  Quando nova eu era muito feliz, não que agora eu não seja mas simplesmente a minha alma já é envelhecida num corpo de mulher, assim como minha mãe as dores causaram grandes efeitos e hoje só há vestígios do que eu fui um dia.

Um dia quando voltava do trabalho, encontrei meu querido ex, o Jake. Conversamos por alguns minutos e dei a desculpa de que precisava ir para casa, mas ele insistiu em me dar o seu telefone...

Num domingo, enquanto eu terminava mais um processo meu telefone toca:

- Alô?

- Alô é a Missy?

- Sim, quem fala?

- Oii, é o Jake!

- huuum... tudo beem? Nunca pensei que você fosse ligar.

- Pois é... queria conversar um pouco, você pode?

- estou terminando um processo. Mas fale, o que houve?

- poderíamos sair para conversar?

- aaah, eu queria terminar esse processo hoje se possível. Não pode ficar para outro dia?

- Posso passar ai? Prometo não roubar muito do teu tempo.

- Huuum, está bem... deixe me ver... – era simplesmente 13 horas da tarde e Missy simplesmente não queria conversar.

- que tal as 14 horas?- disse Jake.

- ótimo, estava pensando nessa hora mesmo... – penso “infelizmente não foi hoje que me livrei dele”.

conversamos durante algum tempo sobre amenidades, por fim chegaram ao assunto mais temido por ela: “passado”. Jake lhe contou que ele e Kate haviam terminado seu noivado, pois as traições eram praticamente parte do relacionamento e ele viu que não era isso que ele queria de uma esposa.

Jake foi a quem me referi antes como o menino que tanto amei  mesmo em pouco tempo, mas o meu coração realmente ficou muito cicatrizado com tudo que aconteceu, como Jake não soube de mais nada desde que terminamos... Este perguntou sobre meus  pais e eu lhe contei toda a história, ficamos conversando um longo período conversando até que disse:

- Jake sinto muito falar mas realmente preciso terminar isso aqui- disse ela se referindo ao processo.

- não não, tudo bem Missy. Eu que peço desculpas por ter tomado teu tempo além do devido, nos falamos outra hora certo?

- claro, claro. –  penso “ tomara que nunca mais eu precise te ver de novo”.


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