Amor Improvável Em Columbus Circle. escrita por Carolyna Grey


Capítulo 7
Capítulo 7- Ar




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Eu não havia dormido absolutamente nada depois daquela ligação interrompida pela chegada dele. Perambulei pelo apartamento eventualmente parando e permanecendo sentada no chão com as costas colada à porta e o celular na mão pronta a telefonar para a polícia e lhe entregar de bandeja o tal flagrante. Mas não houve qualquer ruído. Apenas o silêncio. A claridade do sol já invadia o ambiente tornando-o radiante ao contrário do meu estado de espírito pesaroso e assolado pela preocupação.

Acabara de sair do banho e ainda com os cabelos úmidos espremia algumas laranjas para preparar o suco. Havia perdido o café da manhã e apesar de estar sem apetite não iria perder também o almoço. O relógio no meu pulso já marcava onze e meia pelo que eu aguardava então a chegada de senhor Araújo para buscar a lista de compras da próxima semana e entregar as compras de hoje.

Era meio dia quando a campainha tocou e fui recebê-lo com um sorriso forçado e olhos colados na porta de madeira escura e envernizada do apartamento à frente. Mal notei a presença dos dois rapazes vestindo a camiseta com o nome do supermercado para o qual trabalhavam estampado nas suas costas. Todo o turbilhão de sentimentos e sensações que me preenciam o peito e ocupavam a mente se resumia a uma só pessoa que a meu ver poderia estar ferida e precisando de apoio do outro lado da porta. A maldita porta. Lentamente a raiva, frustração e revolta foram caindo inconscientemente sobre o único empecilho literal no momento: a porta que se mantinha fechada silenciando o que quer que acontecia lá dentro.

– Senhorita? - conseguiu minha atenção e assim que o olhei tive a sensação de que aquela deveria ser já a terceira vez que chamava por mim. – Falta mais uma sacola e terminamos por hoje. Um dos rapazes foi buscar e irá entregá-la já já.

– Tudo bem. Obrigada, senhor Araújo. - forcei um outro sorriso que não durou o suficiente para sequer se parecer com um, mas se ele percebeu disfarçou pois sorriu de volta e saiu.

Passei a mão pelo rosto deitando depois a cabeça no mármore frio do balcão da cozinha. É um mundo frio e perverso. Chove lá fora criminalidade, preconceito, doenças, violência, guerra. O egoísmo é semeado e o ódio cultivado. A fome cresce, os animais extinguem-se. Ou seja, o mundo é repleto de problemas, vítimas e pessoas que sofrem coisas que jamais nenhum ser humano deveria sequer pensar na existência. Provavelmente eu já presenciei injustiças antes, mas não me recordo de ter ficado tão tocada ou afetada como estou. Eu não sei o que ela tem que me faz sentir uma empatia fora do normal.

Voltei a erguer meu corpo me endireitando e então senti aquele cheiro doce e suave juntamente com a brisa que atravessava a porta ainda aberta se enroscar nos meus cabelos, bater contra minha pele e inundar meus pulmões. E a responsável por aquele simples momento ter praticamente se tornado numa cena quase mágica digna de filme estava parada na porta do meu apartamento segurando uma sacola na mão direita.

Vestia uma blusa cinza de tecido leve, as mangas estavam cuidadosamente arregaçadas até o seu antebraço dando lugar depois a algumas pulseiras que adornavam seus pulsos. Por fim, uma saia de estampa floral que começava na altura do seu umbigo e terminava na metade das suas coxas deixando sua pele exposta pra alegria dos meus olhos que percorriam cada detalhe como se se tratasse de uma peça rara e valiosa. Os dois cintos finos que mesclavam um no outro apenas definia ainda mais a sua cintura fina. E ela sorria serena, com os cabelos escuros formando cachos volumosos que caiam sobre seus ombros e seios. Como se nada a pudesse abalar naquele momento enquanto eu estava esfarrapada pela mesma situação na qual ela estava ainda mais envolvida.

– Odeio quando faz isso. - disse fechando a porta e colocando a sacola em cima do balcão.

– Isso o que? - minha voz me soara estranha quando surpreendentemente consegui formular uma frase após ter estado hipnotizada pela sua beleza.

– Fica calada formulando meu perfil na sua mente enquanto poderia estar convivendo comigo. - temi que ela pudesse estar chateada e ainda mais quando seus olhos avelã me encararam inexpressivamente.

– Eu... Hum, me desculpa. - ela deslizou a palma da mão esquerda pelo balcão a medida que se aproximava calmamente de mim.

Parou ficando a alguns centímetros do meu rosto. Esperei que o arrepio chegasse ao final das minhas costas para acrescentar:

– Não consigo evitar quando é com você. - eu não reconhecia minha voz.

De repente eu soava como uma menininha de quinze anos e também estava nervosa como uma. Não sabia onde pôr as mãos e nem em que posição manter meu corpo. Só percebi que deveria evitar ficar com as penas esticadas quando tentei fazê-lo e meus joelhos tremiam como se fossem ceder a qualquer momento. A última coisa que eu queria era cair literalmente aos seus pés. Já basta a mulher parecer uma deusa. Me atirar aos seus pés seria doentio demais.

– Agora me deixou curiosa. - deitou a cabeça levemente para o lado e naquele momento ela poderia arrancar qualquer coisa de mim apenas com aquele jeitinho doce e meigo.

– Curiosa em relação a que?

– Em saber qual o perfil que criou pra mim e o porquê dessa exceção comigo.

– Paciência é uma virtude.

– Que eu não tenho. - mordeu o lábio e o ar simplesmente se evaporou dos meus pulmões me obrigando a tossir desesperada por ar. - Meu Deus! Hey. - segurou meus pulsos que cobriam minha boca. - Pára e respira fundo. - puxou minhas mãos para baixo me incentivando a fazer o que ela dizia.

Respirei fundo fechando os olhos pois sabia que se continuasse encarando-a a poucos centímetros de mim acabaria perdendo o fôlego novamente. Minha cintura foi inesperadamente rodeada e senti sua respiração no meu pescoço. Fiquei inerte e sem saber se realmente deveria abrir os olhos ou não.


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