Alice

Depois de desabafar com Simon, me senti muito melhor, como se um peso tivesse saído das minhas costas.

Levantei e fui até o banheiro para poder lavar o meu rosto, que estava extremamente vermelho. Então, algumas cenas começaram a vir em minha mente.

Vi Simon com uma espada na mão, olhando para mim. Senti que estava pendurada em um... cão? E eu estava no alto. Então, eu fui jogada no chão. Depois dessa cena, eu vi Medusa, não consegui identificar o que ela dizia, mas percebi que era com ele.

Nós não havíamos apanhado como ele dissera. Ele lutara. Como eu fui tão estúpida a ponto de perceber, que quando se apanha, não fica cortes profundos?!

Fiquei na porta do banheiro e disse:

- Por que mentiu pra mim?

Ele me olhou com uma sobrancelha erguida.

- Como assim te enganei? - perguntou.

- Apanhar? Por que não me contou a verdade? - minha voz saiu mais alterada do que precisava - Eu poderia ter lutado com você Simon. Não parou pra pensar que eu poderia me lembrar de pelo menos alguma coisa?

Ele se levantou e deu um passo em minha direção.

- Fiz aquilo por você, Alice - a resposta foi como um peso em cima de mim - Já sei como você é, já me salvou bastante vezes. Precisava retribuir de alguma maneira.

- Retribuir? - perguntei incrédula - Não tinha um jeito mais... suave de retribuir? Você quase me matou. Você quase se matou!

- Fiz isso pra te proteger! - ele gritou - Se isso não está bom o suficiente, não sei mais o que eu faço Alice. Queria te poupar disso tudo. Você já estava assustada o suficiente, não queria que a situação piorasse.

Vários sentimentos começaram a berrar dentro de mim. Raiva, agradecimento, tristeza, fúria...

- Eu não preciso ser protegida Simon! - gritei de volta - Você mesmo disse, eu te salvei várias vezes. Você que precisa ser protegido!

Depois que falei, percebi o erro que acabara de cometer.

- Então é isso? - ele respondeu como se eu tivesse dado um tapa na cara dele - Vai querer jogar na cara que eu não sirvo para lutar com monstros? Que eu preciso ter uma defesa?

- N-não foi isso que eu quis dizer - gaguejei - Não foi isso Simon.

Ele abaixou a cabeça.

- Não sou o melhor nos esportes, não sou o melhor nas lutas Alice. - levantou a cabeça e seus olhos estavam mais negros do que o normal, e eu vi a fúria dentro deles - Mas eu não tenho tanta piedade quanto parece.

Estremeci com o jeito que aquilo soou. Então era isso? Eu não poderia cometer um erro sequer?

- Pretende fazer o que Simon? Vai ficar de mal comigo? - perguntei reunindo toda a coragem que eu tinha.

Ele estava pálido, e seu olhar era penetrante. Era como dizer que estava sendo possuído.

- Simon? - perguntei novamente.

- Eu não sou fraco - a voz dele estava rouca - Você está enganada Alice.

- Em nenhum momento disse que você era fraco - interrompi.

- Eu sei me virar sozinho - continuou - Se não fosse por você, eu estaria em casa. Mas agora, estou prestes a virar pedra. Você e suas atitudes precipitadas.

De todos os sentimentos, o único que restou foi a raiva.

- Vai descontar tudo em mim agora? - falei - Só porque você falhou, vai querer acabar comigo?

Ele me olhou. Aquilo bastou para que eu desabasse. Seus olhos estavam hipnotizantes. Era tentador.

- Simon, escute: eu não tenho culpa de meu pai ser um deus, muito menos culpa do seu pai ser um. Se você está bravo por causa disso, não jogue tudo na minha cara. Eu sei o que tá passando pela sua cabeça sobre o assunto, porque a mesma coisa passa pela minha. Você poderia, por favor, raciocinar por esse lado?

- Por que você fez aquilo com nós dois? - ele disse. Era como se todo o meu discurso, fosse um murmurio qualquer - Eu poderia estar feliz com meus amigos. Você estragou a minha vida.

Minha visão ficou embasada por causa das lágrimas. Era injusto ele dizer aquilo. Eu salvei a vida dele! Mesmo enxergando mal, pude ver que ele apertou o pingente de sua corrente, que aparentemente era nova.

Uma espada de quase um metro surgiu na mão dele. Era negra, e com certeza, poderia me matar.

- Simon, o que você pretende fazer com isso? - perguntei tremula.

Ele veio em minha direção, e tudo o que vi, foi a lâmina em meu rosto. 

Simon acabara de me cortar. Da minha testa, até o queixo.