As batidas ecoaram exatamente três vezes, sendo seguidas pelo nome “Penny”, deixando bastante claro quem estava no outro lado da porta.

– Sheldon, entre. – respondeu Penny – Oi.

– Penny. – saudou Sheldon enquanto balançava a cabeça levemente – Pode me entregar as chaves que Leonard deixou com você?

– Desculpa, querido. – falou a loira concentrada em pintar as unhas da mão de rosa choque – Do que você está falando? Leonard não deixou nada comigo. Aliás, nem vi Leonard hoje. – completou Penny, verificando as mãos para ver se estavam bem pintadas.

– O quê? – a voz do cientista elevou-se de modo que Penny levantou a cabeça para observá-lo – Como Leonard não deixou as chaves do apartamento com você, Penny? – Sheldon começou a andar de um lado ao outro do apartamento, impaciente.

– Acho que o seu celular está tocando. – observou a vizinha.

Sheldon retirou o iPhone do bolso, exibindo uma nova case do Homem Aranha, e verificou rapidamente o nome na tela.

“Leonard, eu não posso acreditar. Simplesmente, não posso compreender! Você infringiu as regras. Obviamente, eu estou bravo. Leonard...”

– Penny. – os olhos de Sheldon começaram a piscar e sua boca, a se contorcer – Penny.

– Querido, o que aconteceu? – Penny levantou-se e tocou levemente o braço do físico – Você está bem? Quer alguma coisa? O que, de tão terrível, Leonard pode ter lhe dito?

– Penny. – repetiu Sheldon esquivando-se do afago da garçonete e indo em direção a poltrona – Vou ter que ficar na sua casa durante quatro dias.

Se Sheldon fosse uma pessoa normal, Penny riria e faria algum comentário sarcástico. Mas, Sheldon, definitivamente, não era normal e tampouco entendia sarcasmo. Ao invés disso, recorreu a única coisa que o acalmava quando estava tendo algum ataque de tiques nervosos: esquentou duas xícaras de leite morno e entregou uma delas na mão dele. Sem questionar – o que, para Penny, foi um verdadeiro milagre -, ele começou a sorver o líquido da xícara suavemente.

– Então, querido, diga o que aconteceu.

– Eu estava em minha sala, às quatro e quarenta e sete, quando Leonard chegou e disse que precisaria ir para casa porque a senhora Hofstadter ligou e avisou que se separaria do senhor Hofstadter. – Sheldon bebeu um gole de leite e continuou – Leonard e sua irmã resolveram ir até New Jersey para fazer com que os pais se acertem, você sabe, essas convenções sociais. – emendou o físico.

– E as chaves? – questionou Penny, interessada.

– Leonard pediu minhas chaves porque perdeu as dele no início da semana e ainda não mandou fazer novas. Ele me disse que viria até aqui, pegaria algumas roupas e entregaria as chaves para você. – a voz de Sheldon endureceu – Mas ele, simplesmente, esqueceu de devolver as chaves! Esqueceu! Disse que estava atrasado demais para o vôo e, como não viu a sua porta aberta, acabou esquecendo de entregar as minhas chaves. Agora, vou ficar quatro dias aqui porque foi o único vôo que Leonard conseguiu. – comunicou.

–É claro que você pode ficar. – respondeu – Mas, também poderia passar uns dias na casa de Howard e Raj. Para você não se enjoar – acrescentou Penny para disfarçar seu desgosto de passar quatro dias sob o comando ditatorial de Sheldon.

Ela, verdadeiramente, gostava de Sheldon. Depois de três dias, podiam dizer que eram amigos. Mas cada um em seu apartamento. Se morando em um apartamento diferente do dela eles já se desentendiam, imagina se ficassem sob o mesmo teto? Jamais dariam certo juntos. Enquanto ela era bagunceira, ele era extremamente organizado; enquanto ela amava ironia, ele nem sabia reconhecê-la. Como poderia sobreviver sob as regras daquele querido e exigente amigo?

– Howard está comemorando o hanukkah e o Raj está com a irmã dele, Priya. – explicou-se sem perceber a indireta da amiga.

Penny sentiu-se um tanto malvada ao observar que o amigo, ingênuo, não percebera – ou, pelo menos, não comentara – que ela o tentara mandar para outro lugar. Sheldon ficaria ali nos próximos quatro dias, de quinta à segunda, e eles conseguiriam conviver juntos.